MotoGP: Pilotos questionam intensidade do calendário após lesões

A MotoGP concluiu a maior temporada de sua história. O Mundial de Motovelocidade realizou em 2025 um total de 22 GPs (e 44 corridas), sendo que o calendário nunca havia ultrapassado 20 datas até então. Entre as inúmeras viagens a diferentes continentes e o ritmo acelerado do fim do campeonato, com seis etapas em oito finais de semana, a demanda dos compromissos estavam falando mais alto na reta final.

O calendário é a causa das lesões?

A intensidade do calendário é agravada pela intensidade dos finais de semana de competição. Desde 2023, o acréscimo das sprints adicionou uma certa tensão, pois além da largada extra a cada fim de semana, que por sua própria natureza é uma fonte de tensão e perigo, é necessário ter um bom desempenho a partir de sexta-feira para tentar garantir a vaga no Q2, antes da classificação no sábado de manhã.

"Desde a primeira volta na TL1, é uma volta rápida", explicou Miguel Oliveira. "Não estamos testando coisas, estamos fazendo voltas rápidas logo de cara. A intensidade é muito alta e é difícil para nós tomarmos decisões. Podemos ver isso no tipo de lesões nesta temporada e no número de corridas sem o grid completo. Acho que isso pode ser um fator".

Pecco Bagnaia

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Na primeira temporada de sprints, nenhuma corrida foi realizada com o grid completo de pilotos. A situação melhorou em 2024, mas este ano Jorge Martín, Maverick Viñales e Marc Márquez sofreram ausências prolongadas. Apenas nos GPs da Catalunha e de Misano, 15ª e 16ª etapas do ano, que tivemos todos os titulares escalados.

A lesão através de um acidente na sprint pode ser mais incomum (mas não impossível, como vimos com Jorge Martín em Motegi) mas, mais do que a prática em si, é a pressão que a corrida exerce no finais de semana que causa as lesões, segundo Francesco Bagnaia.

"[Os acidentes repetidos são] algo que começou com as corridas sprint", disse o italiano. "Acho que a partir do momento em que tivemos as sprints, quase nunca tivemos um grid completo, pelo menos em algumas corridas, se não em toda a temporada".

"Duas corridas por fim de semana significam duas largadas, e as largadas são quando você pode ter mais incidentes. Além disso, o estresse é algo que podemos controlar, mas em uma temporada longa como essa, com 22 corridas, é normal que haja incidentes. E se você se acidentar com um calendário como esse, perderá a próxima corrida. Portanto, sim, o calendário está bom como está, mas talvez precisemos aprender a abordá-lo de forma diferente".

Fadiga relacionada aos resultados

Mais do que nunca, os pilotos precisam gerenciar os riscos que têm de correr, além de preparação física e descanso adequados. A moral também é um fator importante, e a situação é mais fácil de gerenciar para os motoristas que obtiveram um bom resultado após o outro.

"Depende muito do estado de espírito", confirmou Marco Bezzecchi. "Se as coisas estão indo bem, você está definitivamente se divertindo e tem a impressão de que as corridas estão passando muito rápido".

"No que me diz respeito, depois de Jerez, tenho que dizer que o tempo passou voando. É difícil ter 22 corridas, 44 com as sprints. É difícil fisicamente e mentalmente também, mas se você conseguir estabelecer um bom relacionamento com sua equipe e se sentir bem nas corridas, você faz o que ama, então está tudo bem".

Pedro Acosta

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Pedro Acosta está ciente de que o menor contratempo físico pode ter grandes consequências, mas está satisfeito com a sequência dos finais de semana.

"Acho que é o número certo", disse o piloto da KTM. "Passamos muito tempo com a nossa equipe e é bom manter o ritmo, mesmo quando é difícil. É claro que é muito difícil para um piloto que se lesiona, porque antes perdíamos uma ou duas corridas. Agora estamos perdendo talvez quatro, mesmo que não tenhamos uma lesão muito grave. Como Marco disse, depende muito de seu estado de espírito. O único ponto negativo é se nos machucarmos".

Quando os resultados não aparecem, você só quer ir para casa.

Bezzecchi e Acosta tiveram um bom final de temporada, que os levou ao terceiro e quarto lugares no campeonato, à frente de Bagnaia. Naturalmente, Pecco ficou menos satisfeito com o acúmulo de corridas.

"Honestamente, na minha situação é mais difícil, mas é assim que as coisas são", admitiu o piloto da Ducati. Fabio Quatararo também percebeu um certo desgaste de um fim de semana decepcionante após o outro na Yamaha.

"Quando você obtém bons resultados, tudo bem, mas na situação atual, é mais difícil", admitiu o francês. "Ainda estou motivado, porque quero ser rápido, quero estar na frente. Mas quando os resultados não vêm, você só quer ir para casa e tentar ver o lado positivo".

No paddock, os pilotos são os que correm mais riscos, mas também são os mais privilegiados, tanto financeiramente quanto no conforto de suas vidas diárias. A situação é diferente para os membros da equipe, para os quais o calendário mais longo acaba afetando a vida pessoal.

"Semana após semana, eu viajo, [minha esposa] fica em casa e, economicamente, você tem que estar [em uma situação] confortável", observou Oliveira, ciente de que é ainda mais difícil para os outros membros da equipe ficarem muitas vezes longe de suas famílias.

Ele acrescentou: "Os pilotos estão muito mais [financeiramente confortáveis] do que os mecânicos, então suas esposas têm de ir trabalhar, cuidar das crianças, então eles fazem grandes sacrifícios".

Oliveira deixou a MotoGP e agora vai correr no Mundial de Superbike, que tem três corridas por fim de semana, mas apenas 12 encontros no ano. Ele recebe a programação mais leve com certa alegria "Às vezes você se pergunta se realmente vale a pena passar tanto tempo longe dos filhos e da esposa e percebe que, com um pouco menos de dinheiro e muito menos corridas, você poderia ser muito mais feliz".

Com Léna Buffa e Téha Courbon