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Ex-fisioterapeuta da McLaren fala sobre abordagem pioneira que tornou Senna tão especial

No aniversário da morte de Ayrton Senna em Ímola, refletimos sobre o que tornou o brasileiro tão especial com o homem que o conheceu de perto

Ayrton Senna, McLaren confers with Josef Leberer, McLaren Physio

Em uma época em que a Fórmula 1, como um todo, se tornou mais profissional, Ayrton Senna é frequentemente creditado por mudar a abordagem dos pilotos de um fim de semana de corrida, levando a preparação física e mental a um nível mais alto.

A feroz rivalidade na McLaren entre Senna e Alain Prost foi uma grande força motriz nessa mudança de atitude. Enfrentando um piloto que provou estar no mesmo nível, Senna entendeu que era necessário fazer de tudo para ter vantagem sobre o francês.

Para Senna, uma dessas arestas era desenvolver um relacionamento próximo com o novo fisioterapeuta da McLaren, Josef Leberer.

Leberer chegou à F1 no início da temporada de 1988, substituindo seu colega professor austríaco, Willi Dungl. Aos 29 anos, o fisioterapeuta Leberer acabou imediatamente na poderosa equipe McLaren-Honda de Ron Dennis. Naquela temporada, Senna e Prost venceram quase todas as corridas no auge do domínio da equipe, com o espetacular McLaren MP4/4.

Ayrton Senna receives a hand massage from physio Josef Leberer ahead of the 1988 Mexican Grand Prix

Ayrton Senna receives a hand massage from physio Josef Leberer ahead of the 1988 Mexican Grand Prix

Photo by: Sutton Images

Para um jovem profissional como Leberer, a equipe perfeccionista da McLaren da era Dennis era um ambiente intimidador.

"Eu era mais ou menos experiente, mas ainda assim foi um grande passo para mim, porque não sabia o que eles esperavam", disse Leberer ao Motorsport.com.

“Eu apenas tentei fazer o que aprendi da minha intuição e fazer o meu melhor. O doutor Dungl disse: 'Você não pode se preparar para isso, apenas faça. Você é bom em terapia e bom em comunicação’. "

Leberer então enfrentou a difícil tarefa de conquistar a confiança de dois dos personagens mais difíceis e competitivos do esporte, mas um incidente em particular durante seu primeiro evento com a McLaren, o GP do Brasil de 1988 no Rio, lhe deu uma chance de encontrar uma maneira de entrar.

"Na sexta-feira, Prost sofreu um acidente e teve dor de cabeça", contou Leberer. "Houve uma enorme pressão sobre mim após o acidente, porque eu estava sozinho.”

"Fiquei um pouco assustado se seria a minha primeira e a minha última corrida, mas tentei fazer o meu melhor e funcionou bem. Ele estava muito bem logo. Isso foi fantástico para mim."

"Os carros da época eram fisicamente difíceis de guiar. Isso significava que os pilotos precisavam de mim; me pediam à noite uma terapia ou uma massagem. Ron Dennis me deixou fazer o que queria, porque sabia o que eu podia fazer."

"Tanto Ayrton quanto Prost eram personagens muito fortes. Tentei dedicar um tempo a ambos. Prost era um pouco mais velho, mas Senna tinha a minha idade. Pude ver que ele era muito disciplinado consigo mesmo e com suas expectativas em relação às pessoas ao seu redor."

Apesar de começar bem com Prost, foi Senna quem Leberer naturalmente se aproximou. Aconteceu que não foi inteiramente por acidente...

"No domingo à noite [depois da corrida no Rio], ele me ligou, de repente. Eu estava morto, queria dormir. Achei que ele queria outra fisioterapia ou massagem, mas ele me convidou para jantar. Achava que todo mundo queria jantar com ele: o prefeito, o presidente... e ele estava me convidando!

