Conteúdo especial

GP de Mônaco de 1982: Relembre a prova com final mais louco da F1

GPs de Canadá em 2011 e Brasil em 2019 são frequentemente lembrados por seus finais malucos, mas nenhum foi tão louco quanto Mônaco-82

Riccardo Patrese, Brabham BT49D Ford leads Alain Prost, Renault RE30B, Didier Pironi, Ferrari 126C2

LAT Images

"Uma corrida bem estranha": foi assim que Nigel Roebuck, da Autosport, abriu seu relato sobre o GP de Mônaco de 1982 de Fórmula 1, oferecendo um resumo adequado para uma corrida caótica e com um final caótico.

A prova é lembrada como sendo a corrida que ninguém queria vencer. Logo Mônaco, a joia da coroa, o único troféu que todos os pilotos certamente cobiçariam acima de outros.

Leia também:

Nas três últimas voltas, a liderança mudou de mãos quatro vezes, deixando apenas cinco carros recebendo a bandeira quadriculada, naquilo que deve ser considerada a corrida mais louca da história da F1.

O paddock chegou a Mônaco sob uma nuvem negra, após a morte de Gilles Villeneuve em Zolder duas semanas antes. A Ferrari optou por entrar no evento monegasco com apenas um carro, do francês Didier Pironi.

Ansioso para vencer e dedicar o triunfo a Gilles, o piloto da Renault Rene Arnoux marcou a pole no sábado e rapidamente conseguiu boa vantagem sobre pelotão no início da corrida. O Renault RE30B parecia um passo à frente dos outros carros, permitindo que o companheiro de equipe de Arnoux, Alain Prost, passasse para o segundo lugar com uma manobra sobre Riccardo Patrese.

Arnoux conseguiu abrir boa margem nas primeiras partes da corrida, construindo uma diferença de sete segundos, antes de perder o controle de seu Renault na volta 14. Ele perdeu o carro na entrada da chicane da piscina, o obrigando a parar.

Entregou então a liderança a Prost, que tinha Patrese alguns segundos atrás. Vários outros pilotos se envolveram em incidentes mais atrás, incluindo Pironi, que agora dirigia sem asa dianteira. Um contato enquanto tentava dar uma volta em Elio de Angelis deixou o carro de Pironi com danos, mas ele ainda conseguiu continuar, mesmo distante dos líderes.

Com Pironi fora de disputa, Prost conseguiu abrir vantagem sobre Patrese nas 30 voltas finais. Mas alguns pingos de chuva começaram a aparecer.

Alain Prost, Renault RE30B, leads Riccardo Patrese, Brabham BT49D-Ford

Alain Prost, Renault RE30B, leads Riccardo Patrese, Brabham BT49D-Ford

Photo by: Motorsport Images

A chuva começou a ficar mais pesada com 15 voltas para o final. Nenhum dos pilotos queria fazer uma troca de pneus tão perto do fim, mas eles enfrentavam problemas para se manter longe do muro. Keke Rosberg bateu a 11 voltas do final, enquanto perseguia Andrea De Cesaris pela quarta posição. Michele Alboreto abandonou quando sua suspensão traseira falhou nas sete últimas voltas.

A prova criava oportunidades para os menos favoritos, incluindo de Angelis, que agora estava na disputa perseguindo Derek Daly, que estava sem asa traseira e sem espelho retrovisor em sua Williams, depois de tocar em uma barreira. Sua caixa de câmbio danificada estava vazando óleo na pista, deixando o circuito escorregadio em alguns lugares para os outros oito carros ainda na corrida.

Prost parecia pronto para a vitória nas três últimas voltas, mas, quando o Renault atravessou a chicane que saía do túnel, a traseira rodou e se lançou na barreira do lado direito da pista. Seu carro bateu de volta na barreira do lado oposto. Prost sabia que uma vitória inaugural em Mônaco acabara de ser jogada fora.

Patrese conseguiu passar pelo local do acidente com segurança, passando a ser o líder, mas por pouco tempo. Na penúltima volta, o carro de Patrese bateu de lado na leve curva em direção à Loews depois de passar pelo óleo que o carro de Daly havia deixado.

Patrese conseguiu voltar após receber ajuda dos fiscais, que julgaram que o carro estava em um lugar perigoso. "Houve discussões sobre desqualificação, mas os fiscais me pressionaram porque eu estava bloqueando o caminho", disse Patrese. "Depois disso, eles me deixaram, mas felizmente estávamos em uma descida e o carro começou a andar, para que eu pudesse dar partida no motor."

Didier Pironi, Ferrari 126C2 leads Andrea de Cesaris, Alfa Romeo 182

Didier Pironi, Ferrari 126C2 leads Andrea de Cesaris, Alfa Romeo 182

Photo by: Motorsport Images

Enquanto Patrese conseguiu retomar o carro, ele não conseguiu segurar Pironi e De Cesaris deixando o Brabham no terceiro lugar. Pironi estava correndo cautelosamente, devido às condições da pista.

