ANÁLISE: O 'enlace' com Cadillac/GM vai facilitar entrada da Andretti na F1?
Notícia desta quinta-feira animou os fãs da categoria, mas processo para concluir ingresso de nova equipe/montadora é complexo; saiba mais detalhes do caso
O anúncio do plano de Andretti e Cadillac de se unirem e entrarem na Fórmula 1 é o mais recente sinal do boom da categoria nos Estados Unidos. Prometendo uma “equipe totalmente americana” completa com um piloto americano, a notícia desta quinta-feira foi recebida com entusiasmo pelos fãs ansiosos para ver uma expansão do grid. No entanto, a resposta da F1 foi, na melhor das hipóteses, morna.
Sua declaração não fez nenhuma menção a Andretti ou Cadillac e serviu como um lembrete de que qualquer nova entrada requer sua aprovação, não apenas a da Federação Internacional de Automobilismo (FIA).
Há um longo processo com muitos obstáculos a serem superados para qualquer nova equipe entrar no grid. A Andretti tem enfrentado grande resistência às suas aspirações até agora, principalmente de outras equipes que estão preocupadas em ficar com uma fatia menor das receitas no futuro. A sensação era de que, a menos que fosse um grande nome - realmente grande -, um novo time não era 'obrigatório'.
Mas agora sabemos que Andretti tem o apoio da General Motors (GM), a maior montadora dos Estados Unidos, para seus planos de entrada na F1, mas isso vai mudar a sintonia do paddock -- ou seja, da reticência de times/fabricantes do grid atual no que tange à entrada de novas marcas?
GM logo
Photo by: Divulgacao
A GM tem dado passos adiante com seus interesses de corrida nos últimos anos. Embora tenha sido um dos pilares do cenário das corridas americanas através da IndyCar e da IMSA, a decisão de inscrever seu novo Cadillac no Campeonato Mundial de Endurance (WEC, na sigla em inglês) através da LMDh (classe principal da competição) apontou seu desejo de ir ainda mais longe cada vez mais.
Cadillac's new LMDh racer will compete in both the WEC and IMSA this year as a sign of its ambitions
Photo by: Michael L. Levitt / Motorsport Images
Então, que lugar é melhor do que a F1? Mark Reuss, presidente da GM, disse que há várias razões pelas quais foi “muito difícil” considerar uma mudança para a F1 no passado. Sob a administração de Barack Obama, o governo dos EUA teve que fornecer um resgate à GM para mantê-la funcionando, em meio à crise decorrente do caos no mercado do país e, na verdade, de todo o mundo após 2008.
Mas as coisas agora mudaram: as receitas atingiram um novo recorde de US$ 41,9 bilhões (quase R$ 225 bilhões) no terceiro trimestre de 2022, apontando para a força do grupo. Reuss disse que o envolvimento de Michael Andretti foi “muito, muito importante” para o interesse da GM na F1, ajudando a acelerar as negociações a ponto de o anúncio de terça-feira poder ser feito. A informação foi confirmada pelo próprio filho de Mario Andretti, 'patriarca' campeão da F1 1978.
Mario Andretti
Photo by: Alexander Trienitz
Embora a equipe possa atender por Andretti Cadillac Racing, é importante observar que a unidade de potência não será fabricada internamente pela GM, pelo menos no começo. Tanto Andretti quanto Reuss permaneceram de boca fechada sobre os planos, mas indicaram que a equipe trabalhará com um parceiro para começar como “mais uma colaboração”, para citar Michael Andretti.
Cadillac logo
Photo by: Uncredited
Portanto, embora a F1 pudesse receber o nome Cadillac, não receberia um motor fabricado pela GM. Seria algo semelhante à forma como a Alfa Romeo (equipe Sauber, motor Ferrari, com a Alfa sendo 'title sponsor') e a Aston Martin (equipe própria, motor Mercedes) correm atualmente na F1.
