Entrevista

Como se tornar um chefe de equipe na F1, com Gunther Steiner

Mandatário da Haas comenta sua história no automobilismo e o que você precisa para chegar ao cargo máximo no paddock

Guenther Steiner, Team Principal, Haas F1  

Guenther Steiner, Team Principal, Haas F1  

LAT Images

Ser o chefe de equipe de uma equipe de Fórmula 1 é indiscutivelmente um dos trabalhos mais difíceis do automobilismo e certamente um dos mais prestigiosos, tomando todas as grandes decisões no dia-a-dia de uma escuderia. Gunther Steiner lidera a Haas desde que ela entrou no campeonato, em 2016, e trabalha no automobilismo há mais de 35 anos.

No entanto, o que é preciso para se tornar um chefe de equipe? Conversamos com o mandatário do time americano para descobrir quais qualificações você precisa, as habilidades que deve ter e tudo mais que você precisa saber.

O que é um chefe de equipe?

Acho que você tem que ver isso como um CEO em uma empresa - você comanda a equipe. A F1 tem muitos elementos, é uma grande mistura de coisas diferentes. É técnico, é marketing, é esportivo, há tantas coisas envolvidas e você só precisa se adaptar a tudo o que está fazendo no momento, tentando ter o máximo de conhecimento possível e tomar as decisões certas.

Quais as funções do cargo?

Basicamente, trata-se de uma empresa. Somos uma equipe pequena, mas as maiores são organizações com 500 pessoas. Já nós, cerca de 200. Não é nada mais do que isso. E nos fins de semana, vamos correr. Em vez de ter sua revisão trimestral pelo conselho, você a recebe todas as semanas, é nisso que é julgado. Você é tão bom quanto sua última corrida, assim como um CEO é tão bom quanto seu último trimestre do ano financeiro. Essa é uma resposta muito curta sobre o que é.

Como você se torna um chefe de equipe?

Não sei como fiz isso, sabe! Todo mundo tem uma história diferente. Posso contar a minha, mas todo mundo tem uma diferente. Comecei no automobilismo há 36 anos, então apenas uma coisa veio à outra. Você se move para cima.

Para chegar à posição de chefe da Haas, tentei encontrar um investidor para uma nova equipe há sete anos, achei um e acabei me tornando o principal dela. Pode parecer muito simplista, mas acho que, obviamente, você precisa conhecer o esporte, as pessoas e o ambiente.

Como eu disse, todo mundo tem uma história diferente de como se tornou o diretor da equipe, não é como se você fosse para uma escola com um emprego normal e depois fizesse sua carreira - você trabalha em algum lugar e depois sobe, coisas assim. Acho que todo mundo aqui tem seu próprio trajeto para contar.

Não há uma maneira de se tornar o principal. O que você precisa é ter muita vontade de trabalhar e ter um grande interesse pelo automobilismo. Acho que também é muito exigente, são 24 horas por dia e sete dias por semana.

Comecei em 1986 como mecânico de rally. Saí da minha terra natal, fui da Itália para a Bélgica, porque gostava de carros de corrida, e para mim isso foi um ponto de partida. A partir daí, desempenhei vários cargos técnicos. Fiquei na Bélgica por dois anos, depois trabalhei para uma equipe na Itália por mais três e fui para outra por seis anos.

Me mudei para o Reino Unido em 1996 e comecei um time customizado para a Prodrive, que ainda é uma grande empresa. Depois, me tornei gerente de projeto do Ford Focus de rally. Em seguida, fui promovido a diretor técnico lá.

Então, recebi um telefonema de Niki Lauda quando ele era o chefe da equipe Jaguar na Fórmula 1. Foi aí que minha carreira na categoria começou. Eu era o gerente geral. Após isso, fiz um ano no DTM para a Opel na época e fui para a Red Bull, que é o que a Jaguar havia se tornado. Mudei-me para os Estados Unidos quando a escuderia abriu sua equipe na NASCAR e fiquei lá.

Niki Lauda Jaguar Team Principal with Gunther Steiner Jaguar Technical Director, 2002 United States Grand Prix

Niki Lauda Jaguar Team Principal with Gunther Steiner Jaguar Technical Director, 2002 United States Grand Prix

Photo by: Sutton Images / Motorsport Images

Passei cinco anos abrindo minha própria empresa, que ainda tenho, um negócio de compósitos, e então tive a grande ideia - não sei como foi - de ter uma equipe americana de F1. Elaborei um plano de negócios e encontrei um investidor e estou na Haas há sete anos.

Que experiência você precisa?

Acho que eram dias diferentes [quando estava iniciando a carreira], 36 anos atrás eram outros tempo, não dá para comparar com hoje. Eu não sugeriria que ninguém fizesse o que eu fiz, se alguém quer entrar no automobilismo é se formar. Se você quer fazer coisas técnicas, é obter um diploma com foco em engenharia e depois se especializar em automobilismo, o que obviamente ajuda.

Você também precisa ser bom, não está começando a ter apenas um pedaço de papel. Se você está interessado, há advogados envolvidos no automobilismo, há profissionais de marketing, basta fazer seus estudos.

Eu acho que a primeira coisa é que, quando você é jovem, tem muita energia. Começa em uma equipe pequena no automobilismo e aprende muito porque tem que fazer muito, porque são um bom campo de treinamento para obter uma boa base e um bom conhecimento de como realmente funciona.

