Análise

ANÁLISE: Como corridas impactadas pela pandemia já estão afetando equipes da F1

Qual será o impacto financeiro para as equipes da F1 com um calendário reduzido, ou pior, cancelado pela pandemia?

Robert Kubica, Williams FW42, waits at the back of the grid for the lights to go out at the start

A Fórmula 1 está enfrentando uma situação inédita em sua história, e, nesse momento, é impossível prever como que se dará o ano. Até o momento, nove etapas foram afetadas pela pandemia da Covid-19, e, em teoria, temos um início em potencial no GP da França, em 28 de junho.

Poucos veem essa data como uma opção realista, e parece ser inevitável que mais corridas sejam impactadas e adicionadas na lista das provas adiadas ou canceladas.

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No último comunicado divulgado, o CEO da F1, Chase Carey, havia falado do objetivo de uma temporada com 15 a 18 corridas, mas mesmo seu número menor parece ser otimista. O desafio para as equipes é que, com a redução do calendário, sua renda também diminui, o que explica as discussões em busca de uma redução de gastos.

Com o fechamento das fábricas, nada está sendo produzido, os túneis de vento não estão sendo utilizados, e não há viagens ou transportes para bancar - mas gastos como os salários ainda precisam ser lidados.

É por isso que equipes como McLaren, Racing Point, Williams, Renault e Haas, além da própria F1, anunciaram cortes de salários de pilotos e diretores, além de dispensa de parte dos funcionários.

Em conjunto com a F1 e a FIA, alguns movimentos para reduzir os gastos foram feitos, principalmente o adiamento do novo regulamento para 2022, congelando o atual chassis até o fim da próxima temporada, além do teto orçamentário.

As equipes já concordaram com a redução do teto de 175 milhões de dólares (910 milhões de reais) para 150 milhões (775 milhões de reais), e o debate continua sobre uma redução ainda maior antes da aprovação.

Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1 W10

Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1 W10

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Toda essa atenção aos gastos é necessária. Mas seria suficiente? A grande questão envolve o outro lado da equação, a renda de 2020 - e esse é o grande desconhecido que preocupa as equipes.

A renda delas tem uma relação direta com o número de GPs que são realizados - com a situação fluida da pandemia, ninguém pode prever se teremos a temporada de 15 a 18 corridas que Carey objetiva para 2020, ou a outra ponta: nenhuma.

Todas as equipes operam com duas fontes de renda: patrocínios, que incluem financiamento de donos / investidores como Mercedes, Renault, Red Bull e Lawrence Stroll, e os prêmios em dinheiro da organização da F1.

Ambos chegam às equipes em um momento pré determinado, e assim, as equipes geralmente sabem quando estarão recebendo e a quantia, podendo montar o orçamento em cima disso. Em 2020, tudo virou de cabeça para baixo.

Vamos falar primeiro dos patrocinadores. É improvável que qualquer contrato de patrocínio seja fechado especificamente para 22 corridas, já que o total de provas tem variado ao longo dos anos. Porém, todos os patrocinadores assinaram para uma temporada completa, e montaram seus programas de marketing e de promoção em torno disso.

Vocês podem achar que existe uma brecha para algumas provas perdidas sob circunstâncias especiais. De fato, alguns patrocinadores estarão felizes em pagar o combinado mesmo com uma temporada de 15 provas - mesmo que isso represente apenas 68% da exposição que eles haviam originalmente pago.

Porém, em algum momento, com a redução gradual da temporada, a direção ou os investidores podem começar a questionar sobre obter um valor justo pelo dinheiro.

É preciso considerar também que todas as companhias que estampam suas logos nos carros da F1 estão enfrentando problemas financeiros próprios e também precisam reduzir gastos, então uma relação amistosa com uma equipe só valerá até certo ponto.

"Os negócios deles também foram impactados", afirmou o ex-chefe da Force India, Bob Fernley. "E você não sabe a gravidade. O relacionamento com os patrocinadores é normalmente algo muito próximo, e eles fazem o possível para ajudar a equipe. Mas em algum ponto as decisões comerciais vão começar a pesar. E não é uma instituição de caridade, são negócios".

Se eventualmente tivermos uma temporada com 10 ou 11 corridas, é lógico esperar que alguns patrocinadores vão querer pagar apenas metade do combinado originalmente, se o contrato não prever uma cláusula para as circunstâncias atuais.

