Análise

Dia Internacional: quando teremos uma piloto mulher na F1?

Embora a participação de mulheres nas equipes seja crescente e cada vez mais pilotos do sexo feminino façam parte do automobilismo, não é possível prever quando será quebrada esta barreira

Beitske Visser, Venezuela GP Lazarus

No último mês, a holandesa Beitske Visser concedeu uma entrevista ao Motorsport.com em que dizia com todas as letras: “não quero ser empurrada para a F1”. Para a piloto da Fórmula 3.5, que tem o objetivo claro e declarado de um dia chegar à principal categoria do automobilismo mundial, ter méritos e construir um caminho natural para isso é inegociável.

Neste 8 de março em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a declaração serve de ponto de partida para uma análise de como anda a possibilidade de uma mulher assumir o volante de um carro da Fórmula 1 de forma definitiva.

O desejo de Visser é pertinente e deve ser seguido à risca, mas infelizmente é improvável que a entrada de uma mulher na F1 não provoque alvoroço e contestações. Mesmo sem uma perspectiva a curto prazo desde que Susie Wollf deixou a Williams no último ano, o assunto provoca discussões acaloradas, como a iniciada por Bernie Ecclestone em janeiro.

 

Beitske Visser, no pitlane da GP3
Beitske Visser quer chegar à F1 por próprios méritos

Photo by: GP3 Series Media Service 

Apesar de ser um entusiasta da participação das mulheres no automobilismo, ele acredita que poderia haver resistência por parte das equipes. “Se surgissem mulheres capazes, elas não seriam levadas a sério de qualquer maneira. Então jamais haveria um carro em que elas pudessem ser competitivas”, disse o dirigente em entrevista à rede de TV canadense TSN.

A declaração gerou uma resposta rápida de Susie Wolff. Por três anos com o cargo de piloto de desenvolvimento da Williams, a britânica chegou a participar de treinos livres – o que não acontecia desde 1992, quando a italiana Giovanna Amati se inscreveu em três corridas, mas falhou em se classificar para elas. Mas quando Bottas se machucou e não pôde participar do GP da Austrália de 2015, a equipe optou pelo reserva Adrian Sutil.

“Alguém precisa provar para Bernie que ele está errado. Seria uma pena se uma equipe deixasse de dar oportunidade a uma mulher na F1 por não levá-la a sério”, disse Wolff em resposta a Ecclestone na época.

A britânica lançou no final do último ano uma iniciativa para promover o desenvolvimento de mulheres no automobilismo. Sua ideia se assemelha muito ao pensamento de Beitske Visser de primeiro aumentar a participação geral no automobilismo, e como consequência - e méritos -, um dia algumas chegarem à F1.

Atualmente, é estimado que apenas 8% dos registros de pilotos são femininos. A chance de uma categoria só de mulheres - como já cogitou Bernie Ecclestone - também causa muita polêmica. Visser não é tão crítica à ideia, mas faz uma ressalva importante.

“Um campeonato separado pode ser uma boa maneira de diminuir o limiar para as mulheres. Mas ele ainda tem que ser possível para as mulheres alcançarem uma real Fórmula 1", disse ao Motorsport.com em fevereiro.

 

Susie Wolff, piloto de desenvolvimento Williams FW37
Susie Wolff, quando era piloto de desenvolvimento da Williams FW37

Photo by: XPB Images

O caso Carmen Jordá

Com a saída de Susie Wolff no final do último ano, em teoria a mulher mais próxima da Fórmula 1 passou a ser a espanhola Carmen JordaPiloto de simuladores da Renault, ela continua na equipe neste ano e pode receber oportunidades em outras categorias.

Porém, a permanência de Jordá provocou uma forte reação do dinamarquês Marco Sorensen, que também era piloto de desenvolvimento da Lotus.

"Ela era 12 segundos mais lenta do que eu no simulador. No entanto, ela continua a ter um papel representativo na equipe. Nos últimos dois anos passei 60 dias no simulador, no mínimo, assim como Kevin Magnussen na McLaren. Quando vejo que, apesar do compromisso, a oportunidade é dada a outras pessoas, tive que sair", disse ao jornal Elektra Bladet.

Carmen rebateu: “Eu acho que é incrível o que o Sorensen disse. No ano passado, no simulador, eu costumava a estar mais ou menos dentro de um segundo de Grosjean”.

Sem entrar no mérito de quem está certo nos dados, o bate-boca indica que, infelizmente, o mundo ideal projetado por Visser e Wolff ainda está longe de ser atingido.

 

Carmen Jorda, Renault F1 Team development driver
Carmen Jordá continua na Renault 

Photo by: Renault F1

Danica como exemplo e mulheres no Brasil

Talvez o mais perfeito exemplo recente de mulher competindo em alto nível em categorias de alta performance seja o de Danica Patrick. Vencedora de corrida na Indy e primeira mulher a ser pole na NASCAR, a piloto tem uma carreira sólida em que não há mais questionamentos sobre sua capacidade de competir na categoria. Obviamente ela é alvo de elogios e críticas como qualquer piloto, mas não por questões de gênero.

Já no Brasil, Bia Figueiredo é a única mulher na principal categoria, a Stock Car. Com passagem pela Indy e vencedora de corrida na Fórmula Renault, ela acredita que as mulheres têm condições de atender às exigências do automobilismo e competir de igual para igual. E espera servir de inspiração.

“O automobilismo é um dos poucos esportes em que homens e mulheres competem juntos. É uma modalidade que exige força e resistência, mas nada que possa dar vantagem física ao homem. A questão é estar quase sozinha num universo muito predominantemente masculino, e às vezes, machista. Mas acho que essa convivência só me fez amadurecer pessoal e profissionalmente”, disse.

“Uso meu espaço para mostrar à meninas e mulheres que é possível alcançar seus objetivos com foco e determinação, independentemente de gênero, e particularmente no automobilismo para ajudar a quebrar um pouco a cultura que associa carro a homem. Muitas vezes numa família um menino faz 18 anos, tira a carteira de motorista e ganha carro, enquanto a menina espera...” completou.

 

Bia Figueiredo
Bia Figueiredo é a única mulher na Stock Car 

Photo by: Luca Bassani

 

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