Entrevista

Leme divulga planos para F1 2020 e fala de momentos inesquecíveis com Senna, Piquet e Villeneuve

Analista de Fórmula 1 será parceiro de conteúdo do Motorsport.com no YouTube

Reginaldo Leme

Reginaldo Leme

Duda Bairros

Jornalista que é sinônimo de Fórmula 1 no Brasil, Reginaldo Leme vive uma situação diferente em 2020. Pela primeira vez depois de mais de quatro décadas, 'Regi' não cobrirá uma temporada da categoria máxima do automobilismo pela TV Globo. Ele saiu da emissora no fim do ano passado e, em entrevista ao Motorsport.com, anunciou que dará sequência à cobertura da F1 em seu recém-lançado canal no YouTube.

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O 'AutoMotor por Reginaldo Leme' será parceiro de conteúdo do Motorsport.com na plataforma de vídeos e ambos serão boas opções para o fã de automobilismo acompanhar a F1. No vídeo abaixo, Leme dá mais detalhes sobre o projeto. Confira:

"Os planos são de, neste canal de YouTube que acabei de inaugurar, tentar devolver ao público aquilo que ele estava acostumado a ver, nos últimos 42 anos, de mim, na Globo. Então, por exemplo: terminou um treino, eu acho que tenho a obrigação de entrar numa 'livezinha' com um comentário do que eu vi naquele treino e o que pode ser do próximo. Terminou a classificação e também a corrida, fazer alguma coisa antes e algo depois sobre a corrida."

"Nunca entrar (no ar) durante a corrida, a não ser em alguma coisa excepcional que aconteça. Mas é uma experiência nova para mim e nem sei se a gente pode entrar (ao vivo durante uma etapa da F1)."

"Basicamente é isso, só que, antes de cada corrida, todas às segundas-feiras - já deveria estar indo ao ar essa de hoje (29/06), só que, como é a primeira, eu mesmo atrasei um pouquinho e deve ir ao ar amanhã (terça) ou quarta - uma apresentação do local da corrida. Aquilo que eu sempre gostei de fazer nos nossos bons tempos do Sinal Verde (programa de Leme no Grupo Globo). Nesse agora, eu estou falando inclusive de tomar leite da vaca lá nas fazendas."

Como está sendo a adaptação à internet para você, sempre acostumado a grandes infraestruturas de televisão?

"Eu preciso aprender bastante coisa ainda, mas estou curtindo muito especialmente pela liberdade que você tem. Eu vou fazer isso na hora que eu quero, na hora que me der vontade. E a vontade está sendo cada vez maior, porque é uma novidade também. É uma tecnologia que eu quero dominar. Há tempo sem me comunicar com o meu público, eu estou ansioso para começar a fazer isso. Fiz isso (o projeto para YouTube) com uma dedicação e com um prazer enorme."

"Enfim, tudo é novo! Tudo é muito prazeroso, você não imagina o tanto que é. Faço questão de dizer isso exatamente ao público, a esse pessoal que me acompanhou nesses anos todos, o quanto isso é prazeroso e o quanto isso tem sido prazeroso."

Com que teve mais prazer durante o período na Globo?

"De uma maneira geral, de 0 a 10, é o Sinal Verde que merece 10. Mas o Sinal Verde antigo, que a gente lançou em 1982 e tinha oito minutos de duração, com dois blocos de quatro, comercializados, e que era o maior prazer da minha vida."

"Isso fazia eu trabalhar muito. Para se ter uma ideia, eu fazia isso na quinta, com a câmera. E o que ainda faltava de entrevista, porque geralmente tinha pilotos que apareciam só na sexta, eu completaria na sexta."

"Mas, na quinta, eu gravava muito e fazia um roteiro. Na sexta, eu terminava a gravação e eu nunca dormi da sexta para o sábado. Não tinha condições de dormir, porque era a madrugada inteira que eu passava escrevendo aquilo."

"Vendo as fitas, escrevendo aquilo e fazendo, do lado do texto, um roteirinho do que o editor, quando pegasse aquelas três, quatro fitas de 1h20 de imagens e de reportagens, ele saber de que forma eu havia roteirizado aquilo."

"Isso tudo ia para Londres e em Londres que se editava. Eu adoro edição e tinha um sofrimento muito grande por não estar junto na ilha de edição. Mas eu tinha indicado tudo e confiava muito nos profissionais nosso que tínhamos na TV Globo Londres. E aí eles mandavam para o Brasil."

"Eu gosto muito da transmissão da corrida, muito... Ao vivo é muito legal, ao vivo é mais legal que tudo. Mas, das reportagens que fiz, algumas, para mim, históricas, de tudo, o mais gostoso de fazer sempre foi o Sinal Verde."

E quais foram os momentos mais marcantes das coberturas? 

"Pode ser que todos eles eu conecte a conquistas de títulos mundiais por um brasileiro... Primeiro, claro, em 1972, no primeiro GP que fiz, em Monza (Itália), dia 10 de setembro. Conquista do Emerson [Fittipaldi], campeão brasileiro."

