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Christian Fittipaldi relembra batida com companheiro: "Respeito por ele é zero"

Brasileiro e Pierluigi Martini corriam pela Minardi e se chocaram durante o GP da Itália de 1993

Christian Fittipaldi, Minardi and Pierluigi Martini, Minardi collide at the finish

Foto de: Uncredited

Um dos acidentes mais icônicos da Fórmula 1 aconteceu no GP da Itália de 1993, em Monza, envolvendo um piloto do Brasil. Companheiros de Minardi, Christian Fittipaldi e o italiano Pierluigi Martini se tocaram na chegada da corrida, o que fez o brasileiro dar um 'looping'.

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Felizmente, nada de mais grave aconteceu com Christian, que ainda conseguiu cruzar a linha de chegada logo na sequência. Entretanto, o filho de Wilsinho Fittipaldi correu grandes riscos naquele incidente.

Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com via live de Instagram, Christian revelou detalhes da batida e fez fortes críticas a Martini. O relato imperdível de Fittipaldi você confere no vídeo abaixo:

"É um fato que ele tirou o pé, porque a gente tem a telemetria dele. Mas o pior de tudo não foi nem ele ter tirado o pé. Se você ver no YouTube aquele evento e você acompanhar bem a chegada, está muito claro...".

"Você olha só a asa traseira dos carros, esquece a parte de baixo do carro. A minha asa traseira, na hora que eu saio do vácuo dele, ela mexe antes. Isso quer dizer que eu já estou saindo do vácuo dele. Ou seja, o piloto da frente, por questão de ética, deveria manter linha reta."

"Porque, senão, é impossível qualquer um passar qualquer um. Porque se o cara da frente vai andando para a direita e para a esquerda, acaba colocando em risco não só ele como o piloto que está atrás. Uma fração de segundo depois, de meio segundo depois a um segundo depois, você pode ver que a asa traseira dele mexe para o mesmo lugar em que eu estava. Ou seja, para o mesmo lado que eu mexia."

"Completamente inesperado... Eu saí da [curva] Parabólica, calculei e falei: 'Vai dar para passar'. Saí muito mais rápido que ele [em direção à reta] e ia passar antes de passar pela linha de chegada. No momento que saio do vácuo dele, ando mais meio segundo ou um segundo e estou começando a passar, mas ele mexe [o carro]. E eu não estou nem esperando que ele fosse mexer. Ainda mais o meu companheiro de equipe, pelo amor de deus...".

"Na hora em que ele mexe, a minha roda dianteira bateu na roda traseira dele. Para minha sorte, a gente estava rápido, porque na hora que o carro subiu eu estava a uns 315 km/h e a parte de baixo do carro funcionou praticamente como uma asa de avião. Então fez o carro se sustentar no ar e completar o looping inteiro. Mas na hora que o carro subiu, falei: 'Nossa, se o carro não cair em cima das quatro rodas hoje eu provavelmente não vou estar aqui para contar a história'."

"Ao mesmo tempo, passou um filminho da minha vida, de momentos importantes da minha infância. Ou seja, foi um flash... Do meu primeiro dia de escola, de alguma festinha que meu pai me levou, enfim, coisas assim mais da minha infância."

"Isso durante um período de décimos ou no máximo meio segundo. O carro deu o looping completo, passou pelas quatro rodas e eu passei pela linha de chegada. Acredite se quiser, soltei o cinto e desci do carro como se absolutamente nada tivesse acontecido comigo."

"Eu não tinha machucado nada, não estava com nenhuma dor, enfim, eu estava numa situação 'perfeita'. Aí voltei para o box, larguei meu capacete lá e fui para o motorhome. O Giancarlo [Minardi] veio falar comigo antes: 'Vamos tentar ser políticos...'."

"'A gente está na Itália, em Monza. Os dois carros são da mesma equipe, a Minardi. É uma competição muito importante para a gente'. Naquela hora, devo admitir que eu vesti a camisa. Se fosse hoje em dia, eu provavelmente teria mandado ele à merda."

"Eu teria falado aquilo que tinha vontade de falar. Depois, o Piero [Martini] veio falar comigo. Ele olhou para mim com uma cara meio de assustado e falou: 'Desculpa, desculpa...'. Começou a falar, falar... Na hora que ele terminou, eu não tinha falado nada. Lembro disso direitinho, só fiquei quieto. Aí ele terminou de falar e eu olhei para ele falei assim: 'Piero, deixa... Estou aqui, vivo, e contente de uma maneira incrível. Não vou nem falar com você'."

"Ou seja, eu estava tão feliz que eu estava vivo que eu não queria nem discutir com ele. Falei: 'Não vou nem perder tempo para discutir com uma pessoa que...'. Enfim, se eu cruzo na rua com ele hoje, óbvio que cumprimento, mas o meu respeito por ele é zero".

"Sempre admirei ele, ótimo piloto, para praticamente zero. São coisas que não se fazem na pista. E infelizmente naquele dia ele 'cruzou a linha'. Não sei se ele estava sob muita pressão por estar correndo na Itália e ter de terminar na minha frente, enfim... Eu não sei o que aconteceu, mas ele tirou o pé, o que dá para ver na telemetria. Acho que para me assustar, me fazer frear, e ele conseguir dar aquele pulinho para a frente e conseguir chegar na minha frente."

