F1 - Ecclestone sai em defesa de Piquet em polêmica: "Talvez não seja terrível falar isso no Brasil"

Ex-chefão da F1 teve parceria de sucesso com o brasileiro, que conquistou dois de seus três títulos com a Brabham

Bernie Ecclestone, Chairman Emiritus of Formula 1

Bernie Ecclestone saiu em defesa do tricampeão da Fórmula 1 Nelson Piquet. Ex-dono da categoria e amigo do piloto, o britânico acredita que Piquet não teve intenção de dizer algo ofensivo a Lewis Hamilton, apenas expressando sua irritação sobre o acidente com Max Verstappen no GP da Grã-Bretanha do ano passado.

O comentário que estourou nas redes sociais na última semana foi feito por Piquet em uma entrevista no ano passado. Isso levou a uma forte reação da comunidade desportiva, incluindo notas de repúdio da F1 e da FIA.

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Em resposta, Hamilton disse que "chegou a hora" de mudar "pensamentos arcaicos". E agora Piquet se manifestou sobre o caso, dizendo que gostaria de "esclarecer histórias que circulam na imprensa sobre um comentário que fiz em uma entrevista no ano passado".

Apesar de Piquet admitir que o que foi dito "foi mal pensado, e não vou me defender disso", ele alega que o termo usado "é ampla e historicamente usado de forma coloquial na língua portuguesa como sinônimo de 'pessoa' ou 'cara', e não foi usado com intenção de ofender".

Em entrevista ao programa Good Morning Britain, do canal ITV, Ecclestone foi questionado sobre o caso e saiu em defesa do brasileiro, que conquistou dois de seus três títulos na F1 com a Brabham de Bernie.

"Conheço Nelson há muito tempo e estive com ele há algumas semanas. E não é o tipo de coisa que Nelson diria com conotação ruim. Essas coisas são ditas com frequência".

"Ele é brasileiro, quando chegou na Inglaterra, não falava nada de inglês, então talvez ele tenha pegado um pouco do nosso senso de humor e, provavelmente, acha que muitas coisas que ele diz e podem sentir um pouco ofensivas, na verdade não significam nada. É apenas parte da conversa. Mas certamente Nelson não faria nada para dizer algo ruim".

Bernie ainda tentou associar a expressão usada por Piquet para se referir a Hamilton como uma resposta "explosiva" do tricampeão ao acidente de Silverstone.

"Acho que o que aconteceu, conhecendo Nelson como eu conheço, e pelo fato de sua filha ser namorada de Verstappen, provavelmente após ver o acidente ele tenha explodido e levado isso adiante".

"Sei o que ele estava sentindo porque eu estava sozinho e explodi. Obviamente não disse nada porque não havia motivo, e não havia ninguém para ouvir minha reação. Então o problema é que ele ficou irritado com o acidente, achou que era errado e que era culpa de Lewis. Eu também, porque isso acontece. Mas, de qualquer jeito, talvez ele tenha pensado assim".

Bernie ainda disse acreditar que a fala de Piquet talvez não seria vista como racista no Brasil, comparando com outras questões.

"Provavelmente não é apropriado para nós, mas talvez não seja algo terrível se você falar isso no Brasil. Não sei qual foi a reação lá. Mas as pessoas dizem coisas, e falam se elas estão um pouco acima do peso ou se têm uma estatura mais baixa como eu. Tenho certeza que muitas pessoas falaram sobre isso. Se eu tivesse ouvido isso, teria lidado com isso sem muitos problemas".

Vale lembrar que a lei brasileira prevê crimes de injúria racial e racismo em várias situações, incluindo o uso de termos de teor preconceituoso. Enquanto o primeiro está relacionado a ofensas empregadas a uma pessoa ou pessoas determinadas, o racismo, previsto no Artigo 20 da Lei 7.716/89 é aplicado quando há uma ofensa que menospreze determinada raça, cor, etnia, religião ou origem, agredindo um número indeterminado de pessoas.

"Estou surpreso que Lewis não tenha deixado de lado ou, melhor ainda, respondido. Mas agora já passou, Nelson se desculpou e todos parecem ou devem estar felizes".

