VP da NASCAR revela importância do Brasil fora da América do Norte e comenta possibilidade de ter corrida da Cup em Interlagos

Em entrevista exclusiva, Chad Seigler, vice presidente Internacional da categoria, também avaliou primeiro ano de relacionamento mais estreito com País e temporada de estreia da NASCAR Brasil

Thiago Marques, Chad Seigler e Carlos Col

Neste final de semana, a NASCAR Brasil Sprint Race realizou sua etapa final de 2023 em Interlagos, mas não foram 'só' os campeões que deram show no Autódromo José Carlos Pace: o principal palco do automobilismo no País também contou com a presença ilustre de Chad Seigler.

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Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com, o VP Internacional da NASCAR americana respondeu detalhadamente sobre a possibilidade de a principal competição da marca nos Estados Unidos, a Cup Series, vir ao Brasil nos próximos anos, além de ter falado mais sobre os planos de aumentar o intercâmbio entre pilotos brasileiros e da América do Norte. Neste sentido, aliás, Seigler também destacou a importância do 'mercado canarinho' para a organização sediada em Charlotte. Confira:

Em termos gerais, como a NASCAR avalia esse primeiro ano no Brasil?

Nossas expectativas foram muito além do que esperávamos, os nossos resultados foram muito além de quaisquer que fossem as expectativas. Se você olhar para o número de fãs que compareceram neste local histórico, você olha para o tipo de corrida que vimos... Além disso, tivemos um piloto fazendo a seletiva da NASCAR, em Charlotte, então, desse ponto de vista, 100% superou as expectativas para mim e para todos na NASCAR. Acho que o importante para nós é que estamos de olho no Brasil porque precisamos desse tipo de mercado. Este não é um acordo de um ano para nós, já que nos sentamos e conversamos regularmente com Carlos (Col) e Thiago (Marques), e a discussão é sempre sobre onde estará a NASCAR daqui a cinco anos. Então, embora este ano tenha superado as expectativas, brinco nas reuniões que temos que falar sobre 2024.

A NASCAR desconhecia seu próprio poder fora dos Estados Unidos?

É outra grande discussão quando você pensa em como chegamos aonde estamos hoje. Começamos a dialogar com Col e Thiago há cinco anos e eles nos falavam, ‘o Brasil está pronto para a NASCAR, o Brasil está pronto para a NASCAR’. Eu diria que acho que o momento e a razão de termos tido sucesso este ano é que provavelmente não estávamos prontos há cinco anos. E nós estamos agora.

Se você voltar há cinco, seis anos, o Departamento Internacional da NASCAR consistia em uma pessoa que realmente desempenhava essa função além de seu trabalho diário. Há cinco, seis anos, a empresa começou a dobrar os esforços internacionais, tivemos um crescimento tremendo nos Estados Unidos, mas apenas alguns fãs adicionais. Então, onde está a próxima base de fãs, e foi aí que esse time foi formado. Então, se você olhar hoje, o departamento deixou de ser aquela pessoa que se concentra meio período no crescimento internacional, para ter uma equipe de oito a 12 pessoas que todos os dias acordam e só está focada em crescer internacionalmente. Então acho que, definitivamente, há uma iniciativa dentro da empresa. É uma das duas ou três principais iniciativas em que olhamos para o crescimento do esporte, mas acho que estamos mais estruturados internamente para apoiar esse crescimento.

Na Europa, onde você tem muita história com corridas de monopostos, de turismo, uma das coisas que vimos é que há uma paixão pelas corridas no ‘estilo NASCAR’. E isso abriu a porta para realmente começarmos a explorar fora da América do Norte. Você dá um passo adiante e olha para o Brasil e a história do automobilismo neste país.

Apenas para compararmos: aparentemente, a NASCAR no Brasil já paga muitos dividendos, mas em comparação ao Canadá, México ou mesmo a Europa, como você colocaria o Brasil como mercado fora dos Estados Unidos?

