Entrevista

Fittipaldi fala sobre crise financeira envolvendo seu nome

Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com, brasileiro fala de situação financeira e sobre reportagem na TV que acredita ter manchado reputação

Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi, Lotus 49B
Ayrton Senna and Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi gives an interview to Motorsport.com Editor in Chief Charles Bradley
Emerson Fittipaldi gives an interview to Motorsport.com Editor in Chief Charles Bradley
Emerson Fittipaldi gives an interview to Motorsport.com Editor in Chief Charles Bradley
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi gives an interview to Motorsport.com Editor in Chief Charles Bradley
Emerson Fittipaldi gives an interview to Motorsport.com Editor in Chief Charles Bradley
Emerson Fittipaldi gives an interview to Motorsport.com Editor in Chief Charles Bradley
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi
Héctor Rebaque, Sergio Pérez Sahara Force Inida e Emerson Fittipaldi
Emerson Fittipaldi embaixador do GP do México
Sergio Pérez Sahara Force India e Emerson Fittipaldi

O nome do automobilismo brasileiro mais comentado do momento não está nas pistas atualmente. Emerson Fittipaldi, bicampeão da F1, duas vezes vencedor das 500 Milhas de Indianápolis e campeão da Indy de 1989 teve seu nome envolvido em uma série de matérias, uma delas com imagens de dois carros históricos sendo desmontados, guinchados e levados ao autódromo de Interlagos, onde aguardam avaliação e um leilão para pagamento de credores.

O ex-piloto visitou a sede do Motorsport.com em Miami e conversou com o editor-chefe, Charles Bradley, para contar o que está acontecendo com suas próprias palavras.

Imagem manchada, mas ainda com apoio dos fãs

Emerson começa falando sobre a exibição da reportagem de 16 minutos no programa Domingo Espetacular, da Rede Record há 10 dias. 

"Fiquei muito decepcionado que um programa de TV no domingo à noite usou meu nome e minha imagem para promover seus índices de audiência, essa é a conclusão que cheguei", disse ele. "Para mim, parecia que foi tudo orquestrado para manchar a minha imagem que construí por mais de 40 anos."

Mesmo assim, ele ressalta o apoio dos fãs e de pessoas próximas.

"Primeiro, quero agradecer as milhares de mensagens de apoio que recebi dos fãs de todo o mundo, meus amigos e patrocinadores que me apoiam", acrescentou. "Eles me conhecem, sabem de minha integridade, sabem da minha forma de trabalhar. Estou trabalhando duro para me recuperar, para cuidar da situação."

Fittipaldi pontua sobre os feitos de sua carreira também quando o assunto é trazer eventos ao Brasil.

"Muitas pessoas não entendem que depois da F1, eu levei a Indy para o Brasil e o estilo de Le Mans, com as 6 Horas em Interlagos , que eu acredito que seja um campeonato fantástico. Coloquei muito dinheiro para isso e perdi muito em três eventos no Brasil."

"Por último, tivemos um evento incrível e eu dirigi a Ferrari 458. Me diverti bastante, foi um evento muito positivo - mas eu já tinha perdido muitos patrocinadores antes desta corrida. No lado do marketing, o Brasil foi recuando, devido à situação econômica e nós sofremos por essas circunstâncias."

A conquista da reputação

Emerson relembrou de sua origem, quando tentava financiar sua carreira e também de seu irmão, Wilsinho.

"Quero dizer aos fãs, por meio do Motorsport.com, que quando comecei a correr no Brasil, meu pai era um jornalista de esporte a motor", disse Fittipaldi. "Comecei construindo volantes, karts, Fórmula Vee e protótipos para que fossem vendidos e, assim, financiar a minha carreira e de meu irmão."

"Viemos de uma família muito honesta, com boa educação de meu pai. Trabalhamos muito duro para alcançar o que conquistamos. Quando fui correr na Inglaterra, começando na Fórmula Ford, foi muito difícil no início. Dennis Rowland estava preparando o meu motor e durante a semana eu polia as cabeças dos cilindros, como um mecânico. Nada veio fácil na minha vida, eu sempre trabalhei muito duro."

