Análise

ANÁLISE: Como as equipes da F1 se preparam para operar sob o teto orçamentário

O desafio não é apenas para 2021, já que haverá uma redução gradual do teto em 2022 e 2023

Cars in the pit lane

Não é segredo que as equipes da Fórmula 1 sempre trabalharam com tudo durante o inverno europeu em preparação para a nova temporada, montando os carros e ajustando tudo para cumprir as mudanças no regulamento técnico.

A temporada de 2020 terminou muito tarde, com o GP de Abu Dhabi apenas em 13 de dezembro. Em adição a isso, todas as equipes estão tendo que trabalhar nas fábricas em meio a restrições por conta da Covid-19.

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Há uma mudança significativa em relação aos cronogramas usuais de pesquisa, desenvolvimento e produção, por conta do congelamento do regulamento técnico, significando na manutenção de boa parte dos carros de 2020 para este ano.

Por outro lado, a área de pesquisa e desenvolvimento para o novo carro de 2022 já está se intensificando, com as equipes se precavendo para a maior mudança de regulamento que a F1 passou nos últimos anos.

Para completar esse panorama, ainda há o impacto inicial do novo teto orçamentário, peça-chave do novo regulamento financeiro da FIA, que entra em vigor neste ano.

As três maiores equipes do grid, Mercedes, Red Bull e Ferrari, são, obviamente, as mais impactadas pelo limite de gastos em $145 milhões (R$780 milhões na cotação atual). Elas precisaram fazer os maiores ajustes, como a alocação de pessoal para projetos não ligados à F1, para retirar seus salários da equação e evitar demissões.

Porém, elas não estão sozinhas. Com a redução gradual para $140 milhões em 2022 (R$755 milhões) e $135 milhões em 2023 (R$730 milhões), McLaren, Alpine e Aston Martin, que mira uma expansão após sua entrada na F1, também começam a operar perto do limite, tendo que reagir.

A palavra da vez é eficiência em todas as áreas, fazendo o melhor uso possível dos recursos, algo que não era problema anteriormente, já que não haviam restrições.

"É um paradigma competitivo. Saímos de quem gasta mais para quem gasta melhor", disse o agora ex-chefe da Renault, Cyril Abiteboul, ainda no ano passado, antes da montadora oficializar sua saída.

"É um novo jeito de pensar, de fazer as coisas. O planejamento será recompensado. O gerenciamento será recompensado, com talentos, boa execução, em vez de apenas reconhecer quem gasta mais no esporte".

O diretor técnico da Mercedes, James Allison, admitiu na semana passada que, dos muitos desafios que a equipe enfrenta em 2021, o mais significativo é ajustar os gastos aos níveis mais baixos.

"É o maior deles até aqui, tentar entender e assimilar o novo regulamento financeiro, o dito teto orçamentário, tentando garantir uma adaptação de nossa organização, podendo operar dentro dos rígidos limites do orçamento".

"E estamos trabalhando nisso desde o ano passado, intensificando agora nas férias, para garantir que, primeiramente, vamos entender o que esse regulamento está determinando".

"Segundo, tentamos encontrar todas as oportunidades presentes dentro desse regulamento, porque todo regulamento cria oportunidades a partir do momento que você entende o que está escrito. Aí adaptamos nossas operações e a companhia, para tirarmos o máximo disso, ficando prontos para essa nova era da F1, que inclui o teto".

"Esse grande trabalho tem nos mantido atentos há muito tempo".

Para todas as equipes, esse momento representa um processo de aprendizado, que deve seguir em frente enquanto elas refinam o uso do orçamento nos próximos anos.

"É uma jornada de três anos, com a redução gradual do teto", disse o CEO da McLaren Racing, Zak Brown, em dezembro.

"Já estamos prontos para 2021, e temos planos para 2022 e 2023. Temos que ter esses planos delimitados, mas não precisamos operar já no limite. Queremos primeiro deixar espaço para entender qual será o modo mais eficiente de operar com um orçamento reduzido, buscando maximizar a performance".

"Então estamos prontos para 2021, com planos para 2022 e 2023, mas temos algumas opções na mesa. Porque podemos aprender em 2021 que o melhor caminho para maximizar a performance dentro do teto seja outro".

Zak Brown, CEO, McLaren Racing

Zak Brown, CEO, McLaren Racing

Photo by: Steven Tee / Motorsport Images

De todas as equipes, a McLaren enfrenta o maior desafio neste ano, já que optou por manter a troca da fornecedora de motores da Renault para a Mercedes. Isso gerou mudanças fundamentais em seu carro, enquanto as rivais estão usando suas fichas de desenvolvimento para mexer em áreas específicas do modelo. Por isso, a McLaren precisou racionalizar direito seus gastos.

