Nasr relembra tempos de Sauber e mecânico da equipe aponta preferência a Ericsson
Brasiliense foi 'boicotado' após patrocinador do então companheiro Marcus Ericsson colocar dinheiro na equipe
Um dos últimos pilotos brasileiros com passagem pela Fórmula 1, Felipe Nasr guiou pela Sauber entre 2015 e 2016 e impressionou já em sua primeira corrida na categoria, terminando em um incrível quinto lugar no GP da Austrália. O começo foi promissor, mas a equipe logo entrou em crise financeira e teve que recorrer ao aporte de uma empresa que apoiava a carreira do sueco Marcus Ericsson, companheiro do brasiliense no time suíço.
A partir daí, tudo mudou. Em 2015, Nasr superou o sueco com folga, marcando 27 pontos contra nove, mas o ano seguinte teve um verdadeiro boicote da Sauber ao brasiliense. Quem conta é o próprio piloto, que, de forma ponderada, deu detalhes exclusivos de como a situação favorecia Ericsson. Além disso, um ex-mecânico da equipe, o brasileiro Tiago Conte, falou com exclusividade ao Motorsport.com sobre o que o time fazia contra Nasr na prática.
"Tudo que a Sauber queria fazer naquele ano era valorizar o passe do Ericsson e me 'rebaixar'", disse o piloto, que hoje corre no IMSA, do qual foi campeão em 2018. "O Nasr 'deu' 40 milhões para a equipe e a equipe chegou no fim do ano e o demitiu", afirmou Conte. O depoimento da dupla e os detalhes sórdidos do boicote da Sauber ao brasileiro você confere abaixo.
A temporada 2015
"Esse começo na F1 eu não poderia ter imaginado melhor. O ano de 2015 foi um ano produtivo, porque o carro, até então, tinha recursos para se desenvolver. A equipe ainda estava sadia, ainda tinha uma estabilidade financeira, só que isso acabou rápido. Já no meio do ano de 2015 para o final, a equipe quase que entrou em falência. Depois de eu ter pontuado... Pontuei na corrida da China, Mônaco, Singapura, Estados Unidos. Para você ter uma ideia, fiz 27 pontos."
"Terminei o ano em 13º, que foi a mesma posição que o [Charles] Leclerc terminou seu primeiro ano de F1 (em 2018, com Alfa Romeo-Sauber). Estou fazendo a comparação só para vocês entenderem que foi um primeiro ano de estreia muito bom. Mas a Sauber, do meio do ano para o final de 2015, ela praticamente não tinha mais investimentos para se manter na F1 e eles estavam procurando parceiros, alguém que comprasse, algum investidor que entrasse na equipe."
O patrocinador do adversário
"Foi quando esse grupo sueco, que é o grupo que cuida da carreira do meu ex-companheiro de equipe, o Marcus Ericsson, eles entraram como investidores da equipe Sauber, e aí o negócio mudou. Eles que estavam tomando conta da equipe, toda a parte de desenvolvimento, contratação de pessoas, enfim, eles tomaram conta da equipe. E foi aí que veio o lado difícil da F1. Acho que ficou claro quem que eles queriam que andasse bem nessa equipe."
"Foi o que aconteceu no ano de 2016. Eu lembro que muita gente boa saiu da equipe. Até por essa incerteza, muita gente fez essa mudança antes de 2016. E a equipe ficou defasada. Realmente, a gente estava só sobrevivendo ali para andar de F1. A equipe não tinha condições, eram os piores carros do grid naquele ano de 2016 e eu lembro que só fui ter o carro atualizado, o primeiro chassi de 2016, na quarta ou quinta corrida de F1 daquele ano", seguiu o brasiliense, vice do IMSA em 2019. Ele também disputará provas da Indy em 2020 e é cotado na NASCAR.
"E o Ericsson já estava correndo com carro novo, com pacote da Ferrari novo, etc. E assim foi durante o ano. Não tinha freio suficiente para os dois carros, não tinha aquecedor de pneus suficientes para os dois carros, uma bagunça. Como piloto, aquilo foi um desafio de outro mundo, psicologicamente. Eu sabia que, na primeira oportunidade que eu tivesse, eu teria que agarrá-la porque talvez aconteceria só uma vez no ano."
Não deu para arranjar outra equipe para 2016?
