Responsável por programa da Indy desmistifica sonho da F1
Paulo Carcasci, responsável no Brasil pelo programa "Mazda Road to Indy" fala do programa de jovens pilotos, além de um retrato atual da IndyCar e critica a postura de Felipe Nasr em sua carreira na F1
No próximo fim de semana no kartódromo de Interlagos, em São Paulo, acontece a etapa brasileira do "Mazda Road to Indy", que levará o vencedor para os Estados Unidos competir na versão mundial do programa em Laguna Seca, em dezembro.
O responsável pela vinda da renomada competição, que se orgulha de ter formado 24 dos 33 pilotos da última edição da Indy 500, Paulo Carcasci, conversou com exclusividade com a equipe do Motorsport.com Brasil.
Carcasci é heptacampeão brasileiro de kart, campeão europeu de Fórmula Ford, campeão da F-3 Japonesa, além de vencedor da Gold Cup na F-3000. Ele já foi coach de pilotos como Antonio Pizzonia, Luciano Burti e Lucas di Grassi e ainda atua com André Negrao, representante do país na Indy Lights.
"Ao invés de fazerem apenas uma seletiva nos Estados Unidos, eles decidiram escolher um piloto em cada país que faz parte do projeto, são mais ou menos 16, e cada um vai mandar seu vencedor para fazer a final nos Estados Unidos", explicou.
"Estamos dando a oportunidade de um brasileiro ir para os Estados Unidos com tudo pago, inclusive com passagem aérea para o piloto."
O "sonho" da F1
Mesmo sem produzir um campeão mundial há 25 anos e vivendo o maior jejum de vitórias da história da F1, no Brasil o sonho de se chegar à maior categoria do automobilismo mundial ainda ocupa a cabeça e o coração da maioria dos jovem pilotos. Como resolver esta questão em um programa de novos valores, mas que tem um objetivo final diferente do que a maioria busca? Com a palavra, Paulo Carcasci.
"Se você quiser sonhar com a F1 e tiver o talento e o dinheiro que o Lucas di Grassi tem e não conseguiu, o talento e o dinheiro que o Nelsinho Piquet tem e não conseguiu, é fácil você entender que é muito melhor tentar a Indy."
"Vamos falar do Alexander Rossi. Ficou anos correndo de GP2, andando bem, ganhando corrida, tendo os Estados Unidos nas costas dele, que é um mercado que o Bernie Ecclestone quer de qualquer jeito e não conseguiu entrar. Nada melhor seria voltar a ter um piloto americano, e o Rossi estava lá, jovem, com dinheiro, com talento e não foi. Acabou indo pra Indy e ganhou a corrida principal."
"Outra coisa: se você assiste as corridas da Indy você vê que tem motor Chevy e motor Honda ganhando, você vê a Chip Ganassi ganhando, Penske, mas um time pequeno, como o de Brian Herta, associado ao de Michael Andretti, fez o cara ganhar as 500 Milhas."
"Se você ver as corridas da Indy, você vai ver infinitas ultrapassagens, tanto nos ovais, como nos mistos, ou seja, é muito mais aberto, viável e possível sonhar com a Indy."
"Você pode chegar na F1, de Manor e sabe que vai andar sempre em último, no outro ano vai continuar andando em último e depois que acabar o dinheiro do seu patrocinador, acabou tudo."
Ainda na comparação das duas principais categorias de monopostos do mundo, Carcasci falou do momento atual do mais jovem piloto brasileiro no grid da F1, Felipe Nasr.
"Se ele não tivesse levado um caminhão de dinheiro do Banco do Brasil, ele não estaria na Sauber. E o que adianta ele estar na Sauber? Nada. Mas ele está lá, enchendo linguiça há dois anos, gastando dinheiro sem o menor sonho, porque tem uma fila enorme nos programas da Red Bull, Mercedes Ferrari e Renault."
"Então o que adianta o Nasr, que não faz parte de nenhum destes programas, ficar lá gastando R$ 80 milhões do Banco do Brasil, com a certeza de que não vai ganhar corrida, que não vai ser contratado pela Ferrari ou McLaren? Ele está perdendo tempo e sabe disso. Não me diga que ele está sonhando em ganhar corridas, ser campeão mundial porque é impossível."
"A Fórmula 1 ficou inviável. A não ser que você seja um kartista extraordinário na Europa, então a Red Bull te pega, como fez como o Max Verstappen. Você precisa de um brasileiro fazendo esse papel, morando lá, ganhando corridas em todas as categorias do kart e sem isso o brasileiro não tem chance."
"É por isso que acho fácil você falar para um jovem e para o pai dele que se você correr de Chevy na Penske ou de Honda na Andretti, você tem chances de ganhar corridas na Indy, depende do seu talento."
"O próprio Mazda Road to Indy é bem isso. Se você for um moleque de talento, ganhar a seletiva de Interlagos, ganhar o shootout em Laguna Seca, pronto, você acabou de ganhar 200 mil dólares para sua carreira. Não precisa ter um pai rico ou um patrocinador forte."
O momento atual da Indy
A maior categoria de monopostos dos Estados Unidos não vive os momentos de glórias como no passado, antes da divisão da série. Mesmo assim, Carcasci acredita que isso não significa que a categoria vive uma crise ou está tão por baixo.
"O quadro atual da Indy é muito bom. A Indy perdeu muito terreno para a NASCAR, mas está recuperando, tanto que a Indy500 bateu, em audiência, a corrida de Charlotte da NASCAR no mesmo dia."
O fato de parte do grid atual estar na categoria há mais de dez anos não parece ser um problema de renovação? Para o ex-piloto, o que poderia ser um defeito, na verdade, é uma característica positiva da Indy.
"Eu acho isso legal, tanto que o programa de jovens pilotos da Mazda é aberto até 24 anos de idade. A Indy não tem esse preconceito, a carreira é muito mais duradoura. Tanto que você vê lá o Montoya com 40 anos, gorduchinho e ganhando corrida em cima do Alex Rossi."
Corrida em oval
Se Paulo Carcasci pode ter trabalho em convencer um jovem talento a não ir para a Europa, abdicando o sonho da F1, outra tarefa a ser desenvolvida é a quebra da barreira cultural das competições de circuitos mistos e ovais.
"Se houver algum tipo de preconceito, então é melhor nem ir. Se tiver alguma dúvida, OK, mas se tiver um 'pré conceito', você não poder fazer nada."
"O oval é um tipo de pista mais perigoso do que em outras corridas porque você anda muito mais rápido, então a batida é muito mais forte."
"Várias coisas já foram feitas para minimizar o impacto, então se você ver os últimos acidentes que tivemos em oval, não foi um impacto forte, foram outras coisas que bateram em cima do carro, que até na F1 ou GP2 também acontecem."
"Hoje o oval não tem mais esse perigo. Se o cara não entender que é tão difícil correr no oval quanto é no circuito misto, ele tem muito a aprender."
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