Conteúdo especial

Das pioneiras no século XIX ao futuro: a trajetória das mulheres no esporte a motor

Em um esporte ainda muito marcado pela predominância masculina, as mulheres tentam buscar seu espaço no esporte a motor há décadas; relembre as pioneiras e as que estão hoje fazendo seu nome e o que esperar para o futuro

Janet Guthrie

IMS LLC

Neste dia 08 de março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher. A data foi instituída em 1975 pela Organização das Nações Unidas, mas desde o início do século XX há celebrações similares ao redor do mundo. O dia marca não apenas uma celebração da mulher, mas também um protesto por direitos e pela igualdade de tratamento.

No mundo do esporte a motor, ainda há uma predominância masculina, mas, pouco a pouco, as mulheres estão conquistando espaço em todas as áreas. De pilotos a engenheiras e chefes de equipe, passando pelas fãs, a presença feminina no automobilismo cresce ano a ano, mas ainda com um longo caminho a ser percorrido.

Leia também:

Na celebração desta data, organizamos uma reportagem especial recontando um pouco da trajetória das mulheres no esporte a motor, dividido em três partes: primeiro, as pioneiras do grid, contando a história de cinco mulheres que abriram o caminho. Segundo, as mulheres que estão deixando sua marca no automobilismo nos últimos anos. E, para finalizar, uma perspectiva sobre o futuro.

Maria Teresa de Filippis (Maserati 250F)

Maria Teresa de Filippis (Maserati 250F)

Photo by: LAT Photographic

Parte 1: As pioneiras do grid

As corridas de automóveis datam de 1867, mas a primeira participação de mulheres nesses eventos foi acontecer somente 30 anos depois. Em 11 de junho de 1897, em Paris, oito mulheres resolveram realizar uma corrida entre elas, a bordo de triciclos motorizados. O evento ficou conhecido como "Campeonato das Cadeiras Motorizadas".

Na edição de 1987, e nas outras duas vezes que a prova foi realizada, a vencedora foi a mesma: Léa Lemoine, que ganhava como prêmio uma pulseira. O campeonato fazia parte de um evento específico para pessoas da área cultural de Paris, como atores, músicos e figurinistas.

Mas a participação dessas mulheres não ficou restrita ao "Campeonato de Cadeiras Motorizadas". Nos anos seguintes, elas passaram a competir em outros eventos automobilísticos ao redor da Europa, incentivando outras a participar.

A própria Léa Lemoine terminou em quinto lugar na edição de 1897 da Copa das Motos, enquanto Madame Laumaillé, outra participante do Campeonato, foi a 27ª na prova feita entre as cidades de Marselha e Nice. Já fora da França, a belga Madame Labrousse foi a quinta colocada na classe de carros de três lugares na corrida Bruxelas - Spa - Namur, realizada em 1899, a bordo de um carro da Panhard.

Léa Lemoine em seu triciclo motorizado
Odette Siko e Marguerite Mareuse nas 24 Horas de 1930
Michèle Mouton durante etapa do WRC em 2011
Michèle Mouton e Hans-Joachim Stuck na Corrida dos Campeões
4

Na década de 30, uma francesa se destacou na maior prova do automobilismo mundial: as 24 Horas de Le Mans. Na edição de 1930, Odette Siko e Marguerite Mareuse fizeram história como a primeira equipe totalmente feminina a entrar na corrida e já em seu primeiro ano tiveram uma boa performance, terminando em sétimo lugar no geral.

Dois anos depois, Odette fazia sua terceira participação e chegava ao seu melhor resultado: quarto lugar geral e a vitória na categoria 2 Litros. Odette foi a primeira de dez mulheres a vencer na história de Le Mans, sendo a mais recente em 1975 com as francesas Marianne Hoepfner e Michèle Mouton.

Mouton pode ser uma vencedora de Le Mans, mas sua carreira foi construída no mundo do rali. Correndo com a Audi, ela terminou a temporada de 1982 do Campeonato Mundial de Rali com o vice-campeonato, após vencer três etapas daquele ano. Até o momento, esse continua sendo o melhor resultado de uma piloto em mundiais.

Na Fórmula 1, foram necessários apenas oito anos para que a primeira mulher se juntasse ao grid, um curto espaço de tempo considerando que a última vez que uma participou de uma corrida foi há mais de 40 anos.

