VÍDEO: Luis Roberto relembra história de Senna, momentos marcantes e algumas 'gafes'
Comunicador também fala sobre o bordão dos "negros maravilhosos", que virou meme nas últimas Copas do Mundo
Luis Roberto
Reprodução
Um dos principais narradores da TV Globo, Luis Roberto falou com exclusividade ao Motorsport.com via live de Instagram e abriu o jogo sobre momentos de destaque de sua carreira, abordando o início de sua trajetória no esporte a motor, a cobertura da morte de Ayrton Senna e as principais corridas da última temporada da Fórmula 1. "A minha relação com o automobilismo começa por causa de Interlagos", revelou.
Na entrevista, o comunicador também falou sobre diversos assuntos, como o icônico bordão utilizado em jogos da França nas Copas do Mundo de 2014 e 2018: "Esses negros maravilhosos". Luis Roberto explicou: "Meu pai falava isso se referindo ao ataque do Santos".
O jornalista ainda relembrou seus primeiros dias como narrador, sua história no automobilismo e 'causos' hilários de sua longa carreira, como o dia em que ganhou o apelido de uma marca de alpargatas e o jogo em que deixou de relatar um gol por causa de uma forte neblina. Você confere essas e outras histórias de Luis Roberto na imperdível entrevista abaixo. Confira no vídeo exclusivo do Motorsport.com:
De repórter para narrador
"Virei locutor sem querer. A gente estava indo para uma viagem e o cara que era supervisor me avisou: 'Hoje você vai narrar Primavera de Indaiatuba e Palmeiras de São João'. Virei narrador a partir de então, mais ou menos junho de 1977, e aí começou a minha empreitada".
"Eu gostava de narrar. Na minha geração, a gente narrava futebol de botão. Eu narrava para mim mesmo, mas adorava gravar e depois ficar ouvindo. Adorava ser ouvinte de rádio, porque estamos falando de uma época em que nós tínhamos algumas figuras que eram destaque no rádio".
E a paixão por automobilismo?
"A minha relação com o automobilismo começa por causa de Interlagos. Quando Interlagos foi inaugurado e principalmente quando a gente começou a ter a possibilidade de receber a F1 no Brasil, Interlagos teve aquela obra para deixar o autódromo no ponto e a gente teve uma corrida de exibição (da F1, em 1972). E São Paulo parou. A gente está falando de um Emerson Fittipaldi no auge. Isso foi uma corrida exibição, não valeu pontos para o mundial. Não fui nessa corrida.
"Mas aí a gente passou a frequentar o autódromo. A gente tinha outros tipos de categorias. Ainda não era a Stock, não. Mas o meu 'primeiro contato' é o GP do Brasil vencido pelo José Carlos Pace (em 1975) com o Emerson em segundo. Eles na verdade estavam em segundo e terceiro, mas o Jean-Pierre Jarier parou na Reta Oposta com pane seca na última volta. Aí eu passo a ter uma relação muito afetiva com o automobilismo. A minha porta de entrada é mesmo a F1."
Trajetória no esporte a motor
"Depois eu fiz 10 anos de Stock Car na TV Globo e ia para Interlagos quando possível, mas, como a gente foi para o rádio fazer futebol, era 'impossível'. Todo domingo eu estava trabalhando, então, quando narrava jogo de sábado, domingo ia para a pista ver os Opalões da Stock."
"Em 1993, por causa da Copa do Mundo, o Oscar Ulisses estava muito envolvido com as Eliminatórias, então eu fiz quase que a temporada inteira [de F1 na Rádio Globo]. Em 1994 também a gente fez muitas corridas, inclusive a que nos tirou o Ayrton Senna".
A morte de Ayrton Senna
"O impacto é enorme, especialmente do ponto de vista jornalístico. É um aprendizado sem precedentes. Certamente que também é um aprendizado de vida", relembrou o narrador, que falou sobre o trabalho nos arredores do hospital após a morte do ídolo brasileiro.
"Entrou um carro e a gente entrou... Jornalista, a gente entrou... Quando abriu a porta lá do fundo do IML saiu uma senhora. E ela pergunta: 'Vocês querem olhar [para o corpo de Senna]?'. E a gente olhou um para a cara do outro e: 'Não'. Tem uns colegas jornalistas que acham que 'tinha que ter ido ver'. Não! Ela falou: 'Tem um ferimento no rosto e a cabeça está inchada. E ao lado está o corpo do Roland Ratzenberger'. É muito forte...".
