Análise

F1: Em meio à polêmica com Red Bull, entenda como e por que Aston Martin decidiu fazer dois carros para 2022

Equipe britânica deu suas versões dos fatos sobre alegações de cópia e até mesmo uso ilegal de propriedade intelectual da Red Bull.

Lance Stroll, Aston Martin AMR22

Lance Stroll, Aston Martin AMR22

Carl Bingham / Motorsport Images

A aparente similaridade entre a nova especificação do AMR22 da Aston Martin e o RB18 da Red Bull obviamente trouxe de volta ao paddock da Fórmula 1 memórias do "copygate" da equipe em 2020, quando produziu a "Mercedes rosa" enquanto ainda era conhecida como Racing Point.

Porém, há uma grande diferença entre ambas as situações. No primeiro caso, a acusação girava em torno da equipe ter emprestado a propriedade intelectual de uma equipe parceira, a Mercedes, que fornecia unidades de potência, caixa de câmbio e suspensão para o time de Silverstone.

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Desta vez, as sugestões bem claras dos chefes da Red Bull, Christian Horner e Helmut Marko, é de que a informação havia 'viajado' de Milton Keynes para lá, com um de sete funcionários que trocaram de equipe nos últimos meses.

Assuntos do tipo são tratados com seriedade pelo esporte, e é por isso que as equipes possuem controles estritos em seus sistemas, e é por isso que a FIA mantém um olhar acirrado para violações em potencial, seja envolvendo cooperação ou possível roubo.

No momento em que vimos a Aston Martin revisada em Barcelona, a FIA já havia visto as subsmissões da equipe sobre o novo design, tendo conduzido uma investigação na fábrica.

Essas pessoas obviamente sabem o que procurar, e sua conclusão era de que a Aston não havia feito nada de errado. Se qualquer um dos ex-funcionários da Red Bull tivessem trazido o conhecimento apenas em suas mentes, é fair play. Algo além disso já seria ilegal.

Paralelamente, após ser alertada pela FIA, a Red Bull iniciou sua própria investigação, correndo atrás de qualquer vestígio digital deixado no sistema da companhia pelos sete funcionários. As sugestões pouco sutis da Red Bull era de que uma anomalia havia aparecido. O que se trata e se isso levará a novas investigações da FIA, isso ainda não sabemos.

Max Verstappen, Red Bull Racing RB18, leads Lance Stroll, Aston Martin AMR22

Max Verstappen, Red Bull Racing RB18, leads Lance Stroll, Aston Martin AMR22

Photo by: Carl Bingham / Motorsport Images

A história toda se mostrou incrivelmente frustrante para o chefe técnico da Aston Martin, Andrew Green, que já tinha recebido várias críticas anteriormente.

No lançamento do AMR22 em fevereiro, ele destacou que o projeto foi concebido com uma possível mudança de conceitos aerodinâmicos, e quando a tempestade chegou na Espanha, ele afirmou que o design já estava sendo desenvolvido muito antes do RB18 ser mostrado ao público, não tendo como sua equipe copiá-lo.

A resposta de Horner foi sugerir que potencialmente a Aston poderia ter visto o projeto da Red Bull antes mesmo do lançamento. Era um dilema, uma encruzilhada para Green e sua equipe.

Como explicado por Green, o processo de conceber dois conceitos diferentes para 2022 já havia sido iniciado muito antes do primeiro ex-funcionário da Red Bull chegar à Aston, no fim do ano passado.

"O principal é que, quando chegamos em agosto, tínhamos dois projetos correndo paralelamente, por sete ou oito meses, e não tínhamos como dizer qual seria o melhor. Ambos tinham características particulares. Este [a nova especificação], tinha uma característica diferente, mas não parecia que iria gerar muito downforce".

"O outro tinha características mais pobres, mas gerava uma grande quantidade de downforce. Então fomos gananciosos. E seguimos com aquele que gerava downforce, acreditando que poderíamos resolver o resto depois".