Em 15 de junho de 1958, a italiana Maria Teresa de Filippis fazia história ao se alinhar no grid da F1 para o GP da Bélgica. Maria se classificou em 19º das 20 vagas possíveis para o grid, a bordo de uma Maserati, o carro mais lento do grid. Para uma contextualização, dos 7 carros da Maserati naquela prova, 5 deles foram os últimos.

Foi nesse GP mesmo que ela conseguiu sua melhor performance nas cinco corridas que esteve envolvidas na categoria: décimo lugar. Das outras provas, ela não terminou em duas enquanto nas demais não conseguiu se classificar para a etapa.

Em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian em 2006, de Filippis falou que sua entrada no automobilismo se deu após uma aposta entre dois de seus irmãos. O tema? Se ela era capaz de pilotar rápido. Ela levou a aposta a sério e começou a treinar, vencendo a primeira prova que participou, na corrida entre Salerno e Caverna di Tirreni em um Fiat 500.

Maria Teresa de Filippis (Maserati 250F)
Maria Teresa de Filippis (Maserati 250F)
Maria Teresa de Filippis (Maserati 250F)
Lella Lombardi, Vittorio Brambilla, Robin Herd, com o March 761
Lella Lombardi, Lavazza March
John Nicholson a frente de Lella Lombardi (carro 10) e Tony Trimmer
Lella Lombardi (Lavazza March 751 Ford), 6th position, leads Bob Evans (Stanley BRM P201), retired
7

Segundo de Filippis, seus pais eram céticos no início, por serem mais interessados em cavalos, mas que nunca foram contra os sonhos dela, devido ao fato dela já ter ganho a primeira prova que participou. Sobre o tratamento dos homens, ela acredita que o seu sucesso imediato ajudou a sofrer menos preconceito.

O único momento de preconceito que ela recorda foi quando tentou disputar o GP da França, mas ouviu a seguinte frase do organizador da prova: "O único capacete que uma mulher deve usar é o do cabeleireiro". Quanto aos pilotos, ela recorda das interações com o pentacampeão Juan Manuel Fangio, porque ela correu em 1958 com o carro que Fangio havia conquistado seu penta no ano anterior.

"Ele costumava me dizer: 'Você vai muito rápido, corre muitos riscos'. Eu não tinha medo da velocidade, e isso nem sempre era algo bom naquela época. Ele tinha medo de que eu sofresse um acidente".

Depois de de Filippis, outras quatro pilotos tentaram a sorte no mundo da Fórmula 1, mas apenas uma delas conseguiu se qualificar para GPs. E sua passagem deixou uma marca.

Lella Lombardi iniciou sua trajetória muito antes da F1. Antes de pilotar um carro na principal categoria do automobilismo mundial, a italiana já havia competido e ganhado em campeonatos como a F3 Italiana e F-Ford México. Após uma tentativa frustrada de se classificar para o GP da Grã-Bretanha em 1974, ela recebeu um convite para se juntar à equipe March como piloto titular para o ano seguinte.

Sua primeira corrida na F1 foi o GP da África do Sul, quebrando um período de 16 anos sem uma mulher no grid. Ficou na pista por poucas voltas, precisando se retirar devido a um problema com o carro. E na prova seguinte, na Espanha, terminou em sexto e pontuando, única vez em sua trajetória na categoria. Até hoje, ela é a única mulher a pontuar no mundial.

Indo para os Estados Unidos, Janet Guthrie fez história como a primeira mulher a se classificar para as 500 Milhas de Indianápolis na edição de 1977.

A participação de Janet levou a uma pequena mudança em uma das tradições da prova. Ao invés do clássico "Senhores, liguem seus motores", Tony Hulman, dono do Indianápolis Motor Speedway falou: "Acompanhados da primeira mulher a se classificar para as 500 Milhas de Indianápolis, senhores, liguem seus motores".

Janet Guthrie
Janet Guthrie
Jim Philippe e Janet Guthrie
Janet Guthrie e Sarah Fisher
Janet Guthrie, Rolla Vollstedt e a equipe
Janet Guthrie e Tom Carnegie
6

Mas a melhor participação de Janet foi na edição seguinte, em 1978. Naquela ocasião, ela se classificou em 15º para a prova e terminou em um impressionante nono lugar, que ficou como a melhor posição de chegada de uma mulher nas 500 Milhas até os anos 2000.

Janet surpreendeu a todos após a corrida, com um detalhe que ela explicou em uma entrevista à televisão: que ela havia corrido com o pulso fraturado, algo que ela tinha escondido de todos, inclusive de sua equipe.