É injusto colocar um ranking, porque acho que você olha para cada mercado de forma diferente. Você olha para o Canadá e esse é um mercado muito desenvolvido. Somos donos dessa categoria há mais de 15 anos. E há uma sinergia natural que acontece porque entre Canadá e Estados Unidos há uma fronteira natural. Você olha para a Europa e tem havido um grande processo de educação no estilo de corridas da NASCAR. Você olha para o México, é uma categoria com a qual estamos envolvidos há mais de 15 anos. Eu diria que o México está muito avançado no desenvolvimento de pilotos. Temos a sorte de ter um piloto na Cup Series, o Daniel Suarez. O que me chama a atenção quando olho para o Brasil é que o talento do grupo de pilotos é muito avançado em comparação a outros mercados que iríamos.

Vimos dividendos sendo recompensados no sentido de que, com a nossa Cup Series, que sempre tivemos, o Brasil sempre foi um dos nossos melhores mercados televisivos, é o número 1 fora do Canadá, Estados Unidos e México, e sempre foi um mercado forte. Portanto, fora da América do Norte, o Brasil sempre foi um mercado televisivo forte para nós. Acho que muito disso remonta à paixão pelo automobilismo. Portanto, há um conhecimento das corridas no estilo NASCAR. E o Brasil, atualmente, é o único lugar onde não ocorre nenhuma corrida em oval. Então, essa é uma área de foco para nós, para Carlos e Thiago agora.

E sobre os pilotos brasileiros?

Neste ano, na época da Daytona 500, trouxemos um grupo de pilotos para Daytona. Achei que era um ótimo ponto de entrada e você tinha dois objetivos: em primeiro lugar, deixá-los experimentar o que é a Daytona 500 e o que é a NASCAR. Porque queremos que seja uma aspiração, exatamente como é para nós e queremos que o campeão da NASCAR Brasil seja conhecido e amado no Brasil, mas aí ele decide como objetivo em vez de ir para Mônaco, ir para Daytona. Queremos que eles vejam que isso é uma aspiração, que é atingível.

Em segundo lugar, foram cinco ou seis pilotos que tiveram a chance de estar em um carro oval. E eu vou te dizer, a equipe com a qual trabalhamos nos disse à queima-roupa: ’esses caras nunca andaram em um carro no oval e eles entenderam’, quero dizer, o chefe de equipe até nos disseram, há três ou quatro deles que eu pegaria agora. Acho que isso é um sinal para nós de que funciona.

Temos também duas outras plataformas que estamos utilizando. Uma é o que chamamos de programa de diversidade de pilotos. É um programa projetado para fornecer acesso aos pilotos, chefes de equipe e mecânicos que desejam desenvolver sua carreira na NASCAR, então essa é uma oportunidade. Tivemos um piloto este ano e tradicionalmente cerca de 25 foram selecionados para uma espécie de processo de avaliação final. E depois 10 a 12 quando há uma semana de imersão. Eles aprendem treinamento de mídia, como se envolver com parceiros, aprendem o esporte e depois ficam dois ou três dias ao volante para aprender as corridas da NASCAR. O outro elemento que estamos olhando agressivamente agora é um programa tradicional de troca de pilotos. Tivemos muito interesse, vimos muito interesse de equipes nos Estados Unidos que manifestaram interesse porque entendem qual é o potencial de pilotos aqui. Sim, então isso é outra coisa que estamos tentando analisar: o ano de 2024 é o ponto de conexão que podemos fazer com que nossas equipes tentem ter um pouco mais de troca.

Falando sobre essa troca, a última experiência da Cup Series fora da América do Norte foi no Japão. Podemos esperar uma corrida, mesmo sem valer pontos, em Interlagos nos próximos anos?

Se você olhar o que fizemos na Cup Series, a última vez que a categoria saiu foi no final dos anos 1990, no Japão. A Xfinity Series já foi para o México e a Truck, no Canadá. Portanto, estamos confortáveis em deixar os Estados Unidos. É uma opinião honesta, e temos falado muito sobre isso. Não se trata se vamos deixar os Estados Unidos e sim é uma questão de quando. O calendário da temporada 2024 obviamente já está fechado e começamos a trabalhar no de 2025.

