"A morte de Senna ainda me assombra", admite Adrian Newey
Projetista da Williams de 1994 acredita que erro de pilotagem causou acidente que vitimou brasileiro em Imola
Ele pode ser um dos grandes gênios da Fórmula 1, mas o projetista da Red Bull, Adrian Newey reconhece que tem de conviver com fantasmas de seu passado: o maior deles é ser o responsável pelo carro que falhou no acidente que causou a morte de Ayrton Senna, em 1994.
Newey foi o homem por trás dos grandes carros da Williams no início dos anos 1990, que lhe renderam quatro títulos de construtores. No final da década, foi para a McLaren e garantiu o bicampeonato com Mika Hakkinen antes de apostar no projeto da Red Bull – e agora se encaminha para o quarto título seguido. Assim, é o único projetista a ser campeão com três equipes diferentes.
Mas a morte de Senna nunca foi esquecida. “O que aconteceu naquele dia, o que causou o acidente, ainda me assombra”, admitiu à BBC. Segundo o britânico, “ninguém nunca saberá” se o acidente foi causado por um erro de pilotagem ou pela quebra da coluna de direção.
Newey chegou a ser processado pela justiça italiana na época, junto do ex-diretor técnico da Williams, Patrick Head, mas foi absolvido. A acusação era de que uma mudança mal feita na coluna de direção havia causado o acidente ao romper-se quando o piloto brasileiro fazia a tomada da curva Tamburello a quase 200km/h.
A defesa da Williams é de que Senna havia forçado demais na pista ondulada, tornando o carro mais difícil de manejar. “A falha na barra de direção foi a causa ou aconteceu no acidente?”, questiona Newey. “Não há dúvidas de que estava quebrada. Igualmente, todos os dados, as câmeras do circuito, a imagem onboard do carro de Michael Schumacher, que o perseguia, nada disso parece ser consistente com uma falha na coluna de direção”, argumenta.
“O carro saiu de traseira inicialmente e Ayrton recuperou isso e só depois começou a ir reto. Mas a primeira coisa que aconteceu foi a saída de traseira, mas da mesma maneira que você às vezes vê em pistas rápidas nos Estados Unidos, o carro perde a traseira, o piloto corrige e depois vai reto no muro do lado de fora, o que não é consistente com uma quebra de coluna de direção.”
Mesmo que não acredite que uma má construção de seu carro tenha provocado o acidente e a morte do tricampeão, Newey reconhece que sua grande frustração foi não ter conseguido fazer um carro à altura do piloto.
Senna chegou à Williams em 1994 após ver os campeonatos de 1992 e 1993 serem dominados pelos carros de Newey, nas mãos de Nigel Mansell e Alain Prost, respectivamente. Porém, após uma série de mudanças no regulamento, a equipe teve dificuldades no início daquela temporada.
“Acho que uma das coisas que sempre vai me assombrar é que ele foi para a Williams porque tínhamos feito um carro decente nos três anos anteriores e ele queria estar na equipe que ele imaginava ter o melhor carro – e infelizmente o carro de 94 não era bom no começo da temporada.”
O projetista reconhece o talento do brasileiro. “Havia uma aura nele, algo difícil de descrever. Ele certamente tinha presença. Seu talento e determinação... ele tentava carregar aquele carro e fazer coisas que não eram possíveis com ele. É uma pena e também injusto que ele estivesse naquela posição. E é claro que, quando melhoramos o carro, ele já não estava conosco”, lembra.
Hoje trabalhando com outro tricampeão, Sebastian Vettel, Newey afirma que é impossível comparar pilotos de épocas diferentes – e lembra que números não servem para definir quem foi o melhor.
“Quando falamos dos melhores de todos os tempos, os nomes de Ayrton Senna, Jim Clark, Jackie Stewart, Emerson Fittipaldi aparecem, assim como Michael Schumacher ou Fangio, claro. E alguns deles tiveram, em termos de campeonatos, uma fração do sucesso de Michael. Então é algo intangível que define a grandiosidade, não são simplesmente resultados. E acho que Sebastian está em seu caminho para se estabelecer entre os maiores de todos os tempos.”
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