GALERIA: Relembre todos os carros da carreira de Ayrton Senna na Fórmula 1

1984: Toleman TG183B
Foi seu primeiro carro na Fórmula 1, apesar de Senna ter usado o monoposto apenas nas primeiras quatro corridas daquela temporada 1984, somando dois sextos lugares na África do Sul e na Bélgica.
1984: Toleman TG184
Foi com o novo carro da Toleman que o brasileiro conseguiu o famoso pódio na corrida chuvosa em Mônaco. Além disso, conquistou mais dois terceiros lugares, na Grã-Bretanha e em Portugal.
1985: Lotus 97T
A Lotus carregava um motor Renault. Com o monoposto, ele conseguiu uma vitória já em sua segunda corrida, em Portugal, antes de cair em uma sequência de sete provas consecutivas sem pódios. Voltou ao top-3 na Áustria com o segundo lugar, iniciando uma série de cinco pódios, incluindo uma vitória na Bélgica.
1986: Lotus 98T
Em sua segunda temporada com a Lotus, a equipe usou novamente o motor Renault V6. Os resultados chegaram: seis pódios, incluindo vitórias de Espanha e Detroit, nas oito primeiras corridas. No final, Senna somou 11 pódios para terminar em quarto entre pilotos.
1987: Lotus 99T
Com o Lotus 99T, já com motor Honda, o piloto ficou em terceiro lugar no campeonato de pilotos. Durante o ano, ele somou duas vitórias, quatro segundos lugares e dois terceiros. Essa foi a melhor posição de qualificação até então para o brasileiro.
1988: McLaren MP4/4
Em seu primeiro ano com a McLaren, seu carro foi o MP4/4, com motor Honda. Já em sua segunda corrida, Senna venceu o GP de San Marino. Depois de abandonar em Mônaco, obteve um segundo lugar no México, iniciando série de oito pódios consecutivos, incluindo seis vitórias. No GP do Japão, ele subiu novamente ao topo do pódio e conquistou seu primeiro campeonato na F1.
1989: McLaren MP4/5
Em sua segunda temporada com a McLaren, Senna guiou o MP4/5, impulsionado pela Honda. Foi o ano da intensificação da rivalidade com Alain Prost. No decorrer da temporada, ele somou seis vitórias e um segundo lugar na Hungria.
1990: McLaren MP4/5B
A terceira temporada de Senna pela McLaren marcou a saída de Alain Prost para a Ferrari, o que fez com que os números dos carros britânicos fossem alterados. O francês levou consigo o projetista Steve Nichols. Por isso, a McLaren fez alterações no seu carro do ano anterior, com novidades no corpo e na asa traseira. Deu certo: ganhou o Mundial de Construtores e Senna reconquistou o título.
1991: McLaren MP4/6
O MP4/6 impulsionado por um Honda V12 foi o último carro com o qual Senna brigou frequentemente por vitórias na McLaren. O início da temporada deu-lhe quatro vitórias. Depois, dois terceiros lugares, no México e na França. Os triunfos na Hungria, Bélgica e Austrália, com os segundos lugares de Itália, Portugal e Japão, deram a ele seu terceiro e último título mundial na Fórmula 1.
1992: McLaren MP4/7
A McLaren começou a temporada com uma atualização do chassi de 1991 na África do Sul e no México, onde Senna conseguiu o terceiro lugar. No Brasil, veio o novo carro MP4/7, para as restantes 14 datas do campeonato. Senna ainda ganhou três GPs (Mônaco, Hungria e Itália) e três pódios (San Marino, Alemanha e Portugal), terminando em quarto no campeonato vencido por Nigel Mansell.
1993: McLaren MP4/8
Com o novo motor Ford, Senna começou sua última temporada com a McLaren ao volante do MP4/8. O início da temporada permitiu-lhe três vitórias e dois pódios nas primeiras seis corridas de 1993. No fim do ano, ainda venceu no Japão e na Austrália.
1994: Williams FW16
Em seu desejo de vencer seu quarto campeonato mundial, Ayrton Senna mudou para a Williams em 1994. Entretanto, perdeu a suspensao eletrônica de seu antecessor em virtude das novas regras da F1 e ficou desvantagem. Em seu terceiro GP com o FW16, Senna faleceu após forte batida na curva Tamburello, em Imola.
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"Um amigo me disse muitos anos depois que era porque ele viu o que eu tinha feito com Prost e ele pensou 'esse cara não é tão estúpido, é bom colocá-lo do meu lado...'"

"Eu provavelmente fui um pouco ingênuo quando pensei que era apenas porque ele era uma pessoa muito legal. Ayrton era uma pessoa muito sensível, mas a química estava certa. Ele tinha um bom pressentimento das pessoas."