Alguns argumentam que uma equipe não teria condições financeiras de desenvolver dois conceitos, devido ao teto orçamentário e as restrições de testes aerodinâmicos, mas Green defende que tudo foi gerenciado com cautela.

"O que fizemos foi garantir que o chassi usasse os dois conceitos. Então o chassi foi projetado para receber o velho sistema de resfriamento e este sem modificações. Foi algo grande, mas sem custos adicionais".

"E aí garantimos que uma produção mínima de peças sobressalentes da primeira especificação, que nos levasse até a quinta corrida. E isso foi chave, não ir além disso. Então provamos que é possível".

Em termos de aerodinâmica, Green disse que a equipe focou em uma ideia por vez.

"Por um tempo, os projetos seguiam paralelamente, mas por um certo período, pausamos este carro e seguimos com a primeira especificação, para ver onde daria. Não fizemos os dois juntos o tempo".

Pierre Gasly, AlphaTauri AT03, Sebastian Vettel, Aston Martin AMR22

Pierre Gasly, AlphaTauri AT03, Sebastian Vettel, Aston Martin AMR22

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

Green não nega que a equipe se inspirou na Red Bull quando o carro foi lançado. O RB18 espelhava seu próprio conceito, da segunda especificação, que já estava em andamento, e quando o carro funcionou na pista, era natural que a Aston mantivesse uma atenção em seu progresso.

"Vimos as pessoas seguindo este caminho", disse Green. "E quando a Red Bull lançou o carro em fevereiro, apenas confirmou a rota que estávamos. E, naturalmente, você pode se inspirar nas outras equipes. Mas já estávamos neste caminho há algum tempo".

Green defende que os inspetores da FIA viram tudo certo, e puderam notar uma trilha de design via CFD e túnel de vento e os desenhos do projeto. A chegada repentina de desenhos prontos no sistema, seja emprestados ou "roubados", seria aparente. As equipes também não podem usar engenharia reversa ou qualquer forma de tecnologia para copiar um design rival, mesmo de fotos.

Após a visita à fábrica de Silverstone, a FIA ficou satisfeita ao notar que não havia nada de ilegal.

"Acho que o que pudemos demonstrar claramente para a FIA, é que a maioria desse pacote foi projetado por nós mesmos, claramente sem influências de fora. Eles entraram e olharam, olharam fundo em tudo, questionaram os funcionários. E chegaram à conclusão correta, de que não usamos propriedade intelectual de outros. Não usamos nada. Tudo foi gerado internamente".

"Obviamente, quando a Red Bull surgiu, você vai se inspirar, assim como eles se inspiraram em nosso carro. Eles têm algumas coisas que foram inspiradas de nosso carro. Acho que é natural. Mas o conceito geral foi algo desenvolvido independentemente".

Ficou óbvio na Espanha que algumas partes do pacote aerodinâmico do AMR22, ao redor do sidepod e do assoalho, parecem similares ao RB18. Mas Green defende que muito não se parece.

"Há vários detalhes por todo o carro que são completamente diferentes. Todo o conceito da asa dianteira, suspensão, chassi, são completamente diferentes. Obviamente, usamos uma unidade de potência diferente. O sistema de resfriamento, câmbio, suspensão traseira, dutos de freios traseiros, asa traseira, tudo é diferente".

"Há uma filosofia de downwash na área do sidepod que adotamos, e não somente a Red Bull, mas há outras equipes com abordagens similares. Acho que há muitas diferenças. E todos parecem estar focados apenas em uma pequena seção do carro".

Lance Stroll, Aston Martin AMR22, arrives on the grid

Lance Stroll, Aston Martin AMR22, arrives on the grid

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

Então por que mudar Green defende que a equipe percebeu cedo que a especificação original dependia muito de colocar o carro bem próximo do chão, algo que acaba manifestando o porpoising, e a necessidade de aumentar a altura custa performance. A nova especificação corrige isso.

"Ao longo da geração desse regulamento, achávamos que seríamos bloqueados, com desenvolvimento comprometido se mantivéssemos o primeiro carro. Você sempre tem que considerar que o carro tinha que ficar muito próximo do chão, mas as coisas caem e quebram na aerodinâmica. E isso pode introduzir instabilidades".

