REVIEW: Filme “Ferrari” deve agradar fãs de automobilismo, mas história deixa buracos questionáveis
Adam Driver ("Star Wars" e "Infiltrado na Klan") dá vida ao fundador da marca italiana, mas é Penélope Cruz ("Vicky Cristina Barcelona") quem rouba a cena
Após meses de espera, finalmente estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas brasileiros o longa Ferrari, dirigido por Michael Mann (“O Último dos Moicanos”, “Miami Vice” e “Inimigos Públicos”), que conta a história de um capítulo complicado na vida de Enzo Ferrari, fundador da mítica montadora italiana, tanto no lado pessoal quanto no profissional.
E o longa possui seus méritos, como uma atuação forte de Penélope Cruz, digna de indicação ao Oscar, e belas cenas de corrida, mas que perde força com um roteiro incompleto. E para quem está doido para assistir Ferrari no cinema, uma dica: esta é uma biografia, e não um filme de corrida! Mas eu explico melhor na sequência...
ATENÇÃO: Este review contém spoilers. Não reclamem depois!
“Ferrari” conta a história de Enzo no ano de 1957, quando Il Commendatore vivia grandes problemas pessoais e profissionais. Após a morte de seu filho, Dino, no ano anterior, o casamento com sua esposa, Laura, se encontra em uma situação de guerra, agravada pela crise financeira enfrentada pela montadora, que gastava mais dinheiro com as corridas do que ganhava com os carros de rua. Por fora, Enzo ainda tinha que equilibrar a vida com sua amante, Lina Lardi, e seu filho Piero.
Buscando evitar a falência iminente da Ferrari, Enzo aposta todas as suas fichas na vitória da Mille Miglia de 1957, corrida que ajudaria a marca a dar a volta por cima e consolidar seu legado.
Em primeiro lugar, é preciso deixar algo bem claro para o fã de esporte: Ferrari não é um filme de corrida na mesma linha de produções recentes como “Ford vs Ferrari” (2019) e “Rush: no limite da emoção” (2013).
O longa de Michael Mann é uma cinebiografia, focada mais na vida de Enzo Ferrari do que nas pistas. E não há como reclamar, já que estamos falando de um dos personagens mais míticos da história do automobilismo, e já era hora que um filme contasse mais sobre sua trajetória.
Mas isso não significa que as cenas de corrida são deixadas de lado. Na verdade, elas são bem produzidas e bastante gráficas, o que pode surpreender o espectador, positiva ou negativamente. A cena do acidente de Alfonso de Portago, piloto interpretado pelo ator brasileiro Gabriel Leone, é bem impactante, chegando a mostrar os corpos das pessoas vitimadas pelo carro do espanhol.
Aliás, vale um destaque em particular para Leone. É muito bom ver um ator brasileiro tendo grande espaço em uma importante produção internacional. Leone não desaponta, com uma atuação sólida. Vale lembrar que veremos o brasileiro novamente no mundo do automobilismo ainda em neste ano, dando vida ao tricampeão Ayrton Senna na minissérie da Netflix.
Mas, no campo da atuação, o grande nome de “Ferrari” é Penélope Cruz. A atriz espanhola, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Vicky Cristina Barcelona” (2008), entrega uma performance envolvente, com uma grande carga de emoções em cenas emblemáticas, envolvendo mesmo sem fala em alguns momentos, como a cena da visita ao mausoléu do filho Dino.
Inicialmente cotada como um nome forte para a temporada de premiações, Cruz acabou sendo deixada de lado, indicada apenas ao SAG Awards, o prêmio do Sindicato dos Atores. Mas, sem dúvidas, merecia um lugar no Oscar.
Por fim, é importante falarmos do protagonista. Indicado ao Oscar por Infiltrado na Klan (2018) e História de um Casamento (2019), havia uma expectativa muito grande em torno da performance de Adam Driver, que não correspondeu.
O ator americano não conquista com sua atuação, desprovida de emoções e que não gera empatia, diferente de Cruz, que sabe carregar o filme e ganha protagonismo ao longo das duas horas de duração. A maquiagem do longa também não colabora neste sentido, sendo a grande deficiência no lado técnico.
O longa tem como base o livro “Ferrari: o homem por trás das máquinas”, do jornalista britânico Brock Yates, mas opta por focar apenas neste capítulo da vida de Enzo, o que parece ser uma decisão sensata, considerando a longa e movimentada vida de Il Commendatore.
Porém, o grande erro do filme é não mostrar a volta por cima da Ferrari após a vitória na Mille Miglia. Ao encerrar o longa no “empréstimo” de Laura a Enzo, ficam vários buracos, como o primeiro contato de Enzo com a Fiat, que um capítulo importante e que não é desenvolvido, além de terminar com a Ferrari ainda em baixa, com Enzo sendo duramente criticado pela morte de Portago na prova.
No geral, “Ferrari” acerta ao focar em um capítulo específico da história de Enzo, indo na contramão das biografias, que tradicionalmente correm para contar 80 anos em duas horas. Liderado por uma bela atuação de Penélope Cruz, o longa tem pontos positivos suficientes para deixar o fã de automobilismo feliz. Mas uma performance abaixo do esperado de Adam Driver e um roteiro com escolhas confusas diminuem o resultado final, deixando o longa abaixo de outros do mundo do automobilismo quando colocados lado a lado.
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