Questionado sobre qual tipo de ação poderia ter sido tomada para reverter situações do tipo, o ex-chefão da F1 disse: "Não sei o que se pode fazer para que as pessoas parem de dizer coisas que, no momento, pareciam apropriadas mas que podem não ser na verdade. Não dá para fazer regras sobre o que as pessoas podem ou não dizer, então sei qual tipo de reação pode-se esperar".

Entenda o caso

Tudo tomou grandes proporções com a manifestação de Hamilton na manhã desta terça-feira, com o britânico respondendo a um tweet no qual um internauta questiona: "E se Lewis Hamilton apenas tuitasse 'Quem diabos é Nelson Piquet?'...". O britânico escreveu ironicamente: "Imagine". Veja:

 

Hamilton seguiu: "É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação".

 

Além disso, Lewis publicou em português:

 

Piquet proferiu a fala em uma entrevista dada ao canal Motorsports Talk, no YouTube, em 2021, relatando o confronto entre o heptacampeão e Max Verstappen em Silverstone. O caso veio à tona agora, daí a manifestação de Hamilton.

Lewis Hamilton, Mercedes-AMG

Lewis Hamilton, Mercedes-AMG

Photo by: Andy Hone / Motorsport Images

A explicação de Piquet não vem somente depois da reação do britânico. Antes, a própria F1, além da Mercedes e da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), haviam se manifestado repreendendo 'Nelsão'.

"Condenamos nos termos mais fortes qualquer uso de linguagem racista ou discriminatória de qualquer tipo. Lewis liderou os esforços do nosso esporte para combater o racismo e ele é um verdadeiro campeão da diversidade dentro e fora das pistas. Juntos, compartilhamos a visão de um automobilismo diversificado e inclusivo, e este episódio destaca a importância fundamental de continuar lutando por um futuro melhor", escreveu a Mercedes.

"Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável de qualquer forma e não deve fazer parte da sociedade. Lewis é um embaixador incrível do nosso esporte e merece respeito", diz o comunicado oficial da F1. "Seus esforços incansáveis e e a inclusão são uma lição para muitos e algo com o que estamos comprometidos na F1", acrescenta a categoria máxima do esporte a motor global em suas redes. 

Já a FIA, órgão que regula o automobilismo mundial, publicou a seguinte nota: "A FIA condena veementemente qualquer linguagem e comportamento racista ou discriminatório, que não tem lugar no esporte ou na sociedade em geral. Expressamos nossa solidariedade com Lewis Hamilton e apoiamos totalmente seu compromisso com a igualdade, diversidade e inclusão no esporte a motor".

Contexto de rivalidade entre Hamilton e os Piquet

Lewis Hamilton e o vice-campeão, Nelsinho Piquet. Alexandre Premat, à esquerda, ficou em terceiro no campeonato

Lewis Hamilton e o vice-campeão, Nelsinho Piquet. Alexandre Premat, à esquerda, ficou em terceiro no campeonato

Photo by: GP2 Series Media Service

Antes de chegar à F1, o britânico disputou o título da antiga GP2, hoje Fórmula 2, contra Nelsinho Piquet, filho de Nelsão. No fim das contas, o atual piloto da Mercedes prevaleceu, ascendendo à McLaren no ano seguinte, em 2007.

Max Verstappen e Kelly Piquet

Max Verstappen e Kelly Piquet

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Além disso, a filha de Nelson e irmã de Nelsinho, Kelly, é namorada do holandês Max Verstappen, contra o qual Hamilton disputou o título de 2021 da F1 até a volta da temporada, sendo batido pelo piloto da Red Bull no GP de Abu Dhabi e perdendo o campeonato para o rival.

Felipe Lapenna e Nelsinho Piquet

Felipe Lapenna e Nelsinho Piquet

Photo by: Duda Bairros

Naquele fim de semana, a Stock Car também realizava sua etapa final de 2021. Nelsinho, então, apareceu no paddock de Interlagos com uma camiseta com os dizeres "Patrão é meuzovo", em referência a um apelido de Hamilton. Antes, comemorara o título de Max efusivamente nas redes.

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