"Não dava, porque o contrato que eu fechei com a Sauber era de dois anos e o mercado também estava travado. Tinha muitos pilotos que só terminariam o contrato no final de 2016. Teve oferta, teve procura, mas não tinha o que a gente fazer. No momento, tinha que aceitar a situação e encarar o ano de 2016. [Procura] na época da própria Williams, da Renault e da Force India", afirmou Nasr.
"Para mim, pessoalmente, e para o lado da minha equipe, o negócio ficou tão dividido que o lado do meu carro queria de qualquer maneira ir atrás de algum resultado e fugir desse lado político, que estava rolando ali dentro da Sauber. Foi o que a gente fez, a gente focou no nosso: 'Vamos trabalhar, vamos nos dedicar o máximo possível, alguma condição adversa pode acontecer e a gente tem que atualizar isso'."
"Acho que no GP da Hungria de 2016, eu liderei o Q1 (primeira parte da classificação) na chuva. Então falei: 'Na chuva, não é só o carro, mas eu gosto dessas condições'. Então liderei um Q1, o que foi incrível, com a Sauber, que era o pior carro da F1. Esses momentos são gratificantes."
Os questionamentos por estar 'atrás' de Ericsson
"F1 tem tanta gente falando o que quer e vira verdade, mas para quem realmente estava ali dentro, as pessoas que trabalharam comigo, os próprios funcionários da Sauber, aquilo ficou muito explícito. A maneira que um carro tinha e o outro não tinha. Não tinha condições, não tinha jogo de freio para os dois carros, era só para um. Aquilo foi desgastando todo mundo. Existem cobranças, você tem responsabilidade de todos os lados, com patrocinadores...".
O piloto brasileiro emendou: "Então existia uma cobrança muito grande de todas as pontas. Aí eu falei: 'Não vou me importar com isso e, na hora que tiver uma oportunidade, vou lá e mostro o que eu sei fazer na pista'.
A 'sabotagem' na prática, com detalhes do mecânico
Quem deu mais detalhes de como a Sauber favorecia Ericsson tecnicamente foi Conte, que atuou como mecânico de composição da equipe suíça durante seis temporadas. O depoimento é impactante, como se vê abaixo:
"A Sauber que me desculpe, mas chegou a hora de falar a verdade. Eu sou um dos mais afetados. Dói muito escutar tudo que foi a verdade, mesmo. O Ericsson simplesmente estava na Sauber porque compraram a Sauber para ele. Basta. O dono da Tetra Pak simplesmente comprou a Sauber para ele, então o que aconteceu: naquele tempo, o Nasr era o piloto que, se tivesse o pneu pior e assoalho pesado, meio segundo ele 'dava' brincando em cima do Ericsson."
"Só que eles (os pilotos) chegaram em um ano que a Sauber estava falindo e precisava de um comprador, aí o dono da Tetra Pak falou o seguinte: 'Eu só compro a Sauber se o Marcus ficar na frente do Nasr. Como a gente vai fazer isso? Se virem'. Peças de 3000km, eles refizeram e a peça vinha '0km' para o carro do Ericsson. E a peça de 3000km era montada no carro do Nasr. Isso é a realidade", revela Conte.
"Quem vem do automobilismo pode confirmar que isso existe em todas as categorias, não é só na F1. Mas aquilo me doeu, porque eu era brasileiro e eu sabia que o cara era foda. O Nasr, para mim, não foi só um amigo. Ele foi, para mim, de pilotagem, o piloto mais completo que já vi na minha vida. Porque eu vivi o que ele correu. Eu sabia o 'lixo' que ele tinha na mão", pondera Tiago, fazendo menção ao fraco carro da Sauber na época.
"Chegava a sexta-feira e ele era mais rápido do que o Ericsson. Normalmente, no ano anterior, o Ericsson copiava a configuração do Nasr e colocava no carro. No sábado, ficava pertinho dele. No ano seguinte (2016), foi diferente. O Nasr fazia a configuração completamente. Eles pegavam a configuração do carro do Nasr, passavam para o carro do Ericsson, e o carro do Nasr eles simplesmente boicotavam."
"Um carro de F1 tem três eixos de suspensão na frente. Então o carro (do Nasr) estava completamente certo, com a certeza de que o carro ia entrar no top-10, ou 12º, 13º. O Nasr, sábado de manhã (no terceiro treino livre), virava o mesmo tempo e o Ericsson junto com ele. Nasr saía do carro feliz, olhava para mim com o sorriso aqui em cima. Entrava na classificação, virava de 1 a 2 segundos mais lento que o Ericsson com o 'mesmo carro'."
