Análise

F1: Entenda por que algumas equipes queriam correr na Austrália

Olhando para os números da pré-temporada, analisamos como a prova de Melbourne teria impactado o mundial de construtores

The drivers walk along the track

Nas horas que antecederam o cancelamento do GP da Austrália, que seria a etapa inaugural da temporada 2020 da Fórmula 1, houve muita movimentação nos bastidores. A partir do momento que a McLaren anunciou que não participaria da prova após um membro da equipe testar positivo para o Covid-19, houve muito debate sobre a possibilidade de manter a etapa mesmo sem a equipe.

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Um dos momentos-chave foi a reunião feita com as outras equipes, com o diretor de automobilismo da F1, Ross Brawn, e com a participação por telefone de Jean Todt, presidente da FIA, para tentar chegar a uma decisão final sobre o destino do GP, como o Motorsport.com relata abaixo:

Segundo o regulamento esportivo da F1, no Artigo 5.7, "um evento poderá ser cancelado se menos de 12 carros estiverem disponíveis para a disputa". Com a saída da McLaren, ainda era necessário mais quatro equipes se manifestando contra o GP para que a prova fosse cancelada. A Ferrari já havia declarado desde o inicio que não participaria também.

Para bater o martelo, foi realizada uma votação. Quatro equipes optaram pela continuidade do GP: Mercedes, Red Bull, AlphaTauri e Racing Point. Outras quatro pelo cancelamento: Ferrari, Alfa Romeo, Renault e McLaren. Já Williams e Haas anunciaram que iriam com a maioria. Apesar de inicialmente ser a favor de manter o GP, a Mercedes mudou o voto horas depois, o que foi determinante para o cancelamento da etapa.

Para a atual campeã, a realização ou não da corrida não faria muita diferença pensando na disputa de 2020. Olhando para os dados da pré-temporada, a Mercedes poderia ficar de fora da etapa que mesmo assim ainda seria a grande favorita entre pilotos e construtores, já que mostrou uma grande performance em Barcelona.

Quem ganharia e quem perderia?

A Ferrari, que teve uma performance dúbia na Espanha, poderia ter problemas no campeonato caso a prova tivesse ido adiante. O carro não teve o melhor dos resultados na pré-temporada em comparação com a Mercedes. Assim, os pontos do GP da Austrália poderiam fazer falta caso seus principais competidores tivessem ido à pista.

Das três equipes da frente, a Red Bull certamente seria a maior beneficiada, especialmente se a Mercedes optasse por não correr. Segundo os números da pré-temporada, a Red Bull teria totais condições de dominar o grid e conquistar pontos importantes para uma luta no pelotão da frente.

Mas a realização do GP poderia ser ainda mais determinante para as cinco equipes do pelotão intermediário: Renault, McLaren, Racing Point, AlphaTauri e Alfa Romeo. A impressão que ficou com os testes de Barcelona é que o meio do grid está ainda mais próximo esse ano, com uma possível vantagem para a Racing Point, devido à sua "Mercedes Rosa".

Para quem votou para não participar da prova, Alfa Romeo e Renault (excluindo a McLaren por motivos óbvios), os pontos do GP da Austrália poderiam fazer uma grande diferença no final do ano.

Mesmo ficando em cima do muro, Williams e Haas também se beneficiariam bastante da realização da corrida sem os rivais. As duas equipes que menos pontuaram no campeonato de 2019 teriam uma grande oportunidade de conquistar pontos, que poderiam fazer a diferença no final do ano caso as forças da F1 não tenham mudado de um ano para o outro.

Mesmo com a melhora da Williams, ainda não foi possível determinar se o desenvolvimento do carro de 2020 foi suficiente para tirar a equipe do fundo do grid, porque as do pelotão intermediário também parecem ter melhorado. Já a Haas deixou um grande ponto de interrogação após a pré-temporada, na qual teve uma performance abaixo do esperado, sendo a equipe que menos completou voltas.

