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Conversa rápida com Monisha Kaltenborn, primeira CEO da história da F-1

A mulher mais poderosa da categoria conta como chegou à liderança da Sauber

A indiana Monisha Kaltenborn tem formação em direito e é CEO da Sauber desde 2010

Ela é a mulher mais poderosa da F-1. A CEO da Sauber, Monisha Kaltenborn, é a primeira na história da categoria a ocupar um cargo de liderança. Formada em direito, a indiana de 39 anos defendeu em entrevista ao site F1.com que as mulheres são mais hábeis para negociações “porque veem o todo, e não apenas o seu lado”. Além disso, contou a sua trajetória e falou sobre como é ser uma “estranha” no paddock.

Monisha, ser astronauta era seu sonho, mas você estudou direito. Com a F-1, você sente que está entre os dois extremos?
Monisha Kaltenborn:
 Não diria isso – provavelmente algo deu tremendamente errado com minhas primeiras ambições e eu acabei desistindo. Ainda sou fascinada pelo espaço – sei que nunca chegarei lá, mesmo que a vontade ainda exista –, mas acho que já era pragmática naquele estágio da vida, sabendo que preferiria ficar com uma possibilidade real do que viver um sonho possivelmente irreal. Escolhi o direito pela chance de atuar em uma grande gama de atividades – até a F-1, como você pode ver! Sempre soube que jamais gostaria de advogar em uma firma, e fui sortuda o bastante para me envolver com um campo empolgante.

O que a fez ficar na F-1?
Monisha Kaltenborn:
O fato de que é uma plataforma muito interessante. Nem chamaria de esporte, porque há muito mais. Acho que comecei por um ângulo muito interessante, fazendo o trabalho legal para um time, e desde o início consegui observar várias áreas – algumas delas quase invisíveis para os que estão de fora. Ver o trabalho interno do time, o aspecto esportivo, o lado comercial e as questões regulatórias, é uma visão incomum na F-1.

Você trabalha na Sauber há muitos anos em um papel legal e, desde 2010, como CEO. A habilidade de construir contratos com patrocinadores e pilotos se tornou mais importante que as qualidades de “petrolhead” das últimas décadas?
Monisha Kaltenborn::
 Hoje em dia, acho que você precisa de ambos, e lentamente minhas qualidades de “petrolhead” estão aparecendo (risos). O fato é que um contrato pode ser o mais amarrado possível, mas, a não ser que ambos os lados queiram que dê certo, isso não vai lhe ajudar. Ao longo dos anos, a F-1 se tornou mais regulada, então os requerimentos do gênero ganharam muita importância sob vários aspectos. Você pode argumentar se isso é bom ou ruim, mas no momento em que lida com mais dinheiro, você automaticamente se torna mais cuidadoso com as regulações. Isso funciona para qualquer área de negócio.

Você é a primeira mulher a ter uma função tão alta na hierarquia da F-1. Por quê? E o que a tornou uma líder?
Monisha Kaltenborn: 
Acho que chegar a essa posição foi uma simples questão de oportunidade. Estava no lugar certo, na hora certa. Acredito que muitos têm qualidade para ocupar essa posição. O que acho mais importante em um trabalho desses é que você tem de ser pragmática e manter distância do que está fazendo, nunca esquecendo do todo. Você tem de aceitar a maneira como o negócio funciona: há regras que precisam ser respeitadas. Depois de compreender isso, deve-se agir a partir daí.

Você frequentemente vai aos encontros dos chefes de equipe. Alguma vez foi tratada como uma intrusa no “clube do bolinha”?
Monisha Kaltenborn: 
Não acho que me vejam como uma intrusa e não acho que mudaram nada porque eu estou lá – e não deveriam. Algumas vezes usam palavras erradas. Mas rapidamente percebem o lapso e se desculpam. Temos reuniões interessantes e importantes, e outras que parecem perda de tempo, mas acho que é assim em qualquer área...

Nessas reuniões você tem a impressão de que seus colegas mudaram suas maneiras? Os lapsos verbais são menos recorrentes agora que há uma mulher presente?
Monisha Kaltenborn: 
(Risos) Não, não acho que eles se comportavam tão mal no passado – é só um rumor persistente.

Do que eles a chamam nas reuniões?
Monisha Kaltenborn:
 ‘Monisha’, e os alemães, ‘Frau Kaltenborn’.

Então nada de 'querida' ou 'docinho'...
Monisha Kaltenborn: 
Eles não ousariam! (risos) 

Quais qualidades você quer adicionar à cultura administrativa da F-1?
Monisha Kaltenborn: 
Provavelmente porque a F-1 não é uma área típica de interesse feminino – ainda que as estatísticas dizem que isso está crescendo –, acho que vejo mais como um trabalho que tenho de cumprir. Também acredito que as mulheres tendem a ver o todo. Você não fica tão focada em sua posição. Claro que quero o máximo para minha equipe, mas sou apenas parte do todo – e se todos saem ganhando, eu também ganho. As mulheres tendem a ver e aceitar mais isso. Não temos de jogar golfe. Fazemos nosso trabalho no horário normal! (risos). Você pode ser crítico sobre as coisas, mas nunca esquecer do todo. É o que realmente importa.

Então você diria que seus colegas tendem a esquecer o todo...
Monisha Kaltenborn: 
Eles tendem a ver o seu lado. Mas é claro que é sempre uma questão de qual posição você está. Se tiver em uma posição forte de barganha, não tem de olhar muito os outros. Mas acredito que, mesmo se uma mulher estiver em uma posição mais forte, ela veria as coisas de maneira diferente.

Como você vê os pilotos – e esses jovens com quem trabalha?
Monisha Kaltenborn:
 Provavelmente de maneira mais relaxada que meus colegas homens. E às vezes de modo mais particular na questão da disciplina. Acho que sou muito mais rigorosa com isso. Mas não diria que tenho um papel maternal, porque não me considero velha o suficiente e nem eles são meninos, então não daria certo. Nossas conversas nunca são de confronto, mas são muito claras. Se digo que isso tem de ser feito, não há desculpas. Provavelmente sou mais rigorosa de algumas formas, mas também mais fácil de lidar! Acho que eles sentem que podem conversar comigo mais facilmente e falar dos problemas que têm. Sabem que vou ouvi-los.

Como uma viciada por sapatos, como você consegue usar uniforme para trabalhar na F-1?
Monisha Kaltenborn: 
Não só sapatos, mas bolsas também. São como uma válvula de escape para mim. Há a vida profissional e a vida pessoal e você tem de separá-las – e estamos trabalhando de uniforme! (risos) Na verdade, trabalhar com os sapatos e roupas de que gosto não seria a melhor das ideias. Tenho de chegar ao pitwall e um comissário uma vez me disse que meus sapatos não seriam os mais apropriados para isso. 

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