Análise

F1 2023 - Cautela no lançamento da Mercedes: realidade ou blefe?

Evento da equipe alemã deixou dúvidas no ar...

Após perder pela primeira vez o campeonato de construtores desde o início da era híbrida da Fórmula 1, a Mercedes busca voltar ao topo da categoria e, nesta quarta-feira, apresentou o W14, carro dos britânicos Lewis Hamilton e George Russell para 2023.

No evento de lançamento do modelo deste ano, a equipe alemã seguiu sua tradição de prometer pouco a fim de entregar muito, uma mentalidade que sempre esteve presente no time germânico, cujo objetivo é minimizar a pressão e permitir que seus colaboradores trabalhem em paz para entregar resultados na pista. Trata-se de uma 'arte bem administrada' que sempre fez com que a Mercedes não fosse muito 'valentona', mesmo quando claramente tinha o melhor carro da F1.

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Entretanto, após um 2022 marcado por frustrações com o W13, o tom adotado no lançamento do W14 pareceu um pouco diferente do padrão mercedista, com uma sensação de cautela muito maior, o que ajudou a reforçar os rumores de que a performance de 2023 não seja tão boa assim.

Fala-se que a Mercedes não atingiu seus objetivos no túnel de vento e, além disso, o chefe da equipe, Toto Wolff, admitiu que o design do sidepod do W14 pode ser alterado no começo da temporada, sugerindo que o modelo apresentado na quarta não seja exatamente o desejado.

O discurso do dirigente austríaco também acendeu o sinal amarelo. Ele disse claramente que a Mercedes está tentando "alcançar" o topo (leia-se Red Bull), mas usou a expressão "eventualmente" logo na sequência, o que não passou muita confiança.

"Vejo muito esforço, motivação e energia na organização para lançar um carro que eventualmente será competitivo o suficiente para brigar no pelotão da frente do grid", afirmou o homem que comanda a escuderia germânica desde 2013. Será a Mercedes capaz de fazê-lo logo 'de cara'?

Um Hamilton cauteloso...

Embora tanto o heptacampeão mundial quanto seu compatriota tenham esbanjado autoconfiança ao falar sobre suas próprias formas, seja física ou psicologicamente, ambos foram cautelosos na hora de falar do carro, ecoando Wolff.

Lewis Hamilton, Mercedes

Lewis Hamilton, Mercedes

Photo by: Mercedes AMG

Na verdade, Hamilton pareceu 'reflexivo' sobre a capacidade de recuperação de sua equipe. "Não diria que estou tão confiante como estava ano passado. Diria que estou mais cauteloso. Mas sei que, quaisquer que sejam os desafios, temos o melhor time pra lidar com o que vem pela frente."

"Acho que mostramos, no ano passado, que podemos nos recuperar de quaisquer desafios que vêm pela frente. Então, é isso que tentaremos alcançar neste ano", completou o britânico, que defende a Mercedes desde 2013.

Voltando a Wolff, o chefão foi especificamente questionado sobre o uso da palavra "eventualmente", sendo instado a falar sobre se há uma preocupação genuína com relação à possibilidade de a Mercedes começar a temporada em uma forma não tão boa quanto o que o time espera.

Ele reconheceu que a opção pelo termo reflete a mentalidade da escuderia após as decepções de 2022. "Por um lado você quer dizer 'seremos competitivos', mas, por outro lado, você precisa ser humilde e realista. Assim, 'eu espero que sejamos competitivos'. A mentalidade passa por 'sabermos' que seremos competitivos, embora não saibamos quando. Por isso o 'eventualmente'. Mas acho que estamos na etapa que desejávamos estar em termos de desenvolvimento e performance", afirmou.

"Entretanto, você nunca sabe como os outros estão. E acho que humildade é a coisa mais importante. Sempre tentamos ser humildes e, especialmente depois do último ano, temos de lembrar a nós mesmos que estivemos muito atrás por um longo período na última temporada."

O fato é que o clima na Mercedes é definitivamente diferente do que predominava há 12 meses. E Hamilton disse que sua própria sensação sobre o carro é pesadamente influenciada sobre o que os engenheiros dizem.

"Acho que ano passado eu estava muito confiante porque eles estavam muito confiantes. Tínhamos atualizações por vir e eu pensava: 'Vamos estar fortes'. Mas, obviamente, foi um choque grande para todos nós [o que aconteceu com o W13]. Então, acho que neste ano estamos todos com os 'pés no chão'. Um approach mais na seguinte linha: 'Nós talvez não tenhamos o carro mais rápido logo de cara, mas temos potencial para sermos os mais rápidos'. Estamos esperançosos nesta temporada."

Plano de recuperação

O Motorsport.com questionou Russell sobre rumores em torno de um desempenho não muito positivo no túnel de vento, além da possível mudança prematura no conceito do sidepod neste ano, o que levanta dúvidas sobre a especificação vista no lançamento do carro.

George Russell, Mercedes W14

George Russell, Mercedes W14

Photo by: Mercedes AMG

Sua resposta foi sintomaticamente focada no fato de que o começo do campeonato, com um grande intervalo entre as etapas de Austrália e Azerbaijão, por exemplo, faz com que haja bastante tempo para que a equipe eventualmente se recupere, antes de a temporada 'se encaminhar'.

"Acho que vimos em várias temporadas como a Mercedes desenvolve o carro ao longo de um campeonato. E acho que, felizmente, com o calendário mais distribuído, as equipes podem desenvolver soluções. Estamos certos de que há algumas melhorias que definitivamente deixarão o carro mais rápido. E o carro será mais leve do que vimos no ano passado, o que certamente impacta no tempo de volta. Sabemos disso", disse George.

"Trabalhamos duro e bem, particularmente no ano passado, para reduzir o arrasto porque vimos quanto estávamos perdendo em relação à Red Bull. Acho que conseguimos bons resultados, então devemos ser mais rápidos nas retas também em 2023. Sabemos que essas coisas garantem mais performance. Porém, assim que você freia rumo a uma curva, ou quando você sai de uma curva, o downforce precisa funcionar. Ainda não sabemos como isso será na comparação com RBR e Ferrari."

Jogo de adivinhação 

Talvez a Mercedes não esteja diante de um alerta relativo ao momento atual, mas uma incerteza em relação a onde ela poderá estar.

George Russell, Mercedes W14

George Russell, Mercedes W14

Photo by: Mercedes AMG

No ano passado, ficou comprovado que bons resultados em testes no túnel de vento não necessariamente terão correlação com o que se vê na pista: um dos pacotes de atualização da Mercedes, que era para ter deixado o carro 1s5 mais rápido, deixou ele mais lento pelo porpoising.

Tal incerteza quanto ao potencial do W14, principalmente frente à concorrência, foi ampliada por um shakedown que não aconteceu de acordo com o previsto, com problemas que dificultaram inclusive a conclusão dos 15km permitidos para uma exibição de demonstração.

Com um início de 2023 não muito animador e as feridas de 2022 ainda sem uma cicatrização plena, entende-se por que o discurso de momento se foque mais em estar no ponto para reagir às rivais na F1.

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Jonathan Noble
Fórmula 1
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