Na festa que marcou sua entrada no Hall da Fama do Automobilismo Americano, Janet falou do desafio que foi colocar o carro na pista em 78: "Eu montei e gerenciei a equipe sozinha, com um orçamento cerca de 5% do total de uma equipe grande que disputava a temporada inteira. Comprei o carro e os motores, contratei a equipe, aluguei os apartamentos e mesmo com alguns problemas, ainda terminei entre os dez melhores".

Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet

Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet

Photo by: Geoffrey M. Miller / Motorsport Images

Parte 2: Buscando o espaço no automobilismo nos dias atuais

A partir dos anos 2000, uma nova leva de pilotos surgiu, obtendo grandes resultados em diversas categorias do automobilismo mundial.

Um dos grandes nomes entre as mulheres do automobilismo mundial é, sem dúvidas, Danica Patrick. A americana, que se aposentou das pistas em 2018, conseguiu marcas importantes nas duas principais categorias do país: a Indy e a NASCAR.

Na Indy, Danica obteve uma vitória ao longo das sete temporadas que disputou na categoria. Na Indy Japão 300 de 2008, Danica saiu da sexta posição para ser a primeira a cruzar a linha de chegada, quase seis segundos a frente de Helinho Castroneves. Para isso, ela apostou na economia de combustível. Após a corrida, visivelmente emocionada, ela falou sobre como foi sua prova.

"Era algo que eu esperava há muito tempo. Não posso dizer que a última parte da prova foi difícil para mim, porque nós estamos sempre cuidando do carro. No final, eu senti que o carro estava rápido e eu consegui conservar o combustível mesmo acelerando. O meu engenheiro falou que só tinha o Hélio na minha frente e eu fui atrás", disse Danica.

Danica Patrick, Premium Motorsports Chevrolet Camaro
Danica Patrick, Premium Motorsports Chevrolet Camaro
Danica Patrick, Premium Motorsports Chevrolet Camaro
Scott Dixon, Chip Ganassi Racing Honda, Helio Castroneves, Team Penske Chevrolet, Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet, pit stop
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
Danica Patrick
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
Danica Patrick, Ed Carpenter Racing Chevrolet
13

Sua história na Indy não ficou restrita a essa prova. Entre os pódios conquistados por Danica, está o terceiro lugar nas 500 Milhas de Indianápolis de 2009, terminando a pouco mais de dois segundos de Castroneves, o vencedor. Essa é a melhor posição de chegada de uma mulher na história da prova.

Após sua saída da Indy, Danica foi para a NASCAR, e em 2013 fez sua primeira temporada regular na Cup Series, a categoria principal. E já chegou deixando seu nome na etapa mais importante do campeonato: a Daytona 500. Na prova, que abre o calendário da NASCAR, Danica fez a pole position, sendo a primeira mulher a conseguir a pole em Daytona. A americana continuou correndo até 2018, quando anunciou sua aposentadoria das pistas.

GALERIA: Relembre mulheres que triunfaram na Fórmula 1

Gill Jones, chefe de eletrônica da Red Bull Racing
Kim Stevens engenheira de aerodinâmica da Mercedes
Victoria Vowles, diretora de serviços de sócios da Mercedes
Marga Torres Díez, engenheira de motores da Mercedes
Hanna Schmitz, estrategista senior da Red Bull
Britta Seeger, membro da junta diretiva da Daimler AG, Mercedes-Benz Cars
Bernie Collins, engenheira da Racing Point
Bernardette
Ruth Buscombe, estrategista da Alfa Romeo
Monisha Kaltenborn, diretora da Sauber entre 2010 e 2017
Claire Williams, chefe da equipe Williams
Silvia Hoffer Frangipane (esquerda), chefe de comunicações da Ferrari
Tatiana Calderón, piloto de testes e embaixadora da Alfa Romeo
13

Na Fórmula 1, vários nomes estiveram ligados à categoria nos últimos anos, mas um se destaca pela sua participação ativa: Susie Wolff.

A carreira de Susie nas pistas é extensa, tendo corrido na Fórmula Renault Britânica e na DTM, onde esteve por sete anos. Enquanto ainda corria pelo campeonato alemão, assinou com a Wiliams como piloto de desenvolvimento. Dois anos depois, tornou-se piloto de testes da equipe britânica, onde passou a ganhar mais visibilidade.

No total, ela participou de quatro finais de semana de GPs, pilotando os carros da Williams no primeiro treino livre das sextas-feiras. Sua primeira participação, no GP da Grã-Bretanha de 2014, marcou a volta de uma piloto a um final de semana de F1 após uma ausência de 22 anos, quando Giovanna Amatti não conseguiu classificar sua Brabham para o GP do Brasil de 1992.

