Fórmula 1 GP do Azerbaijão

ANÁLISE F1: Após ouvir os pilotos, a FIA vai conseguir agir para acabar com o porpoising?

Pilotos estão certos de que as quicadas, como vimos em Baku, vão gerar danos à saúde no futuro. Discussão para mudanças começou em briefing

Lewis Hamilton, Mercedes-AMG, in Parc Ferme

Deveria a FIA intervir e ajustar as regras da Fórmula 1 para que os pilotos sofram menos fisicamente em decorrência das fortes quicadas dos carros, causadas pelo porpoising? Sim, disseram alguns pilotos questionados sobre esse assunto em reunião feita na sexta-feira da última semana no Azerbaijão.

Antes disso, Carlos Sainz e George Russell foram vozes que alertaram sobre possíveis impactos a longo prazo nas costas e pescoços, causando uma consequência negativa em decorrência dos fortes solavancos que pilotos vem sofrendo nessa temporada.

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A maioria dos pilotos estiveram calados sobre o assunto, sobretudo aqueles em que o carro não sofre muito porpoising. Mas, já no primeiro dia de treinos em Baku, eles sofreram o que competidores da Mercedes e Ferrari sentem ao longo de todo o ano. De repente, mais pilotos aderiram a essa conversa.

Bem diferente do que aconteceu em Barcelona, no último mês, quando Sainz externou suas preocupações e pouco teve apoio de seus colegas. “Eu já estou sentindo isso”, declarou na quinta-feira antes da corrida em sua terra natal.

“Eu não preciso ser um especialista para saber que daqui a 10 anos as coisas serão mais complicadas e que vamos precisar trabalhar muito com mobilidade e flexibilidade. Vou precisar investir em saúde, saúde corporal em geral”, completou.

Sainz admite que este item é difícil para os pilotos abordarem na Fórmula 1. “Provavelmente, não gostamos muito de falar, pois pode soar como se fossemos fracos. Eu sou forte, estou em forma, me considero um dos pilotos que melhor tem condicionamento físico e nunca sofri em uma corrida de F1”, apontou.

“Mas pensando no logo prazo, para nosso próprio benefício, acho que devemos conversar sobre, ver as opções que nós temos”, falou o espanhol. “Chegará um ponto em que, quando decidirmos ir em determinada direção, a FIA precisará se envolver, com certeza”, continuou.

Sparks fly from Max Verstappen, Red Bull Racing RB18

Sparks fly from Max Verstappen, Red Bull Racing RB18

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

“Ainda é muito cedo. Foi um pensamento que me ocorreu nas cinco primeiras corridas, nas quais sofri com as quicadas e essa situação toda, mas não foi assunto em nenhuma das nossas reuniões”, revelou Sainz.

“Provavelmente eu estava pensando em voz alta. É algo muito, muito recente em minha mente, ainda preciso falar com outros pilotos que sei que estão sofrendo, como o George [Russell]. Precisamos sentar juntos e ver o que podemos oferecer ou propor”, prosseguiu.

Na coletiva de imprensa no dia seguinte às declarações de Sainz, tiveram pilotos que até fizeram piadas sobre o assunto. Max Verstappen falou o seguinte quando perguntado sobre a questão na ocasião: “acho que é simples. Se você aumentar a altura da parte traseira, você não vai sofrer, mas perde desempenho. Se aumentar a traseira, está resolvido”.

“É apenas uma opção de escolha. Quero dizer, não é boa, mais sei que correr com o carro mais baixo melhorar o tempo de volta, mesmo que não seja confortável”, continuou.

Na época, Lewis Hamilton também ignorou qualquer sugestão de problemas nas costas e não abordou o assunto, enquanto Russell, diretor da GPDA – associação dos pilotos da categoria, foi mais simpático.

