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ANÁLISE: Como o porpoising pode se tornar um problema de saúde para a F1 a longo prazo

O efeito de salto dos carros pode causar doenças neurodegenerativas a longo prazo nos pilotos da F1, com estudos em outras modalidades apontando dados similares

Max Verstappen, Red Bull Racing, 1st position, Charles Leclerc, Ferrari, 2nd position, congratulate each other in Parc Ferme

Foto de: Steven Tee / Motorsport Images

Porpoising. Talvez essa seja a palavra mais repetida atualmente no paddock da Fórmula 1, devido às dores de cabeça que provocam em pilotos e equipes, devido ao efeito de quicadas causadas nos carros da nova geração.

A F1 decidiu entrar em uma era completamente diferente, mudando o regulamento técnico para criar uma categoria com mais emoções, batalhas e ultrapassagens, e atingiu isso simplificando a aerodinâmica e retomando o famoso efeito solo.

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Desde a pré-temporada em Barcelona, esse curioso movimento que faz com que os carros quiquem na pista chamou a atenção de todos, não sendo visto como um problema sério até que se descobriu o quanto que isso afetaria os tempos de volta.

Para solucionar, ou pelo menos reduzir o efeito, as equipes fizeram ajustes de suspensão e na altura dos carros, fazendo com que eles quiquem menos, mas isso se traduz na perda de décimos, algo chave em um esporte onde milésimos fazem a diferença.

Além disso, o oscilar nas retas supõe um perigo para os pilotos, já que seus olhos não conseguem fixar bem os pontos de referência na frenagem, fazendo com que seja quase impossível ter uma visão clara da aproximação de uma curva enquanto estão a mais de 300km/k.

Além de tudo, há algo oculto e que poucos parecem considerar. Se dissemos que o porpoising representa uma dor de cabeça para a F1, para além da categoria, isso pode ter um impacto para os pilotos a longo prazo.

O movimento agressivo da cabeça de forma tão repetitiva pode fazer com que essas pessoas que guiam os carros a altas velocidades sofram enfermidades mentais irreversíveis, algo que acontece em outros esportes que não possuem relação com o automobilismo.

Um dos exemplos mais claros está no futebol, onde um jogador usa a cabeça de maneira constante para acertar a bola. Fazer com que um objetivo bata com essa parte tão exposta faz com que o cérebro sofra, e muito.

Um estudo conduzido pelo Departamento de Neuropatologia da Universidade de Glasgow descobriu que o risco de problemas neurodegenerativos é maior em jogadores de futebol, que passaram uma vida toda usando sua cabeça para acertar a bola.

O risco de sofrer algum tipo de enfermidade mental mortal aumenta 3,5 vezes, e é 5 vezes maior se for relacionado a algum tipo de demência ou Alzheimer, como indica a investigação.

"Com golpes muito pequenos e numerosos durante um período estendido de tempo, acontecem os danos cerebrais, fazendo com que a pessoa seja mais suscetível a transtornos como o Alzheimer", disse Christopher Morris, professor da instituição escocesa. 

Por isso, a Federação Inglesa de futebol proibiu que jogadores menos de 12 cabeceiem a bola para minimizar riscos. Não é para menos, já que eles têm em casa um dos melhores exemplos de cuidados para a saúde dos atletas.

O país campeão mundial de futebol em 1966 contava com uma geração única de jogadores, com nomes de destaque como Bobby Charlton, Bonny Moore, Gordon Banks, Martin Peters e mais. O time venceu a Alemanha na final por 4 a 2 no mítico estádio de Wembley, mas essa geração acabou sendo afetada por uma "maldição".

Daquele time, pelo menos sete sofreram enfermidades neurodegenerativas que levariam a suas mortes. É claro que, naquela época, as bolas eram bem mais pesadas, mas é um exemplo claro da influência que o esporte tem no cuidado com a saúde mental.

E esse não é o único caso em que golpes na cabeça podem gerar enfermidades ou contratempos graves para os atletas, com o futebol americano sendo claramente um dos mais perigosos.

Na NFL, a principal liga do mundo deste esporte, 32 equipes competem por ano para chegar ao Super Bowl. Mas em seus mais de 100 anos de história, cerca de 45 jogadores de cada equipe sofreram muitos contratempos físicos.

Só no período de duas temporadas regulares, entre 2012 e 2014, dados coletados pela Universidade do Texas revelam que de 4.381 lesões, 301 foram concussões, um número que sofreu um aumento de 61% em comparação aos dados de 2002 a 2007.

Outra investigação estuda que um jogador da NFL, que disputa cerca de 24 partidas anualmente, tem 16% mais chances de sofrer uma morte prematura. Em 2012, um estudo descobriu ainda, ao analisar 3.439 jogadores com pelo menos cinco anos de liga, que este grupo tem um risco de desenvolver doenças neurodegenerativas três vezes maior que a população geral dos EUA.

Além disso, o risco de doenças como Alzheimer ou Esclerose Lateral Amiotrófica (ou ELA) era quatro vezes maior, enquanto as concussões aumentam o risco de desenvolver doenças como depressão ou demência.

E, apesar de ser mais extremo, podemos ainda mencionar o boxe, onde a longo prazo existem riscos de sequelas graves para os atletas após anos de impactos na cabeça.

Assim, com o porpoising na cabeça dos pilotos, os engenheiros da Fórmula 1 precisam se preocupar com a saúde de quem dá a vida na pista. Já não se trata apenas de esquivar da morte em cada curva, mesmo com as importantes medidas atuais de segurança, e sim pensar em coisas que podem ser muito mais graves com o passar do tempo.

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