Mas, no ano seguinte, Susie anunciou que estaria se aposentando das pistas, mas não do automobilismo. Atualmente, ela é chefe da equipe Venturi na Fórmula E.

Susie Wolff como piloto de desenvolvimento da Williams
Susie Wolff, Williams FW37
Susie Wolff
Valtteri Bottas, Felipe Massa, Susie Wolff e Alex Lynn, lançamento do FW37
Valtteri Bottas, Pastor Maldonado, Susie Wolff
Felipe Massa, Edoardo Mortara, Susie Wolff, com a equipe Venturi
Susie Wolff e Toto Wolff
Susie Wolff em entrevista a Nicki Shields
Katherine Legge, Mahindra Racing
Katherine Legge, Mahindra Racing, M5 Electro
Simona de Silvestro, Venturi Formula E
Simona de Silvestro e Alexander Sims
12

Na Fórmula E, as mulheres estão presentes desde o início da categoria, em 2014. Na primeira prova da história, o ePrix de Pequim, haviam duas entre os 20 pilotos que participaram da corrida: a britânica Katherine Legge e a italiana Michela Cerruti.

Mas, como o grid da F-E era muito instável em seu primeiro ano, com muitas trocas de pilotos, as duas ficaram pouco tempo por lá. Após duas etapas, Legge foi trocada pelo mexicano Salvador Durán na equipe Amlin Aguri, enquanto Cerruti saiu da equipe Trulli depois da quarta prova.

Antes do fim da primeira temporada, outra piloto se juntou à categoria: Simona de Silvestro. A suíça fez a rodada dupla de Londres e acabou sendo recontratada para disputar a temporada 2015/16 como piloto titular da equipe Andretti, chegando a pontuar duas vezes.

Desde a saída de Simona, nenhuma outra mulher correu pela categoria, mas a F-E continua incentivando a participação feminina, chegando a fazer um teste de pilotos novatos que contou com nove mulheres na pista na Arábia Saudita em 2018.

Fora das pistas, vale destacar também o feito de Leena Gade. Em 2011, a britânica fez história como a primeira mulher engenheira a vencer as 24 Horas de Le Mans, com a Audi e o trio de Marcel Fässler, Andre Lotterer e Benoît Tréluyer. No ano seguinte, ela foi nomeada a "Homem do Ano" (Man of the Year em inglês) do Campeonato Mundial de Endurance da FIA.

Jamie Chadwick at the drivers autograph session

Jamie Chadwick at the drivers autograph session

Photo by: Carl Bingham / Motorsport Images

Parte 3: O que podemos esperar para o futuro?

Ainda é muito cedo para afirmar com tanta certeza, mas, pela situação que vemos agora, estamos há alguns anos de distância de conhecer a próxima piloto da F1, que continuará o legado de Maria Teresa de Filippis e Lella Lombardi. Outras já tentaram, mas não conseguiram, como Desiré Wilson, Giovanna Amatti, Susie Wolff e Carmem Jordá.

Mas há mulheres que estão tentando chegar lá, como Tatiana Calderón, que atua como piloto de testes da Alfa Romeo e Jamie Chadwick.

Jamie é campeã da temporada inaugural da W Series, em 2019, campeonato criado para dar mais espaço às mulheres no automobilismo e que como estreante no grid de 2021 a brasileira Bruna Tomaselli. A categoria, que correu junto com a DTM em sua temporada inaugural, usa o mesmo carro da Fórmula Regional Europeia, um F3. Mas sua criação dividiu opiniões à época.

No lançamento da W Series, a CEO da categoria, Catherine Bond Muir destacou a importância do campeonato como incentivador da presença das mulheres no mundo do automobilismo.

"Estamos enfrentando esse problema de frente porque precisamos aumentar o número de mulheres correndo, para que elas possam acumular experiência e conseguir evoluir para os principais campeonatos no futuro. Eu acho que há um problema estrutural no esporte a motor. As mulheres não tiveram a oportunidade ainda porque elas não tiveram a chance de conseguir os patrocínios necessários para continuar crescendo no esporte", afirmou.

