ANÁLISE F1: Investidores americanos da Alpine trazem experiência e conexões da NFL e de Hollywood que ajudam equipe e marca

Trio de empresas que formam consórcio possuem uma ligação de longa data com o mundo esportivo, além de conexões no entretenimento que podem ajudar a Alpine

Esteban Ocon, Alpine A523

Foto de: Jake Grant / Motorsport Images

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A confirmação da última segunda-feira (26) do tão-aguardado investimento americano na equipe Alpine na Fórmula 1 é mais uma prova da expansão do esporte no país. Isso reflete também uma manobra intrigante do Grupo Renault para aumentar o perfil de sua marca de carros esportivos, auxiliado pelo envolvimento das estrelas de Hollywood Ryan Reynolds, Michael B. Jordan e Rob McElhenney.

Para recapitular, um consórcio de três entidades financeiras, Otro Capital, RedBird Capital Partners e Maximum Effort Investiments, conhecidos coletivamente como Investor Group, pagaram 200 milhões de euros por uma fatia de 24% das ações da equipe.

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Uma equipe de fábrica ter investidores externos não é algo inédito, com a Mercedes tendo apenas 33% das ações da equipe de Brackley após vender parte de sua cota para Jim Ratcliffe, da INEOS.

A Renault tem um grande compromisso com a Alpine e a equipe de F1, e claramente não precisava do financiamento externo. Mas o que é mais interessante para a companhia é o expertise esportivo e de entretenimento que os americanos trazem.

É um pouco como naquelas séries tipo Shark Tank, quando alguém com uma boa ideia de negócios surpreende os potenciais investidores dizendo que, na verdade, já possui o financiamento, enquanto busca apenas um parceiro com conexões para levar a proposta para o outro nível.

A Alpine pode ser uma marca francesa de coração, mas seu CEO, Laurent Rossi, tem um MBA de Harvard, e trabalhou com a reconhecida Boston Consulting Group e o Google antes de voltar à Europa. Assim, ele tem um panorama internacional que certamente teve um papel na busca por investimento americano, enquanto Otmar Szafnauer, o chefe da equipe de F1, é americano, o que aumenta a sinergia com os novos parceiros.

"Eles vão nos ajudar no lado da monetização do negócio", disse Rossi. "Então, estritamente falando, não é no lado esportivo. O pessoal aqui [em Enstone, sede da equipe] sabe o que estão fazendo. O pessoal em Viry-Châtillon [sede de motores da Renault] sabem o que estão fazendo. Eles seguirão fazendo o que já fazem".

"Os investidores vão nos ajudar a aumentar nossa receita, hospitalidade, patrocínio, licenciamentos, marketing, muito além do que planejávamos".

Pat Fry, Alpine F1 Team Chief Technical Officer and Laurent Rossi, Alpine Chief Executive Office

Pat Fry, Alpine F1 Team Chief Technical Officer and Laurent Rossi, Alpine Chief Executive Office

Photo by: Alpine

"Uma porção disso será reinvestida em nossa infraestrutura, ferramentas, equipamentos. Isso faz parte de um plano que já havíamos lançado antes mesmo da chegada da RedBird, algo que chamamos de Alpinista. Vocês já devem ter ouvido Otmar falando no ano passado que estamos contratando 80 pessoas, que estamos investindo aqui e ali".

"Então simplesmente vamos impulsionar esse plano, acelerando ainda mais, dentro das limitações do teto orçamentário, obviamente. Então é dessa forma que eles nos ajudarão a seguir nesse caminho".

Falando mais sobre isso, Rossi acrescentou: "Temos um caminho, por assim dizer. Ele vai progredindo um passo por vez, porque leva tempo para encontrar as pessoas e os recursos que complementam nossa equipe, porque nosso time é levemente menor que os de ponta".

"Então vamos seguir crescendo, expandindo a um ponto no qual teremos estruturas similares e o modo de fazermos a diferença. E acreditamos que esse modo fará uma diferença por causa da nossa expertise".

