EXCLUSIVO: Bortoleto rebate críticos, detalha ajuda crucial de Verstappen na F1 e opina sobre disputa na McLaren

Primeiro GP em casa como piloto de Fórmula 1, torcida do lado, muita festa. A estreia de Gabriel Bortoleto no Brasil não foi, nem de longe, como ele esperava dentro da pista, mas fora dela, o paulista de 21 anos foi o homem do fim de semana. 

Antes de toda a ação começar, o Motorsport.com teve a oportunidade de conversar exclusivamente com o piloto da Sauber e o brasileiro, além de compartilhar a emoção por correr em São Paulo pela primeira vez, destacou a importância de Max Verstappen e Fernando Alonso na sua carreira, a relação com Mattia Binotto e mandou um recado muito sincero para quem o criticava no início da temporada. 

Motorsport.com: Gabriel, primeiro eu queria saber de você, qual é a sensação de estar em Interlagos? Você já falou que não correu aqui antes, mas neste ano vai ter uma torcida imensa. A movimentação das redes sociais, inclusive, está muito grande, vão ter pessoas com asa de borboleta, muita homenagem. Como é essa sensação pra você?

Gabriel Bortoleto: É uma sensação diferente, obviamente. É uma coisa muito legal ver os fãs brasileiros interagindo tanto e [sendo] tão carinhoso também, ao ponto de fazer todas essas brincadeiras, né? Eu acho muito legal. 

Motorsport.com: No ano passado você estava na regressiva do anúncio e agora como piloto oficial vem tendo um ano muito sólido. Tenta trazer exemplos do que mudou na sua vida... Óbvio, a gente imagina que o assédio é muito maior, mas o que muda na prática? Não poder sair em tais lugares, eventos que aumentaram, esse carinho, como que é?

Gabriel Bortoleto: Acho que muda um pouco. Você vai num restaurante hoje, aqui no Brasil, e tem um pouco mais de assédio. Mas assim, cara, faz parte. A gente sabe como são essas coisas. Com certeza teve um aumento significativo nisso de sair para um hotel, para um restaurante, fazer qualquer coisa, mas eu não me incomodo, pelo contrário, são fãs, são pessoas que me apoiam, que me querem bem, então eu fico feliz em receber todo mundo.

Motorsport.com: E principalmente, a gente vê que muitas crianças também gostam, estão te acompanhando. Te procuram. Como que você recebe o carinho? Porque vai de adultos, pessoas de meia idade, até crianças que te veem como uma referência agora. Você sente um peso? 

Gabriel Bortoleto: Sim e não ao mesmo tempo. Eu acho que faço o meu trabalho na pista, dou o meu melhor e sou o que sou, é isso, não tem muito segredo. Acho que nunca falo algo... Não sei se estúpido seria a palavra, mas não falo nada estúpido na mídia ou algo que possa prejudicar a nova geração ou influencia de maneira errada. Então, sou bem tranquilo com as coisas que eu falo ou a responsabilidade que tenho sobre isso. 

Gabriel Bortoleto; Motorsport.com

Motorsport.com: Esse ponto é interessante porque eu acho que todo mundo, dos 8 aos 15, 16 anos, vive aquele 'prime' como fã de alguma coisa. As melhores Copas do Mundo que assistimos são nessa idade porque você tem o sonho de colecionar algo, é uma relação diferente com o fã porque vira um herói. O público que assiste, gosta de corrida, mas criança trata como herói. Você mencionou que não é de falar coisas estúpidas, mas você é muito jovem, as pessoas associam a pouca idade de um piloto à falta de responsabilidade. Isso fica na tua cabeça ou não? É natural você não dar essas deslizadas, não dar essas deslizadas? 

Gabriel Bortoleto: Eu acho que é natural. Mas ao mesmo tempo, você sai do carro puto de uma corrida ou por alguma coisa que aconteceu... Você sabe como as emoções são, eu sou um ser humano, então no final das contas, é fácil você cometer um deslize e falar algo errado. Se eu cometer, não sei...

Não vou falar a palavra erro, mas se eu cometer alguma coisa que não foi boa e eu vou lá e falo alguma coisa errada na mídia ou algo agressivo, cara, isso pode acontecer, entendeu? Mas eu sempre tento tomar cuidado. Eu me sinto muito mais tranquilo e responsável pilotando um carro de corrida do que com as coisas que eu vou falar fora dele. Porque uma palavra errada por mudar muitas coisas, eu diria. 

Motorsport.com: O fato de você ter amizade, por exemplo, com o Verstappen, que é um cara que é muito conhecido por falar o que pensa, você fica receoso das pessoas te relacionaram à personalidade dele ou dizerem que você tem uma personalidade parecida? 

