ANÁLISE: Entenda por que a má conduta de Mazepin nunca será esquecida
Piloto da Haas enfrentou uma coletiva de imprensa na semana passada pela primeira vez desde que vídeo polêmico foi publicado
Nikita Mazepin chega à Fórmula 1 marcado por se envolver em acontecimentos polêmicos. Embora o novato diga que aprendeu com seus erros, ele ainda enfrenta uma enxurrada de críticas das quais podem nunca desaparecer.
"Eles eram descuidados, Tom e Daisy. Eles destruíram coisas e criaturas e então voltaram para seu dinheiro ou sua vasta negligência, ou o que quer que os mantinha juntos, e deixavam outras pessoas limparem a bagunça que eles haviam feito."
O resumo entregue por Nick Carraway no capítulo final é uma das citações mais poderosas do clássico de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby.
Após o assassinato de seu amigo, Jay Gatsby, que estava envolvido em um caso que viu sua amante, Daisy Buchanan, finalmente se recusar a deixar seu marido, Nick fica horrorizado quando Daisy e Tom simplesmente faz as malas e vai embora.
Foi uma citação que me veio à mente na semana passada, quando a Haas revelou sua nova pintura e previu a temporada de 2021.
Após a divulgação de um vídeo em que Nikita Mazepin apalpa uma mulher sem seu consentimento, a Haas está de volta aos holofotes.
O lançamento do novo carro, pintado com as cores vermelho, branco e azul da bandeira russa – que agora despertou o interesse da Agência Mundial Antidoping – e trazendo o nome do novo patrocinador Uralkali, apenas nos mostrou algo que já sabíamos.
Mazepin nunca correu o risco de perder seu assento na F1 por causa de sua conduta.
A Haas condenou o comportamento do piloto em resposta ao vídeo publicado, caracterizando suas ações como "abomináveis".
Enquanto fãs de todo o mundo se manifestavam contra ele e pediam sua demissão, a equipe americana reiterou pouco antes do Natal que Mazepin faria parte da dupla de pilotos oficiais em 2021. A Haas disse que lidaria com o russo internamente, com os detalhes sendo mantidos em sigilo. Após o adiamento do caso pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para Haas, isso supostamente significava que o caso estava encerrado - nada mais poderia ser feito.
Mas o fato não iria desaparecer, especialmente porque Mazepin enfrentou uma coletiva na semana passada pela primeira vez desde que o vídeo foi postado. Os 13 minutos iniciais de uma sessão de 20 minutos foram quase exclusivamente preenchidos com perguntas de jornalistas sobre o que aconteceu, antes da equipe sugerir que a conversa fosse para outros tópicos, como exemplos a nova temporada e a primeira corrida no Bahrein.
Durante a chamada de vídeo, o piloto da Haas chamou o que aconteceu de "grande erro" e que ele "não estava orgulhoso disso". Ele agradeceu à escuderia pelo apoio, dizendo que tinha sido "muito útil" e que ele se sentia "muito mais desenvolvido" com seu comportamento.
Ainda assim, ele continuou expressando remorso da mesma forma de seu pedido de desculpas inicial no qual disse que ele tinha que se manter em "um padrão mais elevado como piloto de F1".
"Não me comportei como pretendia na F1", disse Mazepin.
"A fase de transição para perceber o que conquistei foi muito curta e não adaptei tão rápido como deveria."
Quando questionado diretamente sobre o que havia aprendido em relação ao tratamento com as mulheres e sua conduta com elas, citando como exemplo a decepção que as fãs de F1 podem ter sentido e até mesmo o trauma que seu comportamento pode ter revelado, Mazepin novamente falou sobre o mau exemplo que deu como um piloto da principal categoria de automobilismo.
"Ser piloto de F1 significa que, de repente, você se torna um exemplo para muitos jovens que desejam entrar no mesmo campeonato", disse ele.
"Com isso, você tem que trazer uma certa forma de comportamento em relação a si mesmo. Eu não fiz isso instantaneamente."
Questionado se ele entendia que seu comportamento não era aceitável como pessoa em geral, o piloto respondeu: "Sim, entendo. Eu assumi a responsabilidade, como disse anteriormente, tanto dentro quanto fora do circuito.”
"Nós, como seres humanos, temos que mostrar um certo comportamento uns com os outros, para viver em um mundo calmo e humano. Portanto, estou confiante de que serei um desses seres humanos de agora em diante."