Quando começaram a volta final, os fiscais continuaram acenando para os líderes, dizendo-lhes para diminuir a velocidade - mas Pironi tinha pouco a dizer sobre o assunto. "Pensei que talvez tivesse um problema elétrico por causa da chuva", disse ele. "Por três ou quatro voltas, o carro tinha falhado, mas era mais simples que isso...".

A resposta? Sem combustível. O tanque no carro de Pironi finalmente secou quando ele parou no túnel. Os fiscais foram rápidos em pular a barreira e empurrá-lo, mas, sabendo que seria desqualificado, Pironi balançou a cabeça, tirou o cinto de segurança e saiu do carro.

Isso deveria ter dado a liderança a Cesaris, mas ele também havia ficado sem combustível algumas centenas de metros antes. A menos de uma volta para o final, o italiano perdeu a primeira vitória em apenas sua segunda temporada completa. Ele abandonou a F1 cerca de 12 anos depois, com o recorde indesejado de mais corridas sem vitória.

"Temos uma situação bizarra em que estamos sentados perto da linha de chegada e esperando um vencedor passar, e parece que não estamos conseguindo ter um!", exclamou o comentarista da transmissão e campeão mundial de 1976, James Hunt.

Mas, em meio ao caos, Patrese foi capaz de contornar as últimas curvas e cruzar a linha de chegada para conseguir sua primeira vitória na F1 - mesmo que não tivesse percebido naquele momento.

Riccardo Patrese, Brabham BT49D Ford

Riccardo Patrese, Brabham BT49D Ford

Photo by: Rainer W. Schlegelmilch

"Voltei à liderança sem saber!", Patrese revelou em uma entrevista de 2012 com a Autosport para uma edição especial sobre a temporada de 1982. "Quando cruzei a linha, não fazia ideia de que havia vencido porque não tínhamos rádios naquela época. Foi muito bom perceber só na frente do pódio que eu havia vencido o meu primeiro GP."

A estranheza não se limitou a Patrese e chegou aos dois pilotos que se juntaram a ele na tribuna, Pironi e Cesaris, sendo que nenhum deles realmente recebera a bandeira quadriculada. Como os dois já haviam ultrapassado dado uma volta sobre o resto do pelotão, isso significava que terminaram à frente do quarto colocado, Nigel Mansell.

Patrese e cia: os pilotos com mais vitórias e sem título na história da F1; confira

