O Grande Prêmio de Singapura pode ter sido o primeiro episódio de algo realmente importante. A forma como Charles Leclerc se incomodou com a antecipação do pit stop de Sebastian Vettel, que ajudou o alemão a superá-lo nos boxes, gerou ruídos dentro da Ferrari. E por conhecermos o DNA da equipe, é claro que não será fácil administrar esses dois talentos "matadores".
Ficou claro que a parada naquele momento não estava prevista. Até para Vettel: "Foi um chamado cedo para os boxes. Fiquei em dúvida se pneus durariam até o final da corrida. Mas Verstappen parou e era o certo a fazer". Sim, a conta da vitória de Vettel vai para a Red Bull e o holandês. A Ferrari foi rápida na resposta, mas não tinha como imaginar que ali estava o caminho da redenção do alemão.
Se Vettel se surpreendeu, imaginem Leclerc. O piloto era naquele momento o líder, administrava Hamilton e imaginava que o momento das paradas não tinha chegado. Piscou os olhos e de repente viu outro carro vermelho na sua frente. Deve ter pensado: "Mas que cazzo, será que me ferraram". Critica-lo por não ficar "sussa", é não entender o calor do momento e o "instinto assassino" que tem, como já disse Gerhard Berger, ex-companheiro de Senna. "O que pedirei nas próximas vezes é estar mais a par da questão de estratégia dos dois carros", disse ainda no paddock de Singapura, ouvido pelo Motorsport.com. Até aí, nada demais.
Convenhamos, o episódio seria trivial na realidade da Fórmula 1 não fosse por um "pequeno" aspecto: ambos correm pela Ferrari. E o time italiano, presente desde o início da Fórmula 1 em 1950, não tem histórico de administrar pilotos. É o famoso slogan "a Ferrari está acima dos pilotos". Mas não vai ser fácil segurar dois pilotos desse nível só no gogó, com a filosofia do falecido Enzo Ferrari.
Quando apostou em Leclerc, a escuderia italiana não devia imaginar que em seis meses o "fedelho" de Mônaco já estaria à frente de Vettel, tetracampeão atolado em uma má fase sem fim. Leclerc venceu em Spa e em Monza, para delírio dos ferraristas. Enquanto isso, Vettel fez lambança atrás de lambança. Mas se esboçar a reação após a vitória no GP de Singapura, voltará a brigar pelo espaço. E como dizer a Leclerc para voltar a ser o "estagiário" do mês? Não há mais caminho de volta para ele.
Se olharmos para trás, veremos que em poucos momentos a Ferrari precisou quebrar a cabeça com assuntos como esse. Niki Lauda e Clay Regazzoni poderiam ser citados, mas não havia igualdade entre ambos. Lauda era melhor e isso resolvia a questão, embora Clay fosse querido no time. Didier Pironi x Gilles Villeneuve era combinação explosiva, mas a morte precoce de Gilles encerrou o que poderia ser um problema de longo prazo.
O último momento em que a Ferrari liberou dois pilotos para competir, ambos eram "amistosos": Felipe Massa, um cara de postura amigável, e Kimi Raikkonen, que não se importa muito com vaidade e jogo político.
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Vettel x Leclerc é um embate com "fôlego". Vettel está longe de ser veterano e Leclerc tem a fome de um animal que não se alimenta a meses. E, além de ter deixado de ser criança, sabe que se não aproveitar a má fase do alemão agora, não aproveitará nunca mais.
Na Fórmula 1 ter dois "machos alpha" na mesma garagem é problema para qualquer um, até para quem gosta de emoção. Mas na Ferrari isso chega a ser impensável. Vai ser divertido ver como os ferraristas se comportarão sem que haja ali um bug mental na hora de decisões em tão pouco tempo para tomar. Para os fãs, a perspectiva é das melhores. Vida longa ao duelo Vettel/Leclerc.
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Felipe Motta
Fórmula 1
Sebastian Vettel
Charles Leclerc
Ferrari
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