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Coluna do Farfus: meu caminho, minhas escolhas, minhas vitórias

Piloto de turismo estreia como colunista do Motorsport.com Brasil

Augusto Farfus

Augusto Farfus

Eu queria falar na minha primeira coluna mais ou menos que todo mundo tem um sonho, né? A gente começa no kart vendo esse mundo e esse glamour do automobilismo, logicamente como todos os jovens, sonhando com a Fórmula 1. E o meu começo também não foi diferente.

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Comecei correndo de moto lá em Curitiba. Venci logo no meu primeiro ano o Campeonato Paranaense em 1991. Depois o esporte começou a se tornar a paixão, sempre crescendo desde pequeno.

A família nunca ficou muito contente com esse negócio da moto, sempre achou muito perigoso, então acabei passando para o kart e daí a minha carreira começou. No primeiro ano, já fui campeão Paranaense e da região Sul em 92.

Como passo normal, fui para São Paulo, onde como todos os maiores kartistas, os grandes pilotos brasileiros passaram por São Paulo. Também fiz minha carreira e tive uma passagem de muito sucesso em São Paulo. E depois veio o passo importante, que foi correr de fórmula indo para a Europa correr de Fórmula Renault e sempre tive uma carreira de muito sucesso

Carreira onde sempre venci, sempre andei na frente - e vindo para os carros também não foi diferente - fui campeão da Fórmula Renault em 2001 depois eu passei para a Fórmula 3000 - que era uma das alternativas na época para chegar a F1 - onde eu também venci o campeonato e fui o piloto mais jovem da história a ser campeão, tendo levantado o troféu quando estava ainda com 20 anos.

E na época os 20 anos de idade eram vistos como extremo. Era muito jovem na visão do mundo para Fórmula  porque na época os pilotos entravam com mais idade. Enfim, esse não foi nem o motivo principal, foi bem na época que o Brasil teve essa virada que o câmbio subiu, que a economia começou a patinar e foi nesse momento que encontrei na minha carreira uma divisão de águas onde eu tive que entender com muita clareza o que eu realmente queria - se eu queria me tornar um piloto de carro de corrida ou se eu queria me tornar um piloto de Fórmula 1.

Augusto Farfus

Augusto Farfus

Eu digo isso e hoje e sempre: existem dois tipos de pilotos - tem o piloto que gosta de carros e que gosta do esporte a motor como um todo. E tem o piloto, o jovem que tem ambição de Fórmula 1, somente Fórmula 1, e são duas coisas completamente diferentes.

Você pode ver muitos exemplos aí de muitos jovens tanto do meu tempo que tentaram e tentaram a Fórmula 1, que entraram em equipes pequenas na Fórmula 1, que lutaram para ter esse começo do glamour da Fórmula 1 e hoje em dia não correm mais nada. Enfim, tiveram seu tempo de glória por uma temporada, como piloto de teste na Fórmula 1 e depois acabaram em nada. 

Eu sempre fui um apaixonado pelo esporte a motor, por corridas em si. Isso foi na verdade o que me apoiou e foi o que me que me deu forças para com 20 anos de idade ter que tomar uma decisão extremamente difícil, que foi abandonar. Ainda na época, acreditava ter uma chance de poder sentar num carro de Fórmula 1. Por mais que fosse uma vaga de piloto de teste, reserva. Na época, tinha piloto de sexta-feira...enfim, por esse chamado sonho da Fórmula 1.

E na época a comunicação não tinha toda essa informação, essa globalização do esporte, então muitos pilotos na época questionaram a minha decisão.

A mídia também questionou. "Como que o piloto de 20 anos com todo futuro pela frente ainda nem tenta, abandona o sonho da Fórmula 1 para correr de carros de turismo?" E na época ainda um carro de tração dianteira, um Alfa Romeo com um campeonato onde só tinham pilotos muito mais velhos. E eu acho que isso foi foi determinante na minha carreira porque eu queria correr, eu queria vencer corridas. Para mim não bastava entrar na Fórmula 1 para participar, não bastava entrar na Fórmula 1 para ser mais um no grid.

Farfus testando na BMW na F1

Farfus testando na BMW na F1

Em todas as categorias que eu participei sempre um lutei por vitórias, sempre venci corridas e para mim o gosto, o desejo e a vontade de acordar de manhã cedo e ir para pista sabendo que eu posso vencer uma corrida é o que me mantém motivado.