"Então a decisão de dizer 'ok, vamos esquecer isso, distanciar o carro disso, tentando desenvolver para podermos colocar o carro mais longe do chão' apenas fazia sentido. Acho que você vai ver que alguns casos há sucesso na roa alternativa. E talvez seja essa que te coloque em uma situação melhor, mas tomamos a decisão, seja ela certa ou errada".

Green sugeriu que a nova especificação é tão diferente da original que deve ser vista como um carro novo e, com isso, há muito a ser aprendido ainda.

"As características aerodinâmicas são muito diferentes. E a entrega também é bem diferente, nos permitindo uma certa liberdade nos ajustes. Estávamos limitados com o anterior, e precisávamos colocá-lo de forma muito rígida, para evitar o porpoising, o colocando em posição muito alta, fora do que havia sido projetado. Eram dois problemas".

"Agora temos algo mais aceitável, e acertamos o ajuste de altura. Agora precisamos de ajustes. E está diferente, os pilotos sentiram. Precisamos trabalhar e descobrir o ponto ideal".

De fato, Barcelona foi um fim de semana de testes para a equipe. Ela percebeu cedo que não havia resfriamento suficiente para as condições quentes da Espanha e, sem os recursos que as demais montadoras têm, com testes de dinamômetro e mais, isso foi lidado na base da estimativa. Houve também problemas com a fragilidade de algumas novas peças de aerodinâmica.

Os pilotos avisaram que o carro era diferente e as indicações são de que, assim que a equipe o entenda melhor, ele será um passo adiante que o anterior não poderia fazer.

"O carro estava no túnel de vento há seis semanas. Desde então, estamos mantendo o desenvolvimento na fábrica e seguimos entregando, cada vez mais performance, então em algumas corridas teremos uma boa atualização. Parece o começo da jornada, mesmo que seja um passo adiante razoável em relação a onde estávamos".

A questão da cópia foi uma dor de cabeça extra para o chefe Mike Krack, que está no posto apenas há alguns meses. Ele admite que a equipe esperava algo do tipo no lançamento.

"Estaria mentindo se dissesse que foi uma surpresa. Para nós, a situação é o que é, as explicações foram dadas. E agora seguimos em frente. Temos trabalho o suficiente para não nos distrairmos".

Ele também citou a inspiração dos rivais no AMR22 que Green falou antes: "Você lembra na parte inferior do chassi, a aleta que tínhamos e que foi copiada pelos outros? Não fizemos um auê com isso. Poderíamos, mas não valia a pena. É algo que existe na F1 há anos, você se inspira pelos detalhes. Mas você não pode copiar os outros carros, não funciona".

"Há uma definição muito clara no Artigo 17.3 do regulamento técnico. Acho que está bem definido, cópia ou inspiração, depende do julgamento da FIA sobre o que é e não é".

Como notado, a habilidade da Aston de seguir dois conceitos diferentes com recursos limitados segue sob escrutínio. Mas o antecessor de Krack, Otmar Szafnauer, hoje à frete da Alpine, acredita que é possível.

Devido à história entre os times de Silverstone e Enstone em questões técnicas, com 2020 sendo apenas um exemplo, sua equipe preferiu não jogar lenha na fogueira.

"Esse tipo de decisão é tomada bem antes", disse. "E sim, eu estava lá no momento de decidirmos qual filosofia aerodinâmica seria tomada. Mas essas decisões são feitas depois que você aprende. E quando você aprende, pensa que uma rota pode ser melhor que a outra".

"E eu fiz isso antes na Force India, mas por diferentes razões. Então isso pode ser feito".

A questão agora é: a Red Bull tentará levar esse assunto adiante com a FIA, criando uma segunda investigação? Caso isso aconteça, as coisas podem se complicar.

Sebastian Vettel, Aston Martin AMR22, leaves the garage

Sebastian Vettel, Aston Martin AMR22, leaves the garage

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

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