Entrevista: Como acidentes ajudam na segurança dos carros?
Confirmação do Halo para 2018 dará foco renovado aos esforços feitos pela FIA para melhorar segurança no automobilismo
O Halo é apenas a ponta de um iceberg muito grande na busca pela segurança dos carros da F1. Pesquisas estão em curso o tempo todo, e as melhorias estão sendo feitas constantemente, mas nem sempre chegam ao conhecimento dos fãs.
Faz 23 anos que a traumática temporada de 1994 levou a FIA a aumentar seus esforços pela maior segurança.
Max Mosley merece muito crédito por este impulso, e por dar ao falecido Sid Watkins, Charlie Whiting e seus especialistas, o apoio que precisavam para tomar as medidas.
O homem que atualmente lidera o programa é o diretor de segurança da FIA, Laurent Mekies, que foi engenheiro-chefe da Toro Rosso quando Sebastian Vettel venceu o GP de Itália de 2008.
"Aumentamos nossa capacidade de analise de acidentes, colocando ADRs [registradores de dados de acidentes] nos carros, colocando acelerômetros, câmeras de alta velocidade e não apenas na F1. Temos ADRs em 25 campeonatos em todo o mundo, FIA e não-FIA."
"Isso nos permite desenvolver as próximas gerações de equipamentos de segurança e características dos carros. Claro, nem tudo o que fazemos vem de acidentes."
"Na F1, tudo é levado ao limite, você tem implicações, desde que você mude algo em outras coisas. Mas fazemos isso durante todo o ano por meio dos grupos de trabalho de cada categoria."
Um caso recente diz respeito ao terrível acidente de Billy Monger, em Donington Park, pela Fórrmula 4 britânica.
Algumas semanas depois, a FIA pediu às equipes e fabricantes para modificarem seus pontos de macaco traseiros depois que determinou que um design "agressivo" contribuiu para os ferimentos do jovem piloto.
"Isso não estava ligado a um único acidente, estava em nosso radar há um tempo. Se você olhar todos os esforços que fazemos para ter estruturas de absorção de energia, de alguma forma mantínhamos esta possibilidade. Alguns carros estavam colocando uma estrutura agressiva para fins de pit stop, e achamos que era um risco desnecessário."
Nem todos os carros da F1 de 2017 foram afetados pela mudança na traseira, mas os que foram, fizeram as modificações em Mônaco.
"As equipes foram excelentes nesse assunto. Mudaram isso muito rápido."
Embora Mekies esteja interessado em minimizar as conexões, o caso Monger foi um exemplo de como a informação é compartilhada.
"Só posso dizer que estamos muito felizes com a reação e a rapidez com que pudemos implementar. Acho que foi um exemplo para todos: quando queremos fazer as coisas, nós fazemos, e rápido. É bom ter uma lembrança disso às vezes."
Mekies ressalta que as lições podem ser aprendidas em todos os níveis do esporte.
"Como mencionei, o ADR começou na F1, mas agora está em 25 campeonatos. Conseguimos esses dados e podemos aprender tanto em um acidente no WRC, quanto em um na V8 australiana."
"Claro, eles têm carros diferentes, mas quando você coloca um sistema em que você tem consistência de dados, você pode usar tudo."
"Além disso, estamos estruturados com grupos de pesquisa, e nesses grupos, todos estão participando: Indy, NASCAR, todos eles estão lá, porque se trata de juntar o que sabemos para melhorar as coisas para todos."
"Então compartilhamos tudo, compartilhamos nossas análises sobre acidentes, mas também o trabalho que fazemos para avançar."
É inevitável que a F1 ofereça a inspiração para muitas melhorias, como aconteceu com o ADR. Isso não é apenas porque o esporte tem esse perfil, mas porque as equipes têm recursos para ajudar a FIA a desenvolver as pesquisas.
O Halo é um exemplo óbvio. Desde o início, o plano tem sido ter algo que pode eventualmente ser usado em todos os tipos de monopostos.
"Não haveria proteção frontal adicional sem possibilidade de colocá-lo nas outras fórmulas. Isso não significa que teremos as mesmas versões."
"A F1 é o melhor ambiente possível para testar e pesquisar esse tipo de coisa e, naturalmente, é aqui que o estamos desenvolvendo, mas a intenção é, obviamente, ter o efeito cascata."
A segurança é um assunto muito discutido em briefings de pilotos na F1 e reuniões da GPDA, e Mekies aprecia a cooperação que a FIA recebe.
"Os pilotos são muito favoráveis ao esforço de segurança e temos um relacionamento muito direto com a GPDA. Não adianta ter boas ideias, se você não consegue convencer as pessoas ao seu redor de que elas são boas e devem ser apoiadas. Então, passamos muito tempo falando com eles."
Os esforços de Mekies e seus companheiros são sempre bem apoiados pelas equipes, não é como em discussões sobre as maneiras de tornar os carros mais espetaculares, onde sempre há muitas opiniões diferentes.
"Você está certo, certamente é mais fácil, mas no final do dia, mesmo por segurança, você precisa convencer as pessoas, ninguém está errado, ninguém está certo, não é preto e branco."
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