Apesar de rejeição da FIA, protesto da Ferrari contra Red Bull em Mônaco pode ter implicações na F1; entenda

Documento divulgado pelos comissários com o resultado das investigações sobre os protestos contra Verstappen e Pérez podem mudar a compreensão das regras

Sergio Perez, Red Bull Racing RB18, Max Verstappen, Red Bull Racing RB18

Foto de: Zak Mauger / Motorsport Images

A confusão do GP de Mônaco não acabou na bandeira quadriculada. Pouco após o fim da prova, a Ferrari entrou com um protesto contra a Red Bull, mas que acabou sendo rejeitado pela FIA. E apesar disso encerrar o debate sobre o resultado nas ruas de Monte Carlo, isso criou um novo debate sobre o futuro do regulamento da Fórmula 1.

A notícia do protesto foi dada à imprensa pelo chefe da Red Bull, Christian Horner, que estava em uma coletiva de imprensa quando recebeu uma ligação do diretor esportivo Jonathan Wheatley, informando-o do protesto formal da Ferrari.

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A Ferrari acreditava que ambos os pilotos da Red Bull haviam quebrado o regulamento ao aparentemente cruzar a linha amarela na saída do pitlane na volta 22, quando colocaram os pneus slick. Durante a prova o caso do incidente de Sergio Pérez foi notado pelos comissários, mas sem novas atualizações.

E imagens posteriores do onboard de Max Verstappen mostravam o holandês bem mais fora da linha que o mexicano, ou seja, com mais chances de ter quebrado o regulamento, o que lhe renderia uma punição de tempo. A Ferrari sentia que o caso precisava ser investigado, por ter a impressão de que a FIA consideraria isso uma violação, pelo carro ter tocado a linha amarela.

O chefe Mattia Binotto explicou o caso antes da decisão dos comissários: "A intenção por trás do protesto não é atacar a Red Bull, mas sim receber uma explicação sobre um tópico que não está claro para nós. Acredito que ambas as Red Bulls estavam na linha amarela. E no passado isso sempre rendeu cinco segundos de punição".

"Além disso, se você ler as notas da direção de prova, está escrito lá claramente. E isso vem sendo incluído desde a Turquia 2020 se não me engano, para evitar confusões. Para evitar confusões com a palavra 'cruzar', estar na linha, você precisa estar à direita dela, o que não foi o caso aqui".

"A intenção por trás do protesto não é atacar a Red Bull, mas sim receber uma explicação sobre um tópico que não está claro para nós"

Photo by: Ferrari

As notas da direção de prova para o GP de Mônaco realmente enfatizavam que os pilotos precisam estar à direita da linha amarela: "Segundo o Capítulo 4 (Seção 5) do Apêndice L do Código Desportivo Internacional, os pilotos devem ficar à direita da linha sólida amarela na saída do pit quando estão saindo dos boxes, tendo que ficar ali até a sua conclusão, após a curva um".

É um posicionamento que está presente há algum tempo e, de fato, passou por mudanças para o GP da Turquia de 2020 quando, coincidentemente, Verstappen foi investigado por potencialmente cruzar a linha.

Na época, ele se livrou de uma punição porque não haviam evidências conclusivas de que ele havia cruzado completamente a linha branca que separava a saída dos boxes e a pista. Mas o incidente levou a debates sobre o que realmente significa "cruzar a linha".

O carro precisa passar totalmente para o outro lado da linha para ser considerado um cruzamento, ou apenas um toque poderia ser considerado suficiente para uma análise e possível punição? O debate levantado pelo caso de Verstappen levou a uma pequena mudança nas notas já a partir do GP seguinte.

Na Turquia, ao se referir às linhas de saída do pitlane, Michal Masi escreveu: "Segundo o Capítulo 4 (Seção 5) do Apêndice L do Código Desportivo Internacional, os pilotos devem se manter à esquerda da linha branca na saída do pit. Nenhuma parte do carro que está saindo dos pits pode cruzar esta linha".

Na corrida seguinte, no Bahrein, foram feitas duas adaptações à frase. A primeira, para a característica do circuito do Bahrein, trocando esquerda por direita. Mas a principal mudança representou uma alteração na norma: "Segundo o Capítulo 4 (Seção 5) do Apêndice L do Código Desportivo Internacional, os pilotos devem se manter à direita da linha branca sólida da saída dos pits".

A nova especificação tratou de deixar claro que, se qualquer parte do carro (ou seja, os pneus) passasse pela linha, isso seria suficiente para uma punição, já que ele não estaria mais ao lado dela. Isso se tornou um padrão aceitável e, baseado no que as notas da direção de prova determinavam, nada havia mudado, como confirmado por Freitas em seu documento para Mônaco.

Porém, nos bastidores, as coisas haviam mudado na FIA, com a seção específica do Código Desportivo Internacional sendo modificada para 2022, em busca de enfatizar o elemento de "cruzar a linha".

Em 2020, o documento dizia: "Exceto em casos de força maior (aceitos assim pelos comissários), qualquer linha pintada na pista na saída dos pits com o propósito de separar os carros que estão voltando à pista daqueles que já estão na pista não pode ser cruzada por aqueles que estão saindo dos pits".

Isso foi modificado no fim do ano passado, com validade para este ano: "Exceto em casos de força maior (aceitos assim pelos comissários) qualquer pneu de um carro saindo do pitlane não pode cruzar nenhuma linha branca pintada na saída do pitlane, que tem como objetivo separar quem está na pista de quem está voltando".

O modo como isso foi reescrito coloca ênfase no cruzamento da linha em vez de tocá-lo, e agora isso gira em torno apenas dos pneus em vez de uma parte única. E o veredito da FIA após o GP de Mônaco afirma que o Código Desportivo está acima de qualquer outro documento.

Com isso, a determinação de Freitas nas notas do diretor, algo que foi 'copiado e colado' das notas de 2021 para Mônaco, não era válida. Então, mesmo que Verstappen tenha colocado parte de seus pneus em cima da linha amarela, o pneu inteiro não havia cruzado, o que significa que não houve uma quebra do regulamento.

"O piloto não violou a seção relevante do Código e isso precede qualquer interpretação das notas".

Essa explicação gera duas consequências interessantes. A primeira é que agora a linha de saída do pitlane por ser mais usada pelos pilotos do que antes. Se antes eles tratavam isso como algo difícil de ser seguido, a interpretação atual é de que eles podem fazer isso à vontade, desde que os pneus não atravessem a linha.

Isso significa que agora os pilotos têm mais espaço para serem defensivos ao saírem dos boxes, usando mais da pista.

Para além disso, a decisão de Mônaco coloca em xeque qualquer norma determinada pelas tradicionais notas do diretor de prova já que, como dito pela decisão dos comissários, o Código Desportivo Internacional é a lei maior do esporte.

E em um esporte na qual as equipes estão sempre buscando o limite das regras, isso pode significar que a flexibilidade de interpretação do regulamento passará a ser menor.

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