Análise

ANÁLISE: Por que a demissão de Masi do cargo de diretor de provas da F1 era inevitável

Australiano será substituído por Eduardo Freitas e Niels Wittich, que chegam à função menos pressionados e com maior controle das coisas

A confirmação da FIA de que Michael Masi foi demitido do cargo de diretor de provas da Fórmula 1 não foi uma surpresa completa, devido às consequências da controvérsia em Abu Dhabi. No entanto, embora soubéssemos que as mudanças estavam chegando, havia uma chance de que o australiano continuasse parte de um sistema renovado, talvez trabalhando ao lado de outros.

De fato, até poucos dias atrás, fontes sugeriam que ele ficaria, mas no final, e após discussões com o CEO da categoria, Stefano Domenicali, e as equipes em Londres na última segunda-feira (14), o novo presidente da federação, Mohammed ben Sulayem, concordou que a posição de Masi era insustentável. Muito pela força do sentimento expresso não apenas pelos fãs nas mídias sociais, mas também nos bastidores da F1.

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Não é apenas o diretor de provas que mudou, mas também o sistema em torno desse cargo. Pode-se argumentar que Masi teve a infelicidade de não ter tido a chance de trabalhar sob os novos acordos, sem pressão pelo rádio dos pit walls e com a ajuda de ajuda externa de um local remoto que Ben Sulayem compara ao sistema VAR do futebol.

Dividir o papel de diretor entre o veterano do WEC Eduardo Freitas e o antigo nome do DTM Niels Wittich, que já havia sido contratado como vice de Masi para 2022, é uma escolha intrigante. Ambos têm grande experiência em outras categorias, mas ainda muito a aprender sobre a F1.

Por um lado, ao usar dois no cargo, a categoria perde a característica de ter um único 'árbitro' em todos os eventos e que, em teoria, dava consistência ao processo decisório. De fato, quando a ideia de dividir o papel surgiu há algumas semanas, fontes sugeriram já havia sido descartada exatamente por esse motivo.

Race Director Eduardo Freitas

Race Director Eduardo Freitas

Photo by: JEP / Motorsport Images

No entanto, com o passar do tempo e a continuidade das discussões, ficou claro que era impossível encontrar um candidato totalmente qualificado que estivesse disposto e capaz de fazer o trabalho da F1 por conta própria.

Freitas, por exemplo, já tem muito o que fazer com sua função regular no WEC, e não poderia se comprometer com 23 finais de semana de F1, enquanto Scot Elkins – outra escolha possível – já estava acertado com Fórmula E e DTM.

A vantagem de dividir o papel é que há menos perigo de um indivíduo tornar-se todo-poderoso e, ao mesmo tempo, carregar o peso nos ombros de fazer o que é claramente um trabalho muito difícil por conta própria, com todas as pressões, tanto dos concorrentes quanto do esporte em geral.

Freitas e Wittich agora podem compartilhar esse fardo e, de fato, apoiar um ao outro, mesmo que passem apenas alguns fins de semana trabalhando juntos.

A FIA também fez a sábia escolha de trazer de volta parte da experiência que estava perdida desde que Charlie Whiting morreu na véspera da temporada de 2019.

O antigo diretor de provas trabalhou por muitos anos com seu amigo próximo e ex-colega da Brabham, Herbie Blash, que cumpria o papel de vice-diretor. Eles tinham o tipo de relacionamento em que cada um sabia o que o outro pensava.

Infelizmente, no final de 2016, Blash viu a aposentadoria ser facilitada pela então hierarquia da FIA. Ele foi forçado a desistir da função, o que por sua vez permitiu que novos candidatos fossem treinados para que um deles eventualmente substituísse Whiting. De fato, Masi deu os primeiros passos na F1 por esse caminho.

Em meados do ano passado, a FIA perdeu outro nome valioso, Colin Haywood, que atuou por muitos anos como gerente de sistemas de controle de corrida da F1 e que era, na verdade, o terceiro membro-chave da equipe de Whiting e Blash. Ele atuou por um tempo como vice de Masi antes de optar pela aposentadoria, e sua ausência foi perceptível no segundo semestre de 2021.

Herbie Blash

Herbie Blash

Photo by: Sam Bloxham / Motorsport Images

Blash, que completou 73 anos em setembro, criou uma história com a Yamaha nas corridas de Superbike. Ele agora retorna à F1 em um papel recém-criado como consultor sênior permanente, sentado junto ao diretor de provas e seu vice e dando a eles o benefício de sua vasta experiência. Ele também ajuda a trazer alguma credibilidade no momento em que equipes e pilotos podem ficar nervosos em lidar com os recém-chegados no controle.

