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20 anos: Quando Barros colocou o Brasil no topo da MotoGP

Alexandre Barros fala com exclusividade do início da temporada de 1996, quando liderou Mundial de Motovelocidade pela única vez

Alex Barros
NSR500 de Alex Barros em 1996
Barros e pilotos
Barros e pilotos
Alex Barros
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Alex Barros
Alex Barros
Alex Barros
Pódio: vencedor Alex Barros com Valentino Rossi e Max Biaggi
Vencedor Alex Barros celebra com o dono de sua equipe Sito Pons
Vencedor Alex Barros celebra com o dono de sua equipe Sito Pons
Alex Barros
Vencedor Alex Barros celebra
Alex Barros
Alex Barros
Pódio: vencedor Alex Barros com Valentino Rossi e Max Biaggi
Pódio: vencedor Alex Barros com Valentino Rossi
Alex Barros

Um marco no motociclismo brasileiro completa 20 anos nesta quinta-feira, 7 de abril. Nesta data foi realizado o GP da Indonésia de 1996, prova ganha pelo australiano Michael Doohan. Porém, o grande destaque daquele dia terminou a corrida no segundo lugar com uma moto pintada nas cores de seu país.

Alexandre Barros já havia se tornado o primeiro brasileiro a ganhar uma prova das 500cc (atualmente MotoGP) no ano de 1993, em Jarama, pela equipe de fábrica da Suzuki. Três anos depois, após ter se desligado da montadora japonesa, ele buscava se reerguer no Mundial. O ano de 1995 havia sido difícil. Alex teve de bancar a equipe Kanemoto Honda com patrocínios pessoais para competir.

Em 1996, Barros continuou de Honda satélite, desta vez na equipe Pileri (atual Aprilia Gresini). Aos 25 anos e mostrando claros sinais de amadurecimento, ele conseguiu ótimos resultados logo de início. “Foi um ano bom, meu melhor até ali. Foi um ano que comecei a conquistar bons resultados, fui constante”, disse ao Motorsport.com.

O ano

A abertura do campeonato foi na Malásia. Três anos antes de o circuito de Sepang ser inaugurado, a prova era disputada em Shah Alam – também próxima à capital Kuala Lumpur. A pole position foi do surpreendente estreante Tadayuki Okada (Repsol Honda) com a então nova moto bicilíndrica da Honda - mais barata, mais leve e menos potente que as tradicionais quatro cilindros.

Saindo em sexto, Barros se beneficiou da queda de Alex Crivillé (Repsol Honda) antes da prova ser paralisada pela chuva (na época não havia troca de motos durante a corrida). A chuva durou pouco, e na relargada a pista estava seca. Okada, que havia se salvado de um tombo na primeira parte da prova, caiu. A disputa da corrida ficava entre Luca Cadalora (Kanemoto Honda), Michael Doohan (Repsol Honda) e Alexandre.

Foi quando um problema de pneus fez Doohan começar a ficar mais lento. Cadalora e Barros tiraram proveito do infortúnio do então bicampeão, fechando a prova nos dois primeiros lugares. Carlos Checa (Pons Honda) foi o terceiro, fechando o pódio apenas com motos satélites.

Uma semana depois, o Mundial desembarcou em Sentul para o primeiro GP da Indonésia. Mais uma vez saindo de sexto, Alexandre não teve concorrentes para ser o maior desafiante à vitória de Michael Doohan. Durante boa parte da corrida o brasileiro pressionou o australiano, que no final teve mais velocidade para vencer. No fim, Barros usou a experiência para ficar com o segundo lugar sem cometer erros. Apesar de não ter vencido o dia foi de comemoração: foi a primeira vez que Alex conquistou dois pódios seguidos e, mais importante, a liderança do campeonato.

Líder do Mundial

Em 67 anos de campeonato mundial, este foi o único momento em que o Brasil esteve na ponta de uma das categorias. Barros somou 40 pontos com os dois segundos lugares, enquanto que Doohan e Cadalora vinham atrás com 36 e 35 pontos, respectivamente.