Não sabemos como que as três empresas dividiram o financiamento, mas podemos assumir que o parceiro senior é a Otro Capital, considerando que seu cofundador, Alec Scheiner, se tornará diretor da equipe, além de ter surgido como o porta-voz do consórcio. Ele e outros nomes-chave da Otro tiveram envolvimento na RedBird, sendo efetivamente empresas-irmãs.

Então, quem são essas pessoas e qual é o background deles no mundo esportivo. Advogado de formação, o currículo de Scheiner inclui quase uma década como vice-presidente senior e advogado-geral do Dallas Cowboys, seguido de três anos como presidente do Cleveland Browns, ambos times da NFL.

Um de seus principais associados, Brent Stehlik, também esteve com os Cowboys e os Browns em funções de marketing, tendo trabalhado também no mundo do baseball com o San Diego Padres e o Arizona Diamondbacks, além do Tampa Bay Lightning, do hockey.

Essa é apenas a ponta do iceberg. Como já dito, a Otro é uma nova entidade, mas a RedBird tem um longo envolvimento em uma grande gama de atividades esportivas sob a liderança de seu fundador Gerry Cardinale, formado em Harvard e Oxford.

Pierre Gasly, Alpine A523

Pierre Gasly, Alpine A523

Photo by: Alpine

A empresa tem uma participação significativa na Fenway Sports, cujo portfólio inclui o Liverpool, o Boston Red Sox e a equipe Roush Fenway da NASCAR. A RedBird também possui o Milan, o Tolouse FC e a equipe de críquete Rajasthan Royals, além de um portfólio que inclui hospitalidade de alto padrão para a NFL, a TV oficial do New York Yankees e parcerias com as associações de jogadores da NFL e da MLB, com foco em direitos de imagem e licenciamento.

A empresa também está no mundo do entretenimento, notoriamente via a SkyDance Media (produtora de filmes como Missão Impossível, O Exterminador do Futuro, Jack Ryan, Top Gun e mais), além de uma parceria com a Artists Equity Studio, de Matt Damon e Ben Affleck.

Este último aumenta a relação com Hollywood trazida por Reynolds e seus colegas da Maximum Effort, que ganharam notoriedade com o bom trabalho no Wrexham AFC e a série de TV sobre o feito.

Então por que ter americanos investindo na F1, e especificamente na Alpine? Basicamente, porque eles veem isso como um bom acordo.

"Investimos no esporte há mais de 25 anos", disse Scheiner, da Otro. "Investimos em vários países pelo mundo, em diversos esportes. Temos parcerias com o Dallas Cowboys, o New York Yankees, a NFL, a Associações de Jogadores da NFL, investimos no futebol americano, basquete, hockey, críquete na Índia".

"E para nós, quando olhamos nos investimentos em esporte, olhamos para três coisas. Primeiro: há uma propriedade intelectual de valor? Segundo: podemos dar valor ao investimento que trazemos? E terceiro: temos parceiros que pensam como nós? Ao avaliar essas coisas, olhando para a Alpine, cumpre todos os requisitos".

É intrigante, considerando quantos investidores em potencial com muito dinheiro para gastar e que estão olhando para as equipes, que foi a Alpine quem deu o primeiro passo.

"Para nós, começa com os parceiros, e isso começou com Laurent e Luca [de Meo, CEO da Renault]", disse Scheiner. "E eles vieram até nós, e é assim que gostamos de iniciar as parcerias. Porque mostra que há um valor estratégico que podemos trazer. Então uma parceria de cabeça aberta é o mais importante".

Esteban Ocon, Alpine F1 Team, 3rd position, with his trophy

Esteban Ocon, Alpine F1 Team, 3rd position, with his trophy

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

"Temos que começar com pessoas que acreditam no que acreditamos, que é a habilidade de trazer receitas comerciais para a mesa, tratando isso como um ativo escasso".

Sobre o ângulo da propriedade intelectual, Scheiner diz: "Se você pensar sobre a F1, ou investir em esporte no geral, sempre digo para as pessoas que esse é a única área que você nunca pode abandonar seu cliente".

