Além da pista: o que está por trás das suspeitas da McLaren em relação à aliança entre a Red Bull F1 e seu 'time B'

"Não há nenhum outro esporte importante que eu conheça em que você possa ser dono de duas equipes que competem. Isso não é permitido em nenhum outro esporte"

Yuki Tsunoda, VCARB 01

Foto de: Steven Tee / Motorsport Images

O CEO da McLaren, Zak Brown, tem sido consistentemente direto em relação às suas preocupações sobre a natureza da estreita aliança entre a Red Bull e seu 'time B' na Fórmula 1, agora chamado de Visa Cash App RB.

Por ser o mais vocal sobre o assunto, suas observações levaram alguns a sugerir que as preocupações com os laços cada vez mais próximas entre as duas equipes de F1 da Red Bull estão sendo alimentadas por interesses próprios.

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Os cínicos sugerem que ele simplesmente teme ver sua McLaren derrotada pela antiga AlphaTauri / Toro Rosso, que se beneficia do conhecimento técnico da Red Bull. Mas com o retorno dos carros à ação nos testes do Bahrein nesta semana, Brown deixou claro que, na verdade, a motivação é muito diferente -- e que há questões mais amplas em jogo com relação a este tópico na categoria máxima do automobilismo mundial.

Apesar de ele afirmar que não se trata de algo que apenas visa meramente impedir que a Red Bull e a 'VCARB' obtenham uma vantagem injusta por trabalharem juntas, Zak diz que não tem dúvidas de que ambas as escuderias taurinas estão operando totalmente dentro dos regulamentos.

Mas a 'ira' do dirigente norte-americano está voltada firmemente para os regulamentos da F1, que ele acredita não serem mais adequados para a forma com a qual a elite global do esporte a motor evoluiu sob o regime do teto de gastos.

Max Verstappen, Red Bull Racing RB20

Max Verstappen, Red Bull Racing RB20

Foto de: Sam Bloxham / Motorsport Images

"Não há nenhum outro esporte importante que eu conheça em que você possa ser dono de duas equipes que competem. Isso não é permitido em nenhum outro esporte, por causa da influência política e do 'comércio' de jogadores. Por todos os motivos que você possa imaginar", comentou Zak.

As 'vantagens em jogo'

O foco anterior das suspeitas sobre o benefício da aliança entre a Red Bull e a VCARB foi, erroneamente, sobre os ganhos técnicos, tendo em vista o possível compartilhamento de projetos e ideias para um progresso mais rápido na pista.

Isso é algo de que a Federação Internacional de Automobilismo tem falado abertamente sobre, destacando a possibilidade de policiar de forma eficaz a relação entre as duas estruturas da marca de energéticos.

Mas para Brown, os verdadeiros ganhos de ter uma equipe A e uma equipe B trabalhando juntas vão muito além da simples fabricação de componentes melhores. Por exemplo: há cenários em que pode haver vantagens esportivas óbvias, como a divisão de estratégias nas corridas para garantir o melhor resultado. Isso pode ocorrer especialmente em finais de campeonatos críticos numa longa temporada de F1.

Daniel Ricciardo, VCARB 01

Daniel Ricciardo, VCARB 01

Foto de: Andy Hone / Motorsport Images

"Imagine que seja Max [Verstappen] contra Oscar [Piastri]", disse Brown. "Oscar se classifica em 10º e Max na pole. A melhor estratégia é largar de pneus médios. Mas os VCARBs se classificam em nono e 11º, então vão colocar os dois pilotos com pneus macios e comprometer os nossos competidores".

Brown também diz que o incidente do GP de Singapura do ano passado, em que a AlphaTauri não compareceu a uma audiência sobre um 'bloqueio' de Verstappen em Yuki Tsunoda na classificação, foi um exemplo de que as equipes não são tão grandes rivais entre si quanto são contra todas as outras.

Também há ganhos políticos por se ter dois votos na Comissão da F1 -- o que, na verdade, significa que a Red Bull só precisa do apoio de um outro concorrente para bloquear a supermaioria necessária para mudanças imediatas nas regras.

Foi exatamente isso que aconteceu na reunião da Comissão da F1 de Abu Dhabi em 2023, quando a Red Bull e a AlphaTauri conseguiram impedir uma reforma nas regras de limite de custos graças ao apoio da Alpine.