1. Stirling Moss - 16 vitórias
Moss é o piloto mais icônico com vitórias, mas sem título. O britânico ganhou nada menos que 24,24% das corridas que disputou na F1, ou seja, quase um quarto dos grandes prêmios. Ele alcançou mais primeiros lugares do que vários campeões. E, no entanto, ele nunca ganhou a coroa do mundo, sendo quatro vezes vice-campeão consecutivo (de 1955 a 1958), primeiro contra Juan Manuel Fangio e depois contra Mike Hawthorn.
2. David Coulthard - 13 vitórias
Com 13 vitórias em 246 grandes prêmios, Coulthard ocupa uma boa posição neste ranking, embora sua porcentagem de vitórias (5,28%) não seja muito alta (mas ainda melhor que a de dois campeões mundiais, Jenson Button e Keke Rosberg). O escocês terminou em segundo em 2001, longe de Michael Schumacher, e quatro vezes em terceiro no campeonato sem ser candidato ao título, ao contrário de outros pilotos nesta lista.
3. Carlos Reutemann - 12 vitórias
Com 8,22% de vitórias em 146 grandes prêmios, Reutemann tem uma pontuação melhor que nove dos 33 campeões mundiais de F1. Segundo classificado em 1981, o argentino provavelmente deveria ter sido coroado nessa temporada se, entre outras coisas, as tensões internas na Williams com seus dirigentes e Alan Jones, campeão e piloto número 1, não tivessem estragado o final da temporada, permitindo que Nelson Piquet ganhasse o título por um único ponto. Reutemann também terminou três vezes em terceiro (com Brabham em 1975, Ferrari em 1978 e Williams em 1980).
4. Felipe Massa - 11 vitórias
Massa protagonizou uma das finais mais memoráveis de temporada na história da Fórmula 1, no GP do Brasil de 2008. Ele ficou com o título na mão por alguns instantes, mas finalmente o perdeu por um ponto contra Hamilton no dia em que alcançou sua 11ª e última vitória. Sem dúvida, o brasileiro poderia ter vencido mais não fosse sua lesão grave no GP da Hungria de 2009 e seu status como número 2 desde 2010. De qualquer forma, com uma porcentagem vencedora de 4,09% (em 269 grandes prêmios), ele está atrás dos 33 pilotos campeões mundiais em termos de aproveitamento.
4. Rubens Barrichello - 11 vitórias
Com 323 GPs, Barrichello é o piloto que disputou mais corridas na história da Fórmula 1. Portanto, suas 11 vitórias o deixam com apenas 3,41% de aproveitamento. Apesar de sua presença na Ferrari entre 2000 e 2005 (e dois vices em 2002 e 2004), ele nunca foi candidato ao título. Sua melhor chance foi em 2009, com a Brawn, mas seu parceiro Jenson Button foi quem aproveitou o poder do carro para ser campeão.
6. Ronnie Peterson - 10 vitórias
Quando se trata dos pilotos de Fórmula 1 mais talentosos sem conquistar um título, o nome de Peterson nunca é esquecido. Com estilo ultra rápido e inimitável, o sueco terminou em segundo lugar em 1971 (atrás de Jackie Stewart) e em 1978. Naquele ano, ele foi o piloto número 2 da Lotus, que definiu claramente o papel de líder de Mario Andretti. O famoso Lotus 79 com efeito solo valeu a pena e os pilotos de Colin Chapman estavam a caminho da dobradinha quando um terrível acidente ocorreu em Monza. Com as pernas quebradas, Peterson perdeu a vida no hospital no dia seguinte. Com dez vitórias em 123 corridas, sua porcentagem de triunfos é de 8,13%.
6. Gerhard Berger - 10 vitórias
Durante suas 14 temporadas na F1, marcadas por etapas na Ferrari e McLaren, Berger é o primeiro piloto desse ranking a nunca ser vice-campeão. Ele terminou duas vezes em terceiro lugar no campeonato de pilotos, em 1988 (onde venceu em Monza com a Ferrari, sendo a única vitória que escapou naquele ano à McLaren) e em 1994 (novamente muito longe dos dois primeiros). Tem uma porcentagem de vitórias de 4,76% (10 vitórias em 210 grandes prêmios), melhor que a de Keke Rosberg.
8. Mark Webber - 9 vitórias
Depois de várias temporadas no meio do grid, Webber se viu em um time capaz de ganhar títulos, a Red Bull. Em 2010, ele teve sua primeira e única chance real de ser campeão. O título foi para seu parceiro Vettel e Webber terminou em terceiro, como em 2011 e 2013. Com nove vitórias em 215 grandes prêmios, ele tem uma taxa de sucesso de 4,19%.
9. Jacky Ickx - 8 vitórias
Piloto emblemático dos anos 60 e 70, Jacky Ickx se cobriu de glória nas corridas de endurance (seis vitórias em Le Mans) e no rally (vencedor do Dakar de 1983). Mas na Fórmula 1, o título escapou. Em 1969, com a Brabham, ele enfrentou um Jackie Stewart quase intocável e foi vice-campeão distante. Em 1970, com a Ferrari, ele novamente enfrentou um formidável oponente: Jochen Rindt, coroado postumamente como campeão. Com oito vitórias em 114 largadas, sua taxa de sucesso é de 7,02%, melhor que a de sete dos 33 campeões mundiais.
10. René Arnoux - 7 vitórias
Em 1983, Arnoux fazia parte do trio de pilotos (com Piquet e Alain Prost) que chegaram à última corrida com chances de título. Essa foi a grande oportunidade do piloto da Ferrari, que já tinha sete vitórias. O francês, cuja porcentagem de vitórias é de 4,70% na F1, terminaria em terceiro, sua melhor posição final em 12 temporadas. Além do notável episódio do duelo com Gilles Villeneuve em Dijon, em 1979, permanece a imagem de um piloto muito rápido, com 18 poles conquistadas entre 1979 e 1983, o que o torna o piloto com mais poles sem título.
10. Juan Pablo Montoya - 7 vitórias
Espetacular e rápido, Montoya provavelmente, como outros, teve o infortúnio de aterrissar na F1 durante a era Ferrari/Schumacher. Mas com sete vitórias em 94 corridas, ele tem uma taxa de sucesso de 7,45%. O colombiano foi o terceiro em 2002 e 2003, sendo este o ano com a melhor oportunidade (ele terminou apenas 11 pontos atrás de Schumacher).
12. Tony Brooks - 6 vitórias
12. Jacques Laffite - 6 vitórias
12. Gilles Villeneuve - 6 vitórias
12. Riccardo Patrese - 6 vitórias
12. Ralf Schumacher - 6 vitórias
17. Clay Regazzoni - 5 vitórias
17.  John Watson - 5 vitórias
17. Michele Alboreto - 5 vitórias
20. Bruce McLaren - 4 vitórias
20

*A lista considera apenas competidores que já encerraram passagem na F1

VÍDEO: Os 5 pilotos da F1 que mereciam ter sido campeões e ficaram sem título

PODCAST Motorsport.com discute os mitos e verdades da Fórmula 1; confira

 

SIGA NOSSO PODCAST GRATUITAMENTE:

Faça parte da comunidade Motorsport

Join the conversation
Artigo anterior Análise técnica: o que as asas dianteiras dizem sobre as equipes da F1 em 2020
Próximo artigo Entenda por que a parceria entre Vettel e Ferrari pode estar com dias contados

Principais comentários

Ainda não há comentários. Seja o primeiro a comentar.

Cadastre-se gratuitamente

  • Tenha acesso rápido aos seus artigos favoritos

  • Gerencie alertas sobre as últimas notícias e pilotos favoritos

  • Faça sua voz ser ouvida com comentários em nossos artigos.

Motorsport prime

Descubra conteúdo premium
Assinar

Edição

Brasil