Se eu for para uma pista pelo simples fato de ter objetivo de ganhar do meu companheiro de equipe, para ser mais um no grid, não me motiva, não me fascina. Então fui para a Alfa Romeo e logo na primeira corrida em Monza, na abertura, que na época era o campeonato europeu, ainda era ETCC, venci a prova e tive uma uma exposição gigante aqui na mídia na Europa. Enfim, teve um impacto gigante e eu aprendi - descobri na verdade que corridas não são só de fórmula, Fórmula 1. Tem um futuro, tem pessoas extremamente profissionais, tem pilotos extremamente capacitados e tem um gostinho tão bom quanto.

Aí minha carreira começou. Fiz meus três anos na Alfa Romeo, onde tive de novo muito sucesso, andei na frente e depois no final de 2006 apareceu esse convite da BMW. Eles fizeram contato para que eu entrasse e fizesse parte da equipe oficial ainda no Mundial de turismo.

E desde então eu estou na família BMW, desde o final de 2006. Então fazem praticamente 13 anos, quase 14, que eu estou na BMW e tive um futuro incrível. Sou muito grato ao meu esporte, sou muito grato por tudo que eu conquistei. Eu não entrei na Alfa Romeo, BMW, pelo dinheiro. Não comprei a minha vaga, conquistei o meu espaço. Foi difícil? Foi! Encontrei problemas, encontrei muitos, mas me formei não só como piloto, mas como homem e como profissional.

Aprendi a conviver com as dificuldades, não tive nenhum manager que me ajudou, não tive nenhum privilégio de ninguém ao longo desses anos para alcançar o que eu alcancei e hoje na BMW sou o piloto que participou do maior número de corridas pela marca. Desenvolvi todos os carros os últimos carros de corrida que a BMW fez. Eu participei do desenvolvimento, corri com os carros, enfim. Eu conquistei meu espaço da marca, venci provas e títulos pela BMW. E tudo que eu conquistei na minha vida desde a minha casa, a minha vida toda, vem do fruto do meu trabalho com carro de corrida.

Isso é extremamente gratificante. Poder saber e olhar para trás, ver que eu construí tudo sozinho, a minha família, meus filhos. Cheguei onde cheguei com as minhas próprias mãos e o meu próprio suor.

Hoje fico feliz em ver que tem muitos jovens que se espelham na minha carreira, que entram em contato e que querem dicas, que querem descobrir, saber como tudo aconteceu e que muitos jovens hoje em dia já também entendem que existe vida fora da Fórmula 1.

Augusto Farfus e família

Augusto Farfus e família

Muitos antigamente acabavam sempre pensando: ou você chega na Fórmula 1 ou você não é um piloto, você não é um piloto profissional. E hoje essa imagem mudou. Hoje você tem a Stock Car no Brasil, que criou um espaço fantástico na mídia, que é uma realidade, onde os pilotos conseguem ter um padrão de vida e conseguem viver do esporte. Isso é fundamental.

Eu acho que eu me sinto de uma certa maneira uns dos pioneiros nesse estilo de carreira, vamos chamar de alternativo, um estilo de carreira que não visa somente a Fórmula 1, onde eu consegui criar meu espaço, que é um espaço, uma carreira no ambiente internacional

Consegui depois através da BMW guiar um carro de Fórmula 1. Fiz alguns treinos pela BMW Sauber quando a BMW ainda estava na Fórmula 1. Então tive muitas vitórias, muita satisfação e conquistei um espaço diferente logicamente do que muitos pilotos acabam, do que os pilotos de Fórmula 1 tem. Mas um espaço também importante onde sou muito grato e tenho muito orgulho da carreira que fiz

Eu quis começar essa coluna contando um pouco de quem que é o Augusto, de onde que o Augusto veio, do porquê dessa minha decisão de não lutar pela Fórmula 1 e mostrar também hoje em dia a carreira fora da Fórmula 1.

Uma carreira muitas vezes mais gratificante. É uma carreira onde você consegue vencer provas, você consegue ter um status dentro do automobilismo também importante. E consegue lutar com as suas próprias mãos e sua própria garra.

Onde é um mundo muitas vezes muito menos político, muito menos baseado no patrocínio, na grana que o piloto leva e você consegue através do seu talento abrir portas e ter uma carreira sólida importante para o automobilismo

Na verdade, a mensagem foi dizendo que a carreira fora da Fórmula 1 pode até ser mais gratificante porque muitas vezes ela é muito menos baseada no budget, no dinheiro, no que você consegue comprar, do que você consegue dar para o esporte.

Hoje em dia você tem o Grid da Fórmula 1 aí onde muitos nomes estão lá por causa de um budget, de um patrocinador que consegue aportar para equipe para estar no grid, o que não o meu caso.

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