Há também a questão da movimentação do staff entre as equipes, com o pessoal podendo mudar muito mais facilmente entre escuderias pertencentes à mesma empresa do que para outras organizações.

"Quando você pega um funcionário sênior e o coloca em outra equipe e sem que ele tenha de tirar uma licença, isso é transferência de propriedade intelectual, pois ela está na cabeça do funcionário", disse Brown.

Zak Brown, CEO, McLaren Racing, chats with Christian Horner, Team Principal, Red Bull Racing, on the grid

Zak Brown, CEO da McLaren Racing, conversa com Christian Horner, chefe de equipe da Red Bull Racing, no grid

Foto de: Steven Tee / Motorsport Images

Brown cita o exemplo do analista sênior de estratégia de corrida da Red Bull, Nick Roberts, e do ex-chefe de engenharia, Guillaume Cattelani, que fizeram uma rápida mudança à VCARB para este ano, enquanto a McLaren teve que esperar muito mais tempo para conseguir pessoal de outras equipes.

"Tive de esperar um ano para conseguir David Sanchez (ex-Ferrari)", disse Brown. "Tive que esperar um ano para conseguir Rob Marshall (ex-Red Bull)", ressaltou o executivo dos Estados Unidos que comanda o time britânico de Woking.

Por que isso é um problema agora?

Embora a Red Bull seja proprietária da ex-Minardi desde o final de 2005, Brown diz que isso se tornou um problema para ele agora devido à natureza mutável da F1. Se antes equipes como a McLaren -- que foi uma das primeiras a oferecer caixas de câmbio para clientes como a antiga Force India  -- ajudavam prontamente outros times em uma época em que as diferenças entre as estruturas eram grandes, o impacto do teto orçamentário significa que o pelotão ficou mais nivelado.

E é esse elemento que faz com que seja mais importante do que nunca que certas equipes não tenham vantagem ao se beneficiarem do trabalho em conjunto com suas afiliadas ou co-irmãs na categoria.

Lando Norris, McLaren MCL38

Lando Norris, McLaren MCL38

Foto de: Andy Hone / Motorsport Images

"Há 15 anos, começamos vendendo caixas de câmbio para a Force India. Mas havia um grande delta. A diferença era tão grande que pensamos: vamos ajudar as equipes pequenas porque elas precisam de ajuda. Agora todos estão sob limite de orlamento, as infraestruturas são um pouco diferentes. O túnel de vento da VCARB era melhor do que o nosso até pouco tempo atrás, e agora eles têm o mesmo orçamento que nós...".

"Não há razão para que a VCARB não possa fazer o mesmo que McLaren ou Red Bull. Eles têm os mesmos recursos. Como Helmut Marko (consultor da Red Bull na F1) disse: 'Vamos maximizar o que nos é permitido fazer de acordo com as regras'.  Não os culpo. Se eu tivesse duas equipes, estaria fazendo exatamente o que estão fazendo. Mas acho que precisamos de total independência e total imparcialidade. Isso é o que temos em todos os esportes."

O que vem a seguir?

Brown prometeu "continuar a falar alto" sobre o assunto, enquanto pressiona os chefes da F1, outras partes interessadas e até mesmo as autoridades da União Europeia a fazerem alterações nos regulamentos.

Zak Brown, CEO, McLaren Racing, on the pit wall

Zak Brown, CEO da McLaren Racing, no muro dos boxes

Foto de: Mark Sutton / Motorsport Images

Ele quer que, no máximo até 2026, haja mudanças nos regulamentos que proíbam a propriedade comum de mais de uma equipe mesmo que isso signifique mais componentes padrão para ajudar times menores.

"Acho que é o que os fãs querem, é o que os patrocinadores querem, e eu não ficaria surpreso se houvesse pessoas dentro da VCARB dizendo: 'Quero fazer minha própria suspensão'. Também tenho a concordância de todas as outras equipes independentes. Embora elas não sejam tão expressivas, conversei com todas elas e estão de acordo. Que em 2026 todos sejam independentes porque todos precisam jogar pelas mesmas regras."

"Em outros esportes, você teria que vender a segunda equipe. Acho que essa é a solução certa. Mas eu respeito o que a Red Bull fez pelo esporte. Mas eu gostaria de pensar que a FIA, a F1 e um número suficiente de equipes apoiam isso. Estou aqui para fazer o que for preciso. Tudo o que peço é igualdade de condições e que a melhor equipe vença", completou o CEO da McLaren na elite global do esporte a motor.

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