"A beleza do esporte é que há uma ligação com a sua marca que não pode ser perdida por causa de um ano ruim. Então é essa questão da propriedade intelectual que encontramos na F1. Se você começa por aí e olha o que a Liberty fez, arrumando a estrutura do esporte com o teto orçamentário, lançamento o esporte nos EUA, vimos isso como o momento perfeito para investir".

"E achamos que a Alpine é o veículo perfeito. Uma equipe de fábrica, um time icônico, alta performance construída ali, e uma marca que está apenas começando. É um check na propriedade intelecial".

O elemento final é: o que a Otro e os demais investidores trazem para a mesa?

"Como podemos ajudar? Essa é provavelmente a questão mais importante para nós. E, para nós, todas as coisas que fizemos em nossa carreira, todos os investimentos que fizemos, nos permitem ajudar aqui".

"Construímos uma empresa chamada Legends Hospitality quando eu estava no Dallas Cowboys. Essencialmente terceirizamos comida, bebida, vendas, patrocínios e vendas de ingressos. Construímos um negócio chamado On Location Experiences com a NFL como investidora, onde levamos a hospitalidade no Super Bowl a um outro nível".

"Investimos em um negócio com a associação de jogadores, onde construímos um negócio de licenciamento de imagem para games e cards. E todas essas experiências devem levar a um sucesso aqui".

"Ao olharmos para esse esporte, vemos algo muito bem conduzido, a equipe é muito bem conduzida. Mas vemos muito potencial de crescimento. Assim como há alguns anos quando investimos no críquete na Índia, e acertamos".

Otmar Szafnauer, Alpine F1 Team, Team Principal, Ciaron Pilbeam, Alpine F1 Team Chief Race Engineer, Alan Permane, Alpine F1 Team Trackside Operations Director on the grid

Otmar Szafnauer, Alpine F1 Team, Team Principal, Ciaron Pilbeam, Alpine F1 Team Chief Race Engineer, Alan Permane, Alpine F1 Team Trackside Operations Director on the grid

Photo by: Alpine

"Então agradeço a parceria. Agradeço o pessoal da Alpine e da Renault pelas boas-vindas, e mal posso esperar para começarmos".

O investimento é apenas na equipe Alpine na F1, mas obviamente há uma ligação com a montadora, que pode beneficiar os negócios da marca. E é aí que a conexão americana faz ainda mais sentido para a Renault.

Nos últimos anos, a Alpine vem evoluindo seu perfil, deixando de lado aquela imagem de ser uma empresa apenas francesa que muitos achavam que já havia fechado as portas há anos. Agora, há ambições para uma expansão internacional que inclui uma mudança para a eletrificação e novos modelos, uma nova versão do A110, um A310 quatro portas e um A290 hot hatch, podendo ter até um SUV.

Tudo é possível graças a um chassi de alumínio de fácil adaptação, conhecido como APP, ou Alpine Performance Platform, que permite o uso de diversos formatos.

"Esse modelo claramente nos ajudará a aumentar a presença em mercados importantes", disse Rossi. "Então temos Japão e Europa em primeiro lugar, mas também uma expansão global, investindo em mercados fortes para carros esportivos. O primeiro deles seria os EUA, um mercado importante, grande. E vamos entrar nos EUA com os modelos que serão lançados a partir de 2027".

Esse plano de expansão ajuda a trazer tudo para a zona de foco, explicando porque a conexão com os EUA será útil para a Alpine. Imagine a exposição que a marca ganhará quando Reynolds estiver guiando um A110 em Los Angeles, com tendo um de seus carros em um filme.

"Somos uma marca que vê o seu braço esportivo como mais do que somente um braço", disse Rossi. "É uma franquia esportiva. E mesmo nesse campo estamos buscando os melhores parceiros, os melhores que existem, e acho que encontramos".

"O objetivo aqui é crescer essa franquia, a de automobilismo, e monetizar. E com a Otro Capital, RedBird e Maximum Effort, encontramos os parceiros perfeitos".

Esteban Ocon, Alpine A523

Esteban Ocon, Alpine A523

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

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