Nostalgia

Ex-piloto de testes da McLaren: "Senna era incrivelmente egoísta"

Mark Blundell falou sobre o tricampeão em entrevista ao podcast oficial da F1, relembrando de histórias vividas com Senna

Ayrton Senna, McLaren

Foto de: Steven Tee / Motorsport Images

Mesmo mais de 20 anos após sua morte, Ayrton Senna continua sendo um tópico muito discutido no mundo da Fórmula 1. E os tópicos são variados: dos trabalhos de caridade no Brasil até sua morte em Ímola. Mesmo assim, essas histórias parecem ter deixado de lado outro traço da personalidade do brasileiro, que só se via nas pistas.

Segundo o ex-piloto da McLaren, Mark Blundell, o brasileiro era uma mescla de "gênio com louco". Pelo menos foi assim que ele o descreveu em entrevista ao Beyond the Grid, podcast oficial da F1, onde também disse: "Ele também era incrivelmente egoísta. Sempre fez de tudo para garantir que teria tudo que precisava para vencer".

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Blundell foi piloto de testes da McLaren em 1992, justo quando Senna dividia a equipe com Gerhard Berger. Era o momento que a Williams estava próxima de alcançar o topo da F1 com seu carro de outro mundo, com a suspensão ativa, um avanço que a McLaren tentou desenvolver através do britânico.

Foi justo em uma das atividades relacionadas com esse desenvolvimento que o piloto relembrou de um capítulo vivido com Senna.

"Me lembro de um teste em Ímola. Estava no carro que tinha a suspensão ativa e meu tempo de volta foi um pouco mais rápido que o de Senna, que correu sem isso", disse Blundell, que destacou que o brasileiro não acreditava que um piloto de testes havia andado mais rápido que ele. "Assim que saiu do carro estudou os dados e analisou o que estava acontecendo".

"Eu precisava ir ao aeroporto e tinha combinado com Josef Leberer, o fisio, que ele me levaria. Estávamos sentados e eu disse: 'Bem pessoal, tenho que ir para o aeroporto agora. Josef, pode me levar?'. Aí Senna levantou a cabeça rapidamente e disse: 'Não, você vai ficar aqui'".

"Várias pessoas estavam presentes na reunião, e não disseram nada. Todos ficaram mudos. Eu disse: 'Mas como? Preciso ir para o aeroporto. Josef vai me levar. Tudo está planejado'. Senna levantou a cabeça de novo e disse: 'Não. Você vai ficar'".

"Foi um jogo psicológico dele para tentar me fazer entender que eu era o piloto de testes, o substituto".

Continuando com o relato, ele explicou: "Era assim que trabalhava, entendi isso depois. Ele sempre tirava o máximo proveito das pessoas ao seu redor. Ele tinha o dom de falar sobre algo e acionar um sistema sem que as pessoas ao seu redor percebessem o quão grande era essa pressão".

O ex-piloto também relembrou outra história de quando estava no avião com Senna, e sua assessora Betise Assumpção o entregou uma pasta com recortes de matérias que haviam saído na imprensa. As seções principais dos recortes estavam marcadas com pequenas flechas.

Blundell se surpreendeu ao ouvir a explicação de Senna: "Esses são os comentários negativos sobre mim. E quero entender quem que diz algo do tipo". O ex-piloto de testes da McLaren se deu conta que o brasileiro podia dar conta de outras coisas além de correr, diferente dele próprio.

