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Barrichello fala de futuro, passado e família: "Aprendi a me gostar"

Em entrevista exclusiva ao TotalRace, brasileiro de 39 anos diz não se considerar um dos maiores esportistas do Brasil, entre outros assuntos

Rubens Barrichello:

Aos 39 anos de idade, Rubens Barrichello é uma pessoa realizada. Mais que isso: o piloto que estreou na Fórmula 1 em 1993, dono de 11 vitórias, 14 poles, dois vice-campeonatos e recordista de largadas na categoria pode ser considerado um dos maiores esportistas do Brasil.

Por competir em um esporte que já teve grandes expoentes, como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, e por ter enfrentado algumas das maiores pressões já vistas em cima de um atleta, muita gente não considera Barrichello como um dos melhores. Nem ele, mas em outra ótica. 
 
Visivelmente mais maduro que cinco anos atrás, por exemplo, Barrichello espera ser lembrado não como um dos melhores esportistas do país, mas como uma pessoa que lutou pelo bem. "Não me considero um dos melhores esportistas. Isso é uma coisa que já me perguntaram. Um ídolo nunca se considera, pois ele tem ídolos, também. O Ayrton Senna foi o meu maior ídolo, o Ronaldo é um deles. Não consigo me colocar nessa lista", diz, em entrevista exclusiva ao TotalRace.
 
"As pessoas me perguntam sobre o que quero ser lembrado e digo que não só pela determinação e garra, mas pelo coração bom. Essa história de que só ganha o 'bad boy', o cara mau, o que não dá entrevista, isso é muito errado. Quero deixar essa marca. Sempre fui um cara que fiz o bem, por mais que a gente fale de Schumacher, que ele não foi legal, eu sempre quis o bem da pessoa. Claro, quando a gente fecha a viseira, você só quer ganhar", destaca.
 
 
A pressão e a cobrança do torcedor brasileiro em cima de Barrichello foi um dos momentos mais marcantes do esporte nacional, principalmente pela exigência por vitórias e títulos. E isso aumentou ainda mais quando teve de trabalhar em prol da Ferrari, favorecendo Michael Schumacher. Contudo, a cultura tupiniquim de "ganhar a qualquer custo, com quem não ganhar ser considerado um perdedor" é criticada pelo piloto, que minimiza as críticas e diz: "Aprendi a me gostar demais."
 
"Cabe a nós modificar isso. No dia do jogo do Santos contra o Barcelona na final do Mundial, as crianças, que geralmente são 'Maria vai com as outras', me perguntaram para quem eu iria torcer. Disse que para o Santos, e eles falaram: 'mas o Santos não compete contra o Corinthians?'. Disse que sim, mas agora seria um título para os brasileiros. Esse tipo de fundamento tem de ser passado para as crianças, o orgulho de ver a bandeira do Brasil no alto. Claro, uma dancinha, um drible mal-feito, isso prejudica o depois, pois as pessoas lembram disso e querem fazer revanche."
 
"Acho que o que importa para o ser humano é o que a pessoa vê no espelho. Pode não ser o mais bonito, mas ele tem que se gostar. Graças à Deus, aprendi a me gostar demais. Tenho um orgulho muito grande de tudo aquilo o que fiz. Lembro do meu pai com os olhos cheios de lágrimas, pois ele foi 'o' cara. Quando nego ri, faz piada, fica brincando com patrocinador, dá um nó na garganta, mas é por um momento. O Brasil é meio carente de certas coisas, mas ninguém sabe o que foi para chegar até lá e se manter lá."
 
Segundo Barrichello, as dificuldades dos pilotos brasileiros em continuar na Fórmula 1 estão abrindo os olhos dos torcedores: "Agora estão dando brilho, pois estão vendo que existem brasileiros com talento que não estão conseguindo ficar lá. 'Porra, o cara ficou 20 anos, peraí'. Acho que agora tão dando um brilho para aquele que guiou tanto tempo na F-1, mas eu não preciso disso, de parabéns, etc. Sou aquilo que vejo no espelho e gosto."
 
 
Aos 39 anos, Rubinho não se vê longe das pistas. Prefere seguir o exemplo de nomes como AJ Foyt e Emerson Fittipaldi, que correram até tarde. Chutando longe, até Pedro Muffato, que compete na F-Truck do alto de seus 70 anos, é uma motivação para o brasileiro, para desespero da esposa Silvana. Contudo, para alívio dela, não existe nada que o deixe mais feliz além de correr que curtir os dois filhos, Eduardo e Fernando.
 
"Falei com minha esposa outro dia e ela disse 'esquece'. Quando falei que o Pedro Muffato completou 70 anos e foi até no pódio, ela falou 'não, não, não, não. Isso não está no nosso contrato de casamento'. Claro que falou brincando, pois ela sabe que minha alegria é guiar e meu hobby é ser pai. Quando perguntam qual meu hobby, digo que nunca pensei que pudesse ser tão feliz sendo pai e podendo ensinar", comenta.
 
"Por tudo aquilo que meu pai fez por mim, o que quero é continuar correndo, ser um bom pai e um bom marido. Não tenho planos de parar. Quero muito completar 20 anos na Fórmula 1. Quem sabe, chega uma equipe grande e te contrata, a coisa continua. A paixão e o tesão estão lá. Agora, o resto, não tenho dúvidas, de um jeito ou de outro estarei competindo."
 
Eduardo e Fernando, inclusive, são presenças garantidas ao lado do pai onde quer que ele esteja, seja nos boxes da Fórmula 1, ou de um kartódromo, até mesmo em um estádio de futebol. E ambos acompanham a luta do pai em tentar completar a marca de 20 temporadas na Fórmula 1, uma vez que perdem a companhia dele para reuniões de negócios.
 
 
"Eles estão de férias e perguntam: 'Pai, por que vai sair de novo?'. Digo que vou em uma empresa vender um patrocínio e, quando volto, eles estão sempre na ansiedade: 'E aí, conseguiu?'. Eles estão vivendo esse momento com a gente. Claro, são muito crianças, não vivem a dificuldade e nem precisam viver, mas faço questão deles saberem de tudo, pois acho que hoje é mais fácil. Quando falo a eles que tinha um presente no Natal e outro no aniversário eles não conseguem imaginar, pois ganham tantos presentes, tantas situações. Mas é bom que eles entendam as dificuldades para que eles sejam bons meninos e bons corações."
 
Ainda falando sobre os filhos, voltamos ao início da conversa sobre ídolos. Obviamente, Eduardo e Fernando, ou Dudu e Fefê, veem o pai como ídolo maior e até se questionam quando chegam a uma idade em que o pai já competia profissionalmente. Talvez seja por isso que o mais velho não tenha a vontade de seguir seus passos. Já o mais novo...
 
"O Fefê, que é o menor, leva um jeitinho de querer continuar, mas o Dudu não quer essa responsabilidade para ele. Ele já tem um pai que faz isso e anda muito bem. Outro dia ele veio me perguntar com quantos anos eu fui campeão pela primeira vez. Quando disse que foi com dez anos ele respondeu 'eu tenho dez anos e não sou campeão de nada'. 'Pô', falei pra ele, 'não consigo te ganhar no ping-pong, em diversas outras ocasiões e não tem essa coisa de querer ser campeão de alguma coisa que não precisa'. Quero que eles sejam felizes e se dediquem ao esporte, pois o esporte deixará eles longe dessas bobeiras todas, drogas... É dessa forma que a gente vai conduzindo a família à frente."

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