ANÁLISE: Por que a McLaren se juntou à Williams na busca por novos donos
Ontem foi noticiado que a McLaren seguiu o mesmo caminho da Williams, e está aberta à venda
Duas equipes com grande história dentro da Fórmula 1 estão com graves problemas financeiros, e isso é uma triste visão sobre o estado do esporte. A Covid-19 tornou a situação ainda pior para as equipes, com a renda vinda da F1 sendo restringida, e continuará sendo por mais algum tempo. Mas ambas as empresas já estavam na corda bamba.
Ambas enfrentam aquilo que é chamado de uma tempestade perfeita. Elas ainda são grandes equipes em termos de número de funcionários e conquistas, mas, nos anos recentes, perderam sua competitividade - e isso tem um impacto direto no valor vindo da F1, além de obviamente se tornarem menos atraentes para os patrocinadores.
Em adição, ambas atingiram seus maiores sucessos enquanto eram equipes de fábrica de grandes montadoras, com todos os benefícios financeiros e técnicos que isso traz, e agora precisam pagar por suas unidades de potência.
Foi o custo dos motores que mataram equipes estabelecidas como a Arrows e a Prost. A equipe francesa assinou um contrato com a Ferrari válido de 2001 a 2003, pagando 28, 30 e 32 milhões de dólares a cada ano - um valor absurdo para a época. O acordo nem chegou ao seu segundo ano, porque a equipe acabou.
Quase duas décadas depois, os valores nos acordos de fornecimento de motores foram reduzidos e, atualmente, representam uma porcentagem muito menor no orçamento total da uma equipe.
Mesmo assim, ainda é uma grande parcela, e seu status de consumidor é meio simbólico de como que a percepção das equipes mudou ao longo dos anos.
O fato da McLaren ter fugido de seu acordo com a Honda, que encontrou grande sucesso posteriormente com a Red Bull torna tudo ainda pior.
O diretor esportivo da F1, Ross Brawn, resumiu bem recentemente quando ele destacou que a performance na pista trazem impactos econômicos.
"A realidade é que a F1 é brutal, e você é medido a cada duas semanas na pista, ou a cada semana, como será o caso nos próximos meses!", disse ao Motorsport.com. "Não tem como esconder. Honestamente, se você terminar em último, como a Williams nos últimos anos, haverão consequências. E, infelizmente, eles chegaram a esse ponto".
"Quem entrar ali precisa saber as razões fundamentais que levaram eles a não ter boas performances, e se é apenas financeiro, ou a estrutural, ou a abordagem usada. Eu honestamente não sei".
"Mas precisa ser compreendido. Pode ser apenas financeiro, e com dinheiro extra eles podem ser mais competitivo. Mas precisa de alguém que vá a fundo para entender o que está acontecendo".
Mas Brawn reforçou que não há como substituir os resultados em pista.
"Ambas as equipes tiveram performances ruins. Se a McLaren estivesse vencendo campeonatos e estivessem nessa mesma condição de agora, aí sim daria para dizer que há algo de muito errado com a F1".
"Mas, a realidade é que a McLaren não tem ido bem nos útimos anos, e na F1 isso é brutal. Não há passe livre na F1, e se você tem um certo nível de performance por alguns anos, existe uma consequência. Você perde patrocinadores, recebe menos do fundo da F1 do que estava acostumado, e isso cria um ciclo vicioso".
"Se a situação fosse com duas equipes que estão na ponta, você olharia para tentar compreender o que está de errado. Mas, na verdade, você está olhando para duas equipes de performance fraca nos últimos anos".
Lando Norris, McLaren MCL35
Photo by: Steven Tee / Motorsport Images
A busca da McLaren para retomar sua performance de anos atrás está diretamente relacionada à essa busca por novos investimentos.
Não é segredo para ninguém que sua empresa-mãe, o Grupo McLaren, está buscando novas fontes de financiamento, e manter a saúde financeira de uma montadora de supercarros durante a crise da Covid-19 não é nada fácil.
Em paralelo à isso, a equipe de automobilismo, que representa cerca de 20% da renda total do grupo, tem uma necessidade específica de um maior financiamento. Isso ajuda a explicar porque o plano de venda envolve apenas a McLaren Racing, sem envolvimento dos outros departamentos da empresa-mãe, como os negócios de tecnologia e dos carros de rua.
A temporada de 2021 será tão importante dentro da pista quanto fora dela, porque é o ano em que as equipes estarão a plenos vapores em seus programas de pesquisa e desenvolvimento, pensando no novo regulamento que será introduzido em 2022. Se você ficar para trás, levará um tempo para alcançar os demais.
O adiamento do regulamento em um ano significa que 2021 cairá dentro do novo teto orçamentário, algo que não era previsto inicialmente. E assim, em teoria, todas as equipes terão, potencialmente, níveis similares de recursos quando entrarem nesse ano crucial de desenvolvimento.
Porém, se você é uma equipe do pelotão do meio, não pode confiar apenas no fato de que Mercedes, Ferrari e Red Bull terão que reduzir suas operações para trabalhar dentro do limite. Você precisa garantir que terá fundos suficientes para fazer uso pleno dos 145 milhões de dólares, que é o teto de 2021, além de 140 milhões para 2022 e 135 milhões para cada ano entre 2023 e 2025.
Você precisa estar em uma boa posição para usar todo esse limite, principalmente em 2021, ou talvez você estará condenado a passar alguns anos no final do grid.
Em outras palavras, a McLaren não quer apenas sobreviver e participar. Ela também quer a oportunidade de estar no mesmo nível financeiro dos demais para voltar a ser competitiva.
Então, em teoria, se os resultados vierem, o problema do dinheiro será resolvido sozinho, com uma fatia maior no fundo de prêmios, e mais renda vinda de patrocinadores.
O problema é que ninguém sabe como será a saúde financeira da F1 como um todo nos próximos anos, enquanto se reergue após a pandemia, e como que a renda vinda dos locais de competição, emissoras de TV e patrocinadoras irá se recuperar.
Porém, há alguns sinais positivos. A redução do teto e outras medidas foram introduzidas no momento certo e o novo Pacto de Concórdia promete ser mais igualitário. Mas teriam essas mudanças chegado tarde demais?
"Eu acho que agora temos um modelo mais sustentável para a maioria das equipes", disse o chefe da Renault, Cyril Abiteboul, ao Motorsport.com. "Mas pode ter vindo um pouco tarde, em um momento que algumas equipes acumularam muitas dívidas vindas das temporadas anteriores".
"E eu não falo apenas da Williams. Obviamente foi a Williams que chegou às manchetes, mas tenho certeza que isso também se aplica a outras. Acho que estamos falando sobre como que as equipes vão lidar com esse tipo de legado dos anos anteriores".
"Olhando adiante, há claramente um modelo sustentável. Se você fizer um trabalho razoável em termos de patrocinadores, se você tem a perspectiva de uma performance razoável, você pode ver que terá a possibilidade de se bancar, entre o teto e a renda".
"E isso muda totalmente o paradigma, porque, de repente, você está mudando uma organização que historicamente tem perdido muito dinheiro e a torna algo que pode até gerar lucro".
Em outras palavras, qualquer um que olhe para a Williams e a McLaren tem que estar dispostos a permanecer a longo prazo, e ter fé que o esporte será retomada. Será fascinante ver quem estará disposto a aceitar o desafio em qualquer uma das equipes.
Lando Norris, McLaren MCL34, leads Robert Kubica, Williams FW42
Photo by: Sam Bloxham / Motorsport Images
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