"Quando você está indo para a reta a mais de 200 milhas por hora (cerca de 320 km/h) e pulando para cima e para baixo no chão, com certeza, você escolheria que não fosse assim. Obviamente, os carros são extremamente rígidos e não foram feitos para ser uma suspensão confortável”, disse.

O que não se tornou uma discussão em Barcelona e nem em Mônaco, devido às baixas velocidades, foi conversado em Baku, onde as costas e os pescoços dos pilotos viraram assunto. George falou sobre isso e teve apoio de Hamilton. No briefing de sexta-feira, os pilotos tiveram uma longa conversa com a FIA – aquela que Sainz sugeriu na Espanha.

Carlos Sainz, Ferrari F1-75, Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Carlos Sainz, Ferrari F1-75, Charles Leclerc, Ferrari F1-75

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

“Ontem, eu sofri muito com isso”, disse, no sábado, o espanhol ao ser perguntado pelo Motorsport.com. “Por alguma razão, eu sofri mais com as quicadas do que outros carros com a mesma configuração”, completou.

“Foi um pouco caótico, mas outros também sofreram na pista. Acho que chegamos em um ponto que todos os pilotos se olham no briefing e precisam fazer algo. Pois uma corrida é ok, mas podemos isso por mais 10 anos? Eu duvido! Que a FIA possa investigar, não apenas ouvir pilotos, mas não as equipes, pois estamos chegando em um ponto onde todos estamos sofrendo”, declarou.

É intrigante ouvir Sainz dizer para não ouvir as equipes, pois ele e outros pilotos sabem que a discussão se tornaria rapidamente política, com os times que não sofrem com o porpoising acusando as demais de querer promover mudanças no regulamento em benefício próprio.

"Precisamos de algo mais inteligente na suspensão ou na maneira como os carros estão sendo montados, onde a FIA controla um pouco melhor a possibilidade das equipes correrem muito, muito duras. Tenho certeza de que se você perguntar a dois ou três engenheiros no paddock, eles saberão a resposta e o que pode ser feito para limitar isso e regulá-lo. Só precisamos que a FIA aja o mais rápido possível, porque se não, vai começar a se acumular”, falou.

“É necessário a F1 ter 20 pilotos com problemas nas costas após as corridas? Com tanta tecnologia, precisamos passar por algo dessa forma se a solução é bem simples? Vale a pena? Eu acho que não”, completou o espanhol.

Baku foi uma espécie de alerta aos pilotos que não reconheciam a questão, pelo fato de não ter sofrido tanto com o porpoising. “Cada um tem sua opinião, mas seus interesses. Tem coisa que você diz na mídia para passar uma imagem, então eu não tiro conclusões para o que foi dito nos microfones, eu vou no particular e pergunto aos meus colegas".

Quieto em Barcelona, Hamilton é uma voz que emerge nesse sentido, após sofrer para completar a corrida em Baku. “Eu apenas pensei nas pessoas que precisavam de mim para conquistar os pontos, nisso que eu estava focado, pois foi muito duro para mim”, declarou.

“Todos os pilotos estavam discutindo sobre isso no briefing e, ultimamente, e eu acho que nenhum de nós quer continuar saltando pelos próximos quatro anos desse regulamento. Tenho certeza que as equipes estão trabalhando nisso”, completou.

Apesar de as redes sociais sugerirem que a postura de Sainz, Russell e, agora, Hamilton se tratarem de uma manobra para alterar o regulamento, outros pilotos também estão se pronunciando.

“Ninguém aqui quer ficar reclamando que os carros estão difíceis de guiar, mas precisamos perceber que não é saudável para o futuro. Não só o porpoising, mas a rigidez dos carros em geral, que é efetivo em longas retas, também é razão para que nossos corpos estejam doloridos no dia seguinte”, falou Esteban Ocon.

Gasly, que em Barcelona brincou que deveria malhar mais, seguiu a linha de seu compatriota. “Não é saudável, certamente. Eu tenho sessões de fisioterapia antes e depois das sessões, pois meus discos [espinhais] estão sofrendo. Você não tem suspensão, mas tem coluna”, declarou.