Mesmo se orgulhando do feito, Alexandre afirma com humildade que as memórias já foram afetadas pelo tempo. “Não lembro muito, não”, riu. “Cheguei em segundo na Malásia, mas não lembro de detalhes. Teria que ver a corrida de novo. Já aconteceu tanta coisa na minha vida nesses 20 anos que eu sinceramente não me recordo.”

“Indonésia eu lembro um pouco mais. Lembro que estava disputando com o Michael Doohan no final. Mas não consegui ganhar, ele ficou em primeiro e eu em segundo.”

Mas da repercussão Barros recorda bem. Dependente de patrocínios nacionais, ele foi tratado com grande carinho em sua volta após a rodada dupla na Ásia. “Fiquei muito feliz. Lembro que cheguei no Brasil e comemoramos bastante. Tive uma boa recepção no aeroporto. Foi a primeira vez que eu consegui liderar um campeonato mundial. Foi uma sensação excelente. Mas, infelizmente, durou pouco.”

Durou mesmo. Duas semanas. No GP do Japão, em Suzuka, Barros chegou a liderar a corrida no início. Mas graças ao equipamento satélite da Honda, foi perdendo performance durante a prova na intensa batalha pela liderança que teve como vencedor o piloto da casa Norick Abe. Quando ocupava a sexta posição, Barros acabou sofrendo um acidente na curva 1.

“Tínhamos um problema de acerto. Temos que lembrar que era uma moto privada e não é nada fácil correr contra motos oficiais”, disse Barros sobre a queda de desempenho que apresentava na metade final de algumas corridas nos anos 90.

“Pode ver hoje em dia mesmo, é muito difícil ver motos privadas andando junto das oficiais. É uma situação difícil, você está sempre um passo atrás em termos de material das motos. As motos oficiais sempre têm algo a mais.”

“Hoje isso é na eletrônica. Nas 500cc, o nosso déficit era mais na parte de potência. A suspensão era igual. Bem de vez em quando vinha algo diferente ‘de chão’, que fazia diferença. Mas o meu apoio foi o mesmo do início até o fim do ano. Éramos motos satélites, eu, Luca Cadalora, Carlos Checa e etc.”

Depois do início meteórico, Barros conseguiu apenas mais um pódio, em Assen - pista onde venceria a segunda corrida de sua carreira, em 2000. Mas a constância, ponto falho do jovem piloto até ali em sua carreira, se provou importantíssima para que Alexandre finalizasse 1996 em quarto no campeonato, apenas atrás do campeão Doohan, do vice Crivillé e Cadalora. “Foi um bom ano, sim”, comentou o piloto que só abandonou uma das 15 corridas. “Foi a primeira vez que terminei em quarto lugar, e foi o meu melhor resultado na época.”

Os apoiadores

Para chegar até esta conquista, Barros ressalta a importância de seus patrocínios – todos do Brasil. “A Honda Brasil fez tudo comigo entre 1995 e 1998”, disse.  “Aí as coisas começaram a melhorar. Apesar que em 1997 corremos de moto bicilíndrica. Demos um passo para trás, mas em 1998 recuperamos a moto de quatro cilindros – ano que chegamos de novo em quarto.”

“A cidade do Rio de Janeiro também era um dos patrocinadores, mas a Honda Brasil era o maior. Por isso nós corríamos com as cores do Brasil na moto naquela época.”

Apesar de ter surpreendido, Alex afirma que o objetivo, mesmo de moto satélite, era terminar no topo. “Trabalhamos para andar na frente. Obviamente você sempre tem o sonho de ganhar, de liderar e disputar o título. Infelizmente não conseguimos.”

Pode até ser que a história não tenha terminado em título, mas certamente é uma das grandes páginas do motociclismo do Brasil - país que até hoje fala injustamente mais de futebol do que de qualquer outro esporte. Porém, há exatas duas décadas, teve suas duas semanas de país das duas rodas pelas mãos de Alexandre Barros.

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