Ao ouvir pilotos, NASCAR dá tiro no pé em Talladega
Público sai duplamente decepcionado do Alabama, após final confuso e com eliminação do piloto mais popular da categoria
A NASCAR possui duas regras que a fazem única dentro do automobilismo mundial: a do "Lucky Dog", quando o melhor retardatário ganha uma volta de bônus numa bandeira amarela e a prorrogação - Green, White, Checkered flag, (GWC), quando se acrescenta mais duas voltas para a tentativa de término da prova sob bandeira verde.
Há algumas semanas se especulou que a etapa de Talladega poderia ter duas mudanças sensíveis: relargadas em fila única - devido às controvérsias sobre os recomeços das últimas provas - e apenas uma GWC, para segurança dos pilotos, ao contrário do limite de três que a regra impõe. No início da semana veio a confirmação de um dos rumores: a adoção de apenas uma tentativa de prorrogação.
Nas redes sociais, alguns pilotos, como Dale Earnhardt Jr., aprovaram, apesar da grande maioria dos fãs não terem gostado.
O que seriam dois erros, se transformou em apenas um. Apesar das estatísticas mostrarem que é raro acontecer mais do que uma GWC em 'Dega, para os fãs do estilo de corrida em superspeedways estava ali um tipo de medida que poderia roubar a emoção final das provas.
Quis o destino que a nova medida funcionasse da pior forma possível. No início, com a primeira tentativa que não valeu como tal, segundo a própria direção de prova. Kyle Larson e Jimmie Johnson se acidentaram e por muito pouco a corrida teria terminado ali, mesmo que a decisão de não contar como a primeira e única GWC seja contestada.
Na segunda, que valeu como a única prorrogação, mais um acidente, um piloto como Kevin Harvick - não muito popular lá e aqui - fazendo de tudo para acabar com a prova e não ser eliminado. Depois, todos os pilotos receberam a quadriculada sem saber quem havia vencido. Por fim, Dale Junior, um dos defensores da medida, foi um dos eliminados. Se a regra não tivesse sido mudada na última semana, Junior teria mais uma chance de se classificar.
O que se leva de lição após a sexta etapa do Chase é aquele velho chavão: em time que está ganhando, não se mexe. A NASCAR demonstra boa vontade com os pilotos ao ouvi-los e isso é muito positivo. Mas outra voz, a do senso comum, precisa prevalecer em alguns momentos. O que o público quer não são mais acidentes. Ele também quer ver os big ones, mas quer disputas, ultrapassagens, dramas e tudo aquilo que fez a NASCAR se tornar grande nas últimas décadas. Se tivermos todos esses ingredientes, o fã não ligaria tanto ver seu piloto favorito eliminado. Ele se sentiria chateado, mas não enganado.
Os pilotos atuais, que até conselho já formaram, tem tido voz ativa nas decisões da categoria. Basta ver o caso dos pacotes aerodinâmicos testados este ano. O que foi utilizado em Kentucky e Darlington foi aprovado pela categoria, será utilizado na grande maioria das etapas em 2016 e foi a mudança que mais agradou os competidores. Coincidência?
Rumores não surgem por acaso. Ao se especular que o número de prorrogações poderiam ser reduzidas, certamente algo poderia efetivamente mudar. É difícil acreditar que uma ideia surja do nada e quando ela é anunciada, vários pilotos declaram que apoiam sem alguma ligação entre as partes. Certamente houve alguma influência na mudança.
Nessas horas é sempre importante frisar que existem duas corridas, mesmo que você esteja assistindo apenas uma: a corrida do piloto e a do público. Nem sempre o que é bom para um, será bom para o outro. Três prorrogações dariam mais chances à emoção e mais oportunidades aos pilotos com a corda no pescoço no campeonato. A NASCAR entendeu que seria uma medida boa para público e pilotos e acabou dando tiro no próprio pé.
Resta saber agora como a categoria vai ficar após o descrédito de Talladega e como serão as próximas etapas em superspeedways. Se voltar atrás, estará admitindo erro. Se persistir na medida, continuará sendo criticada por aquele que teoricamente mais preza, o fã.
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