Mas vou te dizer que há vários mercados que estamos respondendo perguntas, incluindo de interesse nosso, para onde queremos ir, há uma razão pela qual estamos aqui agora competindo com o nome NASCAR. Isso porque identificamos esse mercado como um mercado que nos intriga muito. Não é um tema aleatório. Então você olha a infraestrutura, você olha o apoio da torcida, você olha o suporte da mídia que a gente já tem. Então, novamente, nada para falar especificamente sobre datas. Estamos focados em levar a NASCAR para países fora dos EUA? A resposta é definitivamente sim. Estamos focados em levar a NASCAR para fora da América do Norte? Este é um segundo sim. E este é um mercado que nos intriga? Esse é o terceiro sim.

Os fãs americanos estariam abertos a receber quatro, cinco pilotos de fora dos Estados Unidos na Cup Series?

Tenho 100% de confiança que sim. Em primeiro lugar, os Estados Unidos são como o caldeirão do mundo. Portanto, há fãs e cidadãos de todo o mundo vivendo lá e os Estados Unidos têm um mercado esportivo forte. Então, ter aquele piloto que está sob a bandeira brasileira vai deixar a população brasileira muito animada. Também vai fazer com que o os brasileiros que estão nos Estados Unidos muito animados, mas o mais importante, nossa base de fãs amam a história de um vencedor. Eles amam a história de alguém que veio contra todas as probabilidades.

E já vimos isso acontecer no passado. Por exemplo, se você voltar há 15 anos, em uma Daytona 500 e olhar para o grid de largada, a maioria dos pilotos eram da parte sudeste dos Estados Unidos, provavelmente seis a sete deles sendo da Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia. E então houve essa transição que aconteceu ao longo do tempo. Há alguns anos, se você olhasse o grid de largada da Daytona 500, creio que a Califórnia tinha mais pilotos. Você olha agora e pode haver um piloto do estado da Carolina do Norte, então houve esse tipo de explosão. Agora, para mim, eu ficaria feliz se olhamos para o grid de largada da Daytona 500 e termos um piloto brasileiro, do México, da Europa, do Canadá e de qualquer outro lugar.

Sobre o carro. É verdade que os carros da NASCAR Europa, Canadá, México e Brasil, em cinco, seis anos, serão iguais?

A resposta é ‘esperançosamente sim’. Mas você tem que entender e respeitar cada mercado. Estamos muito confiantes em apresentar corridas no estilo NASCAR. Também entendemos que é assim que os fãs têm paixão e cada mercado é um pouco diferente. Dito isso, uma coisa em que estamos realmente focados agora é o que queremos tentar chegar: se você olhar para o Brasil, Canadá, México e Europa, são quatro plataformas diferentes, chassis diferentes. São quatro pacotes de motores diferentes. Então, eu não digo necessariamente que teremos um formato unificado, mas quanto mais perto pudermos chegar, acho que isso nos permitirá expandir mais rápido no sentido de que você pode começar a fazer programas de troca de pilotos em que um brasileiro pode correr na Europa e não sentir tanta diferença do carro. Portanto, não é algo que será resolvido amanhã. Mas, novamente, como mencionei no início, não estamos pensando em um ano, estamos pensando em cinco anos, estamos pensando em 10 anos.

Vocês pensarão em uma transmissão internacional da NASCAR Brasil, em inglês?

Ótima pergunta. O que estamos fazendo no Brasil, é transmitido no Brasil. Uma das coisas sobre as quais conversamos, acho que o primeiro passo é como você começa a entregar algum conteúdo para os Estados Unidos, muito disso, fazemos mídias sociais, e obviamente tem alguma tradução lá. Isso permite que a cultura dos EUA talvez a siga, então é algo que estamos observando. Dito isso, uma coisa que sempre digo a todos os pilotos, quando você está sendo entrevistado para a Daytona 500, meu único pedido é que você fale português. Porque queremos que os pilotos sejam quem eles são.

Os bastidores da entrevista exclusiva com Toto Wolff

 

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Erick Gabriel
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NASCAR Brasil
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