Análise: O merecido retorno de Granado e os desafios de 2018
Gabriel Lima fala de mérito do brasileiro em volta à Moto2, mas lembra incertezas que envolvem o pacote da equipe Forward
Na última quinta-feira, o motociclismo brasileiro acordou com uma grande notícia. Eric Granado garantiu seu retorno ao Mundial de Motovelocidade. O paulista de 21 anos correrá pela equipe Forward na Moto2 em 2018.
A volta ocorre em um bom momento. Desde que saiu do mundial em 2014, Eric fez direitinho a lição de casa. Foi campeão nos últimos dois anos no Brasil correndo em motos de 600cc, e neste ano lidera o Campeonato Europeu de Moto2 (onde foi sexto e quarto nos últimos anos) por 16 pontos a uma prova do fim. Paralelamente, ele ponteia também o brasileiro de Superbike (a bordo de uma 1000cc) com vantagem de sete pontos para o vice-líder, Alexandre Barros. Não há como dizer que Eric não esteja fazendo por merecer.
Este currículo recente é sem dúvidas a melhor maneira de dar a volta por cima e se valorizar novamente no mercado após sua passagem opaca pelo mundial entre 2012 e 2014.
Terminando a adolescência, o brasileiro acabou – como se diz por aí – colocando a carroça à frente dos bois em sua carreira. Com 15 anos, o piloto assinou um contrato para se juntar à equipe JiR na Moto2 em 2012. No entanto, só após seu aniversário de 16, em junho, ele pôde competir (exigência do regulamento).
Mesmo se preparando como pôde (Eric perdeu as primeiras cinco provas), sua atuação não esteve no nível desejado. Companheiro de Johann Zarco, o piloto andava longe do francês – que na época também estreava na categoria intermediária. Granado chegou a inclusive perder uma prova, em Misano, por problemas físicos decorrentes do grande salto que deu das motos dois tempos de 125cc que andava em 2011 na Espanha para as quatro tempos de 600cc que passou a andar no mundial.
Não bastasse a falta de adaptação, Granado literalmente competia em uma cova de leões. Naquele grid da Moto2, tínhamos pilotos como Marc Márquez, Pol Espargaró, Andrea Iannone e Scott Redding. De fato, mesmo justificando que seu peso e sua altura não eram competitivos para a Moto3, pular a primeira etapa do mundial custou bem caro.
E conta chegou nos dois anos seguintes, quando Eric tentou andar na Moto3. Companheiro de Jonas Folger na Aspar, o piloto não acompanhava o alemão, que já fazia seu quinto ano na categoria menor. Eric pontuou apenas uma vez na temporada (9º na Itália) e em 2014 andou na terceira moto do Team Calvo, que sagrou Maverick Viñales campeão em 2013. Em outro ano complicado, Eric pontuou apenas uma vez (14º na Alemanha) e terminou sua temporada mais cedo devido a uma contusão sofrida em um acidente na Austrália, antepenúltima prova.
Agora, retornando ao mundial após queimar a primeira tentativa, Eric prova seu talento, seu mérito e sua força de vontade. Depois de chegar tão verde e pagar o preço em anos tão difíceis, certamente o paulista de 21 anos entrará em 2018 mais forte e muito mais apto a fazer jus a seu excelente currículo (que inclui cinco títulos na Espanha) em seus primeiros anos na Europa.
Desafios do pacote de 2018
Após a luta bem-sucedida para retornar ao mundial, Eric terá outro desafio: desenvolver o novo chassi da MV Agusta na reestruturada Forward Racing.
A equipe suíça correu sério risco de acabar em 2015, após a prisão do dono, Giovanni Cuzari, acusado de lavagem de dinheiro e corrupção. A Forward perdeu o patrocinador principal e foi obrigada terminar suas operações na MotoGP no final do ano. No fim, apesar dos poucos recursos, o time foi salvo pela VR46 Riders Academy, que usou a escuderia para alinhar em 2016 Lorenzo Baldassarri e Luca Marini.
E a Forward surpreendeu: Baldassarri conquistou um segundo lugar em Mugello e uma vitória em Misano, derrotando Álex Rins em grande duelo. E a bem da verdade é que a escuderia tem um bom histórico dadas as suas limitações. Seu primeiro ano no mundial foi na MotoGP em 2009. Com o nome de Hayate, o time foi o responsável por concluir o contrato da Kawasaki com a Dorna. A montadora saiu oficialmente da MotoGP ao fim de 2008 pela falta de resultados e a crise mundial.
A escuderia surpreendeu. Mesmo com apenas uma moto e sem desenvolvimento da fábrica na Ninja ZX-RR durante o ano, Marco Melandri fez o que a Kawasaki não conseguiu como time oficial em 2008: um pódio.
Subindo novamente à MotoGP em 2012 após dois anos atuando só na Moto2, a Forward foi de longe o time CRT/Open que mais mostrou performance frente às equipes que usavam protótipos. Aleix Espargaró conquistou pole position e pódio em 2014, finalizando o ano em sétimo no mundial.
Ou seja, a Forward não é uma estrutura ruim apesar do problema ocorrido em 2015 – que parece já ter sido superado com as temporadas razoáveis de Baldassarri e Marini em 2016 e 2017.
No entanto, a incógnita é o chassi. A MV Agusta seguirá o caminho que a KTM trilhou neste ano, e usará a Forward para entrar na Moto2 como fabricante de chassis em 2018. E cabe um adendo: mesmo implementando um conceito novo nas motos 600cc, com seu chassi tubular de alumínio, a KTM já tinha experiência com protótipos por atuar na Moto3 desde 2012. Neste ano a montadora austríaca ainda não venceu, mas já foi várias vezes ao pódio com Miguel Oliveira.
Apesar de sua atuação no Mundial de Superbike e suas boas campanhas na Supersport (com motos de 600cc) nos últimos anos, a MV Agusta é uma fábrica pequena. Pouco se pode ter certeza sobre a performance em 2018, e ainda mais porque Eric terá como parceiro de desenvolvimento o italiano Stefano Manzi, que ainda não mostrou muito no mundial apesar de ser piloto da VR46 Riders Academy.
No caso da KTM, por exemplo, Oliveira tinha mais experiência e mais resultados ao assumir a liderança no desenvolvimento do chassi ao lado do atual campeão da Moto3, Brad Binder.
Ou seja, está aí um ponto que pode dar dores de cabeça a Eric e a seu time a curto/médio prazo. Entender um chassi novo em um campeonato quase monomarca pode não ser tão fácil.
Granado já é um vencedor
Posto tudo isso, resta desejar a Eric boa sorte. O Brasil, um país que a cada dia mais aumenta sua cultura de motociclismo, anda carente de um piloto brilhando no mundial. Granado provou nos últimos anos que tem a perseverança e o talento necessários para prosperar no lugar certo.
Esperemos que este lugar seja a Forward. Mas, se não for, Eric pode se orgulhar do que já conseguiu. Reparou sua imagem e ganhou uma nova chance na Moto2 por méritos seus – o que não é nada fácil aos 21 anos. Já é um vencedor.
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