"Depois, tenho uma lembrança maravilhosa e foi um trabalho maravilhoso que a gente fez, na conquista do Nelson Piquet, em Las Vegas, 1981. O título dele, a matéria que foi ao ar no Fantástico e foi super elogiada. Bacana aquela emoção dele (Nelson) em que ele ficou um minuto sem falar nada e eu um minuto sem conversar com ele, preservando aquela emoção dele", seguiu Reginaldo Leme.

"Terceiro: outro título do Piquet, por uma razão muito simples. Lá na África do Sul, em 1983, eu fui o segundo a chegar no carro dele para tirá-lo de dentro do carro. O primeiro foi Bernie Ecclestone. Nós dois tiramos ele do carro, então foi muito legal também."

"Claro, em 1988, a primeira conquista do [Ayrton] Senna, muito bacana, coisa espetacular. Eu 'cresci' com ele na carreira desde antes da F1, sabendo do grande sonho que ele sempre teve a certeza de conquistar.

"Eu também tinha certeza, todos nós, que ele iria conquistar, então chegou aquele grande momento. E era um momento em que eu não estava muito bem com ele. Ainda tem esse componente, porque a entrevista acabou sendo uma coisa fenomenal, que ele várias vezes citou como a melhor dele."

"Falta 'um'... Todos os GPs realizados em Hockenheim eu gosto muito por causa da cidade de Heidelberg. Os GPs ali são belíssimos. É um circuito onde, durante cinco anos seguidos, Piquet ou Senna ganharam (de 1986 a 1990). A gente saía de lá e ia para Heidelberg, que é outro lugar extremamente agradável. O que a gente vive no pós-corrida, depois do trabalho realizado, é muito bom. É uma situação muito boa".

Você é apresentador e comentarista, mas, como entrevistado, vêm histórias muito boas. Então, para marcar o elo Motorsport.com e Reginaldo Leme, vou te pedir uma: logo depois que o Gilles Villeneuve morreu, você foi para Mônaco e viu o Jacques...

"Eu tinha uma coisa com o Gilles Villeneuve que era uma ligação mais do que do entrevistado com o entrevistador... Eu achava o cara o máximo. Um deus no automobilismo. Então a morte dele foi muito dolorida para mim, porque aconteceu aquilo na pista e a gente saiu correndo, fomos para porta de hospital e tive que gravar dois encerramentos de matéria, um dele morto e outro era dele lutando pela vida. Isso é coisa do jornalismo."

"Fomos embora para Bruxelas, geramos as duas 'passagens', para esperar a notícia até que o Jornal Nacional fosse para o ar. Bom, enfim... Indo para Mônaco, logo depois veio o [GP de] Mônaco. E eu voltei da Bélgica arrasado. Sabe aqueles momentos em que você pensa assim: 'Cara, eu vou parar com esse negócio...'. Foi um sofrimento muito grande. E no hotel em Mônaco, a gente ficava de frente para a rua. Mônaco tem diferentes alturas."

"Aquilo é construído em cima de montanhas e eu sempre soube que, uma das casas que eu via da minha janela do hotel, era a casa do Gilles Villeneuve. E eu pensava assim: 'Um dia, eu vou lá'. Bom, aconteceu a morte dele e eu falei: 'Puxa vida, eu tantas vezes pensei em ir lá e não fui, mas eu vou agora'. Fui para lá numa tarde de quarta-feira. Vi a casa vazia e sentei na sarjeta da calçada em frente. Fiquei olhando e esperando sair alguém."

"Aí saiu um rapazinho que trabalhava para eles. E eu falei para ele: 'Olha, é a casa do Gilles, não é?'. 'É, estamos levando...'. Aí o menino entrou e saiu com duas crianças para ir para a praia. É longe. O menininho, que devia ter oito anos de idade, era o Jacques Villeneuve."

"Anos depois - hoje eu sou amigo pessoal do Jacques -, dois, três anos atrás, eu contei essa história para ele. O Jacques é um cara que finge uma frieza, mas ele gostou de ouvir a história. Vi que ele ficou emocionado e, para mim, foi uma das grandes histórias da minha carreira."

Como era Gilles Villeneuve no paddock? Personalidade forte?

"Muito forte, mas bonzinho. Hoje a gente tem esse padrão do grande campeão, que é aquele cara meio briguento, que não fala com ninguém... O Gilles era bonzinho demais para ser tudo o que ele era na pista. Agora, na pista, amigo...".

"Aí o encontro dele com qualquer um que fosse era muito difícil. Mas, ainda que o Gilles fosse tudo isso, no ano em que ele teve carro para disputar título, com o Jody Scheckter de companheiro, o Scheckter foi quem ganhou o campeonato, em 1979. Era muito no início da carreira do Gilles, mas, em 1982, que a Ferrari tinha um grande carro, ele morreu em maio e o Didier Pironi (companheiro de Villeneuve) quase morreu em julho, e ficou fora...".

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