"É só colocar no YouTube e acompanhar as duas asas traseiras, mais nada. E aí você vai ver que a minha asa traseira mexe antes e depois a asa dele mexe. Isso nem passava pela minha cabeça...", completou Christian. Relembre todos os pilotos do Brasil na F1:

Chico Landi - de 1951 a 1956 - 6 corridas
Gino Bianco - 1952 - 4 corridas
Hermano da Silva Ramos - 1956 e 1957 - 7 corridas
Fritz d'Orey (#40) - 1959 - 3 corridas
Emerson Fittipaldi - de 1970 a 1980 - 144 corridas, 2 títulos (1972-1974) e 14 vitórias
Wilson Fittipaldi - de 1972 a 1975 - 35 corridas
José Carlos Pace - de 1972 a 1977 - 72 corridas - 1 vitória
Luiz Pereira Bueno - 1973 - 1 corrida
Ingo Hoffmann - 1976 e 1977 - 3 corridas
Alex Dias Ribeiro - de 1976 a 1979 - 10 corridas
Nelson Piquet - de 1978 a 1991 - 204 corridas, 3 títulos (1981, 1983 e 1987), 23 vitórias
Chico Serra - de 1981 a 1983 - 18 corridas
Raul Boesel - de 1982 a 1983 - 23 corridas
Roberto Moreno - de 1982 a 1995 - 42  corridas
Ayrton Senna - de 1984 a 1994 - 3 títulos (1988, 1990 e 1991) 161 corridas, 41 vitórias
Mauricio Gugelmin - de 1988 a 1992 - 74 corridas
Christian Fittipaldi - de 1992 a 1994 - 40 corridas
Rubens Barrichello - de 1993 a 2011 - 324 corridas - 11 vitórias
Pedro Paulo Diniz - de 1995 a 2000 - 98 corridas
Ricardo Rosset - de 1996 a 1998 - 26 corridas
Tarso Marques - de 1996 a 2001 - 24 corridas
Ricardo Zonta - de 1999 a 2005 - 36 corridas
Luciano Burti - 2000 e 2001 - 15 corridas
Enrique Bernoldi - de 2001 a 2003 - 28 corridas
Felipe Massa - de 2002 a 2017 - 269 vitórias - 11 vitórias
Cristiano da Matta - 2003 e 2004 - 28 corridas
Antonio Pizzonia - de 2003 a 2005 - 20 corridas
Nelsinho Piquet - 2008 e 2009 - 28 corridas
Bruno Senna - de 2010 a 2012 - 46 corridas
Lucas di Grassi - 2010 - 18 corridas
Felipe Nasr - 2015 e 2016 - 39 corridas
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O outro lado

O Motorsport.com procurou Pierluigi Martini para que ele desse o seu ponto de vista. A diferença de velocidade entre os dois carros existiu, segundo o italiano, por um problema de câmbio. "Já havia sido ultrapassado por Erik Comas, pois estava sem a quinta marcha."

"Na Parabólica eu busquei ficar por dentro, porque aprendi na F3 que lá se ganhava tempo. Porém na reta eu tive de pular da quarta para a sexta marcha, o que me gerou uma perda de giro de motor e uma aceleração menor se comparado a de Christian. Eu me joguei para o lado direito para impedir sua ultrapassagem por fora. Senti um pequeno contato e depois não vi mais a Minardi de meu companheiro."

"Vivi momentos terríveis na volta aos boxes com a corrida já terminada. Eu pensava que Christian tivesse terminado no pit lane e eu esperava ver uma cena trágica, meu sangue gelou nas veias", seguiu. Mas não foi o brasileiro que Martini encontrou primeiro. Seu chefe o esperava: "Giancarlo me levou imediatamente ao motorhome da Minardi. Ele não queria que eu falasse com os jornalistas que se reuniam na área restrita."

Foi aí que o encontro dos pilotos aconteceu: "Nesse meio tempo o Christian chegou. Ele me acusava de ter freado seco na frente dele, alegando que eu tinha tentado matá-lo. Nós brigamos enquanto Giancarlo procurava manter nossos ânimos calmos e nos trazer as telemetrias.”

“Minardi nos disse com tom firme que se surgisse qualquer coisa de anormal, o piloto que havia feito uma manobra arriscada seria demitido. Era claro que estava falando comigo, mas eu sabia que não tinha feito absolutamente nada de incorreto. Christian havia se acalmado."

Confiante que não fez nada de errado, Martini completou: "o traçado da telemetria nos demonstrou que eu nunca tirei o pé do pedal do acelerador e muito menos pensei em frear. Simplesmente a minha Minardi não acelerou como a do Fittipaldi porque me faltava a quinta marcha."

"Pusemos uma pedra em cima disso", relembrou. No ano seguinte, Christian saiu da Minardi e disputou a sua última temporada na F1 antes de buscar a sorte no automobilismo americano. Martini, por sua vez, seguiu mais dois anos na Minardi antes de deixar a categoria.

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