Opinion

Por que o adeus de Vettel é uma grande perda para a F1 dentro e fora das pistas

Repórter de F1 da edição global do Motorsport.com, Luke Smith, que cobre a temporada 2022 pelo mundo afora, fala da importância do alemão para a categoria

Sebastian Vettel vai se aposentar da Fórmula 1 no final da temporada 2022. E a reação ao 'adeus' do piloto alemão da Aston Martin foi marcada por mais tristeza do que normalmente acontece com as despedidas de multicampeões, o que sinaliza o fim de uma era. Tudo porque o tetracampeão mundial tem uma vontade de falar sobre questões além dos GPs que poucos de seus contemporâneos mostram.

E estamos falando de um piloto que se estabeleceu como um dos maiores de todos os tempos, vencendo quatro títulos mundiais e aproveitando -- e contribuindo para -- um domínio da Red Bull que poucos competidores e equipes experimentaram na história da F1.

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Mas Vettel também é um piloto que, à medida que envelheceu, 'cresceu em sua voz 'e se tornou um porta-voz incrivelmente significativo para o futuro da F1 e em prol da necessidade de mudança. Vimos isso nas últimas semanas, quando Vettel defendeu o uso de combustíveis neutros em carbono, pilotando a Williams FW14B de 1992 de Nigel Mansell e até o carro original Aston Martin de 1922 em Paul Ricard no GP da França.

Vettel falou sobre o carro de 1922 após a qualificação no último sábado e foi questionado sobre quem assumiria o debate sobre meio ambiente na F1 quando nomes como ele e o britânico Lewis Hamilton se aposentassem. "Instagram!", foi a resposta de Vettel, algo que ignoramos na época por ser um comentário irônico vindo de um piloto avesso ao uso de mídias sociais ao longo de sua carreira. 

E, no entanto, a plataforma acabou sendo aquela pela qual ele lançaria sua maior 'bomba' desde que revelou sua decisão chocante de deixar a Red Bull no final de 2014 para ir para a Ferrari. Naquela ocasião, porém, tudo veio depois de um período em que Vettel estava no auge absoluto. Basta lembrar seu domínio até o final da temporada 2013 da F1. Poucos competidores conseguiam chegar perto dele.

Sebastian Vettel, Red Bull Racing

Sebastian Vettel, Red Bull Racing

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

De todo modo, 'Seb' foi um dos pilotos mais completos que a F1 já viu. Já na época da ida para a Ferrari, ele tinha quatro títulos mundiais e 39 vitórias aos 26 anos, fazendo com que muitos dos recordes de todos os tempos parecessem estar ao seu alcance.

As dificuldades de 2014 com a Red Bull abriram caminho para ele se juntar à escuderia, seguindo os passos de seu herói e amigo Michael Schumacher. O Kaiser sempre cuidou de Vettel em seus primeiros dias na F1, um ato repetido por Vettel em relação ao filho de Schumacher, Mick, nos últimos dois anos. E como a Ferrari tenha procurado Schumacher em 1996 para reviver sua glória após um período nebuloso, esperava-se que Vettel fizesse o mesmo.

Tudo começou bem. Ele venceu sua segunda corrida pela Ferrari, acertando a estratégia de pneus na Malásia para vencer os carros da Mercedes, e passou o ano seguinte superando regularmente o desempenho do carro colocado à sua disposição.

Com a revisão das regras aerodinâmicas em 2017, foi a chance perfeita para Vettel e Ferrari retornarem ao topo. No entanto, não foi assim. Uma mistura de deslizes da Ferrari e erros de Vettel - Hockenheim 2018 sendo o ponto de virada mais brutal - significou que a promessa inicial de desafios pelo título em 2017 e 2018 se desvaneceu para derrotas contra Hamilton e Mercedes, com o pacote anglo-germânico se mostrando muito forte ao longo de temporadas completas.