O 'bamba' da F1
"[No GP da Alemanha de 1989] eu fui para a cabine, porque a gente começava uma hora antes da largada, mas não consegui falar com o Brasil. Quando deu meia hora para a corrida, eu fui para a sala de imprensa. Peguei um telefone e fiz uma ligação para o Brasil e narrei um pouco antes da corrida e a largada. Estou com o olho vidrado no monitor e não percebo: a sala de imprensa inteira estava em volta de mim. E eu lia uns anúncios naquele tempo."
"E a Alpargatas patrocinava, então eu lia: 'Oferecimento: Bamba!'. Lembra o Bamba? Aí virou o meu apelido, os estrangeiros me chamavam de Bamba. Aí os brasileiros vinham para mim: 'Você é bamba no que você faz?'. E eu: 'Não, é bamba por causa do tênis'. Essa é uma boa."
O gol não narrado
"Quando eu narrava lá em São João da Boa Vista, fui narrar um jogo no Estádio Bruno José Daniel, em Santo André. Santo André e Palmeiras de São João da Boa Vista. Tinha uma neblina, meu amigo, que não dava para ver nada. Aí, estamos ali, entendeu... Não tinha repórter, éramos eu e o comentarista. Ligava a maletinha e não sabia se a transmissão chegou. Aí começa o jogo. Com 10 minutos: 'Girando o placar: em Santo André, Palmeiras 1, Santo André 0'."
"O Palmeiras deu a saída e o Tião Marino, centroavante que jogou no Corinthians, chutou do meio do campo. Tava uma p*** neblina e o goleiro não viu o gol. Eu também não vi. A gente achou que era a saída do jogo. Aí falei: 'Bom, se tá dizendo que tá 1 a 0, tá 1 a 0'. Aí o comentarista saiu da transmissão, foi para o campo e voltou com a informação de que tinha sido um gol do Tião Marino. Aí deu uns 15min e eu contei a verdade para os ouvintes. A melhor coisa é contar a verdade."
Narrações marcantes
"Quando o Brasil ficou 5 anos sem fazer um gol de falta, que o Philippe Coutinho fez outro dia aí, eu acho que aquele gol está muito bem envelopado no pré-gol e no pós-gol. Porque é seleção, você pode torcer. Você pode 'pedir' o gol."
"Na F1, ano passado, tive corridas em que fui muito feliz. As ultrapassagens de Leclerc e Verstappen, a história do 'gol da Holanda', isso tudo acho que 'casou' legal. No automobilismo, quando a corrida tá rolando, o papel do narrador é muito 'esportivo'. Eu tô narrando a corrida para mais ou menos 20 milhões de pessoas no Brasil. Desses 20, provavelmente 15 estão assistindo por causa do esporte e os outros 5 apaixonados pela técnica, por tudo que envolve o esporte a motor."
"Então o papel do narrador é dar vida à parte esportiva. A corrida da Áustria foi sensacional. Como há três anos, a corrida do Azerbaijão, que o [Felipe] Massa esteve para ganhar, é maravilhosa. Parece batidinha de rua do [Sebastian] Vettel com o [Lewis] Hamilton. No futebol, é um pouco mais difícil, porque a minha vontade é descrever corretamente o lance, então a 'envelopagem' vem depois do gol."
"Negros maravilhosos"
"Na verdade, o meu pai falava isso se referindo ao ataque do Santos. Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pelé, porque o Pepe é branquinho. Eram os negros maravilhosos vestidos de branco, e aquilo me veio à cabeça com a França [no jogo contra a Suíça, na Copa do Mundo de 2014]. Aí os chefes falaram: 'Não sei se é legal...'. Aí acabou a Copa [de 2014], virou meme e deixei quieto. Quando tava para chegar 2018, o primeiro time que eu completei no álbum de figurinhas foi a França."
"Aí botei uma foto no Instagram: 'Eles estão de volta'. Aí o bicho pegou, achei divertido. Quando fui narrar o primeiro jogo da França que eu fiz na Copa, ficou aquela expectativa, dizem que 'travou' a internet, porque eu gravei um vídeo dizendo que talvez usasse [a frase] de novo. Só que naquele dia a França jogou mal demais, então não deu para usar. Quando terminou o jogo, eu falei: 'Hoje os negros maravilhosos não estão merecendo o bordão'. Aí virou o jogo, ficou a meu favor."
GALERIA: Luis Roberto, Galvão e cia; veja os bordões de narradores de automobilismo
PODCAST Motorsport.com: Senna é o maior esportista brasileiro após a era Pelé?
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