“A equipe me pergunta se pode comprometer o setup, eu comprometo a saúde pela performance e sempre farei isso, pois sou piloto e sempre vou querer um carro rápido. Não acho que a FIA tenha de nos botar em um canto para escolher entre saúde e desempenho”, comentou. “Essa é uma parte complicada e claramente não sustentável. Discutimos isso no briefing e tentamos achar soluções para não usarmos bengala aos 30 anos”, prosseguiu.

A Mclaren tem sofrido pouco com as quicadas, mas viu o MCL36 pular em Baku. “Temo que senti o que os outros sentem, pois, honestamente, hoje (domingo) foi ruim. Eu realmente lutei. É doloroso e não é natural. É como quando um jogador de basquete bate a bola muito baixa e driblam. Sendo driblado por Stephen Curry ou algo assim”, disse Daniel Ricciardo.

“Não é bom e não é normal. Precisamos fazer algo, principalmente se George e Lewis, por exemplo, que sei que são os que mais estão com os carros quicando. Provavelmente são os que mais sofrem e nem consigo imaginar como estão se sentindo, pois é horrível. É uma compressão, você está dolorido e sente que está meio que sendo espremido”, prosseguiu.

Fernando Alonso, Alpine A522, Lando Norris, McLaren MCL36, Daniel Ricciardo, McLaren MCL36

Fernando Alonso, Alpine A522, Lando Norris, McLaren MCL36, Daniel Ricciardo, McLaren MCL36

Photo by: Simon Galloway / Motorsport Images

“Não se trata de estar cansado, mas você se sente assim por ter sido derrubado. Podemos ser machos se quisermos, todos nós terminamos a corrida, mas pode ser aquela coisa que daqui a dois anos vai ser ruim para a coluna, para cabeça, o que seja. Não podemos ser ingênuos ou ignorantes”, continuou o australiano.

Algumas equipes admitem que os pilotos não podem ser sempre os penalizados por essas questões. “Estamos os colocando em um desconforto significativo e não acho que podemos fazer isso sempre”, declarou James Vowles, chefe de estratégia da Mercedes.

“Não são só nossos pilotos que estão sofrendo, visto os comentários do grid com relação ao desconforto e a dor. Temos a responsabilidade para que isso não continue no futuro”, disse. “No entanto, as equipes que estão felizes com seus carros não estão interessada em nenhuma mudança”, completou o dirigente.

Um desses que estão satisfeitos com seu carro é Christian Horner, que chegou a apontar que seria uma ‘injustiça’ com quem trabalhou bem se a FIA mexer nos carros. “O mais fácil seria subir o carro. As equipes tem escolha, não? Acho que é uma questão para os caras da parte técnica, pois todo carro tem problemas, mas alguns tem menos”, declarou.

“Se é uma questão genuinamente para a segurança de todo o grid, nós devemos analisar. Mas se é algo que afeta isoladamente algumas pessoas e equipes, isso é uma questão que cada um precisa lidar”, completou.

A seguir, cenas dos próximos capítulos. A FIA está ciente das preocupações dos pilotos, mas os regulamentos não podem ser alterados sem a aprovação de todas as equipes, a não ser que seja uma questão de segurança. No entanto, algo claramente precisa ser feito.

Para encerrar, George Russell e sua intrigante analogia, dita em Barcelona. “Não sei em que época, se eram nos anos 60, 70 ou 80, mas o futebol tinha bolas massivamente mais pesadas e pesquisas e análises mostraram a consequências dessas bolas na saúde desses caras e mudaram as coisas. A F1 é o centro da inovação e não há razão para não encontrarmos uma solução científica para isso”, encerrou.

DEBATE: Mercedes tem razão de reclamar sobre porpoising dos carros?

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