"Foram meus resultados com a Lotus e Colin Chapman que pudemos ter nosso primeiro GP do Brasil, em 1973. O Brasil era um país novo a correr naquela época, mas depois tivemos Nelson Piquet, Ayrton Senna, e agora Felipe Massa e uma história fantástica no automobilismo."

"Fui o pioneiro, juntamente com o meu irmão e José Carlos Pace, três pilotos brasileiros que trabalharam muito duro para criar esta paixão pelo automobilismo. E agora, eles destroem minha imagem depois de tantos anos e muita reputação positiva."

Tempos difíceis nos negócios

Fittipaldi cita os problemas que o país vem passando, desde o mercado do etanol, até o governo atual. 

"Todo mundo sabe que o Brasil tem seus problemas e que eu estou passando por um momento financeiro muito difícil dentro do meu grupo", disse Fittipaldi. "Mas ainda estamos lá, estamos resolvendo lentamente estas questões. Passo a passo estamos nos recuperando."

"Acredito no Brasil como um país. Eu amo o Brasil. Eu amo o povo brasileiro. Investi muito dinheiro em uma refinaria de etanol no Brasil. Fui um dos maiores investidores no início dos carros flex no país."

"Eu, juntamente com grandes investidores e empresas multinacionais, tínhamos a expectativa de que o preço do etanol poderia pagar o investimento. Mas, o governo estabeleceu um preço que era muito difícil para qualquer refinaria sobreviver. Hoje apenas no estado de São Paulo, há entre cinco e oito refinarias."

"O Brasil é o país perfeito para etanol a partir de cana-de-açúcar. A tecnologia do carro flex foi desenvolvida pela Bosch e Magneti Marelli, então você pode colocar qualquer tipo de combustível e o carro vai andar ou você pode misturar 50/50. A indústria brasileira investiu muito para se desenvolver e o que aconteceu? Eles usaram os investidores privados como eu e, apenas lá, perdi 7 milhões de reais. Isso é muito dinheiro e foi o início dos meus problemas."

"Isto é o que eu chamo de falta de governança, falta de compromisso para um projeto que teria desenvolvido o campo no país. Em vez disso, o dinheiro brasileiro passou a comprar petróleo dos árabes em outros países. Esse dinheiro poderia ter ficado no Brasil. Esse dinheiro teria circulado, o que levaria a uma melhor infraestrutura. Eu diria que é um desastre de governança. Como resultado, o meu grupo começou a sofrer."

"E há os bancos. Só para se ter uma ideia, a tarifa mais barata que você pode obter em um empréstimo é de cerca de 20% ao ano. Como você pode fazer negócios onde você precisa pagar 20%?"

"É sintomático os problemas no Brasil. Tem as taxas bancárias mais caras do mundo. E o povo brasileiro não merece isso. Enquanto os bancos fazem enormes lucros, o país está sofrendo. Isso me afeta e a milhares de outras pessoas de negócios. É o caos."

Um novo futuro para o Brasil?

O juiz Sérgio Moro, um dos principais nomes que comanda a operação lava jato, também foi lembrado e serve de esperança para um Brasil melhor no futuro, na visão do bicampeão da F1.

"Gostaria de terminar dizendo que graças a Deus existe um cara chamado Sérgio Moro, um jovem juiz no Brasil que eu tenho muita admiração e respeito. Ele está fazendo tanto para o Brasil, ele está confrontando todas as corrupções, e, como falei, acredito que a corrupção está em um nível como em nenhum outro lugar do planeta. Bilhões e bilhões de dólares de corrupção, que é sistemática no Brasil, tornou-se a cultural. Todo dia ele descobre algo novo."

"Este juiz vai ajudar as futuras gerações, dar-lhes um novo nível de como se comportar nos negócios. Espero que chegue uma nova mentalidade que permita ao Brasil a oportunidade de decolar. O país tem um potencial fantástico."

"Somos 200 milhões de pessoas que trabalham duro. Se todo esse dinheiro da corrupção que sai do Brasil permanecesse no país, poderíamos construir uma nova infraestrutura, obter melhores hospitais e escolas."

"É uma cadeia de corrupção que tem que ser quebrada. Poderíamos ter um Brasil muito melhor. Merecemos um país melhor para o nosso povo. A nova geração da política tem de trabalhar para o país, não para si mesmos."

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