As outras mudanças importantes descritas por Ben Sulayem eram esperadas e já foram reveladas há algumas semanas pelo secretário-geral da FIA para o esporte, Peter Bayer, em uma entrevista que foi mais reveladora do que seus colegas desejavam.

A assistência remota para o diretor de provas, através do que Ben Sulayem chama de Sala de Controle Virtual de Corrida, é um passo lógico. Com isso, Masi poderia ter analisado replays de colisões por jogo sujo enquanto, ao mesmo tempo, monitoraria o trabalho de limpeza da pista e operação do safety car.

Ao dar ao diretor ajuda especializada na primeira dessas tarefas – como visto no futebol com VAR, mas também em outros esportes como críquete e rugby – ele fica livre para se concentrar nos aspectos de segurança. Então, pode pedir a seus colegas um veredito sobre quem foi o responsável por um incidente, antes de passar qualquer informação aos comissários para deliberação adicional.

A decisão de parar de transmitir as conversas do pit wall com o controle de corrida e tirar os chefes de equipe dessa comunicação foi debatida já no dia da corrida de Abu Dhabi.

Isso certamente aumentou o entretenimento no ano passado, e foi divertido enquanto durou. No entanto, em Yas Marina, claramente saiu do controle e muitos observadores acreditam que a pressão colocada em Masi pelo chefe da Red Bull, Christian Horner, e seu diretor esportivo Jonathan Wheatley teve uma influência direta na decisão que ele fez para deixar os retardatário passarem por Lewis Hamilton.

Masi estava incluso na decisão de transmitirem seu canal de rádio – em outras palavras, não foi imposto a ele.

The Safety Car Lewis Hamilton, Mercedes W12, Lando Norris, McLaren MCL35M, Fernando Alonso, Alpine A521, the rest of the field

The Safety Car Lewis Hamilton, Mercedes W12, Lando Norris, McLaren MCL35M, Fernando Alonso, Alpine A521, the rest of the field

Photo by: Sam Bloxham / Motorsport Images

É improvável que Whiting teria permitido que essa comunicação fosse transmitida, mesmo que pressionado pelos chefes da F1. De fato, quando você via a ocasional imagem dele na TV ao lado de Blash no controle de corrida durante um período de safety car, as chances eram de que havia sido gravado na sexta-feira, quando ele relutantemente permitia que as câmeras da F1 recordassem algumas imagens de estoque.

Gerentes de equipe e diretores esportivos ainda poderão conversar com o controle de corrida, mas apenas dentro de diretrizes rígidas quando as informações tiverem que ser trocadas, e não haverá o tipo de lobby emocional ouvido no ano passado.

Ben Sulayem disse que Masi, que já ocupou outros cargos, como o de delegado de segurança e inspetor de circuito, receberá outra função dentro da FIA, e resta saber se ele decidirá permanecer.

Em um nível pessoal, sua remoção é obviamente um duro golpe para ele, e ele pode ser perdoado por pensar que se tornou um bode expiatório. Ele pode não ter acertado tudo, mas fez algumas coisas boas nos últimos três anos. E não se esqueça que ele enfrentou uma situação impossível quando lhe pediram para substituir um homem que havia feito o trabalho por mais de duas décadas, e muito antes de qualquer sucessão programada. Em última análise, foi demais, muito cedo.

Mesmo no curto espaço de tempo desde a morte de Whiting, o nível de abuso lançado nas mídias sociais pelos seguidores da F1 aumentou consideravelmente, e foi muito para Masi ter que lidar. Ele agora poderá dar um passo para trás e talvez aproveitar sua vida mais uma vez.

Michael Masi, FIA

Michael Masi, FIA

Photo by: Erik Junius

No final, esta história era muito maior do que apenas um homem. O GP de Abu Dhabi, com a luta pelo título entre dois titãs da F1 indo para a última rodada, deveria ter sido um grande dia. Em vez disso, as consequências do que aconteceu foram extremamente prejudiciais, irritando os fãs de Hamilton e confundindo os neutros que eram novos no esporte.

E é por isso que Domenicali teve um papel prático para ajudar a traçar o caminho a seguir. As mudanças tinham que ser vistas.

O GP do Bahrein representará um novo começo para todos, e só podemos esperar que os novos diretores de prova conjuntos nunca se encontrem no tipo de situação que Masi enfrentou no ano passado.

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