A suspeita do mecânico
"Eles queriam falar para o Nasr que o carro era o mesmo no qual ele tinha andado duas horas antes, só que eu, como mecânico, comecei a flagrar o movimento... Entre o treino livre e a classificação, [cerca de] uma hora e meia, eles tiram do carro esse terceiro elemento (da suspensão) e botavam outro terceiro elemento dentro do carro dele. E o carro fica não só 'inguiável', ele fica completamente desequilibrado."
"Para que a mídia achasse que o Ericsson era mais rápido, eles começaram a fazer essa brincadeira. No começo, passava uma corrida, eu, por trás do jogo, comecei a pensar: 'O que que fizeram de errado?'. E só escutando os dois lados: o piloto e a equipe. A equipe jurando que não fez nada, que o carro é o mesmo. Aí eu fiquei tipo espiando mesmo, sabe? Para descobrir o que que estava acontecendo. Eu queria saber a verdade."
"O Nasr entrava no carro e eu sabia que ele iria fazer milagre, mas chegava na hora e não dava certo. Descia do carro puto, não conversava com ninguém, nem comigo, saía fora... Hoje eu dou razão para ele. E eu chorava, porque eu sabia da realidade. A gente não tinha dinheiro, a gente ia falir, só que era o meu amigo, o piloto que eu mais ajudava. Eu era o mecânico dele, então, para mim, ficou muito claro que alguma coisa estava errada."
"Porque o Nasr era muito rápido. Ele é muito rápido. Você vê que ele chegou nos Estados Unidos e foi campeão (do IMSA) no primeiro ano junto com pilotos que estavam para se aposentar. Hoje que ele tem os pilotos de verdade do lado dele. São os três Felipes (Nasr, Pipo Derani e Filipe Albuquerque). Para mim, hoje é o time certo. O Nasr tinha o Cadillac, que era uma 'banheira' e a Penske com o carro mais rápido. Não sei como ele conseguiu ser campeão."
"Depois que eles (Sauber) demitiram o Nasr... O Nasr, no Brasil (2016), fez os dois pontos e [a Sauber] recebeu 40 milhões. A gente ia receber 0 no fim do ano. Com aqueles dois pontos, a gente passou a Manor (no Mundial de Construtores) e recebemos 40 milhões de euros pela F1 de premiação. O Nasr que deu esses 40 milhões para a equipe e a equipe chegou no fim do ano e demitiu ele", lamentou o mecânico.
"E botou o alemão (Pascal Werhlein). O Wehrlein veio porque a Mercedes pagou 4 milhões de euros naquela época e a Sauber precisava de dinheiro, então aconteceu o que aconteceu, mandaram o Nasr embora".
Como a equipe conseguiu manipular sem que ninguém percebesse?
"O primeiro ponto foi esse (da suspensão). O segundo ponto foi o seguinte: a gente tinha dois mecânicos que fazem a pressão do pneu e os dois tinham 20 anos de Sauber, só que, nessa época, mesmo com eles (equipe) burlando, o Nasr era rápido. O Nasr conseguia bater ele (Ericsson). O que fizeram? Demitiram (o mecânico) por justa causa. Conseguiram fazer isso. O cara estava lá trabalhando e fizeram com ele errasse para ter um motivo para mandá-lo embora."
"Mandaram ele embora e o que que fizeram? Naquela hierarquia, não pegaram ninguém da firma. Foram lá e buscaram um menino, que hoje, depois de muito tempo, é o eletricista do Kimi [Raikkonen]. Ele era formado eletricista naquele tempo e buscaram esse menino lá na Ásia. Ele estava de férias lá, seis meses na Ásia, e ligaram para ele: 'É você mesmo que eu preciso, venha para cá'. Buscaram o menino na Ásia."
"Botaram o menino no box e não ensinaram ele: 'Se vira, faz a pressão do jeito que a gente te explicou'. E explicaram errado para ele. Então, para mim, foi bem claro que foi sabotagem. Botaram um menino inexperiente para fazer a pressão de pneu do Nasr. A pressão do pneu na F1, hoje muito mais, se errar, esquece... Pode esquecer... [Se errar] temperatura e pressão do pneu, o carro fica 'inguiável' também. A partir de Singapura, o Nasr não teve um pneu que foi certo."
"O Nasr era taxado como louco. Dentro da equipe, o chefe e todo mundo falava: 'Esse moleque é filho de papai, o que que ele está falando... Me mostra o tempo e depois a gente conversa'. Essa esse tipo de coisa. Não só estraga a corrida, mas destrói com a carreira do piloto".