"Há alguns elementos significativos que são mantidos no momento que entramos no teto orçamentário", disse Piers Thynne, diretor de produção da McLaren. "A FIA criou uma lista de componentes que podem ser mantidos gradualmente [TCO] que estão fora do teto deste ano".

"Essas são peças que podem ser usadas em 2021 caso tenham sido usadas no carro do ano passado. Levamos essa TCO ao máximo, carregando tudo que era permitido, como caixas de câmbio e alguns componentes de suspensão, sem ter que usar uma parte do orçamento de 2021 em design e produção dessas peças".

Thynne disse que o teto é apenas mais um desafio que cada equipe terá que lidar.

"A F1 sempre foi sobre trabalhar com amarras, sejam técnicas, de tempo, ou agora de gastos. Tendo dito isso, a natureza desse novo gargalo financeiro é diferente do que vivenciamos anteriormente. Isso forçará uma mudança na abordagem, porque há uma relação direta entre dinheiro e performance".

"Sim, você precisa seguir o teto orçamentário, mas precisa executar tudo sem perder performance. Não é apenas fazer um carro mais barato. Se fizer, ele será mais lento. É preciso olhar esse programa de modo holístico, buscando eficiência entre as áreas, mas sem comprometer a performance do carro".

"Não acho que vamos ver bem quais equipes souberam lidar com essa abordagem antes do próximo ano, porque o TCO mexeu no panorama para 2021. O teste real vem com a produção do carro de 2022".

A equipe na posição mais intrigante dentro do teto orçamentário é, sem dúvidas, a Aston Martin. Em suas denominações anteriores, a equipe de Silverstone sempre foi elogiada por sua eficiência em meio a restrições de verbas.

Mas sob a direção de Lawrence Stroll e a chegada da montadora britânica, a equipe quer crescer e passar a disputar pela ponta. Com isso, a Aston ganhará uma nova fábrica, que ficará pronta em agosto de 2022. O processo de expansão teve que levar em conta a redução gradual do orçamento para 2022 e 2023.

Lawrence Stroll, Owner, Racing Point, speaks to the media

Lawrence Stroll, Owner, Racing Point, speaks to the media

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

Ao mesmo tempo, a equipe precisa ser cuidados para não sacrificar a habilidade que criou ao longo dos anos, afinal, o maior nem sempre é melhor. É uma equação difícil de gerenciar.

O diretor técnico da Aston Martin, Andy Green, defende que as principais equipes perderam a vantagem que aparentavam ter, já que, anteriormente, elas simplesmente jogavam dinheiro e pessoas para resolver qualquer problema.

"Agora, vejo essas equipes como dinossauros. Você precisa ser pequeno e eficiente", disse Green em 2020.

"E essa é a nossa força. Acho que, olhando para o regulamento financeiro, isso nos ajudará a competir com aquelas equipes grandes, porque elas não podem mais serem grandes".

"Elas vão ter que reduzir, se aproximar do nosso nível. E estamos fazendo isso há anos Trabalhamos nesses limites há muito tempo. E acredito que nosso trabalho tem sido razoável. Mas isso não significa que estamos fazendo o nosso melhor, ou que não podemos melhorar. Claro que podemos".

"E eu acho que colocamos em vigor sistemas e grupos que sabem como trabalhar em um ambiente de restrição de gastos. Isso irá nos ajudar".

O número de funcionários aumentou desde a chegada de Stroll, mas Green insiste que a equipe não seguirá expandindo simplesmente porque a nova fábrica será maior.

"Não vamos colocar 900 pessoas ali. É uma estratégia diferente. A fábrica vai lidar com o lado de manufatura, que sempre fugiu ao nosso controle. Como somos uma equipe pequena, tínhamos que terceirizar boa parte de nossa produção".

"E, ao começar a produzir em casa, podemos reduzir o tempo. Esse é o principal papel da nova fábrica. Não é aumentar o número de funcionários, e assim melhorar ainda mais nossa eficiência".

"Acho que, com uma folha limpa a nossa frente, e sabendo quais são as novas regras e a nossa operação, estamos em uma posição ideal para montarmos uma fábrica que se encaixe perfeitamente para nós, pronta para a nova era da F1".

Como Thynne notou, a situação ficará mais clara após 2021, quando começamos a ver quem fez o melhor trabalho ao longo da temporada atual junto com o desenvolvimento do carro de 2022. Será fascinante ver esse desenvolvimento.

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Adam Cooper
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