GALERIA: Dez momentos inesquecíveis da carreira de Senna

10 – GP do Japão de 1990
Este episódio está na posição mais baixa em nossa lista, enquanto é memorável por razões complexas. Senna e seu rival, Alain Prost voltaram à cena da implosão de 1989, mais uma vez lutando pelo campeonato mundial, mas desta vez em equipes diferentes. Enquanto a colisão na chicane no ano anterior decidiu o título a favor de Prost, desta vez Senna foi o piloto com a vantagem no Japão.
10 – GP do Japão de 1990
A preparação para a corrida não foi sem controvérsia, com Senna se enfurecendo sobre a posição no grid de largada. Ele prometeu antes da corrida que se Prost - começando em 2º no lado limpo da pista - tivesse uma largada melhor, Senna não mudaria seu traçado na primeira curva. Surpreendentemente, dadas as velocidades e o perigo envolvidos, ele permaneceu fiel, levando Prost para fora em alta velocidade e eliminando ambos. Senna ganhou o campeonato.
9 - Confrontos com Schumacher
Senna X Schumacher é uma das grandes rivalidades da F1 que nunca foi realmente concretizada, mas tivemos um vislumbre dela em 1992, quando o jovem alemão estava em sua primeira temporada completa na F1. O primeiro mal entendido ocorreu no GP do Brasil, quando Schumacher criticou Senna por guiar de forma inconsistente, o que o piloto da McLaren rebateu dizendo que tinha um problema no motor que estava afetando seu ritmo.
9 - Confrontos com Schumacher
Schumacher então sentiu a ira de Senna depois de bater nele na largada do GP da França, e sob bandeira vermelha, Senna encarou o jovem piloto, relativamente calmo, mas diante das câmeras do mundo todo. Eles voltaram a atacar duas corridas depois, na Alemanha, com Senna confrontando Schumacher ao acusá-lo de segurá-lo no treino, e o piloto da Benetton dizendo que viu a McLaren, mas não achou que estivesse indo rápido o suficiente para passa-lo.
8 - Guerra de palavras com Jackie Stewart
Na esteira da colisão de Suzuka em 1990, Senna foi entrevistado em Adelaide na corrida seguinte pelo tricampeão mundial Jackie Stewart, onde ele defendeu com veemência suas ações contra Prost. Mas a conversa tomou outro rumo quando Stewart sugeriu que Senna havia feito mais contato com outros pilotos do que todos os campeões mundiais anteriores juntos. “Acho incrível você fazer essa pergunta, Stewart, porque você é muito experiente e sabe muito sobre corridas”, começou a resposta de Senna.
8 - Guerra de palavras com Jackie Stewart
Mais tarde na resposta, uma das frases mais famosas de Senna nasceu: "Se você não tentar ultrapassar quando há uma oportunidade, você não é mais um piloto de corrida." Como Stewart continuou com o assunto, Senna interrompeu para dizer: "É tudo irrelevante, tudo o que você está dizendo, Jack, é realmente irrelevante." A partir de então, a discussão ficou mais acalorada, com Senna apontando para Stewart e pedindo que voltasse nos últimos 10 anos da história da F1 para descobrir que “talvez o que você esteja dizendo não era correto.”
7 – Roda a roda com Mansell
Senna ser ultrapassado era relativamente raro e a mais famosa dessas manobras envolveu Nigel Mansell no GP da Espanha de 1991. Batalhando pelo segundo lugar na época em um circuito úmido, Senna estava na linha de baixo da reta principal, mas quando Mansell conseguiu sair melhor da curva final e foi capaz de puxar ao lado, uma corrida de arrancada estava em andamento.
7 – Roda a roda com Mansell
Pode parecer estranho incluir um momento como este em uma lista sobre Senna, mas para todas as ocasiões em que sua etiqueta na pista poderia ser legitimamente questionada, esse foi um exemplo de suprema precisão de ambos os pilotos, que podiam ser vistos juntando as rodas dianteiras, à medida que se aproximavam. Senna não deu a Mansell um centímetro, mas ele também se absteve de tentar desviá-lo da rota, mostrando que poderia correr duro, mas justo quando quisesse.
6 – GP do Japão de 1988
O primeiro campeonato mundial de Senna foi selado de forma dramática. A cena estava pronta para ele ser coroado caso vencesse a corrida, mas ele despencou no começo enquanto lutava para tirar sua McLaren do caminho dos outros carros. Ele caiu para o meio do pelotão, embora no final da primeira volta já estivesse no oitavo lugar.
6 – GP do Japão de 1988