Com a chegada de Charles Leclerc à Ferrari em 2019, a atenção em Maranello foi para o jovem talento, que deixou Vettel à margem e em busca de um novo lar para 2021. E então Vettel foi a contratação que a Aston Martin queria para iniciar sua nova era, levando o proprietário Lawrence Stroll a exercer uma cláusula contratual que permitia que o vínculo com Sergio Pérez fosse rescindido.

Vettel, então, foi visto como o piloto perfeito para ajudar a Aston Martin em seu plano de cinco anos para chegar ao topo da F1, trazendo experiência e habilidade significativa, além de passar conhecimento a Lance Stroll.

Sebastian Vettel, Aston Martin

Sebastian Vettel, Aston Martin

Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

Mas é improvável que os anos finais da carreira de Vettel sejam lembrados por seus esforços na pista. Claro, houve alguns momentos brilhantes - pense em seu pódio em Baku no ano passado, ou caçando Esteban Ocon pelo que teria sido uma vitória improvável na Hungria, num GP do qual posteriormente seria desqualificado - mas a maioria das manchetes em torno de Vettel foram para suas nobres causas fora dos autódromos.

Sebastian Vettel foi a voz que a F1 precisava. Ele não tem medo de se manifestar, observando a necessidade de mudanças à medida que a crise climática que o mundo enfrenta se torna cada vez mais grave.

Ele até fez críticas a si mesmo, chamando-se de hipócrita na televisão britânica há apenas alguns meses por sua preocupação com o meio ambiente ser contrastada pelo fato de que ele corre na F1 em meio a uma série de viagens que consome muito combustível fóssil.

Portanto, não é surpresa que Vettel tenha abordado os desafios que o mundo enfrenta em seu anúncio de aposentadoria no Instagram. "Sinto que vivemos em tempos muito decisivos, e como todos nós moldarmos os próximos anos determinará nossas vidas", disse. "Minha paixão [pela F1 também] vem com certos aspectos que aprendi a não gostar: eles podem ser resolvidos no futuro, mas a vontade de aplicar essa mudança deve crescer muito e deve levar à ação hoje."

"Falar não é suficiente e não podemos esperar. Não há alternativa. A corrida está em andamento. Minha melhor corrida? Ainda está por vir. Eu acredito em seguir em frente. O tempo é uma rua de mão única, e eu quero ir com o tempo."

O Vettel pós-F1 pode ser uma força fenomenal para encorajar a mudança, usando sua plataforma como um grande do esporte para espalhar a palavra e conscientizar as pessoas, assim como ele fez algumas semanas atrás. Foi um bom sinal do tipo de figura que Vettel se tornará a partir de agora.

Mas a maior tristeza para a F1 é perder alguém tão disposto a falar sobre as coisas importantes que vão muito além dos carros de corrida. Quando as notícias de assédio de fãs surgiram no GP da Áustria, quem foi o primeiro a pedir proibições vitalícias contra os agressores?

Quem estava vestindo uma camisa de arco-íris na Hungria no ano passado para se manifestar contra suas leis anti-LGBTQIA+? Quem foi que se juntou a Hamilton na iniciativa dos pilotos contra o racismo em 2020? Seb.

Sebastian Vettel, Aston Martin

Sebastian Vettel, Aston Martin

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

Vettel tem sido uma bússola moral da F1 nos últimos anos. Por mais fortes que sejam as lembranças de seu brilhantismo na pista ao longo dos anos, o que ele contribuiu para fora da pista também é muito importante. 

E saber que ninguém estará lá para 'pegar o manto' com a mesma seriedade com que ele o carregou é certamente a maior perda que enfrentamos. Mas vamos aproveitar essas últimas 10 corridas de Sebastian Vettel, o piloto de F1... De todo modo, o recado que fica é: saibam muito bem que Sebastian Vettel, o homem que luta para tornar o mundo um lugar melhor, está apenas começando sua jornada.

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