"E eu não podia falar. Não podia. Era uma coisa minha, do Felipe e do 'professor', que é o tio dele. A gente não podia falar. A gente sabia que, se a gente abrisse a boca, a gente ia sair dali... Eu ia sair com a mala na mão e eles iriam sair com a mídia feita em cima deles.
A redenção de Nasr no GP do Brasil de 2016, nas palavras do piloto
"Acho que foi uma das provas mais difíceis que eu já fiz até hoje, pelas condições. Estava extremamente difícil, eu não enxergava um palmo à frente. Os dois carros classificaram em último. A gente ali com o carro completamente defasado, a gente não tinha performance nenhuma no carro. E aconteceu o que eu queria: choveu no domingo, dia da prova, aí eu falei: 'Cara, agora eu me garanto'. Então eu estava muito concentrado naquele dia."
"Eu tinha canalizado todas as minhas energias e eu sabia que, numa oportunidade que eu tivesse, eu não ia deixar passar. E eu vim trabalhando isso o ano inteiro. Apesar das frustrações, não perdi meu foco e falava: 'Pelo menos uma oportunidade eu vou ter que ter'. E apareceu. Eu lembro que, já na primeira volta, aquela chuva louca, você não enxergava nada, eu passei acho que uns cinco ou seis carros. Já na primeira volta."
"Você não tem ideia do que é guiar um carro de F1 debaixo de chuva a 300km/h. Naquela subida da curva do Café, muita gente bateu e rodou. Estava difícil para caramba, mas eu lembro que era um risco controlado. Eu estava muito consciente de tudo que eu estava fazendo. Lembro da equipe 'barulhando' no meu ouvido e tentando montar uma estratégia para a prova", relata Nasr, que foi um dos destaques daquela corrida em São Paulo.
"Eles falavam: 'Ah, vamos parar nessa volta e colocar pneus intermediários'. Eu falei: 'Cara, não vou parar nessa volta. O carro não tem condições de botar pneu intermediário debaixo de chuva'. E em Interlagos é aquela coisa: uma hora está chovendo e uma hora não está. Falei: 'Cara, eu vou me garantir, não vou pelo feeling de ninguém, vou pelo meu'. E foi o que aconteceu. A prova acho que teve duas interrupções e é proibido você fazer qualquer ajuste no carro."
"Acho que foi o único carro com que eu fiz a corrida inteira com o mesmo jogo de pneus do início. E chega um momento em que o pneu está desgastado, já não consegue atingir uma temperatura e foi ficando difícil para caramba. Muito difícil."
"Muitos carros foram parando para colocar outros jogos de pneu. Foi quando eu pulei para sexto na corrida e eu falei: 'Cara, faltando agora 30 minutos para acabar a prova, eu só preciso me garantir, não preciso errar. O que eu preciso fazer é dificultar para os outros carros, porque uma hora eles vão passar'. Não tem jeito de você competir com uma Ferrari, uma Red Bull. É impossível, os carros tinham uma diferença muito grande de performance."
"Eu estava muito presente naquele momento. Realmente, eu acho que é uma das provas em que eu estava mais concentrado e mais capitalizei nessa energia que falei. Dediquei anos da minha carreira e anos de experiência na pista, e aquele momento, para mim, era tudo. Então, quando cruzei a linha de chegada, com aquele nono lugar... Eu falo que tem o mesmo sabor de uma vitória, porque ninguém sabe tudo que aconteceu ali dentro da equipe."
"Esse lado político, essa frustração... Poxa, eu via na cara do pessoal, nos funcionários, nos mecânicos, ninguém com esperança nenhuma. Com aquele resultado, até quem queria esconder, não conseguiu esconder essa emoção. Quando cruzei a linha de chegada, virou festa. Para mim, como piloto, tenho uma gratidão enorme, um sentimento muito bom daquela prova. Segurei carros melhores, enfim, fiz tudo que tinha que fazer."
"Aqueles dois pontos renderam uma bonificação enorme para a equipe. Não só na pontuação, mas em dinheiro, em torno de 40 milhões. Porque a gente conseguiu passar a Manor no campeonato, então tem a premiação da F1. Mas, ao mesmo tempo, a F1 não é justiça para ninguém. É um meio em que as pessoas não entendem por que que um carro é melhor que o outro, por que que um piloto está andando melhor do que o outro... Tem vários fatores por trás disso."
