A discussão do momento na F1 neste momento é a polêmica em torno do acordo confidencial que a Ferrari fez com a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) em relação ao motor italiano de 2019. O órgão exigiu que o time de Maranello fizesse adaptações para 2020, mas não tomou uma decisão sobre a polêmica unidade de potência do ano passado, alvo de várias críticas das rivais em função da exagerada superioridade na parte final de 2019. Agora, Mercedes, Red Bull e companhia ameaçam tomar ação contra a FIA
Foram seis dias de testes de pré-temporada da Fórmula 1 realizados no Circuito de Barcelona-Catalunha, que também é palco do GP da Espanha
O melhor tempo da pré-temporada veio ainda na primeira semana de testes. Valtteri Bottas mostrou que a Mercedes continua rápida, fazendo um tempo em 1min15s732. Em comparação, o tempo da pole position do GP da Espanha de 2019, feito pelo próprio Bottas, foi 1min15s406, apenas três décimos de segundo mais rápido
E a Mercedes também foi o assunto mais comentado durante a pré-temporada. No segundo dia de testes, a equipe introduziu uma novidade no carro, um novo Sistema de Direção de Eixo Duplo (DED). Esse novo sistema permite um realinhamento das rodas dianteiras através do volante, que funciona como um manche de avião, podendo ser puxado ou empurrado pelo piloto
Muitas equipes questionaram se o DED era legal ou até mesmo seguro, mas logo tudo foi resolvido quando a FIA se manifestou afirmando que já tinha conhecimento desse sistema e que estava em conversas com a equipe desde o ano passado
Mas nem tudo foi tranquilo para a Mercedes e para as equipes que usam motor da montadora alemã em Barcelona. Houve alguns problemas de confiabilidade. A própria Mercedes chegou ao limite de unidades de potência que poderiam ser usados nos testes , três, após dois deles darem problemas. A Williams também chegou a usar o seu terceiro motor
Bottas foi o único piloto a fazer um tempo na casa de 1min15s. Max Verstappen, que foi o segundo com seu combo Red Bull e Honda, fez um tempo de 1min16s269. Verstappen chegou para a pré-temporada de 2020 mais tranquilo, tendo o contrato garantido para ficar na equipe até o final de 2023
O holandês ficou feliz com a performance de seu motor Honda, que está garantida como fornecedora da Red Bull até o final de 2021. Mas, para além, a montadora japonesa ainda não sabe se conseguirá se manter na Fórmula 1. Com as mudanças que as montadoras estão fazendo para a produção de carros elétricos, devido às novas leis ao redor do mundo, a Honda ainda analisa se é economicamente viável se manter na categoria
Enquanto Mercedes e Red Bull saíram felizes de Barcelona, a Ferrari terminou a pré-temporada com um pé atrás com relação à sua performance com o carro de 2020. O chefe da equipe, Mattia Binotto, chegou a afirmar no final da primeira semana de testes que a Ferrari estava atrás de suas principais rivais em termos de rendimento
Um dos grandes problemas da Ferrari se deu por uma mudança de conceito do carro. Enquanto o SF90 era veloz nas retas, mas tinha problemas na hora de fazer curvas, o SF1000 foi pensado para melhorar a habilidade do carro nas curvas, mas acabou comprometendo demais a velocidade nas retas
Entre os pilotos fora das três equipes principais, o mais rápido foi Daniel Ricciardo com sua Renault. O australiano terminou como o terceiro mais rápido, o que melhorou os ânimos na equipe francesa após um 2019 que não terminou com os resultados pretendidos, como o quarto lugar no mundial de construtores
Uma melhora na performance é essencial para a Renault, como afirmou o chefe da equipe Cyril Abiteboul na época do "não-lançamento" do carro. Para Cyril, é o único modo da equipe conseguir manter Daniel Ricciardo para além de 2020, já que haverão vagas importantes em aberto para 2021, como a de Valtteri Bottas na Mercedes e a de Sebastian Vettel na Ferrari
O "não-lançamento" da Renault é um dos destaques inusitados dessa pré-temporada. A equipe chegou a realizar um evento de lançamento da temporada em Paris para a imprensa, mas, no final, ao invés de divulgar o novo carro, apenas lançou algumas fotos. Nem em Barcelona a equipe apresentou a versão final de seu carro para 2020. O mundo só conhecerá a nova pintura da Renault nos dias que antecederão o GP da Austrália
Outra equipe que se destacou nessa pré-temporada foi a Racing Point. A equipe teve um início de pré-temporada meio polêmico, quando revelou que seguiu um caminho em sua aerodinâmica similar ao da Mercedes de 2019. Por isso, recebeu o apelido no paddock de "Mercedes Rosa"
Mas a "Mercedes Rosa" surpreendeu, mostrando uma boa performance nas voltas rápidas e na quilometragem adquirida. O mexicano Sergio Pérez foi o sétimo mais rápido no geral, terminando a frente de Carlos Sainz, Sebastian Vettel e Alexander Albon. E a equipe foi a quarta em número de voltas completadas no teste, ficando a frente da Red Bull
Uma equipe que teve um início de 2020 mais feliz foi a Williams. Ano passado a equipe britânica passou pelo pior momento em sua história na Fórmula 1. Na pré-temporada de Barcelona, chegou a perder dois dias e meio de testes porque o carro não havia ficado pronto a tempo. Isso deu o tom a uma temporada melancólica, terminando em último no mundial de construtores, com apenas um ponto conquistado
Mas 2020 foi muito diferente, pelo menos por enquanto. A equipe conseguiu lançar seu carro antes do início dos testes e foi a primeira a ir para a pista em Barcelona. Segundo George Russell, piloto da equipe, isso foi essencial para dar uma injeção de ânimo em todos. O próprio Russell foi o décimo mais rápido dos testes. Uma performance bem diferente da vista em 2019. Mas será que isso vai se traduzir em melhores resultados quando chegar na hora das corridas?
Agora que a pré-temporada chegou ao fim, é hora das equipes começarem a se preparar para a primeira etapa do ano, o GP da Austrália. Mas, até lá, muita coisa ainda pode mudar por causa da epidemia do coronavírus, que já levou ao adiamento do GP da China
A organização do GP da Austrália confirmou a realização do evento, mas Bahrein e Vietnã ainda são dúvidas devido às normas baixadas pelos seus governos, que podem inviabilizar a realização da prova caso pessoas e equipes inteiras sejam barradas de entrar nos países
A Fórmula 1 já se manifestou oficialmente e afirmou que não fará corridas caso alguma equipe seja impedida de entrar no país da prova, por não ser justo para o mundial. Caso isso aconteça, há também a possibilidade de realização do GP, mas de forma não-oficial, não contando pontos para o Mundial. Por enquanto, resta esperar para ver o desenrolar a situação