Gabriel Bortoleto: Ele pensa muito mais do que todo mundo imagina. Ele é um dos caras que mais pensa. Ele sabe o que ele fala. Ele é daquele jeito porque ele quer ser daquele jeito. É agressivo, sim, muitas vezes o que ele fala na mídia, mas acredito que é uma coisa que ele sabe o que está fazendo. Ele não fala porque é obrigado ou porque saiu na emoção, ele tem muito bem pensado as coisas que ele fala.

Então, não me incomoda de, talvez, colocarem sobre mim essa personalidade porque é um cara que eu admiro realmente. Eu acho que as coisas que ele fala fazem sentido, sabe? Obviamente, talvez o que ele tenha falado quando ele tinha 18 anos quando ele entrou na Fórmula 1, seja diferente. Hoje em dia ele é um cara que... Todas as entrevistas que eu participei com ele, fiz um podcast dias atrás, coletiva de imprensa, tudo, é um cara que sempre é muito bom nas respostas. 

Gabriel Bortoleto; Coletiva de imprensa

Motorsport.com: Já que estamos falando de Verstappen... É interessante porque no Brasil, nos últimos anos, se estabeleceu a rivalidade Verstappen e Hamilton, especialmente por 2021. A gente percebe que em cada país, um é mais popular que o outro, é tipo eleição americana nos Estados Unidos e aqui sempre foi um território do Hamilton por toda história, muitos anos de Fórmula 1, ele foi campeão aqui, a história do Senna. O Verstappen ganhou todo mundo por vários motivos, vencendo não só com um carro que é bom, mostrando que ele está acima, mais maduro, campeão. Além disso, sua relação com ele respinga também, as pessoas veem que vocês são amigos, que ele cuida de você, uma espécie de melhor amigo. Conta um pouco se você percebeu como a relação de vocês pingou no mercado brasileiro. 

Gabriel Bortoleto: Eu espero que tenha respingado de uma maneira boa porque ele realmente é um cara que me ajudou mais do que qualquer outro piloto brasileiro ou outro piloto na Fórmula 1. Então, não tenho o que falar. Ele e o Fernando, que é o meu empresário, são as pessoas que mais tiveram influência, digamos, na minha carreira e com ajuda na pista. No caso do Fernando [foi] toda a questão dos meus contratos, as direções de carreira que eu tomei. 

Eu espero que os brasileiros reconheçam isso porque ele [Verstappen] merece ser reconhecido pela ajuda que ele também teve na minha carreira. É uma pessoa que tem extrema paixão pelo Brasil. Não vou ficar falando aqui as coisas, mas é um cara que vem para o Brasil com frequência sem ser na corrida. Ele veio para cá antes de todo mundo, duas semanas antes, logo que acabou o [GP do] México. Então, você vê a paixão que ele tem pelo nosso país e é legal porque muitas pessoas chegam [o] mais tarde possível e querem ir embora o quanto antes. Eu acho isso muito legal.

Motorsport.com: Você falou falou que ele [Verstappen] foi muito importante para sua carreira, para sua chegada na Fórmula 1. Você poderia contar um pouquinho do que ele fez nos bastidores? 

Gabriel Bortoleto: Sim! Primeiro, ele me ajudou muito na pista e acho que resultado de pista é onde a gente [se] coloca ou não na Fórmula 1, entendeu? Ele é um cara que me deu muitas dicas durante a minha temporada de F3 e F2. Eu ligava para ele, perguntava coisas quando eu estava para assinar contratos, para pedir uma opinião aqui e ali. 

Não vou entrar em detalhes do que ele disse do contrato, mas assim, ele foi um cara que teve bastante [participação]. Eu perguntava, sentia que tinha abertura o suficiente para perguntar: "mas o que você acha disso ou aquilo?". É uma pessoa que falou muito bem de mim no paddock, para chefes de equipe, para o meu chefe de equipe, para o próprio Mattia [Binotto]. Ele me ajudou muito nesse quesito. Com certeza a palavra de um quatro vezes campeão do mundo, falando que um garoto tem talento e que ele pode ser o futuro, pesa na decisão dessas pessoas sobre quem contratar.

"Einer der vielversprechendsten Rookies seit langem": Hülkenberg lobt Bortoleto

Foto de: LAT Images

*Neste momento, Nico Hulkenberg se 'intrometeu' na conversda elogiando a capacidade do Bortoleto de tomar o café da manhã ao mesmo tempo em que dava entrevista.

Motorsport.com: Primeiro, queria perguntar do Binotto. Ele foi no evento com você, isso não é normal, o 'chefão' dar um rolê em São Paulo à noite... Isso mostra um carinho, me parece. Queria que você falasse do Binotto e Hulkenberg, dessa relação que a gente acabou de ver, sempre harmoniosa, até mesmo quando você passou a ter resultados melhores que o dele, ele não pareceu incomodado, pareceu satisfeito em ver esse seu progresso... 