"Foi uma semana de muito sucesso. Até Dennis me procurou no domingo para me agradecer. Gordon Murray também se tornou um amigo. Eu não poderia ter sonhado com um começo melhor."

Em 1988, a preparação mental e física na Fórmula 1 ainda estava em sua infância. Leberer e Senna tiveram um papel pioneiro.

"Não acho que tenha havido alguém como Ayrton. Foi incrível a maneira como todos os detalhes foram importantes para ele. Foi um prazer trabalhar com ele, porque ele apreciava o que você fazia.”

"Do lado médico, ele pegou tudo como uma esponja. Até alimentos e ingredientes diferentes eram muito importantes para ele.”

"Eu estava preparando comida, cozinhando, tudo. Em alguns desses países, foi muito difícil, não havia serviço de catering como o que temos agora. Eu tive que cozinhar em algum lugar e fazer tudo com dois pratos. Era muito importante ter os produtos mais frescos.”

“Uma vez, quando fiz uma salada, houve um problema e tive que pedir a outras pessoas que fizessem o molho para ele. E imediatamente ele soube: 'Esse não era o seu molho para salada, estava um pouco diferente...’”

Relembre os maiores rivais de Senna na F1

Alain Prost
Faíscas entre Senna e Prost foram vistas na pista já no ano de estreia do brasileiro, em 1984, no GP de Mônaco, quando o então piloto da Toleman dava show debaixo de chuva no Principado. Na 32ª volta, de Senna ultrapassou Prost para a liderança, mas a corrida foi interrompida com a bandeira vermelha e acabou valendo o giro anterior, dando o triunfo ao francês.
Alain Prost
Em 1989, como companheiros de equipe na McLaren, o ponto alto da rivalidade veio no Japão, quando ambos bateram, Senna voltou, venceu a prova, mas acabou desclassificado, o que deu o título ao francês.
Alain Prost
No ano seguinte, o troco. Já com Prost na Ferrari, os dois se chocaram novamente, mas quem levou a vantagem foi Senna.
Alain Prost
Na última vitória de Senna na F1, a Austrália em 1993, ambos se cumprimentaram no pódio e, apesar de tudo o que houve entre dois dos gigantes da F1, Prost esteve no Brasil para homenagear Senna em seu funeral.
Nelson Piquet
Os dois tricampeões mundiais nunca chegaram a disputar um título, mas o jogo de palavras entre os eles via imprensa deixava claro que aquilo se tratava de uma grande rivalidade.
Nelson Piquet
Um dos pontos altos foi a disputa no GP da Hungria de 1986, com a famosa ultrapassagem Piquet (na Williams) sobre Senna (na Lotus). Recentemente, em entrevista à jornalista mariana Becker, Piquet deu o tom de como era o clima entre eles quando recordou a ultrapassagem.
Nelson Piquet
"Eu estava liderando, fiz o pit stop, fiquei para trás e fui chegando nele [Senna]. Meu carro era mais controlado, naquela época eu estava com a suspensão ativa. E aí eu cheguei atrás dele, fui passar ele pela direita, e ele me espremeu na parte suja da pista".
Nelson Piquet
"Aí o carro ficou com o pneu ficou muito sujo e eu escorreguei. Mas eu já vinha determinado a passar e se ele me espremesse eu ia jogar ele na arquibancada. Eu já estava com o estopim aceso. Aí quando eu vim, ele saiu para a direita e eu pensei: ‘Vou passar pela parte limpa’."
Nelson Piquet
"Passei pela parte limpa e aí deu para frear lá dentro, controlar e fazer a corrida normal e vencer a corrida. Mas se ele deixasse eu passar pela direita e chegasse de novo, aí ele ia pra arquibancada", completou Piquet.
Nigel Mansell
Fora da pista, Senna e o “Leão” Nigel Mansell não tiveram problemas, mas a rivalidade era nas acirradas disputas nos campeonatos de 1991 e 1992, com o brasileiro na McLaren e o inglês na Williams.
Nigel Mansell
Uma das imagens mais impressionantes entre os dois foi a disputa roda com roda no GP da Espanha de 1991, em uma manobra que Mansell superava Senna pela segunda posição da prova.
Nigel Mansell
Mas no final, aquela temporada dava o tri a Senna, com Mansell levando a melhor no ano seguinte em um carro considerado um dos mais perfeitos da F1.
Michael Schumacher
No início dos anos 1990, quando Senna já era um astro consolidado da F1, nascia outra lenda do esporte, Michael Schumacher. Mas o relacionamento entre os dois não era dos mais amigáveis.
Michael Schumacher
Uma das histórias é que Senna e Schumacher chegaram às vias de fato. Em entrevista ao Motorsport.com, Rubens Barrichello disse que acredita que a briga realmente aconteceu.
Michael Schumacher
“Acho que aconteceu mesmo, porque tem foto do momento em que duas pessoas estão se olhando, meio de perto e que existe um sentimento de incompatibilidade do momento.”
Michael Schumacher
Na pista, no ano em que morreu, Senna já havia sido superado por Schumacher nas duas primeiras corridas de 1994 e conquistou o título mais tarde, o primeiro dos sete que acumula na F1.
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Após o trágico acidente de Ímola do tricampeão mundial em 1994, Leberer permaneceu no esporte e foi para a Sauber em 1997, agora chamada de Alfa Romeo. Na equipe suíça, ele guiou futuras estrelas como Kimi Raikkonen, Felipe Massa, Sebastian Vettel e Charles Leclerc.