Se você vier direto para a F1, acha que essa é a realidade, mas a categoria é muito específica para um trabalho. Se tiver uma visão mais ampla, é muito melhor para sua carreira, eu sempre acho. Se você sabe o que está acontecendo no quadro geral, pode seguir em frente, mas se apenas se especializar em algo, está de alguma forma preso - ou isso funciona ou nada funciona.

Então eu sempre acho que começar aos poucos ou mesmo ser voluntário para uma pequena equipe de corrida como engenheiro, ou algo assim, ajuda muito a aprender e seguir em frente na vida.

Que outras habilidades são úteis?

Eu acho que na F1, você precisa ser rápido na tomada de decisões, porque é um esporte de negócios muito veloz, então você precisa estar afiado e desenvolver isso trabalhando no automobilismo, porque se você sabe com o que está lidando, pode tomar decisões, porque já viu a situação antes e está qualificado.

Obviamente, comunicação - você lida com muitas pessoas de diferentes países, conhecer as culturas e os idiomas também ajuda muito. Para imaginar como as outras pessoas pensam. Isso ajuda você a se dar bem, progredir na carreira e também a fazer parte de alguma coisa, mas isso não é só na F1, em geral - se você quer fazer parte de uma indústria, precisa ter boas habilidades sociais também.

Você precisa ter muita paixão pelo automobilismo se quiser fazer isso. Este não é um trabalho. Se você fizer isso por dinheiro, há muitos empregos que pagam mais e você não precisa se esforçar tanto. Então, há de ser uma paixão, você precisa estar interessado e realmente gostar, do contrário não adianta, viria aqui e partiria em alguns anos.

Gunther Steiner, Team Principal, Haas F1, on the pit wall

Gunther Steiner, Team Principal, Haas F1, on the pit wall

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

Qual é o melhor conselho de carreira que você recebeu ou pode dar?

Apenas trabalhe duro. Esteja sempre correto e seja justo. Nada mais. Uma boa atitude de trabalho e justiça. Não minta, siga em frente.

Como posso obter experiência de trabalho como chefe de equipe?

Como eu disse antes, como chefe de equipe, existem muitas carreiras diferentes aqui. Algumas pessoas não têm formação técnica, outras um pouco, outras são donos de times de corridas menores. Portanto, é muito difícil dizer em que devem se especializar. Existem apenas dez chefes de equipe no mundo, isso não são muitos. Acho que muito disso é estar no lugar certo na hora certa. Qualquer coisa que você fizer, se for com paixão e corretamente, terá uma chance de chegar lá.

Como é um dia normal de trabalho para você?

Temos três lugares diferentes onde trabalhamos - um na Itália, um nos Estados Unidos e um na Inglaterra - então meu escritório seria na América do Norte, mas eu normalmente viajo para algum lugar, como no verão que fiquei na Europa. Mas agora, com a Covid-19, eu me baseio no lugar que cheguei na Itália, então trabalho a partir daí.

Não é como ir para o escritório, você está sempre lá. Eu também tenho o meu no aeroporto, com meu notebook - onde ele está, é meu escritório. Estamos em todos os lugares, mas eu trabalho como qualquer outra pessoa. Às segundas-feiras, você vai para um serviço normal e, nos fins de semana, vai para a pista de corrida. Chego lá na quinta ou quarta à noite, e então faço o material de mídia.

Como é um dia de corrida para você?

Um dia normal de corrida - não é totalmente ainda com a Covid-19 - mas seria algo como: de manhã faz suas reuniões e briefings. Apenas ouviria o que está sendo discutido com pilotos e engenheiros. Aí você faz algumas coisas de imprensa, vários compromissos que estão alinhados. Se tiver um carro bom, só espera a corrida, se o veículo for ruim, não pode apenas aguardar até que ela acabe.

Em geral, você faz esse trabalho para ir correr, e o GP é no domingo. Durante a corrida, não faço muito. Converso um pouco com o engenheiro-chefe, mas eles têm todo o controle. Sempre sinto que, se tiver que intervir, é porque contratei as pessoas erradas. Um chefe de equipe não pode fazer isso, na minha opinião. Você sabe, está ciente do que está acontecendo, e se eles perguntarem a você, você normalmente sabe, mas eu não interfiro.

Eles fazem um trabalho bom e duro, e para mim, chegar no último minuto para fazer o que eu quero não seria correto. Eu teria as pessoas erradas se tivesse que corrigi-las. Eles podem cometer erros, e se eu lhes disser algo que vejo, seguirão meu conselho, mas não estou me intrometendo na corrida.

Gunther Steiner, Team Principal, Haas F1 speaks to the media

Gunther Steiner, Team Principal, Haas F1 speaks to the media

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

O que mais as pessoas devem saber sobre a vida de um chefe de equipe?

É muito estressante às vezes. Não estou reclamando do trabalho, é bom, porque se você gosta de automobilismo é isso que quer se tornar em algum momento, mas é muito duro. Você precisa ter sua família ao seu redor e eles precisam entender, porque se tiver problemas em mais de um lugar, então não precisa de distrações externas.

É difícil, mas muito gratificante. No momento não tanto, porque não estamos lutando por muito, mas a fase boa voltará e tenho certeza disso. Você nunca pode desistir, se está para baixo, é como se levanta novamente. É assim que eu vejo.

Este artigo foi criado em parceria com a Motorsport Jobs. Encontre os empregos mais recentes no automobilismo, bem como trabalhos com a Haas.

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