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MotoGP GP da Alemanha

MotoGP - Do boicote na França ao fiasco na Alemanha: Honda fica sem pontuar pela primeira vez em 40 anos

Quarenta anos, 633 provas ou 14.637 dias corridos separam as duas últimas corridas da Honda sem pontuar, mas por motivos bem distintos

Franco Uncini, Graeme Crosby, Eddie Lawson, Freddie Spencer

O fiasco monumental produzido pela Honda no GP da Alemanha de MotoGP no último domingo (19) é algo praticamente sem precedentes desde sua chegada ao Mundial de Motovelocidade. A última vez em que a montadora japonesa não pontuou em uma prova da categoria rainha havia sido há mais de 40 anos, em 09 de maio de 1982, devido a um boicote envolvendo outras marcas.

Na prova do Sachsenring, enquanto Pol Espargaró, Takaaki Nakagami e Álex Márquez não terminaram a corrida, Stefan Bradl, que ocupa a vaga deixada por Marc Márquez, foi o 16º, primeiro fora da zona de pontos e o último entre os que cruzaram a linha de chegada.

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Isso vem para escancarar o tamanho da crise vivida pela montadora japonesa. Desde o início dos problemas de Marc Márquez, em 2020, a Honda decaiu consideravelmente, ocupando o último lugar do Mundial de Construtores deste ano.

O momento vivido pela Honda em 2022 contrasta muito com a última vez em que a montadora terminou um final de semana do Mundial sem pontuar, dois episódios separados por 40 anos, um mês e 10 dias, 633 provas ou 14.637 dias corridos.

Em 1982, o Mundial visitava o circuito de Nogaro, no sudoeste da França. Um ano antes, os pilotos haviam se queixado à Federação Internacional de Motociclismo (FIM) e ao Motor Clube Paul Armagnac, organizador do evento, sobre os problemas do traçado, tanto em segurança quanto em condições de asfalto, além da falta de espaço para instalação do paddock e motorhomes usados pelos envolvidos com o esporte.

O protesto ganhou peso com a adesão da categoria-rainha, as 500cc, representadas por Franco Uncini, da Suzuki, que terminou com o título daquele ano. O italiano era membro da Comissão de Segurança da MotoGP e rapidamente recebeu a adesão de outros nomes, como o lendário Ángel Nieto, que corrida nas 125cc. Nieto ficou indignado por ter que estacionar sua van fora do circuito, sem ter acesso a água e banheiros.

Os pilotos fizeram um protesto formal por escrito à organização, afirmando que as reinvindicações feitas no ano anterior não haviam sido cumpridas. O documento ressaltava ainda as péssimas condições do asfalto, causando acidentes fortes de Randy Mamola e Kenny Roberts em um teste realizado no local dias antes.

Na sexta-feira, 07 de maio de 1982, antes do início das atividades de pista, os pilotos apresentaram à FIM e ao Motor Clube o documento com as reclamações, recolheram seus equipamentos e sumiram do circuito, iniciando um sonoro boicote, sem dar à organização chance alguma de réplica.

No total, 27 pilotos apoiaram o movimento, sendo cinco das 125 e cinco das 250cc, três das 350cc e 14 das 500cc, apoiados pelas respectivas construtoras e equipes oficiais: Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki.

Entre os pilotos que deixaram de correr estavam alguns dos principais nomes da época, como Mamola (Suzuki), Loris Reggiani (Suzuki), Kenny Roberts (Yamaha), Barry Sheene (Yamaha), Franco Uncini (Suzuki), assim como os pilotos da Honda: Takazumi Katayama, Marco Lucchinelli e Freddie Spencer (hoje Diretor de Provas da MotoGP). Nas outras classes, podemos citar ainda Nieto e Ricardo Tormo, que hoje dá nome ao Circuito de Valência.

Apesar do duro golpe, o evento foi levado adiante, com as quatro provas sendo realizadas. Michel Frutschi (Sanvenero, 500cc), Jean-François Baldé (Kawasaki, 350cc), Jean-Louis Tournadre (Yamaha, 250cc) e Jean-Claude Selini (MBA, 125cc) foram os vencedores.

A organização do evento fez um protesto formal perante à FIM, exigindo duras sanções desportivas e econômicas aos pilotos e construtoras envolvidas, algo que foi rechaçado pela Federação, que acabou punindo apenas um piloto, mas por proferir insultos públicos contra o Motor Clube: Ángel Nieto.

Apesar do compromisso da organização em remodelar o circuito para 1983, nunca mais voltou a Nogaro, passando a correr em Le Mans no ano seguinte, se revezando ainda entre Paul Ricard e Magny Cours antes de se estabelecer definitivamente em La Sarthe desde 2000.

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