ANÁLISE: Por que a F1 não faz parte das Olimpíadas?
Pouca gente sabe, mas provas de rally já fizeram parte dos Jogos Olímpicos; Motorsport mostra quais seriam as opções para o automobilismo voltar a fazer parte da Olimpíada
A última vez que um esporte a motor teve um papel em uma Olimpíada foi em Paris-1900, assim como críquete e balonismo! Os Jogos aconteceram em conjunto com a Feira Mundial, duraram seis meses, e houve inclusive uma disputa de carros elétricos (quem diria, Fórmula E...).
Desde então, o rally foi a categoria que chegou mais próximo de uma Olimpíada, ambas as vezes na Alemanha. Em 1933, Betty Haig recebeu uma medalha de ouro pela vitória no Rally Olímpico, numa prova de 2 mil milhas. O resultado acabou sendo embaraçoso para o regime nazista pré-Segunda Guerra Mundial já que a chegada era em Berlim (e esperava-se a vitória de um alemão, claro).
O evento foi reprisado nos Jogos de Munique-1972, com a largada acontecendo na cidade de Kiel, local das disputas das regatas, e chegada seis dias depois no Estádio Olímpico em Munique, porém, com pouco significado já que a prova aconteceu antes mesmo de os Jogos Olímpicos começarem. E adivinhem quem era o navegador do carro vencedor? Ninguém menos do que Jean Todt, atual presidente da Federação Internacional de Automobilismo.
F1, a FIA e o COI
Em 2012, a FIA, sob administração de Todt, foi reconhecida pelo COI, o Comitê Olímpico Internacional, como uma federação esportiva. Cinco anos antes, o COI havia retirado de suas regras uma cláusula que dizia que esportes com motores a propulsão mecânica "não eram aceitáveis".
Basicamente, a FIA conseguiu um lugar entre as federações que fazem parte do COI. A chave para isso foi que a FIA assinou a Carta Olímpica, também as regras antidoping e, mais importante, criou uma Comissão de Pilotos. Afinal, o COI "tem a obrigação de proteger nossos atletas".
Durante uma visita ao GP da Grã-Bretanha de 2012, o então presidente do COI, Jacques Rogge, jogou um balde água fria na ideia de a F1 fazer parte da Olimpíada.
“Compartilhamos a mesma busca pela excelência", disse Rogge, dando esperanças. "Existe muita coisa que podemos aprender com a F1. Temos muitas similaridades. É um esporte com grandes competidores que se preparam de forma dura".
“Mas francamente falando, o conceito que temos é que os Jogos são competições entre atletas e não equipamentos. Portanto, apesar de haver um enorme respeito, (as corridas de carro) não serão incluídas no programa olímpico".
Porém, sugerir que os Jogos Olímpicos não sofrem influência externa de equipamentos é relativo. Existem diversos esportes que utilizam maquinário e equipamento como bicicletas super aerodinâmicas, tacos de golfe, arco e flexa, raquetes de tênis etc.., isso sem mencionar os cavalos para as provas equestres.
Portanto, o conceito "atleta x atleta" não é bem assim. E não me venham com a frase "as Olimpíadas são para atletas não-profissionais" pois certamente elas recebem os melhores e maiores esportistas do mundo.
Haveria diversos benefícios para o automobilismo se ele fizesse parte da família olímpica, fora a massiva audiência global da TV. Mas a F1 poderia fazer fazer parte disso? Acho que não. A F1 não precisa das Olimpíadas, mas esportes a motor em geral seriam recompensados.
Como poderia funcionar?
A melhor opção para algum esporte a motor fazer parte das Olimpíadas seria através de uma única categoria. Para começar, as Olimpíadas adotaram o "carro oficial" décadas atrás, portanto não se preocupem em achar alguma montadora disponível a pagar por isso.
Por exemplo, o Nissan Kick foi o veículo oficial da Rio-2016 e a montadora japonesa disponibilizou 4.000 carros para uso nos Jogos. O Nissan Lavinas foi o veículo de apoio oficial das provas de ciclismo de estrada.
O conceito mais adequado seria o mesmo usado na Fórmula Palmer, criada pelo ex-piloto de F1 Jonathan Palmer. Carros e motores idênticos sorteados para todos os pilotos. Engenheiros e mecânicos imparciais. Não seria a F1, claro. Mas antigos carros da F2 eram bem rápidos, por exemplo.
A próxima questão é quem deveria pilotá-los? Certamente seria o melhor piloto que cada país tivesse. Quem seria o representante da Grã-Bretanha, Lewis Hamilton ou Lando Norris? Pela Alemanha iria Sebastian Vettel ou Mick Schumacher?
O conceito já foi testado e aprovado, precisaria apenas ser executado em conjunto com o COI.
Não creio que o circuito seja um grande problema. Já testemunhei corridas de rally dentro de um estádio olímpico durante um X-Games. A Formula E já correu no estádio Ninho do Pássaro, em Pequim, e o V8 Supercars em Sydney – ou seja, há muitas opções de circuitos de rua. E circuitos permanentes se encaixariam bem na situação, como Fuji, que está sendo usado durante os Jogos de Tóquio. E pensar que ergueram o Parque Olímpico onde era o circuito de Jacarepaguá...
Finalmente Bernie poderia ter a sua medalha?
Para finalizar, em 2008, o chefão da F1, Bernie Ecclestone, aventou a ideia de adotar um sistema de medalhas – em vez de pontos – para decidir o Campeonato Mundial da F1.
Me recordo de perguntar a ele sobre isso numa coletiva em Londres.
“A ideia disso é porque eu estava cansado das pessoas falarem que não há tantas ultrapassagens nas corridas. A razão disso não tem nada a ver com o circuito ou as pessoas envolvidas. Tem a ver com os pilotos não precisarem ultrapassar. Se você está na liderança e eu estou em segundo, não vou arriscar tudo. Mas se você precisar fazer isso para ganhar uma medalha de ouro, pois quem tiver mais ouros ganha o campeonato, você vai fazer isso. Vai querer ultrapassar".
Esqueça o Mundial. Que tal ser o ganhador da primeira medalha de ouro numa prova a motor?
Falando em corrida do século, qual piloto iria recusar tal oportunidade?
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