Apesar de domínio, Red Bull não é unanimidade na Áustria
Equipe austríaca, bancada por gigante do mercado de bebidas energéticas, não é fonte de paixão, como a Ferrari na Itália, por exemplo; além disso, empresa é alvo de questionamentos e oposição 'em casa'; entenda
A Red Bull foi criada em 1984 por Dietrich Mateschitz e, desde então, consolidou-se como uma das grandes empresas do mercado de bebidas energéticas. Além disso, a companhia austríaca se destacou por se envolver em larga escala com o esporte.
Primeiro, a marca focou nos esportes radicais, mas depois começou a investir no automobilismo através do rali. Na Fórmula 1, a empresa começou como patrocinadora de equipes como a Sauber e a Arrows até que, no fim de 2004, a Red Bull adquiriu a Jaguar e estreou como equipe própria em 2005 - comprando a Minardi no final do mesmo ano e criando a Toro Rosso.
De 2010 a 2013, o time comandado por Christian Horner conquistou os títulos de pilotos - todos com Sebastian Vettel - e de construtores, dominando a categoria. Desde 2014, a F1 voltou a ter o GP da Áustria no calendário, após a empresa adquirir o antigo A1 Ring, modernizá-lo e rebatizá-lo como Red Bull Ring.
Além disso, a Red Bull possui um programa de desenvolvimento de pilotos, do qual faz parte desde o início de 2016 o brasileiro Sérgio Sette Câmara, atualmente na Fórmula 3 Europeia. Curiosamente, o programa não ficou conhecido por ter revelado expoentes do automobilismo do próprio país. Com isso, o Motorsport.com Brasil procurou saber como os austríacos veem a equipe.
O jornalista austríaco Florian Haselmayer, que falara ao Motorsport.com Brasil sobre o jejum de conquistas de pilotos do país na F1, explicou como a Red Bull trabalha com o programa de desenvolvimento e porque não há pilotos 'da casa' no projeto.
"Parte do problema é a falta de trabalho na base - no kart, por exemplo. Além disso, poucos talentos conseguem fazer deles mesmos algo interessante para a Red Bull, que é uma empresa global e coloca o desempenho acima da nacionalidade", disse.
"Eles apoiaram pilotos como Christian Klien e Patrick Friesacher - no começo dos anos 2000 havia mais pilotos austríacos. Desde então, o programa reduziu o número de pilotos e o foco agora é somente naqueles que demonstram extremo potencial. O austríaco que chegou mais perto foi Lucas Auer - sobrinho de Gerhard Berger - hoje piloto da Mercedes no DTM", contou.
Além disso, outra curiosidade surgiu: como os austríacos veem a equipe? O time comandado por Horner arrebata corações na Áustria, assim como a Ferrari possui a legião de 'tifosi' na Itália? Segundo Haselmayer, a situação é bastante diferente.
"Não dá para comparar os sentimentos dos austríacos em relação à Red Bull com os dos italianos pela Ferrari - a paixão é bem menor. Parte disso se deve à menor tradição do país nas corridas, mas também pela atitude menos emocional dos austríacos em geral", observou.
"A Red Bull tem apoio, especialmente na região do Red Bull Ring, desde que eles fizeram esforços para desenvolver a região e criaram empregos - as pessoas são gratas por isso. Entretanto, existem vozes críticas. Nem todo austríaco ama a Red Bull", completou o jornalista.
Problemas
O próprio envolvimento da Red Bull com o esporte gerou polêmica na Áustria. Em 2005, a empresa comprou o FC Salzburg, um dos clubes mais tradicionais no país, e o rebatizou de FC Red Bull Salzburg - trocando escudo e a clássica combinação violeta/branco por vermelho/branco e os logos da empresa.
O maior poder aquisitivo do time - que venceu os três últimos campeonatos nacionais e conta com o zagueiro Paulo Miranda, que passou pelo São Paulo entre 2011 e 2015 - leva os fãs dos clubes mais tradicionais a desenvolverem oposição ao clube. Em 2006, fãs do antigo FC Salzburg recriaram o antigo clube, que hoje está na segunda divisão do país.
Além disso, a companhia possui uma série de negócios dentro do país, como hotéis e o próprio canal de TV - a Servus TV. Como a empresa não está no mercado de ações, pouco se sabe sobre o modo como os negócios são conduzidos - já que tais informações estão nas mãos de poucos e decisões importantes raramente ganham publicidade.
Isso acaba incomodando parte da população austríaca, que não se sente totalmente confortável em não saber muito sobre o que se passa em um grupo com o tamanho da Red Bull, que possui tantas ramificações e é responsável por uma quantidade significativa de vagas de emprego na Áustria.
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