Gabriel Bortoleto: O Binotto é um cara que eu tenho extremo respeito e admiração. É uma pessoa genial. Você senta na mesa para conversar com o cara e pode aprender tanto porque é legal conversar com ele. É uma pessoa que pensa nas coisas que fala, não é da boca para fora. Eu me dou muito bem com ele, é o cara que me contratou, no final das contas. Ele apostou em um jovem talento, digamos assim, para entrar na Fórmula 1 quando ele tinha outra opções, pessoas mais experientes se ele quisesse.

Mas ele foi lá, apostou e falou: "eu quero, vamos lá", ele vendeu isso dentro do conselho da Audi. Hoje, eu tenho uma ótima reação com todo mundo, mas principalmente com ele. Acho que é o cara que sou mais próximo da equipe, a gente tá sempre junto. Eu vou para Suíça, estamos sempre muito próximos quando estou na equipe, sempre marcamos de fazer alguma coisa quando eu vou para lá. Você mesmo disse, ele estava no evento comigo. Ele falou: "vou chegar um dia antes no Brasil, vamos ficar juntos, tá bom?".  Levei ele para fazer outras coisas também antes e depois do evento, foi muito divertido. 

O Hulk é o que você falou. Ele é um cara nota 1000, muito gente boa, me apoiou muito no começo da temporada quando o resultado estava para vir, mas por alguns motivos não vinha, ele estava lá me apoiando, do meu lado e quando o resultado começou a aparecer e eu comecei a ficar na frente dele, ele não mudou, muito pelo contrário, ele estava disposto a entender o porquê que eu fiz aquela evolução, como ele poderia melhorar e eu também estava disposto a ajudá-lo, se eu pudesse, em alguma coisa.

Um motivava o outro, um ajudava o outro. É um clima muito bom dentro dessa equipe porque nos faz crescer como pilotos, os dois. Não estamos lutando por título mundial ainda, entende? Não tem razão para criar um clima tóxico dentro de uma equipe que não está lutando por um título mundial. Se você está lutando, amigão, desculpa mas cada um vai dar o seu melhor. Mas estávamos no começo do ano em P19 e P20, conseguimos colocar essa equipe dentro do Top 10 com frequência... Isso é muito do ambiente que temos aqui dentro.

Gabriel Bortoleto, Sauber

Foto de: Andy Hone/ LAT Images via Getty Images

Motorsport.com: A gente estava conversando antes de vir para cá e eu acho que uma coisa coisa que foi pouco falada foi sobre essa sua evolução, a evolução da equipe. Ficava sempre a sensação, em alguns momentos, de que na hora de dividir a estratégia, funcionava para o Hulk e não funcionava para o Bortoleto. Não por sacanagem, claro, mas você sabe que brasileiro fala: "Ah, estão sacaneando o moleque", não por isso. Mas como foi esse crescimento entre vocês? Porque, óbvio, tem o seu papel de se fazer ser mais ouvido e dizer "eu quero assim"... Como foi a construção disso?

Gabriel Bortoleto: Realmente, a estratégia esse ano tem sido um fator para gente, não só para mim, para o Nico também. Acho que para mim aconteceram mais vezes...

Motorsport.com: A gente repara mais também...

Gabriel Bortoleto: Obviamente, o brasileiro vai reparar mais do meu lado, mas aconteceu muitas vezes com ele [Hulkenberg] que ninguém falou. Mas houve oportunidades perdidas dele de pontuar e uma estratégia que não deu certo, uma para na hora errada impossibilitou. Então, assim, acontece para os dois lados sim, acho que um pouco mais para o meu, mas não é de propósito. A verdade é que todo mundo ganha se a gente acabar na frente no campeonato de construtores. 

Não tem razão para sacanear um piloto ou outro. Já vi alguns brasileiros falando isso, mas está todo mundo dando o seu melhor. Temos analisado muito as estratégias nas últimas corridas, entendido com os erros e o que poderíamos ter feito melhor na parte do estrategista, da minha parte como piloto, como posso comunicar para que ele tenha uma visão melhor da corrida do meu ponto de vista dentro do carro. Acho que cada vez mais a gente tem cometido menos erros. No México funcionou muito bem a estratégia, por exemplo, acho que foi muito sólido.

Motorsport.com: E, por exemplo, o seu engenheiro de pista é alguém que já te acompanha há um tempo, isso facilita na comunicação e no crescimento conjunto?

Gabriel Bortoleto: Sim! O estrategista e o engenheiro de pista são duas pessoas diferentes, mas ele [o engenheiro] está sempre no meio como intermediário. É um cara que veio da McLaren comigo, então eu tenho um extremo respeito por ele. É o primeiro ano dele como engenheiro de corrida, ninguém pode esquecer disso. Ele trabalhou muitos anos como engenheiro de performance antes, fez algumas corridas como engenheiro de corrida, mas é o primeiro ano completo e ele tem feito um ótimo trabalho na minha opinião. Temos trabalhado muito bem juntos, temos aprendido muito.