Senna foi idolatrado por várias gerações de pilotos e vários deles pedem que Leberer conte histórias sobre o grande brasileiro.

"Claro", ele disse. "Alguns jovens pilotos perguntam: 'Ah, você trabalhou com Senna. O que ele fazia?' Sempre existem pequenas coisas para ajudá-los em um programa de treinamento."

Atualmente, todos os pilotos de Fórmula 1 são atletas extremamente aptos. A preparação física está em um nível tão alto que não é mais uma área em que os pilotos podem fazer a diferença.

O lado mental, no entanto, ainda é um divisor de águas, porque é inerentemente pessoal e mais difícil de medir. Até hoje, Leberer ainda aplica lições que aprendeu enquanto trabalhava com Senna.

"Antes de Ayrton ir para a cama, era o momento perfeito para fazer alguma terapia. Aos sábados, a tensão aumenta. O que quer que passasse pela cabeça dele, eu podia sentir a tensão nas vibrações do corpo dele. Então, tentei chamar sua atenção para se concentrar na [terapia]. É importante desligar e recuperar.”

"Você nem sempre pode ir a 180 batimentos por minuto. Para o coração e o corpo, é importante se acalmar. Você só cresce enquanto dorme.”

"Se você ainda está pensando em Prost, Mansell ou Piquet, isso interfere nesse processo. Ele aprendeu a fazer isso e acho que essa foi uma das coisas mais importantes que ele pôde aprender."

"Foi muito emocionante e realmente gratificante para alguém como eu. Lembro-me uma vez que Senna disse 'sempre que troco de equipe, gostaria que você fosse comigo'. Isso é legal, né? Isso significa que eu não era tão estúpido!”

"Vir à McLaren e ter dois dos melhores esportistas do mundo para trabalhar, foi incrível, fantástico. Eu poderia dizer que todo mundo poderia ter feito isso com Senna e Prost".

Saiba quais circuitos Senna reinava na F1

Mônaco: 6 vitórias: 1987, 1989, 1990, 1991, 1992 e 1993.
Spa-Francorchamps: 5 vitórias: 1985, 1988, 1989, 1990 e 1991
Estados Unidos (Detroit): 3 vitórias : 1986, 1987 e 1988
Hockenheim: 3 vitórias: 1988, 1989 e 1990
Hungaroring: 3 vitórias: 1988, 1991 e 1992
Ímola: 3 vitórias: 1988, 1989 e 1991
Adelaide: 2 vitórias: 1991 e 1993
Interlagos: 2 vitórias: 1991 e 1993
Montreal: 2 vitórias: 1988 e 1990
Jerez: 2 vitórias: 1986 e 1989
Monza: 2 vitórias: 1990 e 1992
Suzuka: 2 vitórias: 1988 e 1993
EUA (Phoenix): 2 vitórias: 1990 e 1991
Cidade do México: 1 vitória: 1989
Portugal: 1 vitória: 1985
Silverstone: 1 vitória: 1988
Donington Park: 1 vitória: 1993
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Luis Roberto relata cobertura da morte de Senna e relembra chamado para ver corpo do piloto

PODCAST :Senna é o maior esportista brasileiro após a era Pelé?

 

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