Mas houve uma indicação de que isso pode mudar no futuro. Reuss deixou claro que a parceria “vai além da pintura do Cadillac” e que Andretti teria acesso total a todas as instalações de corrida da GM.
“Os vastos recursos de engenharia da GM trarão sucesso comprovado e contribuições valiosas para esta parceria”, disse Reuss. “Isso inclui todo o talento e capacidade da equipe e instalações da GM Racing em Michigan, no Warren Tech Center e na Carolina do Norte, bem como a experiência de nossos engenheiros e designers quanto a combustão, tecnologia de bateria, turboalimentação, integração de veículos -- a lista continua e continua.”
Andretti Cadillac
Photo by: Divulgacao
Se desejado, há espaço para levar as coisas internamente em mais áreas e torná-la verdadeiramente uma equipe totalmente americana. É um grande sinal que mostra que a GM leva a F1 a sério.
O CEO da Alfa Romeo, Jean-Philippe Imparato, disse ao Motorsport.com em uma entrevista durante o último verão europeu que achava que tinha “o melhor retorno de investimento do mundo” por meio da parceria com a Sauber, obtendo a força de marketing da F1 sem o custo de uma operação de motor. O plano da GM com Andretti, como disse Reuss, seria mais profundo do que isso, por meio de uma parceria técnica com o objetivo de levar a equipe ao topo.
Cadillac's involvement in the proposed Andretti team would run much deeper than Alfa Romeo's current Sauber tie-up
Photo by: Alfa Romeo
Antes desse anúncio, a perspectiva de adicionar Andretti ao grid não parecia o tipo de coisa que faria o coração dos acionistas da F1 disparar. Claro, outra equipe é boa para o esporte no sentido de ter mais dois carros, mais dois pilotos e, consequentemente, mais ação na pista. Mas a F1 já tem uma equipe norte-americana com a Haas, e, se a Andretti corresse com um montadora já presente no grid, também não traria nada de novo.
No entanto, a presença da GM por meio da Cadillac pode mudar as coisas. A F1 quer ser a categoria que tem todas as maiores montadoras do mundo querendo se envolver. Ferrari, Mercedes, Renault e Honda estão lá, esta última buscando voltar totalmente ao jogo após sua saída suave no fim de 2021 que manteve os laços técnicos com a Red Bull -- o time anglo-austríaco, por sua vez, pode fazer parceria com a Ford, concorrente da GM, para a parte elétrica do novo motor.
A Audi está chegando em 2026. A Porsche ainda está batendo na porta, embora ainda não tenha encaminhado nada concreto após o acordo com a RBR 'melar'. Acrescentar a GM, com todo o seu poderio financeiro e presença, principalmente nos Estados Unidos, parece uma coisa boa para a F1.
E, embora a Cadillac possa não ser o tipo de montadora que faz você pensar imediatamente em velocidade ou luxo, a GM deixa claro que deseja mudar essa percepção. “À medida que expandimos a Cadillac para uma marca global, em lugares onde não estamos há muito tempo ou nunca estivemos, [a F1] oferece exposição para a Cadillac e para a marca conforme ela cresce”, disse Reuss. Afinal, mesmo cara, a F1 é talvez a melhor ferramenta de marketing para montadoras.
Ainda há muitos obstáculos enfrentados por Andretti e Cadillac para que isso aconteça, sendo o maior o apoio da F1 e das 10 equipes. Por todo o entusiasmo que Mohammed ben Sulayem, presidente da FIA, possa ter demonstrado sobre os planos, esta não é uma decisão só da FIA.
GM support will be key in bringing Andretti's F1 vision to bear
Photo by: Andreas Beil
Sabemos que a McLaren e a Alpine apoiam o que Andretti quer fazer, acreditando que a presença de outra equipe aumentará as receitas da F1 o suficiente para compensar a queda de 10% que todos sofrerão. Agora com a GM a bordo, as outras oito equipes podem ter mais dificuldade em expressar suas preocupações -- leia-se: restrições. Mas o apoio de todos os envolvidos ainda será essencial para que o projeto aconteça.
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