Imaginemos também o que pode acontecer se a temporada não acontecer - não é irracional imaginar que alguns patrocinadores vão querer a maior parte do dinheiro de volta, mesmo se alguns benefícios de exposição já tenham sido realizados.

Esse é o dilema que as equipes estão enfrentando. Os patrocinadores não pagam em parcelas, geralmente é feito em pagamento único, então os valores já foram recebidos (e gastos). As equipes poderão ter que reembolsar, mesmo com os pagamentos de fim de temporada sendo cancelados.

Proprietários e acionistas terão uma visão maior da situação e não retirarão seu financiamento programado - mas poderão ter que compensar um déficit, o que será doloroso. Perder a renda de patrocínio pode impactar todas as equipes. Porém, o golpe no fundo de prêmios da F1 não será sentido do mesmo jeito pelo grid, já que as equipes menores perderão ainda mais dinheiro.

O fundo de prêmios da F1 é dividido com base em duas formas - pagamentos variados relacionados à performance financeira das equipes, e as taxas fixas pagas às equipes da frente, um legado das negociações do atual Pacto de Concórdia, ainda feito na era de Bernie Ecclestone.

Na primeira categoria são feitos dois tipos de pagamento: o primeiro, um valor idêntico para as dez equipes, enquanto o segundo é baseado nos resultados do Mundial de Construtores do ano anterior, com a Mercedes recebendo a maior parte, e a Williams, a menor.

As taxas fixas incluem um valor pago à Ferrari, como "a equipe mais antiga", além dos Bônus do Campeonato de Construtores (BCC), pago à Ferrari, Mercedes, Red Bull e McLaren, além de bônus extras pagos à Mercedes, Red Bull e Williams.

As outras cinco equipes - Renault, Racing Point, Alfa Romeo, AlphaTauri e Haas - recebem apenas os pagamentos básicos que variam de acordo com os ganhos da F1.

A F1 não gosta muito de divulgar o sistema de pagamento das equipes. Porém, foi possível ter uma ideia de como funciona após um prospecto divulgado pela Liberty em janeiro de 2017. Ele diz: "As equipes competindo no Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA recebem, em qualquer ano, prêmios no formato de pagamentos que consistem em uma combinação de taxas variáveis e taxas anuais fixadas".

"As taxas variáveis das equipes são determinadas através do cálculo de uma medida de lucro operacional ajustado, que é calculada aplicando vários ajustes ao lucro operacional relatado pelo grupo em um ano".

"A maior parte do fundo é dado às equipes com base em seus resultados no Campeonato Mundial de Construtores, e o saldo pago a equipes que atingiram determinados marcos com base nos princípios e medidas de desempenho da Fórmula 1".

Chase Carey, Chairman, Formula 1 talks to the press

Chase Carey, Chairman, Formula 1 talks to the press

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

As equipes recebem esse dinheiro em pagamentos mensais, começando no final de fevereiro.

O elemento de pagamento variável é baseado na projeção de entrada de dinheiro total da F1 para o ano, que, em circunstâncias normais, é fácil de prever, já que é derivado dos contratos estabelecidos com os organizadores das corridas, transmissoras e patrocinadoras. Ajustes são feitos para aliar com a performance financeira real, para que o valor final seja preciso.

Isso significa que, quando a F1 fez o pagamento de fevereiro às equipes, ela se baseou no desempenho geral projetado para 2020 e, portanto, em um faturamento final próximo aos 2 bilhões de dólares (10,4 bilhões de reais) alcançado em 2019. O GP da China havia acabado de ser adiado, mas havia a perspectiva de remarcar a prova.

Porém, no final de março, já havíamos perdido mais corridas - Austrália, Bahrein, Vietnã, Holanda, Espanha, Mônaco (que não paga taxa) e Azerbaijão. Até o momento, em abril, já perdemos o Canadá.

Considerando que, no momento, a F1 está trabalhando com o projeto de 15 a 18 corridas de Carey, a projeção de renda, em teoria, deve refletir a perda de três a seis taxas de realização de corridas, o que pode representar entre 150 e 200 milhões de dólares (750 milhões a 1,03 bilhão de reais).

Só isso já é um grande impacto e pode se refletir em pagamentos mensais menores às equipes. Porém, 15 a 18 provas é o melhor cenário para a visão de Carey, e existe uma grande chance de que o número final de provas seja menor. E, a cada corrida perdida, uma taxa de realização da prova é perdida.