Covid iguala acidente e bate guerra como fator mais impactante em um ano da F1

1952 - No ano do primeiro título de Ascari, o primeiro cancelamento
O primeiro cancelamento de um GP no mundial de Fórmula 1 aconteceu no seu terceiro ano, em 1952. O GP da Espanha deveria ser a nona e última etapa do campeonato, no circuito de Pedralbes, mas acabou cancelado por questões financeiras. A situação se repetiu novamente em 1953, até que a etapa conseguiu integrar o calendário em 1954
1955 - Os impactos do acidente nas 24 Horas de Le Mans
Em 1955, um desastre marcou a história do automobilismo mundial. Nas 24 Horas de Le Mans, uma batida envolvendo o piloto da Mercedes Pierre Levegh matou 83 espectadores e feriu outros 180. A repercussão do acidente foi tamanha que afetou o calendário da F1, com as etapas da França, Alemanha, Suíça e Espanha canceladas. Na Suíça, as consequências foram ainda maiores, com o esporte a motor sendo banido do país pelas autoridades, algo que foi revertido apenas em 2018, com uma etapa da Fórmula E em Zurique
1956 e 1957 - As consequências da Guerra de Suez
Em 1956, o mundo acompanhou o conflito armado que ficou conhecido como "Guerra de Suez", entre Israel e Egito. Com isso, o preço dos combustíveis subiu muito e as etapas da Espanha e da Holanda se tornaram inviáveis para as equipes, sendo canceladas. No ano seguinte, o conflito continuou afetando o calendário da Fórmula 1 e outras três provas tiveram que ser canceladas: além da Espanha e Holanda novamente, a etapa da Bélgica precisou ser removida da temporada pelo mesmo problema
1960 - Pela segurança dos pilotos
Naquele ano, a etapa da Alemanha seria realizada no circuito de rua de AVUS, em Berlim. Mas devido às reclamações dos pilotos sobre os perigos da pista, especialmente as curvas, que chegavam a ter uma inclinação de 40 graus, a prova foi cancelada.
1969 - Cancelamento por boicote
Em 1969, o GP da Bélgica foi cancelado devido ao boicote de parte dos pilotos, que exigiam mudanças para deixar a pista mais segura. O boicote veio após uma inspeção do circuito por Jackie Stewart, que, naquela época, era o piloto mais envolvido do grid no debate sobre segurança. Como os donos do circuito de Spa não cederam aos pedidos dos pilotos, a prova acabou cancelada. A etapa belga passou pela mesma situação dois anos depois, em 1971, e, depois disso, ficou de fora do calendário da Fórmula 1 até 1983, quando a pista foi reformada e encurtada.
1972 - Cancelamentos na América do Norte
Em 1972, a F1 já tentava realizar duas etapas nos Estados Unidos, assim como a Liberty tenta atualmente. Mas o projeto do GP do Oeste dos Estados Unidos, na Califórnia, não foi concretizado. Outro GP cancelado naquele ano foi o do México. Após a morte de Pedro Rodríguez, piloto que era ídolo nacional, no ano anterior, o interesse dos mexicanos pela prova caiu consideravelmente e a etapa foi cancelada.
1981 - Efeitos da Guerra FISA-FOCA
No final dos anos 70 e início dos anos 80, a Fórmula 1 se viu dividida em uma disputa entre a Federação Internacional do Esporte Automobilístico (FISA) e a Associação de Construtores da Fórmula 1 (FOCA), que levou a uma situação curiosa. No GP da África do Sul de 1981, vários pilotos boicotaram a prova devido ao embate entre as instituições. O medo de que isso se repetisse na Argentina afugentou os patrocinadores, levando ao cancelamento da prova.
1983 - No ano do bi de Piquet, uma tentativa de realizar um GP em Nova York
Na temporada de 1983, a Fórmula 1 tentou organizar uma etapa em Nova York, em um circuito de rua que seria montado no bairro do Queens, mas o projeto não conseguiu ser concretizado pela categoria, nem nos dois anos seguintes. Se tivesse sido realizada, a prova em Nova York seria a terceira em território americano no mesmo ano, junto com Long Beach e Detroit
1985 - Adiamento na Bélgica
Na temporada de 1985, o GP da Bélgica seria realizado originalmente em 02 de junho, mas após problemas com o novo asfalto do circuito, a prova precisou ser adiada, acontecendo três meses mais tarde, em 15 de setembro.
1987 - Canadá cancelado por ter muitos patrocinadores em potencial
Uma das histórias mais curiosas de cancelamentos de etapas da Fórmula 1 vem do GP do Canadá de 1987. Naquele ano, a etapa foi cancelada porque os organizadores não conseguiram resolver um problema inusitado: duas cervejarias locais, Labatt e Molson, queriam ser as patrocinadoras master do evento, mas não foi possível chegar a um acordo e a prova foi cancelada.
1995 - Efeitos do terremoto na cidade de Kobe
A etapa do Pacífico, que seria realizada no circuito de Okayama, em 16 de abril, precisou ser remarcada após o terremoto próximo à cidade de Kobe em janeiro, matando mais de 6 mil pessoas. A prova foi transferida para 22 de outubro
2003 - Cancelamento devido à guerra contra o tabagismo
O GP da Bélgica de 2003 foi cancelado devido à nova lei aprovada no país contra o tabagismo. Como muitas equipes do grid tinham patrocínio de marcas de cigarros, a etapa acabou sendo retirada do calendário. A situação foi resolvida e a F1 voltou a correr em Spa já no ano seguinte
2011 - O cancelamento mais recente
Em 2011, o GP do Bahrein estava marcado para ser a prova inaugural do campeonato, mas a etapa foi inicialmente adiada devido a protestos contra o governo do país. Foi sugerido uma mudança no calendário, para a corrida do Bahrein ser realizada em 30 de outubro com o GP da Índia fechando o ano em dezembro, mas as equipes recusaram e a prova no país do oriente médio acabou cancelada naquele ano
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