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Veja como o amor de Zanardi pela vida surpreendeu a todos na UTI e virou força inspiradora no mundo do esporte

Companheiro do italiano na BMW, piloto brasileiro falou com exclusividade sobre como Zanardi encarava a vida após acidente na Indy em 2001

Alex Zanardi

Alex Zanardi

BMW AG

Alex Zanardi enfrenta novamente uma grande batalha pela vida, após acidente durante corrida de bicicleta de mão em uma estrada em Siena, na Itália, na última sexta-feira. Seu estado de saúde é estável e ele permanece em coma induzido e respirando com a ajuda de aparelhos.

O piloto italiano com passagens marcantes por IndyCar e Fórmula 1 já se provou como uma figura icônica do esporte, sendo inspirador e transmitindo positividade por onde passa, principalmente por ter conseguido sobreviver ao gravíssimo acidente em Lausitzring, na Alemanha, em prova da Indy em 2001, quando perdeu as duas pernas.

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Quem conviveu com a lenda foi Augusto Farfus. Ambos fizeram parte da equipe oficial dos programas da BMW, chegando a competir juntos no WTCC. Em depoimento exclusivo e emocionante, o brasileiro relatou os momentos vividos com Zanardi, contando sobre como o italiano viveu na época do acidente. Confira:

“Depois de muito tempo, tive coragem de perguntar a ele sobre o acidente. Ele disse que deixou os boxes, que o carro saiu de traseira e que não lembrava mais nada depois. Ele falou ainda: ‘a Indy, como todos os médicos do mundo, tem um protocolo que em caso de acidentes, eles socorrem os caras que têm mais chances de sobreviver. Eu só sobrevivi, porque o Alex Tagliani, que foi o cara que me bateu, não sofreu nada. Se ele tivesse quebrado o dedo, eles teriam ido salvar o Tagliani e me deixariam morrer dentro do carro. Segundo o protocolo da Indy, eu estava abaixo de todos os envolvidos no acidente, praticamente morto. Tive pouco sangue no corpo, sete paradas cardíacas etc. E daí fui ao hospital de Berlim, fiquei em coma induzido’.”

“E ele continuou: ‘Augusto, quando uma pessoa sofre um trauma grande, dizem que o ponto fundamental é quando você acorda a pessoa e você passa a mensagem a ela do que aconteceu. Os médicos falam que dependendo de como você acorda, há um impacto psicológico gigante de como a pessoa vai reagir ao trauma que ela sofreu’.”

Dentro do hospital, segundo o relato de Farfus, havia uma grande dúvida sobre quem poderia ser a primeira pessoa que o italiano veria. Após o campeão acordar, veio uma declaração surpreendente, que ditaria a forma que Zanardi encararia a vida daquele ponto em diante.

“Havia uma indefinição de quem iria acordar o Alex. Havia o Dr. (Claudio) Costa, que cuida dos pilotos da MotoGP e está acostumado com esse tipo de trauma e estava no hospital. Pensaram na mulher dele, Daniela, que é uma pessoa única, incrível, e ela decidiu que seria ela.”

“E ele me disse: ‘eu me lembro, Augusto, que estava meio grogue, abri o olho e vi a Daniela. Ela me falou: ‘Alex, você está no hospital, você bateu, você perdeu as duas pernas, mas o doutor Costa está aqui e disse que dá para colocar prótese, que está tudo bem...’ e ele disse ‘Calma, o que aconteceu?’ e ela respondeu: ‘Você perdeu as duas pernas’. ‘Eu perdi as duas pernas?’, gritando. Os médicos estavam prontos para aplicar uma medicação para ele dormir e perguntou: ‘Eu vou morrer?’ e ela disse que ele não corria mais risco de vida. ‘Você tem certeza?’, perguntou novamente. E ela disse que tinha. ‘Então me deixa dormir, que quando eu acordar, eu vejo o que faço sem as minhas pernas’. E ele voltou a dormir e tocou o pau, foi assim que ele me falou.”

O bom humor de Zanardi com o tempo se mostrou inabalável. Prova disso foi quando Farfus e toda equipe BMW estavam em um problemático hotel na França durante o verão.

“No meu primeiro treino com a BMW, eu encontrei o Alex em Magny Cours (França) e fomos jantar. Ele chegou à mesa com o pessoal da BMW e perguntou: ‘pessoal, está calor no quarto de vocês?’ E realmente estava calor, porque tinha alguma coisa acontecendo com o aquecedor do hotel. E ele continuou: ‘Por causa do meu joelho, tenho uma chave de 6 mm e eu desmontei a janela. Às vezes o meu joelho dá uma travada e eu sempre ando com uma 6 mm aqui’. Daí ele tirou a chave e perguntou: ‘alguém quer?’. Ele tem um senso de humor incrível. Você dá um microfone a ele, pede para ele falar e te conta histórias por três horas.”

Mas a relação entre brasileiro e italiano, se tornou uma sólida amizade, não começou tão bem assim. Farfus impediu, na marra, que Zanardi conquistasse seu primeiro pódio após a volta às pistas, em 2004, em uma pista caseira.

“Em 2004, o Alex estava fazendo algumas provas de TCR Europeu pela BMW. Estávamos em Ímola, ele é da região de Padova, muito próxima, estava com o carro adaptado e ia conseguir fazer o primeiro pódio da carreira dele depois do acidente. E o que eu faço? Na última volta, sendo jovem e otimista, dou uma mergulhada na curva Água Mineral, como kamikaze, bati nele, que saiu da pista, e eu cheguei ao pódio. Saí do autódromo com o pessoal me xingando, querendo me bater. Ele participou de uma matéria na revista Autosprint, de duas páginas, me descascando. Hoje somos grandes amigos.”

“Tive a chance de fazer várias provas e viver com o Alex durante seis anos de uma forma muito próxima, então todas as vezes que nos vemos, nos sentamos, batemos um papo, ele é um cara incrível.”

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