Além disso, com menos de 15 corridas, as emissoras que transmitem o campeonato serão reembolsadas gradualmente - e, em algum ponto, os próprios patrocinadores da F1 como a Heineken e a DHL também pedirão para pagar menos, pelos mesmos motivos que os patrocinadores das equipes.

Assim, com a perda de provas no total da temporada, a perda da F1 aumenta, e com isso também variam os pagamentos das equipes.

Caso aconteça o pior cenário, sem provas em 2020, com circuitos, emissoras e patrocinadores sendo reembolsados, a renda da F1 será próxima de zero. E assim, em teoria, os pagamentos variáveis das equipes será afetado.

Esses pagamentos são feitos mensalmente desde fevereiro, então em algum momento desse ano, pode-se criar um cenário inédito em que, em teoria, as equipes estarão em débito com a F1, já que eles receberam no início do ano mais do que teriam que receber na atual situação...

Porém, as taxas fixas que são pagas às equipes da frente ainda precisam ser pagas - simplesmente porque elas são fixas, como o prospecto da Liberty sugere: "Pela existência de taxas fixas, a maioria dos elementos do fundo de prêmios são variados e medidos com base na performance financeira da F1 antes de se considerar os pagamentos das equipes".

Sebastian Vettel, Ferrari SF1000

Sebastian Vettel, Ferrari SF1000

Photo by: Steven Tee / Motorsport Images

Em teoria, as principais equipes ainda receberão uma boa parte de suas rendas através das taxas fixas da F1 - um valor significativo no caso da Ferrari - mesmo se nenhuma corrida for realizada. São as outras que terão uma grande perda em sua renda vinda da F1.

No pior cenário, de cancelamento total da temporada, equipes como a Racing Point e a Alfa Romeo poderão, em teoria, estar em uma situação de reembolsar seus patrocinadores e não ganhar nada do fundo da F1 e ter pouca renda para o próximo ano. E, mesmo sem corrida, as contas precisam ser pagas.

Esse cenário ainda está um pouco distante, já que podemos ter cerca de 12 corridas iniciando em setembro, além de Ross Brawn acreditar em uma temporada de 19 corridas após julho. Porém continua sendo uma possibilidade, e é um cenário no qual as equipes precisam se preparar, por isso o foco urgente no corte de gastos.

Foi sugerido que a F1 encontre uma maneira de cuidar de suas equipes, algo que a Dorna está fazendo na MotoGP. Porém, com a queda na renda, a F1 terá problemas em pagar suas próprias contas e as taxas fixas para as equipes, tendo que usar suas reservas financeiras além de empréstimos. Será que a categoria poderá deixar as equipes manterem pagamentos extras no lugar dos de 2021 como forma de manter o fluxo de caixa?

Circulando no fundo de tudo isso está o novo Pacto de Concórdia. Ninguém assinou ainda o novo documento, que servirá para 2021 e além, e grandes decisões ainda precisam ser feitas pelas equipes e montadoras.

Uma divisão mais justa das rendas está no horizonte, mas mesmo se voltarmos com um calendário normal em 2021, não há a garantia de que a F1 conseguirá se recuperar a tempo e voltar a ter uma renda de mais de 2 bilhões de dólares, como teve em 2019, para que as equipes possam voltar a receber normalmente de novo.

Além disso, não há a garantia de que os patrocinadores irão voltar, porque eles terão seus próprios problemas para lidar.

"Temos menos dinheiro entrando esse ano", disse Zak Brown, CEO da McLaren, à Sky essa semana. "Todos estão passando por isso, e todos estão fechados. É um modo de preservação financeira para garantir que possamos sobreviver à falta de renda".

"Isso vai criar muitos danos em várias empresas pelo mundo, e isso não é exclusivo à F1. Acho que todos estamos no mesmo barco, e negócios com boas lideranças e gerenciamento poderão lidar com isso".

"Nosso patrocinadores tem seus desafios nesse momento, então queremos ajudá-los Os governos estão ajudando com pacotes de estímulos, mas, infelizmente, acho que vamos ter várias perdas no mundo dos negócios".

Isso incluirá equipes atuais da F1? Só podemos torcer que todos encontrem um modo de resistir.