Na volta 28, de 51, Senna estava perto de Prost lutando pela liderança, e ele completou um notável retorno ao passar seu companheiro de equipe. Prost continuou a perseguir Senna no final, quando a chuva começou e ele lutou contra um problema na caixa de câmbio. Mas o dia pertencia a Senna.
5 – GP do Brasil de 1991
Apesar de todo o fenomenal sucesso de Senna na F1, uma vitória em solo brasileiro foi difícil de ser conseguido. Em 1991, ele era bicampeão mundial, mas ainda não havia conseguido vencer o GP do Brasil. Isso tudo mudaria, mas em circunstâncias dramáticas. Assim que a Williams de Nigel Mansell abandonou, Senna ficou com vantagem de 40 segundos sobre Riccardo Patrese, mas durante as voltas restantes essa diferença iria cair com os problemas de câmbio, e que deixou Senna preso na sexta marcha.
5 – GP do Brasil de 1991
Com Patrese tirando até seis segundos por volta, Senna gesticulou para os comissários para parar a corrida quando começou a chover, mas ele, de alguma forma, conseguiu ganhar por menos de três segundos. Um exausto Senna, que podia ser ouvido gritando no rádio após a bandeira quadriculada, mal conseguia sair de seu carro enquanto seu corpo entrava com espasmos, mas ele superou a dor e ergueu o troféu e a bandeira brasileira no pódio em frente aos seus fãs.
4 – GP de Mônaco de 1984
Senna chegou à F1 em 1984 com uma reputação brilhante nas categorias de base na Grã-Bretanha, e ele poderia ter vencido já em seu quinto GP. Em um dos primeiros exemplos de domínio na chuva, Senna estava superando o líder da corrida, Alain Prost, quando a corrida entrou em bandeira vermelha devido às más condições, após apenas 31 voltas.
4 – GP de Mônaco de 1984
No entanto, há dúvidas sobre se Senna poderia ter chegado ao final. Ele bateu com força na chicane e danificou um dos amortecedores de seu carro, além da Tyrrell de Stefan Bellof, que se aproximava nas últimas voltas, e poderia ter sido um fator na luta pela vitória.
3 – GP de Portugal de 1985
Talvez não tenha sido surpresa que a primeira vitória de Senna, quando finalmente chegou, tenha sido em condições torrenciais.
3 – GP de Portugal de 1985
Senna estava apenas em sua segunda corrida pela Lotus, liderando cada volta para vencer com uma diferença de mais de um minuto, com apenas Michele Alboreto da Ferrari conseguindo terminar na mesma volta que o brasileiro.
2 – Classificação para o GP de Mônaco de 1988
É considerada a maior volta de classificação da F1 de todos os tempos, quando Senna derrotou Prost por 1s427 nas ruas de Monte Carlo. Se essa conquista não foi impressionante o suficiente, o que Senna disse sobre a volta depois foi igualmente notável. "Eu estava dirigindo por instinto, eu estava em uma dimensão diferente", disse ele. “Eu estava em um túnel, muito além do meu entendimento consciente. Alguns momentos em que estou guiando, apenas me desligo completamente de qualquer outra coisa.” “Naquele dia, eu disse para mim mesmo que aquilo era o máximo para mim, não havia espaço para mais nada. Eu nunca realmente cheguei a esse sentimento novamente.”
1 – GP da Europa de 1993
Se Mônaco em 1988 foi a melhor volta de classificação de todos os tempos, então Donington em 1993 recebeu a maior volta de abertura de uma corrida na história da F1. De quarto no grid, Senna caiu para quinto na largada. Ele imediatamente repassou a Benetton, saindo da Redgate, depois varreu o lado de fora da Sauber de Karl Wendlinger na parte inferior das Curvas Craner para completar uma manobra para o terceiro lugar no Old Hairpin.
1 – GP da Europa de 1993
Na zona de frenagem seguinte, ele foi por dentro da Williams de Damon Hill, tendo apenas o líder da corrida, Prost, para vencer.
1 – GP da Europa de 1993
Na hairpin Melbourne, Senna atacou, mergulhando por dentro de Prost para assumir a liderança. Uma hora e 50 minutos depois, ele cruzou a linha de chegada para vencer a única corrida de F1 do campeonato mundial de Donington, a 1min23s à frente de Hill, com o resto - incluindo Prost - pelo menos uma volta atrás.
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VÍDEO: Barrichello relembra em detalhes o dia em que Senna socou Irvine na F1

PODCAST: Senna é o maior esportista brasileiro após a era Pelé?

 

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