Gabriel Bortoleto, Sauber

Foto de: Andy Hone/ LAT Images via Getty Images

Motorsport.com: Aproveitando que você citou o engenheiro de McLaren... Você esteve lá até pouco tempo e agora, eles estão brigando pelo título. Por lá, a situação deu uma escalada. Oscar ou Lando, quem você acha que leva?

Gabriel Bortoleto: Cara, eles estão a um ponto de diferença. Se você me perguntasse há três etapas, eu falaria que o Oscar iria levar. Mas está tão apertado. Eu juro que eu me pergunto a mesma coisa e não consigo ter uma resposta e eu não tenho problema de falar um ou outro porque ter uma ligação. Mas porque é difícil. Três corridas atrás eu falaria o Oscar...

*Um funcionário da Sauber que estava na mesa ao lado começou a falar: "Vai dar Max. Vai dar Max.".

Gabriel Bortoleto: É, você não me perguntou dele. Sinceramente, cara, não sei. Se eu tivesse que dar uma resposta hoje, eu apostaria no Lando, vendo os resultados dele nas últimas pistas do ano nos anos anteriores. Ele sempre foi bom em Abu Dhabi, no Brasil ele fez a pole, no ano passado teve um ótimo resultado... E Las Vegas [é] uma pista [de] baixo grip, parecido com México.

Motorsport.com: Isso que falam que ele [Norris] é mais querido na McLaren, você acha que existe ou não?

Gabriel Bortoleto: Ele está lá a mais tempo... É tipo eu estar aqui na Audi durante seis, sete anos e chega um menino novo... É diferente. É como um colega de trabalho que você trabalha com ele há dez anos e chega um cara novo, você vai ter uma feição um pouco maior pela pessoa que trabalha com você há mais tempo. Mas isso não significa que as equipes não são profissionais, ninguém tá priorizando ninguém, é uma questão de... Tá, talvez goste mais de um que de outro.

Eu não sei qual é o clima lá, tá? Eu fiquei pouco tempo, me envolvi pouco na Fórmula 1, não estava nas corridas o tempo todo, mas eu acho que os dois têm a mesma prioridade dentro da equipe, os dois têm o mesmo carro e os dois podem fazer um bom trabalho. Aí, pô, se um ganha e a equipe fica mais feliz do que quando é o outro, é um problema deles.

Gabriel Bortoleto, Sauber

Foto de: Andy Hone/ LAT Images via Getty Images

Motorsport.com: Durante o começo da temporada, até mesmo nos nossos programas e também nas coisas que postávamos sobre você nas redes sociais, muitas pessoas faziam comentários até de certa forma pejorativos te chamando de "Bortolento", falando "Esse menino é enganação"... O que você responderia para eles hoje? Faltam quatro corridas para o fim da temporada, então, se você pudesse responder algo para essas pessoas que falaram de você dessa forma, o que você falaria?

Gabriel Bortoleto: Primeiro, quero agradecer o apoio de vocês. Eu acompanho no Youtube sempre que estou em casa descansando, vejo os vídeos, assisto aos podcasts e eu acho muito bom. Obrigado pelo apoio de vocês que sempre estiveram lá comigo. Acredito que sempre tem que ter uma análise, críticas positivas ou negativas, faz parte do nosso trabalho e do de vocês como jornalista. 

Bom, o que eu disso do público... Que resposta eu posso dar para isso? Eu sou uma pessoa que eu não gosto de ficar me gabando de resultado porque quem vive de passado é museu, mas eu tive ótimos resultados esse ano, acredito que provei do que eu sou capaz. Coloquei o carro que temos, algumas vezes, nos pontos, [fui] sexto em Budapeste, um ótimo resultado que espero conseguir superar até o fim do ano. Eu ganhei a F3 e F2 no meu primeiro ano, quantos pilotos na história fizeram isso? 

Motorsport.com: Três. Oscar Piastri, Charles Leclerc, George Russell e agora você. 

Gabriel Bortoleto: Quatro comigo. Então, acho que isso mostra um pouquinho e se você pegar os nomes desses pilotos, são pilotos muito bem sucedidos na Fórmula 1, que estão lutando por títulos mundiais e os que não estão, poderiam estar se tivesse um carro melhor. Então, assim... Eu já provei o meu valor e quem importa sabe da minha capacidade que é a minha equipe. O resto, cara... O dia que a gente tiver a capacidade de estar lutando por título, eu quero ver essas pessoas comentarem coisas desse tipo. Não vai acontecer.  

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