A scenic view of personnel and cars on the grid

A scenic view of personnel and cars on the grid

Photo by: Jerry Andre / Motorsport Images

Confira como o coronavírus tem afetado o calendário do esporte a motor pelo mundo

Uma das primeiras aparições do coronavírus no esporte a motor veio com o adiamento da etapa de Sanya, da Fórmula E.
A Fórmula 1 adiou o GP da China pelo mesmo motivo.
Com o crescente aumento de casos do Covid-19, o GP do Bahrein chegou a ser confirmado, mas sem presença de público.
A MotoGP, a maior categoria das duas rodas do mundo, chegou a realizar a primeira etapa no Catar, mas apenas com a Moto2 e Moto3.
Mais tarde, as etapas da Tailândia, Estados Unidos, Argentina, Espanha e França também foram suspensas, com adiamento
No início de abril, a MotoGP confirmou também o adiamento dos GPs da Itália e da Catalunha, dois dos países mais afetados pela pandemia. Neste momento, o GP da Alemanha, em 21 de junho, está marcado para abrir a temporada.
A Fórmula E anunciou a suspensão da temporada por dois meses: os ePrix de Paris e Seul foram adiados.
O GP da Austrália de F1 estava previsto para acontecer, com presença de público e tudo.
Um funcionário da McLaren testou positivo para o Covid-19 e a equipe decidiu não participar do evento.
Lewis Hamilton criticou a decisão da categoria, dizendo que era chocante todos estarem ali para fazer uma corrida em meio à crise do coronavírus.
Após braço de ferro político entre equipes e categoria, a decisão de cancelar o GP da Austrália veio faltando cerca de três horas para a entrada do primeiro carro na pista para o primeiro treino livre.
Pouco tempo depois, os GPs do Bahrein e Vietnã também foram adiados.
Os GPs da Holanda e Espanha também foram postergados.
Uma das jóias da Tríplice Coroa, o GP de Mônaco, foi cancelado. Poucos dias depois, o GP do Azerbaijão também foi adiado
O GP do Canadá também teve seu adiamento confirmado no início de abril. Agora, o GP da França é o primeiro do calendário, e está marcado para 28 de junho
Para atenuar os efeitos de tantas mudanças no calendário, a F1 decidiu antecipar as férias de verão.
Além disso, FIA e F1 concordaram em introduzir o novo pacote de regulamentos que entrariam no próximo ano, a partir de 2022. Mas, segundo Christian Horner, há um movimento para adiar em mais um ano, para 2023, em preparação ao impacto que o Covid-19 terá na economia mundial
Acompanhando a F1, a F2 e F3 também anunciaram suas primeiras provas como adiadas.
Outras categorias e provas nobres do calendário do automobilismo mundial também foram prejudicadas pelo coronavírus.
As 24 Horas de Le Mans foi adiada para 19 de setembro.
A etapa conjunta entre WEC e IMSA em Sebring foi cancelada e o WEC revisou seu calendário, jogando o final da temporada para novembro de 2020, com a próxima temporada iniciando apenas a partir de março de 2021
O tradicional TT da Ilha de Man foi cancelado.
A Indy suspendeu as primeiras corridas em St Pete, Alabama, Long Beach e Austin.
Na teoria, o campeonato começa no dia 6 de junho, no Texas. O circuito misto do Indianápolis Motor Speedway abrigará duas corridas, a primeira no dia 4 de julho e a segunda em 3 de outubro. Laguna Seca também ganhou uma rodada dupla e St. Pete deve fechar a temporada, ainda sem data
As 500 Milhas de Indianápolis será no dia 23 de agosto.
Na NASCAR, a maior categoria do automobilismo dos EUA, foram realizadas as primeiras quatro provas, mas as atividades só voltarão a partir de 3 de maio, com a etapa de Martinsville no dia 9.
No Brasil, a CBA suspendeu as atividades no país por tempo indeterminado.
A Stock teve que adiar a abertura do campeonato, com a Corrida de Duplas. Etapas do Velopark e Londrina também foram adiadas.
A Porsche Cup realizou apenas sua primeira etapa em Interlagos e aguarda novas diretrizes para retomar o campeonato.
Endurance Brasil, Copa Truck, entre outras competições, também estão paralisadas.
Uma saída encontrada pelos campeonatos durante esse período de paralisações foi a realização de eventos virtuais. Fórmula 1, Indy, NASCAR, MotoGP, entre outros, estão organizando campeonatos para animar os fãs nesse período de quarentena
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VÍDEO: Por que a Aston Martin voltará para a Fórmula 1 em 2021

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Adam Cooper
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