A retórica proveniente de personalidades da Haas nos últimos três meses tem se centrado na educação e na reabilitação, não na punição. Os detalhes exatos dessa conduta nunca foram divulgados.
"Falamos muito sobre o que achamos que deu errado", disse o chefe da equipe, Gunther Steiner, quando questionado pelo Motorsport.com sobre como o time trabalhou com ele.
“Não quero me aprofundar em detalhes. O principal é que ele conseguiu apoio. Foi errado. Ele sabe disso. Não precisei contar a ele, porque ele se desculpou também depois do incidente.”
“Em geral, nós apenas seguimos em frente e queremos fazer com que ele seja um bom piloto. E um bom piloto também precisa ser um bom ser humano.”
"Ele está ansioso para aprender tudo o que puder porque é muito jovem e só quer seguir em frente e mostrar o que pode fazer no futuro."
Mazepin pode querer seguir em frente e aprender, mas não há como a comunidade de torcedores da F1 esquecer o que aconteceu. Uma olhada em qualquer uma das postagens de mídia social da Haas nos últimos três meses mostra tudo, repleto de críticas ao russo que geralmente resultam na hashtag '#WeSayNoToMazepin' (dizemos não a Mazepin).
A equipe não é cega para a reação dos fãs. Os administradores de suas contas sociais estão na linha de frente quando se trata de avaliar o feedback dos torcedores sobre qualquer coisa e, embora seus números de engajamento estejam disparados agora, não é por um motivo positivo.
Nikita Mazepin está ciente da imagem que agora carrega, aceitando que não pode influenciar o modo de pensar das pessoas.
"Não vou conseguir colocar palavras na boca das pessoas", declarou.
"Estou confiante com o esforço que estou tendo e com a direção que estou tomando, os resultados estarão lá e vou tentar fazer com que a corrida fale."
Embora Steiner também quisesse mudar o foco para as performances do novato na pista, ele reconheceu que o piloto russo teria que aceitar a imagem que foi construída e que ela não desapareceria tão facilmente.
"Com certeza algumas pessoas nunca vão deixar escapar, e sempre irão atacá-lo", disse Steiner.
"Mas eu acho que ele vai deixar crescer alguns ‘pelos no peito’ e apenas lidar com isso.”
"Ele é um cara forte. Com certeza não é bom lidar com isso quando você é jovem, mas aconteceu. Você não pode fazer isso ir embora. Então siga em frente e se comporte como deveria, ou como você pensa agora, o que você aprendeu com isso e por que se comportou assim, e isso é (o que) ele estará fazendo. "
Mazepin sempre enfrentaria críticas sobre sua obtenção de um assento na F1. Ele certamente se beneficiou de ter um pai rico, mas completou extensos testes privados da categoria e fez tudo o que precisava para ganhar uma superlicença. Ele é competente o suficiente para correr na F1.
Mas a conduta do piloto russo já era um ponto de interrogação antes do vídeo ser postado. Ele bateu em Callum Ilott em uma corrida de F3 em 2016, resultando na proibição de uma prova. Ele estava regularmente no banco dos réus na temporada passada, terminando o ano com 11 pontos de penalidade, um a menos que o total necessário para desencadear uma suspensão. Mazepin disse na semana passada que estava "confiante" de que não precisaria ser tão agressivo na F1, pois "há um estilo de direção muito diferente e necessário quando você está lutando por um campeonato e potencialmente lutando mais atrás no grid".
Será que Mazepin conseguirá ‘tirar do radar’das pessoas o que aconteceu em dezembro do ano passado? É improvável. Independentemente da educação que ele diz ter recebido e da crescente maturidade que possa mostrar no futuro, essa será uma mancha permanente em sua imagem.
Quando o novo piloto da Haas finalmente fizer sua estreia, haverá mais o que falar e as perguntas sobre o incidente provavelmente desaparecerão. Mas se em algum momento seu desempenho na pista for questionado, e o debate sobre o 'piloto pago' for reacendido, será um dos maiores pontos minando seu lugar no grid da F1. Se um piloto não tivesse trazido o apoio - fisicamente refletido pela pintura do carro - que Mazepin trouxe para Haas, se envolvido em tal incidente em dezembro passado, a equipe teria reagido à sua má conduta de forma diferente?
Mazepin enfrenta uma batalha difícil para obter aceitação dentro da F1, e pode nunca conseguir totalmente. Mas ele não pode simplesmente voltar atrás na grande falta de cuidado como Tom e Daisy fizeram. Ele deve viver com as consequências de suas ações.
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