Esmee Hawkey, Jessica Hawkins, Tasmin Pepper
Bruna Tomaselli, Programa de seleção W Series
Sabre Cook
Sabre Cook
Track action in the WSeries Tatuus F3 T-318 car
W Series testing, day 1
Bruna Tomaselli, USF 2000 e W Series
7

Antes mesmo de seu anúncio oficial, Michèle Mouton já havia rebatido uma ideia similar proposta por Bernie Ecclestone. Em entrevista ao Motorsport.com à época, ela disse ser totalmente contra a ideia por defender que as mulheres são capazes de correr no mesmo nível que os homens.

"Quando você tem a possibilidade de estar no mesmo nível, isso não faz sentido. Quando você está atrás do volante, quem pode dizer se você é um homem ou uma mulher? Não vejo razões para segregar as mulheres. No fim do dia, você está correndo na mesma pista e mesmo com uma série só de mulheres, as pessoas vão comparar os tempos de volta".

Em 2006, falando ao The Guardian, a primeira mulher a pilotar um carro de F1, Maria Teresa de Filippis comentou sobre a presença das mulheres no automobilismo.

"Eu acredito que as mulheres podem competir de igual com os homens, mas sempre seremos poucas. A força física necessária não é uma característica feminina. Esses pescoços de touro por exemplo não são coisas bonitas de se ver. Mas fico surpresa de ainda não termos mais. Existe a questão do dinheiro. Muitos patrocinadores não acreditam que uma mulher pode competir de igual para igual. É uma pena, porque haveria muito interesse se tivermos uma mulher na Fórmula 1".

A atuação das mulheres no mundo do automobilismo está indo além de apenas incentivar a entrada de outras mulheres no esporte. Para a britânica Nathalie McGloin, é também uma luta para buscar espaço para as pessoas com deficiência.

McGloin, que ficou tetraplégica aos 16 anos após um acidente de carro, conheceu o automobilismo quando já usava cadeira de rodas. Quando um amigo comprou um carro similar ao seu, ele fez uma aposta com Nathalie que o carro dele era mais rápido. Para resolver a questão, eles foram a um track day e, a partir dali, ela se apaixonou com o esporte.

"Eu amo correr porque eu amo o fato de que nada importa com relação a quem está pilotando a não ser a sua posição de chegada. Deficiência, religião, raça, nada importa. O que importa é a sua capacidade", falou Nathalie em entrevista à CNN. "Quando estou correndo, eu deixo minha cadeira de rodas no pit. Quando chego ao grid vestindo o capacete, ninguém sabe que sou mulher ou que tenho uma deficiência. Sou apenas outro piloto. E é assim que as coisas devem ser".

Nathalie é uma das embaixadoras do projeto Dare to Be Different (Ouse ser Diferente), fundado por Susie Wolff e a Federação de Automobilismo do Reino Unido, que tem como objetivo introduzir meninas ao mundo do esporte a motor de todos os ângulos: de piloto e mecânicos até repórteres.

"A razão por trás da falta de visibilidade das mulheres na F1 é porque faltam mulheres na base. É um ciclo vicioso. Elas não veem mulheres no automobilismo e acabam não tendo a vontade de se envolver com o esporte. Com o projeto, nós tentamos incutir nelas o pensamento de que o esporte a motor é legal e divertido, algo que elas vão querer praticar", afirmou Nathalie em um dos vídeos divulgados pelo projeto.

O projeto não é o único a tentar lidar diretamente com esse problema. Em 2009, a Federação Internacional de Automobilismo anunciou a criação de uma comissão específica sobre mulheres no esporte a motor. Coordenada por Michèle Mouton, a comissão pretende encorajar a entrada de mulheres no esporte, não apenas como piloto, mas também nas áreas técnicas.

"Nós estamos dando o nosso máximo para ajudar, promover e encorajar uma participação feminina maior, detectar novos talentos... Na minha experiência foi uma oportunidade que me colocou nesse esporte. Eu acho que temos que nos esforçar para que as mulheres tenham a mesma chance que os homens, o mesmo equipamento. Porque não somos inferiores e nem especiais", disse Michèle ao Motorsport.com.

Faça parte da comunidade Motorsport

Join the conversation
Artigo anterior FIA põe fim à regra que limitava mudanças de pintura em capacetes da F1
Próximo artigo F1: Por coronavírus, GP do Bahrein será realizado com portões fechados

Principais comentários

Ainda não há comentários. Seja o primeiro a comentar.

Cadastre-se gratuitamente

  • Tenha acesso rápido aos seus artigos favoritos

  • Gerencie alertas sobre as últimas notícias e pilotos favoritos

  • Faça sua voz ser ouvida com comentários em nossos artigos.

Motorsport prime

Descubra conteúdo premium
Assinar

Edição

Brasil