Análise: segredo de Rossi está no controle da aceleração
A vitória de Valentino Rossi em Jerez, no último domingo, primeira alcançada a partir da pole e liderando todas as voltas, passou por um detalhe que só quem está há anos na categoria principal do Mundial de Motovelocidade poderia dominar
No último domingo, em Jerez de La Frontera,Valentino Rossi deu uma verdadeira exibição de pilotagem, sabedoria e experiência ao vencer o GP da Espanha - pela primeira vez na carreira, o italiano venceu saindo da pole e liderando todas as voltas. Não é fácil, vendo pela televisão ou na pista, descobrir os segredos da pilotagem de Rossi, os detalhes que fizeram a diferença sobre Jorge Lorenzo e Marc Márquez.
O duo espanhol, de uma geração muito mais jovem que a de Rossi - Lorenzo tem 28 e Márquez, 23 - são 'nascidos' na época da eletrônica, dos câmbios seamless, dos mapas de potência e do acelerador 'on/off'. A eletrônica das motos, o acerto para cada ponto da pista e para todas as voltas de uma corrida levam a um estilo de pilotagem em que o acelerador só fica em dois modos: nas saídas de curva, o acelerador fica completamente aberto; nas freadas, completamente fechado.
Jogar com o acelerador
Valentino, no entanto, passou por épocas em que não havia eletrônica, mapas de potência e quase nenhuma telemetria. O segredo da vitória em Jerez, especialmente no que tange ao ritmo de prova, foi baseado no gerenciamento da aceleração.
Com a alta temperatura na pista espanhola e as características dos pneus que a Michelin disponibilizou para a prova, a borracha sobreaquecia - no caso das motos da Honda - ou se destruíam totalmente - casos de Yamaha e Ducati.
Rossi, partindo da pole, conseguiu manter a liderança na largada. Lorenzo até tentou uma manobra na segunda volta, mas o italiano deu o troco rapidamente. Uma vez consolidado na liderança, Rossi forçou o ritmo, fazendo com que a dupla espanhola tivesse que dar o máximo para acompanhá-lo.
Assim que conseguiu estabelecer uma vantagem acima de 0s5, Rossi começou a administrar a aceleração, poupando os pneus e evitando que a borracha começasse a girar em falso. Lorenzo e Márquez, com a aceleração plena, no entanto, destruíram os pneus em dez voltas e não foram capazes de acompanhar o ritmo do italiano.
Wilco Zeelemberg, os 'olhos' de Lorenzo na pista
O ex-piloto holandês atua como assistente técnico de Lorenzo, ficando em partes estratégicas de cada pista e comentando com o espanhol como ele passa por tais pontos, tentando corrigir eventuais erros.
“Esta corrida foi diferente das anteriores, a aderência estava muito pior e as motos se comportaram de forma diferente do que se imaginava durante os treinos. Em circunstâncias complicadas como estas cada um busca as próprias soluções e ficou claro que Valentino utilizou toda a experiência que possui", disse Zeelemberg.
“Todos acreditavam que a segunda metade da corrida seria fundamental. O que aconteceu, porém, é que as primeiras 14 voltas definiram a prova, quando Valentino chegou a abrir três segundos. A partir dali, os pneus já estavam desgastados e o que restava era sobreviver e terminar a corrida."
“Em nenhum momento vimos Valentino sofrer, nem andar no limite. Ele é quem viu que os demais deveriam fazer isso para chegar nele. Essa margem de três segundos permitiu a ele administrar o ritmo e pensar no que fazer durante a prova."
Luca Cadalora, o ‘coach’ de Rossi
O tricampeão mundial (uma nas 125cc e duas nas 250cc) se uniu a Rossi como consultor no início deste ano. Na pista, Cadalora usa um boné com a palavra 'coach' (treinador, em português).
“Uma das virtudes de Valentino é que, mesmo sendo quem é e aos 37 anos, ele não pensa que aprendeu tudo. Pelo contrário, Rossi é capaz de escutar e está disposto a descobrir coisas novas e provar soluções diferentes", disse Cadalora.
O ex-piloto valoriza a capacidade de adaptação de Rossi e sentencia, referindo-se ao décimo título mundial que o piloto da Yamaha busca: "Tratando-se de 'Vale', não há nada impossível. A Yamaha é uma equipe fortíssima, com um pessoal apaixonado por este esporte e com um nível elevadíssimo. Mas os rivais também são fortes, a central eletrônica padrão nivelou as forças."
Ramón Forcada, chefe de mecânicos de Lorenzo
Forcada, que trabalha com Lorenzo desde que o espanhol chegou à Yamaha, admite que a experiência de Rossi fez a diferença na corrida. “Viu-se uma diferença de pilotagem no domingo. O que não sei é se isso veio da época em que Valentino corria sem ajuda eletrônica", disse.
"Há nove anos, quando Lorenzo chegou à Yamaha, ele nos surpreendeu com o modo como ele conseguia gerenciar a aceleração, sobretudo quando o pneu se desgastava - Jorge era capaz de manter o mesmo ritmo. Quando a eletrônica evoluiu, no entanto, os pilotos se acostumaram com os sistemas cuidando deste aspecto", disse.
“Sempre que não há aderência, é necessário compensar a diferença na aceleração, o que Valentino soube fazer nesta corrida. Todos patinavam muito - mesmo na reta oposta, em quinta marcha. Com a centralina padrão, o controle de tração não é tão eficiente para controlar esse giro em falso da roda traseira. Por isso, o piloto precisa modular o giro do acelerador", afirmou Forcada.
“Como no domingo fez mais calor do que nos dias anteriores, os pneus sofreram mais. Mas há um tema que foi bastante discutido e parece recorrente, mas é verdade. Correr depois da Moto2, quando faz tanto calor, faz com que tenhamos muitos problemas e patinemos muito. Em uma moto como esta, se você não consegue controlar o 'spinning', você terá muitos problemas", completou.
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