ESPECIAL: Carsughi viu F1 nascer, diz que Ecclestone é gênio e elege Fangio o maior de todos
Um dos poucos profissionais a acompanhar a categoria desde o início, jornalista falou sobre primórdios do campeonato e elegeu os personagens mais importantes
A Fórmula 1 chegará ao milésimo GP de sua história no próximo fim de semana, na China. O número redondo obriga fãs e mídia a avaliarem o que a categoria já fez pelo automobilismo mundial, com seus altos e baixos.
Em 70 anos de história, poucos conseguiram acompanhar a F1 desde o início e menos ainda com tamanha lucidez como o jornalista Claudio Carsughi. Hoje com 86 anos de idade, o jornalista nascido na cidade de Arezzo, na Itália, passou pelas redações mais importantes do Brasil, com destaque na rádio Jovem Pan, jornal A Gazeta Esportiva, ESPN e SporTV.
Há muito tempo sendo considerada a maior categoria do automobilismo mundial, o “Mestre” Carsughi conta que nem sempre a F1 era grande.
“O adjetivo ‘grande’ você pode utilizar em dois aspectos: o esportivo e o comercial”, disse Carsughi em entrevista exclusiva ao Motorsport.com Brasil. “No esportivo, ela já nasceu grande, porque veio respondendo a uma vontade que se tinha no pós-guerra. Antes, você tinha GPs famosos na Itália, na Alemanha, Grã-Bretanha, França e cada um tinha o seu vencedor. Mas se chegou a conclusão depois de que se fosse feito um campeonato, haveria maior interesse e que se premiaria o melhor carro e o melhor piloto.“
Já na parte comercial, o quadro era bem diferente: “Do ponto de vista comercial, a F1 nasceu pequena. Era uma tentativa de resposta ao poderio dos Automóveis Clubes mais importantes da Europa. Daí apareceu uma tentativa de união de todos e fazer um contrato só, em que se invertia o poderio dos clubes e se chegava com o pacote pronto. Isso foi melhor elaborado e potencializado pelo gênio comercial atuando na F1, que foi o Bernie Ecclestone. Ele conseguiu dar esse pulo, transformando as equipes realmente poderosas, unidas e com a possibilidade de conseguir mais dinheiro.”
Claudio Carsughi em Interlagos
Photo by: Acervo pessoal
A melhor época
A discussão eterna entre fãs da F1 é sobre qual foi a melhor época da categoria ou se o momento atual é o ápice, aliando o talento dos pilotos com as melhores máquinas. Nada melhor consultarmos quem conseguiu acompanhar tudo desde o início.
“Como torcedor, eu poderia brincar e dizer que as melhores épocas eram as das vitórias da Ferrari", brincou o fã declarado da escuderia italiana. "Tivemos épocas muito importantes. No começo, com o domínio absoluto da Alfa Romeo, depois surgiu a Ferrari com [Alberto] Ascari e depois com os ingleses, como Jack Brabham.”
“No começo, o talento do piloto tinha muito mais peso do que agora, mas logo se juntavam as duas coisas também. Logo que aparecia um piloto de grande valia, ele era contratado pelas grandes equipes, como o Juan Manuel Fangio, que chegou à Europa desconhecido, somente com vitórias na Argentina, e todo mundo viu que era um campeão.”
“Ele sempre teve um grande carro, exceto na temporada de 1957. Nos outros títulos, ele sempre teve o melhor carro. Mas não resta dúvida de que nos anos 1950, 1960 e 1970, a parte do piloto era fundamental. Depois, isso mudou, e aí chegamos àquela piada do Niki Lauda, em um determinado momento do final dos anos 1990 que ‘qualquer burro sentado em um F1 pode ganhar’.”
Claudio Carsughi e Emerson Fittipaldi
Photo by: Acervo pessoal
As grandes rivais da F1
Em 70 anos de história, seria natural que outras categorias almejassem o posto de maior do mundo. Para muitos, a Indy em seu auge, chegou realmente a preocupar quem dirigia a F1 nos anos 1980. Mas para Carsughi, a principal concorrente era outra.
“A Indy jamais foi uma rival para a F1. A grande rival da F1 foi ela própria, por meio do estabelecimento de alguns regulamentos que, teoricamente deveriam condicionar os custos de cada equipe, e é uma coisa que, para mim, não tem pé nem cabeça, porque a F1 é um esporte extremamente caro e exige um grande desgaste financeiro.”
Os maiores nomes
O trabalho de se colocar a Fórmula 1 como a maior categoria da elite mundial não foi fácil, e alguns nomes se destacaram. A pedido do Motorsport.com, Carsughi selecionou as três pessoas mais importantes da categoria. Com a classe que é característica, nosso entrevistado deu um jeitinho de colocar um quarto nome, mas não abdicou das referências atuais.
“Bernie Ecclestone, pela sua visão empresarial. Ele transformou aquilo que era um esporte em um grande negócio. Eu colocaria também o Colin Chapman, embora como técnico ele não fosse o que muita gente pensa, mas isso era compensado em inteligência. Em terceiro eu estaria na dúvida entre Adrian Newey [Red Bull] e o [Mauro] Forghieri, da Ferrari, como projetista de motor.”
Claudio Carsughi e Daniel Ricciardo
Photo by: Acervo pessoal
Os maiores pilotos
Pode parecer clichê, mas é impossível não perguntar a Carsughi sobre os melhores pilotos da história. Mais importante que os nomes citados, a coerência dá a noção exata dos motivos em que se chegou a tais conclusões. Além disso, nos próximos anos a lista sempre poderá ser atualizada.
“Eu uso um critério para classificar os melhores pilotos que já vi. Faço um balanço só quando o se encerra a carreira, porque você tem um panorama completo. Hoje, o Lewis Hamilton é o melhor de todos, mas não podemos esquecer, em uma análise global, que ele teve pelo menos um ano [2011] absolutamente infeliz, quando brigou com a namorada e estava perdido.”
“Acho que Fangio foi o maior de todos, exatamente por ter conseguido superar as falhas do carro, para mim foi clamorosa o título de 1957 com a Maserati, que era claramente inferior à Ferrari. Depois, um pouquinho abaixo, eu coloco dois pilotos, o Ayrton Senna e o Jim Clark, um ao lado do outro, na segunda posição.”
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