Entrevista

Campeão da Porsche Challenge supera drama vivido nos EUA

Após um ano e meio enfrentando processo nos Estados Unidos, JP Mauro conseguiu título antecipado, após reestruturação psicológica

JP Mauro em Interlagos

Em Pinhais, no último 24 de outubro, JP Mauro vencia a segunda bateria da etapa de Curitiba da Porsche GT3 Cup Challenge e se sagrava campeão da divisão. Ali, não era um êxito qualquer. A conquista significava o marco da volta por cima de alguém que foi obrigado a interromper a carreira de piloto profissional por um ano e meio por causa de uma tragédia.

Joao Paulo Mauro, com experiências na Copa Montana e corridas na Grand-Am, estava em Miami no dia 19 de janeiro de 2012, quando ao sair de um restaurante em que comemorou o aniversário de um amigo, se deparou com algo que mudaria sua vida para sempre.

"Saí do restaurante e estava numa avenida, na esquerda. Um carro mudou de faixa e eu tomei uma fechada repentina. Algumas avenidas dos Estados Unidos possuem uma faixa extra dos dois lados, pontilhada amarela, que é proibido estacionar, mas que serve justamente pra evitar acidentes, então automaticamente eu tentei desviar para essa faixa. Mas estava lá um carro parado e havia uma pessoa colocando uma bicicleta no banco de trás. Não tive tempo de frear."

Russell Knudson, de 45 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu.

"No momento do acidente, eles investigam a cena inteira. No primeiro momento me acusaram de dirigir alcoolizado, de beber antes dos 21 anos e de posse de cocaína. Eles acusaram sem emitir exame de sangue."

"Depois vieram a descobrir que o falecido tinha cocaína no sangue, entre outras substâncias. Eu estava somente 10% do limite de álcool e, obviamente, nunca havia usado nenhuma substância. Foi um processo que durou um ano e meio."

Hoje com 23 anos, João Paulo conta também que se viu desamparado. Por mais que Miami seja familiar para ele e para muitos pilotos, ainda assim se trata de um outro país, com outra cultura e, consequentemente, outras leis.

"Foi uma experiência muito dura, principalmente antes de sair os resultados dos exames. Eu estava sendo acusado de posse de cocaína, coisa que nunca cheguei perto na minha vida, e andar em velocidade em excesso, que foi algo que conseguimos provar com a caixa preta do carro."

Outra dificuldade que JP teve que enfrentar foi como a notícia chegou ao Brasil. Vivendo agora em São Paulo, o piloto confessa que a maneira como foi noticiado o acidente acabou fazendo com que perdesse todos os seus patrocínios, algo primordial para a carreira.

"Mesmo solucionando meu processo eu achei que nunca conseguiria voltar ao automobilismo, pelo exagero e agressividade com que a mídia noticiou o caso na época. Alguns jornalistas que me ligavam para saber da minha carreira quase que semanalmente, após o acidente sequer tentaram ouvir meu lado e indiretamente quase destruíram minha carreira.

 

JP Mauro celebra
JP Mauro celebra

Photo by: Luca Bassani

Mas como era a vida de JP Mauro enquanto esteve sob a mira da justiça americana, podendo ser condenado por até sete anos, por homicídio culposo?

"No início eu fiquei em prisão domiciliar, depois eles me liberaram para poder trabalhar. Consegui um estágio numa empreiteira. Depois surgiu a oportunidade de montar uma empresa, então eu trabalhei durante todo o período do processo."

No fim, os tribunais americanos aplicaram somente uma multa por desatenção no trânsito, caçaram a licença para dirigir nos Estados Unidos por dez anos e deram algumas horas de serviços comunitários a JP. Ele se livrou de qualquer problema no âmbito criminal, ficando pendente apenas a parte cível, como de costume nesse tipo de caso.

 

JP Mauro celebra vitória e título da Challenge
JP Mauro celebra vitória e título da Challenge

Photo by: Luca Bassani

O retorno às pistas no Brasil veio de maneira surpreendente, mas ao mesmo tempo avassaladora.

"Em 2014 tive o convite da Porsche GT3 Cup para disputar a última etapa. Nem andar de kart eu estava andando, eu estava totalmente distante do automobilismo . Fiz uma ótima corrida em Interlagos, com a pole, liderei 70% da corrida, mas como estava chovendo, acabei rodando, mas voltei em quinto, então acho que foi excelente."

Na temporada recém encerrada da Challenge - divisão light da Porsche GT3 Cup - JP marcou 217 pontos em 15 provas, com direito a seis vitórias. O título foi confirmado ainda na etapa de Curitiba, de maneira antecipada. Com tamanha evolução, ele falou também sobre o futuro e onde pretende chegar.

"Agora que me estabeleci na categoria, o objetivo é entrar na classe principal. Espero ser competitivo em 2016. Se eu tiver uma adaptação tão rápida como a que tive na Challenge, quem sabe dá para disputar o campeonato. Além disso também pretendo ver a possibilidade de fazer algumas corridas fora do Brasil de longa duração."

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