"Só quem convive, só quem está lá dentro, entende como são essas coisas. E eu lembro muito bem: foi uma comemoração fantástica. Minha família estava lá para compartilhar esse momento em casa. Lembro que recebi um carinho enorme da torcida brasileira e de fãs. Todo mundo que acompanhou aquela corrida sabe o valor que teve, sabe o quanto foi importante aquele resultado. Todo mundo vibrou junto, achei isso legal para caramba."
A reação da cúpula da Sauber
"O rádio... É uma recordação incrível, incrível mesmo, não tenho como descrever melhor. Lembro que cheguei para conversar com a Monisha Kaltenborn (chefe da Sauber) e o sueco que comandava a equipe, e eles foram frios para caramba: 'Para a gente, não mudou nada, poderia ter sido você ou o Ericsson'. Desse jeito. Naquele dia, eu falei: 'Cara, isso aqui é um esporte de nojento, estou na mão de um cara que não quer que eu vá para frente'."
"Tudo que a Sauber queria fazer naquele ano era que eles valorizassem o passe do Ericsson e me 'rebaixassem' para eu não ter oportunidades. Mas até hoje eu tenho um carinho gigante pelo pessoal da Ferrari que forneceram os motores daquele ano e pelo pessoal que cuidava dos câmbios. Eu sei quem realmente estava do meu lado e quem estava 'cagando' para essa história", contou o piloto brasileiro.
Não tinha como seguir na F1 em 2017?
"Não foi pelo fator ano (de 2016). Quem estava ali dentro entende realmente o que vinha acontecendo, as condições da equipe, enfim. E poxa, toda vez que eu tive uma oportunidade, eu mostrei o resultado. E é isso que fica na F1. E surgiram ofertas. Naquele ano, mesmo com essa dificuldade toda, teve algumas equipes que me procuraram, entramos na parte de negociação, só que a F1 mudou muito. Não basta você 'só' ser talentoso."
"Eu lembro que o Brasil estava passando por um momento economicamente muito ruim no ano de 2016 e veio o impeachment [de Dilma Rousseff]. E eu, como estava com o patrocínio de uma estatal (Banco do Brasil), aquilo acabou 'melando'. E eu fiquei na mão nessas negociações. E também com essa notícia tardia da Sauber, da minha saída... Porque ali ainda existia uma renegociação com a Sauber."
"Na F1, você tem pessoas de duas caras. E a Monisha, naquele ano, foi quem mais mostrou isso. Ela, que era sócia da equipe em 2015, passou a ser uma funcionária do sueco em 2016. O tratamento era completamente diferente. E eu vi que ela queria salvar a ponta dela. E acabou dançando depois. Nem quero saber dessa maluca... Na verdade, quando eu deixei a F1, eu falei: 'Quer saber? Eu não preciso fazer nada de imediato'."
"Senti a necessidade de analisar o mercado e eu mesmo, pessoalmente, falei: 'Cara, quer saber? Preciso de um tempo para mim. Esquece o Felipe profissional agora e deixa o Felipe que gosta de pescar, de estar com a família...'.
"Eu precisava desse tempo para realmente repensar esses valores e essas vontades. Com quem eu me identificava. 'O que o Felipe quer ser?', né... Então tomei esse tempo justamente para analisar tudo isso. Tanto que não pisei num carro de corrida por seis meses em 2017."
O OUTRO LADO: Sauber sempre negou favorecimento a Ericsson
Chefe de equipe citada por Nasr, Monisha Kaltenborn acabou desligada no meio de 2017. Porém, a escuderia negou favorecimento a Ericsson. "Os proprietários e conselheiros da Sauber Motorsport AG negam o conteúdo das matérias na mídia dizendo que nossos pilotos não estão sendo tratados igualmente", disse comunicado oficial do time, que atualmente se chama Alfa Romeo e tem o finlandês Raikkonen e o italiano Antonio Giovinazzi como pilotos.
De acordo com a imprensa especializada, a tensão entre Monisha e a cúpula da escuderia se deveu ao fato de que ela se opôs ao favorecimento a Ericsson em detrimento de Wehrlein. A situação teria sido similar a que aconteceu com Nasr em 2016. Entretanto, na época do piloto brasileiro, não havia um posicionamento por parte da chefe de equipe. Hoje, que comanda o time da Alfa Romeo-Sauber é o francês Frédéric Vasseur.
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