O dia em que Senna enfureceu Schumacher em Interlagos
Senna nunca teve muita sorte em Interlagos, apesar da vitória em 91, mas, no ano seguinte, o brasileiro teve mais problemas, que irritaram um certo alemão
Efeméride
Sur deux ou quatre roues, replongez-vous dans l'Histoire des sports mécaniques, celle qui a écrit la légende des hommes et des machines durant des décennies.
A carreira de Ayrton Senna tem inúmeros capítulos memoráveis. Vitórias épicas, poles incríveis e também momentos de tensão. Um deles (alguns para dizer a verdade) envolveu Michael Schumacher (relembre 60 fatos da vida do tricampeão no vídeo abaixo).
A temporada de 1992 da Fórmula 1 foi um passeio da Williams, e o Brasil seria a sede da terceira dobradinha da equipe, que usava motores Renault. Nigel Mansell superou um rápido Riccardo Patrese para a vitória, então a corrida real estava na disputa pelo terceiro lugar, que Senna estava determinado a conseguir...
Riccardo Patrese, Williams FW14B Renault leads at the start
Photo by: Sutton Images
Sua nova McLaren-Honda usava pelo segundo ano um motor V12 (veja abaixo a galeria com os carros da carreira de Senna), e estava a mais de 2s da dupla da Williams quando ia bem nas classificações, mas aproximadamente seis décimos de segundo mais rápido que a Benetton B191B de Schumacher (um desenvolvimento do carro de 1991 que a equipe usava até a finalização do carro de 1992 na quarta etapa). Porém, desde cedo ficava claro que Senna estava com problemas, levantando seu braço direito no ar quando passava pela linha de chegada.
Com os tempos de volta ficando cada vez mais lentos - a volta mais rápida de Senna era apenas a 21ª de um grid com 26 carros! - ele conseguiu se manter na frente de um pelotão que trazia Schumacher, Jean Alesi (Ferrari), Martin Brundle (Benetton), Pierluigi Martini (Dallara), Karl Wendlinger (March) e Thierry Bousten (Ligier). Na estreia da McLaren MP4/7A, o Honda V12 de Senna havia desenvolvido um problema que se mostraria terminal - mas isso não o impediu de lutar bravamente enquanto era apoiado por seus fãs.
Senna já havia cutucado Schumacher antes, ao ultrapassá-lo na primeira curva, compensando uma péssima largada após ficar atrás de um lento Mansell. Senna foi pelo lado de fora do alemão na curva à esquerda e conseguiu garantir a ultrapassagem na segunda parte do S, enquanto Schumacher segurou para evitar uma batida.
Riccardo Patrese, Williams FW14B, Nigel Mansell, Williams FW14B, Ayrton Senna, McLaren MP4/7A, Michael Schumacher, Benetton B191B
Photo by: Sutton Images
Senna conseguiu abrir uma diferença, até que seu motor começou a apresentar problemas. "Ele começou a dar problema nas retas, como se eu tivesse tirado o pé do acelerador", disse Senna depois da prova.
No início da oitava volta, Schumacher passou por Senna na subida dos boxes, enquanto o motor de Senna continuava apresentando problemas, mas o brasileiro não estava afim de desistir. Enquanto Schumacher achava que seu rival não brigaria novamente pela posição, Senna mergulhou na linha interna da Curva 1 e voltou ao terceiro lugar.
Ayrton Senna, McLaren MP4/7A
Photo by: Sutton Images
Agora novamente na frente, Senna tentou resolver seu problema ao desligar suas vezes a ignição para reiniciar a Unidade de Controle Eletrônico e começou também a alterar a mistura do combustível em uma vã tentativa de voltar a ter o carro com funcionamento total. O efeito dessas variações em sua performance enfureceram Schumacher.
"Eu estava mais rápido que ele, e ele estava fazendo algum tipo de jogo, o que me surpreendeu. Eu não esperava esse estilo de pilotagem de um tricampeão mundial", afirmou Schumacher. "Nas dez primeiras voltas, ele estava indo o mais rápido possível, mas aí ele simplesmente transformou a ultrapassagem em algo muito difícil para mim. Ele freava em curvas de baixa, e aí acelerava e seguia na reta".
"Eventualmente, quando ele permitiu que eu o ultrapassasse, ele me surpreendeu e me ultrapassou. Esse tipo de pilotagem deu aos outros que estavam próximos a oportunidade de me passar, e eu não gostei disso".
Michael Schumacher, Benetton B191B Ford leads Jean Alesi, Ferrari F92A
Photo by: Sutton Images
De fato, em algumas ocasiões, Schumacher se viu defendendo a posição de Alesi com a Ferrari. Após outras cinco voltas atrás do lento Senna, Schumacher finalmente conseguiu uma ultrapassagem na volta 13 - mas naquele momento, ele estava a mais de 30s da dupla da Williams.
Na volta 18, Senna abandonou, após cair no grid. Ele terminou a corrida com uma última tentativa furiosa de resolver a situação, antes de sair do carro.
Senna descreveu o problema como "algo sério e intermitente". Ele acrescentou: "O efeito disso era totalmente imprevisível e podia ocorrer quatro ou cinco vezes em uma volta e nenhuma na seguinte".
"De vez em quando, o problema era tão grande que parecia que eu havia colocado o pé no freio. Eu continuei com o problema, tentando resolver na esperança de que ele sumisse, enquanto, ao mesmo tempo, eu ficava levantando o braço para tentar alertar os pilotos atrás do problema".
"O problema não desapareceu e foi a razão para o meu abandono - era muito perigoso pra mim continuar pilotando sob essas condições".
The Honda engine in one of the McLaren MP4-7As.
Photo by: Ercole Colombo
Com Senna fora e Schumacher praticamente garantindo sua vaga no pódio, o drama da corrida não terminou até. Alesi bateu em Brundle na Curva Um, acabando com a Benetton do britânico. Brundle foi procurar o francês na garagem da Ferrari, em busca de um pedido de desculpas, mas lá descobriu que o piloto ainda estava na prova (e terminaria em quarto).
Ainda houve drama no lado da Ligier: enquanto Erik Comas estava no processo de ultrapassar a Lotus de Johnny Herbert, o companheiro de equipe de Comas, Thierry Boutsen tentou arrumar um espaço que não existia e acabou batendo em ambos e no muro. Comas acabou atingindo Herbert e os três abandonaram.
GALERIA: Todos os carros de Senna na F1
VÍDEO: 60 fatos e feitos de Ayrton Senna
PODCAST: Senna é o melhor piloto de todos os tempos da F1?
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